domingo, 22 de novembro de 2015

Crítica: "OS 33" (2015) - ★★★


A quantidade de atores estrangeiros em produções hollywoodianas atualmente é bem surpreendente. Os 33, que na verdade trata-se de uma co-parceria entre Chile e Colômbia, mas que foi inteiramente financiado pela Fox International, produtora americana, leva no elenco Antonio Banderas (espanhol), Juliette Binoche (francesa), Rodrigo Santoro (brasileiro), Gabriel Byrne (irlandês), Oscar Nunez (cubano), Mario Casas (espanhol), entre muitos outros, à exceção de chilenos. Até mesmo a diretora do filme, Patricia Riggan (mexicana). Porém, o sangue de Os 33 é americano. Não é ao acaso que o filme é inteiramente falado em inglês, sendo ambientado no Chile, com personagens chilenos, ainda que o elenco seja estrangeiro e não-americano, o que talvez explique o idioma no qual o filme é falado. Porém, nada disso tem influência direta no impacto do filme e em sua importância. É verdade que Os 33 poderia ser bem melhor, mas não dá pra reclamar muito do longa, que reproduz com força o soterramento de 33 mineiros no Chile, cujo resgate levou um pouco mais de dois meses para ser executado. 

O início do filme corre bem, mas com o passar do tempo o drama vai se aprofundando numa pequena novela, beirando drama e comédia sem equilíbrio, na exata parte onde tramas desconexas se mixam. Embora exista um complicado desencontro na nivelação e desenvolvimento do clima, a sensação de instabilidade e imprevisibilidade é constante, reforçando o quo status de ficção que vai fragilmente tomando conta do filme, de uma maneira segura e sensata, sem desinstalar sua premissa épica. A beldade que é o roteiro de José Riviera impulsiona firmeza dramática, mas não livra o filme daquela chata e improvável pretensão de "quero ser grande". Os 33 não vai além de um simples passatempo. E com certeza não é grande. Não posso discordar que tecnicamente é. Sonhar grande é bem diferente de ser grande. No fim, o filme nem fede nem cheira. 

Apesar do elenco esforçado, há quem questione sua originalidade e funcionalidade. Embora em tela figurem algumas celebridades latinas, como o protagonista Banderas e a outra grande parte secundária, falta em Os 33 realismo, e o que superioriza essa ausência é o casting internacional. Quer dizer, apesar das boas performances, a intenção de Patricia em colocar atores estrangeiros nestes papéis até vale pela demonstração e firmação do talento deles, mas não transparece real o retrato deles de chilenos, população comum, batalhadores destemidos. Medianamente engana. Se pelo menos os atores estivessem hablando español, ainda que o sotaque inglês deles simule. 

Voltando ao quesito no qual iniciei a comentar o filme, ver Juliette Binoche em mais outra produção não-francesa possibilita um prazer instantâneo, ou não sei se sou só eu que estou acostumado a ficar estonteado com a presença da bela intérprete em longas estrangeiros, uma vez que ela esteve em ótimos como O Paciente Inglês (que a deu seu único Oscar em 1997), Chocolate, A Insustentável Leveza do Ser, Um Divã em Nova York, Segredos do Estado, Cosmópolis, Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada ou então nem necessariamente precisa ser em consequência desse fator, mas a parceria de Binoche com diretores de outro país já traz esse bem-estar, como em Cópia Fiel e Shirin (ambos do Abbas Kiarostami), A Viagem do Balão Vermelho (Hou Hsiao-Hsien), Nadie Quiere La Noche (Isabel Coixet), Maria (Abel Ferrara)...

É certo que não é aquele primor de filme que se poderia esperar, porém, por mais conformista que isso soe, Os 33 agrada pela eficiência técnica e uma história que comove e desperta o interesse em quem vê, mesmo quem acompanhou de perto a tragédia cinco anos atrás ou melhor ainda pra quem não teve a chance de então denotá-la, o que possibilita mais suspense. A esperança se reacende, e o espectador torce impacientemente pela salvação dos mineiros. É superficial e incompleto, mas a dimensão da falta de tempo e da gravidade da situação nos contagiam com muita facilidade, passando a impressão de que estamos com uma bomba nas mãos prestes a explodir, isso constantemente. A adrenalina é incessante. O final conforta. Imperfeito que é, conquista nosso gosto. Sendo essa ou não uma explicação direta para o iminente fracasso crítico do filme entre especialistas jornalísticos e de imprensa, que usam a seu favor comparações vazias, o que não é nem um pouco novidade, fica a frase que move a trama, "se aprende com os erros".

Os 33 (Los 33)
dir. Patricia Riggan - 

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