sábado, 6 de junho de 2015

Crítica: "O MESTRE" (2012) - ★★★★★


Prometi, não faz muito tempo, fazer aqui no blog uma resenha de O Mestre, de Paul Thomas Anderson, logo depois que falei de seu mais novo longa, Vício Inerente. E aqui ela está. Rever este filme maravilhoso pela incrível terceira vez não teve preço. Confesso que da primeira vez em que vi o longa não consegui simpatizar com ele. Faz um ano. A segunda vez foi um tempo depois deste. Na segunda vez, eu já estava bem menos agitado e mil vezes mais confortável. Essa segunda vez foi justamente criada no intuito de encontrar respostas às dúvidas da primeira sessão. A segunda sessão, levando em conta alguns fatores que foram extraordinariamente precisos, foi-me tremendamente melhor e mais interessante do que a primeira.

Concluo que O Mestre é uma obra inigualavelmente majestosa, vinda de um diretor queridíssimo cujos filmes sempre me agradam, sem exceder nenhum. Filmado em um enquadramento diferente, o que dá a ele uma sensação totalmente diferente e excepcional, O Mestre apresenta vestígios singulares para um filme de seu padrão. Não sei se é possível definir todo o complexo contexto de O Mestre em um adjetivo. Talvez sim. Insano. Provocador. Romântico. Sensível. Arrebatador. Constante. Medroso. Fiel. Belo. Atroz. Louvável. Essencial. Aprisionador. Violento. Jovial. Gracioso.

Aqui vai o meu conselho: se surgir a você a grande oportunidade de ver O Mestre, agarre-a com prazer e vontade. Mesmo que você ache que não gostará. Veja. O filme te traz uma sensação, e isso é o mais impressionante dele. Deixe-se levar pela inconsciência de Freddie, pela genialidade e técnica de Lancaster, ou o amor de Peggy. O Mestre, bom ou não, será uma experiência magnífica. Só pela fotografia em 70mm, já é por si só tocante demais. Desta vez, sem o auxílio de Elswit, Thomas Anderson se apoia no romeno Mihai Malaimare, Jr., que trabalhou recentemente em três longas de Francis Ford Coppola. Mihai, para alguém do estilo de Paul, parece ter se adaptado rapidamente e muito bem com qualidade e sucesso.

Vale lembrar que O Mestre é um filme que apresenta comportamentos, diálogos e sentimentos. Aviso já: se você não tem estômago para P.T.A., nem venha ver O Mestre, uma de suas melhores e mais profundas obras. O filme narra a jornada de Freddie Quell, um beberrão marinheiro da guerra que, após deixar a amada Dóris em Massachussets e ir combater os japoneses, tem uma melancólica instabilidade, e com isso, após o fim dessa guerra, resulta em um pesado e desconfortável vazio em sua já pequena vida. Em busca de trabalho, mais precisamente como fotógrafo, Freddie se mete nas mais ofuscantes emboscadas, até que um dia o destino o leva à porta de Lancaster Dodd, líder de um movimento independente chamado "A Causa", que segundo o próprio Dodd funciona como um culto, religião. E dentro desse culto, Freddie encontra o ser que se escondia por trás de sua face brincalhona e descontraída. Servindo de cobaia à Dodd, participando de suas técnicas e de seus inventos, ele se torna o mais fiel membro do movimento, ao passar do tempo com ele se acostumando aos frequentes conflitos que surgem. 

Mas o que realmente nos move é a significante quantidade de amor e fúria incluídos em O Mestre. Ver o quão maravilhosa e delicada essa obra é resulta em algo simplesmente aconchegante. O Mestre surpreende por que também te cativa, a todo instante, e mesmo que ele soe chato, é um filme que nos faz refletir sobre escolhas e consequências. Também, qual filme não surpreende quando põe em tela um elenco talentosíssimo? Nisso falo e destaco o trio que deu ao longa de P.T.A. as únicas indicações ao Oscar, das várias que eram merecidas: Joaquin Pheonix, Philip Seymour Hoffman e Amy Adams. Cada um, principalmente Joaquin (na melhor atuação de sua carreira até o momento), possuem performances igualmente dignas de aplausos e reconhecimento. Todas expressam às suas maneiras a graça, a dor, o triunfo, a paz, a paixão e a identidade das cenas desta obra, e a tornam bem mais completas. 

E o mais interessante em O Mestre é que o longa, em certas partes, não faz um pingo de sentido. E olha que é um filme que anseia por filosofia. Mas por outra parte é curiosamente bom ver que O Mestre não é um filme parado. Ele funciona tanto como épico, comédia, drama... É algo inspirador a ser visto nele. E aquece a alma... Enquanto filma um homem sem expectativas, esperanças, além de ser um bebum ferrado e agressivo no nível máximo, a trama de O Mestre também mostra que dentro dele há um pouquinho de humanidade. Mesmo sendo cruel e bipolar, em seu conturbado coração ele ainda sim encontra espaço para um amor, Dóris, que ao final o deixa. O Mestre é uma obra intensamente bela e espirituosa.

O Mestre (The Master)
dir. Paul Thomas Anderson - ★★★★★

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