Muito interessante esse documentário sobre o
cineasta americano Brian De Palma. Muito interessante mesmo. É raro a gente
encontrar um material assim de qualidade sobre um diretor revendo a sua
filmografia e comentando sobre a experiência de fazê-las e detalhando o
trabalho em si. E, no caso da filmografia do De Palma, serve tanto pra gente se
lembrar e celebrar alguns dos maiores sucessos da carreira dele e também para
denotar a opinião própria dele quanto a esses filmes. No meu caso, há um ponto
extra: como não vi nem a metade de seus filmes, essa "revisão" serviu
também de introdução à sua filmografia inicial e alguns filmes não assistidos,
como Carrie – A Estranha ou O Pagamento Final.
Em um certo momento do documentário, De Palma
diz que como um “aluno” do Hitchcock, foi um dos poucos a conseguir fielmente emular
o padrão hitchcockiano e seguir a fórmula dos filmes do mestre do suspense. Há
quem diga que isso seja um tanto egocêntrico da parte do De Palma. Mas, pra
mim, a questão é justamente o contrário dessa hipótese. É bastante honesto ele
dizer isso, visto que o Hitchcock foi o verdadeiro e invicto mestre, e tantos
outros tentaram copia-lo ou imita-lo, mas acabaram desrespeitando a filmografia
e o legado do Hitch. O mesmo já não pode se dizer do De Palma, que, aluno fiel
do mestre, acabou se tornando um também, à sua própria maneira.
O documentário abre com o Brian discutindo a
intenção de Hitchcock ao fazer Um Corpo que Cai (confesso que desconhecia tal premissa, e achei curiosíssimo) que
era simular o trabalho de um diretor durante um filme. Genial. E essa não é a
única vez em que Hitchcock é referenciado. Muitos dos grandes trabalhos do De
Palma indicam uma certa influência hitchcockiana, pra não dizer quase todos os
suspenses tem uma certa marca hitchcockiana.
Mas também tem um filme que o De Palma fez,
no comecinho da carreira, que ele alega ter sido influenciado pela Nouvelle
Vague, que foi Quem Anda Cantando Nossas
Mulheres, quando ele e o Robert De Niro, protagonista do filme, ainda eram
praticamente desconhecidos. Creio que o Baumbach, um dos idealizadores do documentário,
ficou bastante entusiasmado com essa específica parte dele comentando sobre
Godard e Truffaut.
Outra coisa bem curiosa é como o De Palma
comenta a maioria de seus filmes visando o espírito comercial deles. Aliás,
achei bastante esquisito ele comentar sobre Um
Tiro na Noite, cujo eu considero seu melhor filme, com um certo ar de
insatisfação, visto que o filme foi um fracasso nas bilheterias, porém é o
trabalho mais potente e visionário dele.
Engraçado ele comentando sobre os bastidores
de Os Intocáveis, outro filmaço, e
mencionado aquela famosa sequência da escada (a melhor do filme todo) que é uma
referência a uma cena em particular do clássico do cinema mudo O Encouraçado Potemkin, de Eiseinstein.
Sean Connery, que interpreta Malone no filme, não gostou da cena em que
metralhado, segundo o De Palma. O ator ficou bastante incomodado. Enquanto
comenta, o De Palma ri, dizendo que acha irônico ele ter sido o James Bond em
tantos filmes, mas se irritar ao ser baleado. E, de fato, o James Bond só foi baleado
2 vezes em toda a saga, que conta com uns 50 filmes, eu creio.
Sissy Spacek, antes de ser a Carrie no famoso
filme homônimo, talvez o mais famoso do De Palma, foi assistente de figurino em
um filme anterior dele, O Fantasma do
Paraíso. Já o filme que De Palma considera seu melhor é O Pagamento Final. Tenho o dvd, mas
nunca vi. Confesso que o interesse em conferi-lo cresceu após esse comentário.
É um pouco triste ver como o diretor olha com
pesar à filmografia mais recente, que não tem sido muito bem aceita pela
crítica em geral. E peculiar o fato de nenhum filme dele ser produção americana
autêntica desde Missão: Marte,
fracasso crítico e de bilheteria. Até mesmo Dália
Negra, que se passa em Los Angeles, teve a maioria das cenas rodadas na
Bulgária e na Itália, e foi financiado por uma produtora estrangeira. Embora
tenham sido alvejadas pelos críticos, essas obras recentes do De Palma, como Femme Fatale, Dália Negra, Guerra sem
Cortes e Passion estão entre os
maiores filmes dele. Esses críticos sem alma sempre acabam com tudo!
Parece que ele não está mais filmando Lights Out, também rodado no exterior,
que estava previsto para ser lançado ano que vem. Agora parece que o De Palma
está focando em outro projeto, The Truth
and Other Lies, adaptação de um livro. É esperar pra ver.
Enquanto seu próximo filme não vem, o
documentário De Palma é uma pedida
obrigatória para fãs do diretor e cinéfilos. Talvez o único ponto negativo de De Palma é a distância e a falta de
intimismo. Mesmo assim, é um trabalho fascinante e que deve ser visto.
De Palma
dir. Noah Baumbach, Jake Paltrow - ★★★★

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