segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Crítica: "A MALVADA" (1950) - ★★★★★


A lendária obra de Joseph L. Mankiewicz, diretor dos igualmente inesquecíveis clássicos Cleópatra, Jogo Mortal, Júlio César, Quem é o Infiel, A Condessa Descalça, Um Americano Tranquilo, Ninho de Cobras entre vários outros, teve o azar de ser lançado no mesmo ano que Crepúsculo dos Deuses, na minha opinião um filme bem maior que este, mas que não é de jeito algum desprezível ou desnecessário. Muito mesmo pelo contrário. Digo azar por conta da importância e do tamanho do melhor filme de Billy Wilder, que, além de ter sido lançado em 1950, também aborda o mesmo tema: o lado escondido do sucesso. A Malvada, como é característico do cinema de Mankiewicz, valoriza diálogos intensos e sempre bem construídos, preenchido por falas preciosas e piadinhas charmosas, que já é um inestimável bem dos roteiros assinados por Joseph, e talvez bem faça deste seu maior trabalho dentre os outros roteiros de sua filmografia, mas também exibe a ambição do diretor, misto de exigência e equilíbrio.

O que diferencia A Malvada de Crepúsculo dos Deuses é que, enquanto o primeiro filma todo o sistema e as armadilhas que englobam a ascensão de um certo artista, aqui a diabólica Eve Harrington, lá fomos apresentados à queda da diabólica ao cubo Norma Desmond e, então, suas estratégias para sobreviver ao declínio. O que, no entanto, junta um filme ao outro é o uso marcante do flashback, àquela época ainda iniciante, tendo como bons exemplos anteriores à estes Cidadão Kane, O Morro dos Ventos Uivantes, sem contar em boa parte dos filmes de seu principal contribuinte e considerado pai desse estilo de narrativa, D.W. Griffith, e por aí vai. Até eu acho que, depois desses dois filmes, o flashback foi definitivamente aclamado. 

A Malvada gira em torno de Eve Harrington, suposta fã de Margo Channing, uma prestigiada e peculiar atriz de teatro, que, além de ter visto todas as peças em que ela atuou, também fez dela um estimado ídolo por muitos anos, e desenvolveu uma paixão como nenhuma outra, um tanto "inusual" para uma fã, segundo a própria Channing, numa noite onde Eve, vista pela melhor amiga de Margo, Karen Richards, esposa de um cobiçado roteirista, é convidada pela mulher a entrar no camarim de Channing e conhecê-la pessoalmente, depois que a moça introduz à ela sua fanática obsessão pela atriz, a começar pela quantidade de peças vistas e tal. Uma vez no camarim, Eve narra a trágica história de sua vida, assim como a perda do marido e o destino que a levou ao teatro, deixando todo mundo presente no camarim, incluindo a própria Margo, emocionado, à exceção de Birdie, a arrogante empregada e assistente dela, personagem que recebe pouca atenção na trama, para a minha surpresa e, na minha opinião, bem poderia ser a chave para um desfecho mais sangrento. 

O interessante é que o filme, na ausência desses artifícios, se sai bem e não é nem um pouco parado, sendo bastante flexível e multifacetado em determinados momentos, evitando a sobrecarga e ficando mais opcional, sem fazer com que a série de diálogos pareça maçante e/ou poluída. Essa movimentação é bem palatável, pra falar a verdade, se era essa a intenção do roteiro de Mankiewicz. O que sustenta primordialmente A Malvada é esse elenco brilhante, que conta com as memoráveis performances de Bette Davis (na pele da amarga Margo Channing), Anne Baxter (como a Eve), George Sanders (Addison DeWitt), Celeste Holm (Karen Richards), Thelma Ritter (Birdie, que rouba algumas cenas), e vários outros, como a (àquela altura pouco conhecida) Marilyn Monroe, que faz uma ponta. Elenco que deu ao filme merecidíssmas cinco indicações nas categorias de atuação no Oscar 1951 - um recorde - sendo duas em Melhor Atriz (Bette e Anne), Atriz Coadjuvante (Celeste e Thelma) e Ator Coadjuvante (George), o único a vencer a estatueta. Falando em recordes, o filme totalizou cinco Óscares (entre eles o de Melhor Filme) e catorze indicações, recorde nunca superado, apenas igualado por Titanic, que levou onze pra casa na edição de 98. 

A Malvada (All About Eve)
dir. Joseph L. Mankiewicz - 

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