Parando pra pensar, acho que Clint Eastwood nunca esteve fora do seu auge. E com A Mula esse querido cineasta atinge um momento único na sua carreira, com um filme que é quase uma mescla de celebração e meditação, e ao mesmo tempo cada passo que dá é firmado com maturidade plena. O personagem principal do filme aproveita a melhor idade sem deixar de olhar para trás e enxergar a sombra projetada pelos seus erros em respeito a sua família. E, é claro, Eastwood é o cineasta que melhor explorou a redenção de personagens muitas vezes falhos, mas também humanos, ao longo de uma carreira repleta de obras densas e marcantes. A Mula é um trabalho calcado na sensibilidade nata desse cineasta que passou sua filmografia investigando o coração do homem americano em busca da entrega a um sentimento específico. A redenção é, de certa forma, a porta para um estado de purificação catártica.
Eastwood sempre filmou com o coração, e sempre acertou. Com A Mula não foi nada diferente. É gratificante ver esse veterano do cinema americano entregando mais uma grande obra quase aos 90. Alguém, não me lembro agora quem, fez uma comparação a Kiarostami. Muito justo. Eastwood, em sua longa fase de maturidade, encontra no olhar conciliativo e sensivelmente humano uma forma de passear através de histórias e de personagens, podendo não trazer muita coisa nova, mas sobretudo reforçando um estudo preciso de dramas e de feridas na vida de um homem. Há um sentimento de leveza e despreocupação que é como um recado de Eastwood para nós, um recado vindo da longevidade. E ele aproveita para aconselhar, reforçar que um homem precisa se dedicar a sua família. Em uma certa cena, ele diz para o personagem de Bradley Cooper que seu maior erro foi ter colocado trabalho antes da família. A Mula, esse filme que eu consigo definir como sendo imperdível pra quem seguiu os passos de um mestre do cinema, passeia pela celebração e pelo arrependimento de um homem no ápice da sua experiência de vida, tentando consertar o que quebrou, refazendo seus passos e enfim recuperando o tempo perdido.
Já é, pra mim, um dos grandes filmes do ano.
A Mula
The Mule
dir. Clint Eastwood
★★★★★