sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Crítica: "VOCÊ VAI CONHECER O HOMEM DOS SEUS SONHOS" (2010) - ★★★


Uma semana. Só mais uma semana. Pode soar bem exagerado (e é) mas em ocasião da data decidi ver esta divertida comédia romântica Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, um dos últimos trabalhos do mestre Woody. Se não é o melhor e nem chamou tanto a atenção no seu lançamento, e pode sim ser considerado um trabalho menor do diretor mas nunca ruim, Você Vai Conhecer é um filme bem relaxado dele, muito distante da desgovernada frenesi das películas anteriores. Talvez o roteiro não seja tudo aquilo que se poderia esperar de um filme do Woody, porém não podemos negar que o romance não se perde, e isso é o que vale. Falando de amor, ele não erra. Tarda, mas não falha. E melhor ainda é ele falando da ilusão, recorrente tema de sua filmografia (e o tema de meu filme predileto dirigido por ele, A Rosa Púrpura do Cairo), aqui abordado de uma forma bem retraída, porém bonita.

E quando um filme dele não é lá tudo isso, pelo menos um bom e grande elenco vem seguindo e aqui não foi nem um pouco diferente. Naomi Watts, Antonio Banderas, Anthony Hopkins, Gemma Jones (a melhor, na atuação mais bem feita daqui), Freida Pinto, Josh Brolin... É um baita elenco. Talvez Jones e Brolin são os melhorzinhos da turma. Esperava mais de Naomi, que aqui é quase uma protagonista. Gostei também do Anthony. Creio que este bom longa de Woody fracassou por conta de seu orçamento, que é baixo. Se bem que as produções de Woody são pequenas, mas há uma peculiarmente nítida impressão de que este filme teve um baixo orçamento. E, devido à esse baixo orçamento - talvez - muitos cenários se repetem, há pouca movimentação, a exploração da narrativa naturalmente é reduzida, mas nada tão grave. Essa impressão ora me causou um leve desconforto ora deu ao filme um charme bem sofisticado.

De volta à Londres, desta vez não em um suspense mas sim em uma antologia romântica, depois do rápido retorno a Nova York (Tudo Pode Dar Certo), Woody monta distintas e interligadas histórias de amor que encaram o surgimento de novas paixões ao longo de caminhos já trilhados, e não muito raramente já são perceptíveis os traços autobiográficos, símbolos deixados acidentalmente (ou não) pelo cineasta na formulação da trama. Traços que talvez acrescentem um gosto mais Woody Allen ao roteiro, isso sem mencionar a trilha sonora enfeitada de jazz que brilha durante a sessão. Particularmente o caso de Alfie com a jovem prostituta Charmaine, relação não muito desconhecida de outros filmes do diretor, isso mencionando o próprio anterior Tudo Pode Dar Certo, é novamente fundo autobiográfico.

Acho que este é um dos filmes menos neuróticos já dirigidos por Allen (cá entre nós o cara mais neurótico do cinema), que é uma marca encravada da filmografia dele. Acredito que os personagens da Gemma (Helena), Naomi (Sally) e Josh (Roy) até possuem certa aptidão neurótica, mas não é algo que se diga: "Esse é um personagem do Woody!". Sinto de que alguma forma o clássico neurotismo foi excessivamente reduzido aqui. O neurotismo presente é bem suave, quase invisível. E não estou dizendo que a ausência de neurotismo tenha danificado o estilo de Woody neste filme. De forma alguma. Apenas faço uma simples observação. É mais com estranheza que recebo essa falta, e não como fracasso.

Mas o que mais impacta é o visual sempre deslumbrante dos filmes dele, locados arrebatadoramente em Londres. Sejam bons, ruins ou medianos, os filmes de Woody passados nessa cidade exalam um ar tão original e excepcional quanto o visual de seus filmes passados em Nova York. Já faz cinco anos do lançamento de Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, e eu realmente espero que Woody já esteja pensando em voltar lá o mais rápido possível. O clima londrino combinado ao propagante estilo romântico de Woody resulta em algo mais que perfeito. Seja em intensas filmagens como os suspenses O Sonho de Cassandra e Match Point - Ponto Final, que de certo modo anseiam por um tratamento mais delicado, ou neste triunfal romance existencial. Seja por Remi Adefarasin ou por Vilmos Zsgimond.

O interessante dessa nova fase do Woody é que ele vem tratando o espiritualismo, tema até então - praticamente - restrito à filmografia dele, de uma forma nunca vista. Talvez seja por causa da aproximação da tão temida morte que Woody esteja tão fortemente encarando esses pontos com uma habilidade tão brilhante. Assim foi em Magia ao Luar, ótimo longa que visava questões espíritas, a ilusão e também a vidência. Tomara que esse ano com Homem Irracional Woody nos traga um conteúdo tão bom quanto todos esses filmes seus citados, dotados de uma exímia qualidade.

Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos (You Will Meet a Tall Dark Stranger)
dir. Woody Allen - 

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