Noah Baumbach está de volta, felizmente com um de seus trabalhos mais satisfatórios. The Meyerowitz Stories, filme que em Cannes esse ano se envolveu na polêmica da Netflix, ao lado de Okja na competição do festival por terem sido distribuídos (e produzidos) pela empresa de streaming. Foi um falatório geral, e nem o presidente do júri, Pedro Almodóvar, quis saber de "premiar filmes que não pudessem ser assistidos no cinema", o que causou a maior confusão, e por aí vai. Foi decidido que nenhum filme produzido para streaming seria exibido mais na mostra competitiva de Cannes, agora é regra. Pode ser frescura? Talvez. Fato é que ambos Okja e The Meyerowitz Stories são – até agora – os melhores filmes de Cannes 2017.
Baumbach está em seu habitual estado de sempre: as relações humanas, o estudo das personagens sempre inquietas e insatisfeitas, brigas de família, reconciliações, muitos diálogos. É também esse um dos filmes do diretor que mais lembra Woody Allen, não creio que essa comparação seja de todo ruim (como muita gente andou dizendo) mas há uma parcela de acertos aqui que lembram o melhor do cinema do nosso nova-iorquino.
A começar pelo elenco, incrível, liderado pela performance de um Adam Sandler irretocável, no seu melhor papel desde Embriagado de Amor, é verdade! Até dizem que ele pode ser indicado ao Oscar, e seria muito justo, aliás. Logo em seguida, Dustin Hoffman surpreende na pele de um pai artista que está passando por uma situação complicada com a aproximação dos filhos e as feridas do passado da família. Emma Thompson rouba a cena diversas vezes, com sua personagem meio perdida, quase uma doidinha. Ben Stiller está formidável. Elizabeth Marvel, apesar de aparecer pouco, tem seus momentos bons.
É um dos trabalhos mais humanos de Baumbach, essa exploração meio cômica de uma crise familiar e das relações entre pais e filhos, é até meio surpreendente que entre uma tonalidade dramática bem discretamente, mas que suaviza o retrato e até permite um olhar mais carinhoso para a história e os personagens.
A já rotineira leveza dos diálogos, das discussões despretensiosas, dos pequenos detalhes que podem ser encontrados, é no retrato de uma família imperfeita recolhendo seus cacos, e aprendendo a superar os problemas e as mágoas. A fotografia está nos trinques: há cenas em que o azul é utilizado lindamente, não podia deixar passar. Baumbach capricha nesse filme que tem um gosto bem mais sentimental do que seus outros filmes, é nesse sentimento que a gente encontra um alento para o conflito que está sendo retratado. Pode-se até dizer que é um filme otimista, nesse sentido, esperançoso.
The Meyerowitz Stories (New and Selected)
dir. Noah Baumbach
★★★★