No meio do primeiro semestre, pelo menos aqui nas escolas de São Paulo e na qual estudo, só se falava no atanazamento do "Charlie, Charlie, você está aí?". A brincadeira deixou "sequelas" psicológicas em alguns dos alunos, que andavam pelos corredores cabisbaixos, depressivos e com o rosto varrido por lágrimas. Uma porrada de filmes já abordaram esses jogos fantasmagóricos que, pra não falar sempre, na maioria das vezes envolve adolescentes. Um dos mais recentes é o A Forca. Não consigo me lembrar muito de outros. Ouija, talvez (não vi o filme, mas pelo que foi falado tive uma noção do que se tratava, sem tocar na qualidade)? Não devemos esquecer Pânico. Até outro clássico do Wes Craven, A Hora do Pesadelo, se encaixa no perfil. Carrie, a Estranha, do Brian de Palma. É uma lista grande.
Mas, de todos, creio que há uma clara semelhança entre este filme e A Bruxa de Blair, muito embora a história de A Forca, e certos momentos dentro da conturbada trama, nos remetam a A Hora do Pesadelo. Pra começar, A Forca e A Bruxa de Blair foram gravados naquele estilo de "found footage" (mais conhecido como pseudo-documentário), além de também contextualizarem sobre estranhos eventos vindo à tona em um só plano, ainda que comparar os dois filmes quanto à qualidade seja, honestamente, um pecado. A Forca, muito embora seja esforçado, tenha consigo um elenco (todo desconhecido) que dá conta do recado, uma dupla de diretores (mais desconhecida ainda) que consegue fazer jus ao título de horror lhe concedido, é mais uma falha, e certamente entra para a lista das desgastantes (esta, no entanto, até é bem criativa e estremecedora) produções do gênero deste ano, quase todas tendo resultado em catástrofes.
Depois de ter perdido nos cinemas (e olha que tava passando bem perto aqui de casa), decidi ver com a minha irmã, e nós dois ficamos nos cagando do início até o fim, quase que literalmente. Minha irmã, quando é em caso de filmes de terror, nem liga muito pra história, pro desenrolar e tal. Ela quer, mas também parece não querer, ver o terror, e fica no meio-termo, enquanto aguarda na espreita por uma cena que jorre litros de sangue, e também apresente membros decepados. Mas é normal. Filmes de terror são naturalmente excitantes e também cansativos, não no termo de serem ruins ou potencialmente pequenos, mas sim por penetrarem tão fundo em nosso consciente, criando um espaço tão vibrante, ameaçador e bizarro, que acaba sugando nossas energias com um imenso pesar.
Eu, ao contrário da Thais, sou super diferente. Pra falar a verdade, eu acho que o horror, mesmo sendo um gênero tão bem conhecido e adorado, nessa parte mostra uma certa divisão por parte do público, já que, enquanto alguns só se importam com o terror, uma outra maioria demonstra anseio por certeza, nenhum erro, tudo bem planejado, sem nada faltando. Eu sou desse último grupinho, que, a cada filme de terror que vai ver espera dele um resultado proveniente de M. Night Shyamalan, o que quase nunca é concretizado, até hoje, com a nossa evoluída indústria e essa variedade de gêneros tão bem mixados (terror-comédia, terror psicológico, terror-ação, terror experimental, terror pseudo-documentário) que já são gêneros bem antigos, mas que só agora estão comemorando o auge. O terror, creio, só começou a ser bem visto a partir dos anos 70 pra cá mesmo, isso por que não considero Hitchcock terror. Mas estou falando que o match point foi quando surgiram O Exorcista, Carrie, Wes Craven, e por aí vai... Foi na década de 70 também que ganharam amplitude os filmes B, anteriormente desvalorizados e maltratados pela indústria cinematográfica dos anos 50-60, embora essas duas épocas tenham gerado suas pérolas, só pra citar o revolucionário cinema trash de Ed Wood, o pai dos filmes B e ditos trash.
E, falando disso em A Forca, acho que fiquei mega desapontado, até porque eu não consegui encontrar sentido na história. Por exemplo, o menino Charlie, já na primeira cena, morre num acidente da peça. Ao meu ver, acho que, devido ao acidente, ele voltou para assombrar os alunos envolvidos na re-encenação da peça, [spoiler à vista] um deles filho do cara que tinha desistido de um papel, e seu substituto no papel era o tal de Charlie. Só que aí [não acabou não, mais spoiler] essa versão contrasta com a qual a menina, obsessiva com o caso, arquitetou tudo ao lado da mãe, na minha opinião a moça que tinha atuado com o Charlie na peça de 93, a primeira encenação. Além disso, o filme também não tem muita lógica porque deixa muitas pistas escaparem, ficando à deriva. E isso não cai bem. Partiu o suspense ao meio.
Minha irmã só ficou inconformada com o final, que dá um rewind, mas que na minha opinião só posa de "final", porque é muito curto mesmo pra ser captado de uma só vez, e eu penso comigo que ficou muito mal especificado, não só essa versão, que parece ser a final dos diretores, mas também a outra, mais confusa ainda porque não deixa sinais alguns de sua veridicidade (até agora acho que seria melhor ter trago a porra de uma bola de cristal para ver A Forca). Minha irmã ficou bem trêmula, mas disse que o final destruiu o clima, porque soou demais artificial, falso, embora eu ache que ela tá exagerando, porque o final também não é esse fim de mundo que ela descreveu aí.
A Forca (The Gallows)
dir. Travis Cluff, Chris Lofing - ★★
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