sexta-feira, 24 de junho de 2016

Crítica: "E AÍ, MEU IRMÃO, CADÊ VOCÊ?" (2000) - ★★★★


Há quem diga que este é um dos melhores filmes dos irmãos Coen e outros que o apontem como o pior da dupla (particularmente, não vejo como esse filme poderia ser ruim de qualquer forma). Talvez seja porque este é um dos filmes mais subjetivos dos Coen. Não é como Onde os Fracos Não Tem Vez ou Fargo, que são frequentemente mencionados como os melhores filmes deles, e que não são tão difíceis ou esteticamente complexos, cinematograficamente falando, como E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?, que pra mim é um ótimo filme. 

A comédia é uma livre adaptação do clássico da literatura grega "Odisseia", de Homero. Apesar de ter uma cópia do livro e um enorme interesse em conferi-lo, sequer conhecia a história. Os Coen, que de bobos não tem nada, usaram e abusaram de diversas referências ao livro e da trama, principalmente. O filme até pode ser considerado uma adaptação cristalizada do livro, com alterações em tempo, espaço, personagens e estrutura narrativa. E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? se passa no Mississipi na década de 30 e conta a aventura de três homens, fugitivos, Uylisses (George Clooney, vencedor do Globo de Ouro de Melhor Ator em Filme - Comédia ou Musical em 2001, cujo personagem remete ao Ulisses de "Odisseia"), Pete (John Turturro) e Delmar (Tim Blake Nelson), que passam por poucas e boas após fugirem da prisão. Ulysses está à procura da mulher (Holly Hunter), que se casou com outro cara pensando que ele a abandonou (ou melhor -- "foi atropelado por um trem").

A trilha do filme foi lindamente composta por T-Bone Burnett, o que justifica a inclusão de tantas canções bacanas, algo raro de se ver num filme dos Coen, que "musicalizam" mais a jornada dos três fugitivos. Aliás, tocando no assunto, E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? tem até uma pinta de musical. O que me leva à questão: "como seria um musical dirigido pelos irmãos Coen"?

O clima debochado e às vezes bizarro do filme, já característicos do cinema dos Coen, reforçam a sátira e o humor descontrolado. George Clooney, quem tão raramente a gente vê em filmes de comédia, entrega uma performance incrivelmente hilária, potente, uma das melhores do ator. Destaque para o Turturro e o Tim Blake Nelson, em duas atuações ainda mais engraçadas e excelentes. A Hunter, que é uma atriz massa, aparece tão pouco tempo em tela que seu desempenho, ainda que seja cativante, é quase esquecível.

A fotografia é de Roger Deakins, fiel colaborador dos Coen, vislumbrante. A indicação ao Oscar em Fotografia foi merecidíssma. Mas, gente, pensem comigo, fotografia comandada por Roger Deakins vai sempre ser uma maravilha. Não tem erro -- é tiro e queda. Não há um filme cuja direção de fotografia leve Roger Deakins no crédito que não seja um estouro visual. E não foi diferente aqui com E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? (gosto das cenas da reunião dos membros da Ku Klux Klan, a dos presos no cinema e a da "enchente milagrosa").

Enfim, ver um filme dos Coen, ainda mais um dos bons, é sempre muito prazeroso e reconfortante. Os caras sabem fazer cinema de verdade. E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? é um dos exemplares mais divertidos e interessantes da filmografia dessa dupla. Bem filmado, bem escrito, um elenco triunfal, uma fotografia de dar gosto, uma comissão técnica que "samba na cara das inimigas"... É um filmaço. Vejam!

E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? (O Brother, Where Art Thou?)
dir. Joel Coen & Ethan Coen - 

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