A história carregada por A Dama Dourada possui um cheiro muito natural de documentário, e acredito que ela até se sairia melhor caso enquadrada num. Para a minha tristeza - e consequente surpresa -, não gostei nem um pouco deste drama A Dama Dourada, que queria ver há tempos, e hoje me abalei quando vi que as minhas expectativas, digo, a boa parte delas, estavam erradas. Há quem elogie as bonitas performances de Helen Mirren e Ryan Reynolds no filme, mas o fracasso do resto é inevitável. Por que este filme funcionaria perfeitamente como documentário? A Dama Dourada oferece preciosas e interessantes informações, que até credibilizam o roteiro de Alexi Kaye Campbell mas, se por um lado esse trabalho é uma mina de ouro neste ponto, no outro é uma bomba prestes a explodir. Uso de flashbacks, sentimentalismo forçado, clímax prepotente e elementos batidos... Só mesmo restava a A Dama Dourada uma mediana salvação por parte de elenco. Fora isso e a equipe técnica, só sobra ao filme desapontamento.
Não raramente, me lembrei a todo instante de Caçadores de Obras-Primas, de George Clooney, muito semelhante à este ao abordar o assunto da confiscação de bens artísticos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Aqui, vemos a história de Maria Altmann, uma austríaca que veio aos Estados Unidos ainda durante a guerra, deixando os pais e o restante da família para trás. Isso na década de 40. Em 1998, Maria, após a morte da irmã, recorre a um inexperiente advogado para cuidar de alguns assuntos que vieram à tona com o falecimento, incluindo o quadro "Woman in Gold", levado pelos nazistas durante a invasão da casa da família em Viena, tal como outros objetos de arte. Inicialmente determinada a encontrar a tão especial obra, ela e Randol Schoenberg, advogado também de origem austríaca, partem em uma viagem cheia de reviravoltas ao país. E a personagem Maria sempre com a cabeça nas memórias da guerra.
Helen Mirren, como sempre, encarna uma mulher cheia de determinação, decidida, prática, sem muitos rodeios, firme e insistente, aquela típica personagem feminina forte que sempre vem para conseguir num piscar de olhos a aprovação do espectador devido à sua iminente teimosia e independência. E não que eu esteja falando mal desses personagens, mas é tão comum vermos Mirren interpretando mulheres de rígido poder e, principalmente, dominadoras indomáveis que não houve surpresa em vê-la novamente aqui neste papel com o mesmo ar que é possível notar em outras performances, melhores, da atriz britânica. E isso em nenhum ponto desagrada. Apenas temos a sensação constante de "não já vi isso em algum lugar?". Mesmo com um sotaque diferente, uma estrutura diferente, Helen Mirren não se distancia tanto das suas típicas mulheres de espírito forte. E não falo de A Rainha, onde pelo menos ela exibia as suas duas faces, a estrondosa e vitalícia coragem, e a abatedora fraqueza consensual. Falo de Hitchcock (falando em Hitchcock, hoje o diretor completaria 116 anos), A 100 Passos de um Sonho, RED entre outros. Parece a Meryl.
Ryan Reynolds finalmente em algo maior (atuação) em sua carreira, mesmo que muito pouco consiga escapar de seu jeitão de quem não sabe de nada. A trilha sonora de Hans Zimmer, com a colaboração de Martin Phipps, é sem dúvida bem comandada. Nos flashbacks, o que brilha é a fotografia de Ross Emery. Palmas à igualmente estonteante direção de arte. A Dama Dourada apela muito e acaba ficando em segundas intenções, o que meramente transporta toda a responsabilidade do longa para o elenco, e isso se torna um inevitável caos, sem querer menosprezar a qualidade das atuações. No fim de tudo, é um retrato bem falso de uma justiça escancaradamente impossivelmente perfeita. Os traços da guerra, que tanto derivam epifanias à Maria, aqui presentes, tinham como missão reforçar o drama, mas falham e só tendem a transtornar mais.
A Dama Dourada (Woman in Gold)
dir. Simon Curtis - ★★

Nenhum comentário:
Postar um comentário