domingo, 29 de outubro de 2017

THE MEYEROWITZ STORIES (2017)


Noah Baumbach está de volta, felizmente com um de seus trabalhos mais satisfatórios. The Meyerowitz Stories, filme que em Cannes esse ano se envolveu na polêmica da Netflix, ao lado de Okja na competição do festival por terem sido distribuídos (e produzidos) pela empresa de streaming. Foi um falatório geral, e nem o presidente do júri, Pedro Almodóvar, quis saber de "premiar filmes que não pudessem ser assistidos no cinema", o que causou a maior confusão, e por aí vai. Foi decidido que nenhum filme produzido para streaming seria exibido mais na mostra competitiva de Cannes, agora é regra. Pode ser frescura? Talvez. Fato é que ambos Okja e The Meyerowitz Stories são – até agora – os melhores filmes de Cannes 2017.

Baumbach está em seu habitual estado de sempre: as relações humanas, o estudo das personagens sempre inquietas e insatisfeitas, brigas de família, reconciliações, muitos diálogos. É também esse um dos filmes do diretor que mais lembra Woody Allen, não creio que essa comparação seja de todo ruim (como muita gente andou dizendo) mas há uma parcela de acertos aqui que lembram o melhor do cinema do nosso nova-iorquino.

A começar pelo elenco, incrível, liderado pela performance de um Adam Sandler irretocável, no seu melhor papel desde Embriagado de Amor, é verdade! Até dizem que ele pode ser indicado ao Oscar, e seria muito justo, aliás. Logo em seguida, Dustin Hoffman surpreende na pele de um pai artista que está passando por uma situação complicada com a aproximação dos filhos e as feridas do passado da família. Emma Thompson rouba a cena diversas vezes, com sua personagem meio perdida, quase uma doidinha. Ben Stiller está formidável. Elizabeth Marvel, apesar de aparecer pouco, tem seus momentos bons.

É um dos trabalhos mais humanos de Baumbach, essa exploração meio cômica de uma crise familiar e das relações entre pais e filhos, é até meio surpreendente que entre uma tonalidade dramática bem discretamente, mas que suaviza o retrato e até permite um olhar mais carinhoso para a história e os personagens. 

A já rotineira leveza dos diálogos, das discussões despretensiosas, dos pequenos detalhes que podem ser encontrados, é no retrato de uma família imperfeita recolhendo seus cacos, e aprendendo a superar os problemas e as mágoas. A fotografia está nos trinques: há cenas em que o azul é utilizado lindamente, não podia deixar passar. Baumbach capricha nesse filme que tem um gosto bem mais sentimental do que seus outros filmes, é nesse sentimento que a gente encontra um alento para o conflito que está sendo retratado. Pode-se até dizer que é um filme otimista, nesse sentido, esperançoso. 

The Meyerowitz Stories (New and Selected)
dir. Noah Baumbach
★★★★

O ORNITÓLOGO (2016)


Talvez seja um filme mais curioso do que propriamente explicativo. Cria mais perguntas do que respostas, e isso não é necessariamente um problema para o espectador, como se cada enigma devesse ser respondido ali na hora. O Ornitólogo surge como um dos filmes mais fascinantes do cinema português recente, é destaque também seu diretor, João Pedro Rodrigues, ao "traduzir" para os tempos atuais a história de Santo Antônio, com o ator Paul Hamy interpretando um cara que está numa floresta estudando pássaros e acaba atravessando várias desventuras no caminho, se encontrando com duas mulheres orientais "sinistras" que o aprisionam, e também um estranho ritual que acontece ali naquele lugar. Não é exatamente um filme bizarro de se assistir, mas sim curioso, de uma curiosidade bastante energética, como se isso fosse o motor da trama, criar um certo interesse do público naquelas situações tão desnorteantes.

Se o cinema pode ser um veículo para essa "atração" entre o que é mostrado e a quem está sendo mostrado, toda essa intervenção, toda a relação que existe nesse meio, é uma proporção muito conveniente de estabelecer fixações, de criar relações entre filme e público, e nesse quesito João Pedro Rodrigues cria uma obra quase que fundamental nessa síntese, na complexidade desse relacionamento e do que pode surgir dele.

Pasolini está presente aqui, acho que não é segredo pra quem conhece o trabalho do diretor, e isso só torna a reforçar essa ideia de que a imagem contém uma sensualidade escondida, basta o próprio espectador adentrar o filme e redescobrir isso. O Ornitólogo, aliás, pode até não ter uma trama. Personagens que se encontram, situações esquisitas, figuras ainda mais esquisitas, é como se isso fosse o alimento da trama, o personagem principal caindo nessas armadilhas do destino. 

A belíssima fotografia em scope não exatamente agrada por uma certa beleza, mas pelos ângulos inventivos, inusitados, pela captura das cenas, pelos enquadramentos ainda mais contundentes e alucinantes. Há, é claro, pitadas de comédia no meio de um suspense tão agridoce e ao mesmo tempo, desconhecido. Paul Hamy está fabuloso. A temática homossexual também entra aqui de uma maneira muito mais inesperada, para a surpresa e o deliciamento do espectador, com toques de sensualidade extremamente sólidos. A cena final, ao som de António Variações, é provavelmente a melhor sequência de encerramento do ano de 2016. 

tu estás livre e eu estou livre
e há uma noite para passar
porque não vamos unidos
porque não vamos ficar
na aventura dos sentidos

tu estás só e eu mais só estou
tu que tens o meu olhar
tens a minha mão aberta
à espera de se fechar
nessa tua mão deserta

vem que amor
não é o tempo
nem é o tempo
que o faz
vem que amor
é o momento
em que eu me dou
em que te dás

tu que buscas companhia
e eu que busco quem quiser
ser o fim desta energia
ser um corpo de prazer
ser o fim de mais um dia

tu continuas à espera
do melhor que já não vem
e a esperança foi encontrada
antes de ti por alguém
e eu sou melhor que nada

O Ornitólogo
dir. João Pedro Rodrigues
★★★★

sábado, 28 de outubro de 2017

O AMANTE DUPLO (2017)


Acho que nunca tinha me decepcionado antes com um filme de François Ozon. Foi a primeira vez. O Amante Duplo é o mais novo trabalho do francês, competiu pela Palma de Ouro na última edição do Festival de Cannes, recebeu o prestígio da crítica (quase não vi ninguém falando mal, aliás). Trata-se de um filme tentador, é até interessante no começo, mas o filme passa de interessante para quase insuportável numa rapidez absurda. 

Existem três ou quatro momentos realmente dignos de nota, e ainda sim dizer isso é um tanto exagerado. A execução destrambelhada e a constante evocação de uma atmosfera artificial estão entre os mais gritantes deslizes do thriller, para não mencionar que existe muito humor involuntário entre um escorregão e outro. No máximo mesmo, o destaque aqui é a curta participação de uma enigmática Jacqueline Bisset (coisa que dura questão de poucas cenas), uma grande atriz que está sendo subvalorizada em suas aparições mais recentes no cinema (uma lástima) e que até mesmo numa ponta como essas consegue evocar um mínimo de atenção. 

Marine Vacth interpreta uma jovem mulher que procura a assistência de um psicólogo para tratar de dores que sofre e que crê serem psicológicas. Logo, no que aparenta ser a cura da mulher, ela e o psicólogo se aproximam e iniciam uma relação juntos. Só que ela acaba descobrindo que o homem tem um irmão gêmeo (também psicólogo) que é o completo inverso dele, um sujeito arrogante, que a maltrata e despreza, enquanto ao mesmo tempo nutre um desejo irascível, carnal por ela. 

Ozon imprime nas cenas de sexo o expressivo ardor que já é comunal aos seus filmes, mas falta algo que o torne realmente o que ele quer apenas com o que é posto aqui, e não dá conta dessa expectativa. Por mais bem filmado, fotografado, editado... O Amante Duplo é falho. São percebíveis as influências de De Palma e Cronenberg tanto no suspense quanto na estética, mas isso também tem sua parcela de desacertos, de incômodos. Tanto se cria, tanto se investe no erotismo cru do filme, e se extrai muito pouco de toda essa ação circunstancial, de uma história que se preocupa demais com essa constante emulação, em fazê-la funcionar, e acaba por não concluir isso.

Há um quê de erótico sim, há cenas impressionantes, como eu já disse. Mas aqui isso não se sustenta por muito tempo. Talvez seja um filme para ser visto no cinema, onde há valorização de fotografia, de elementos visuais e a estrutura distorcida, mas não sei se a experiência decepcionante sofreria mudanças, ou seria diferente do que foi. Realmente não sei dizer. 

O Amante Duplo (L'Amant Double)
dir. François Ozon
★★

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

MARJORIE PRIME (2017)


Eis um filme que promete pegar muita gente de surpresa, especialmente na temporada de premiações que está por vir, com alguns prêmios praticamente garantidos para a veterana Lois Smith (em performance arrebatadora), Jon Hamm, Geena Davis e Tim Robbins – o quarteto fantástico de Marjorie Prime. No filme, hologramas trazem de volta à vida as imagens de entes queridos e reavivam a memória com suas presenças. Há um jogo de interpretações que raramente se vê fluir com tamanha flexibilidade, de uma firmeza irreparável. Se deve muito à direção de Almereyda, mas há de se notar que o elenco domina uma dinâmica totalmente própria, um jogo muito particular que se desdobra no mesmo ritmo que a trama passa a reconcentrar suas camadas mais ínfimas. 

A fotografia é também de uma elaboração minimalista e pra lá de aguçada (Sean Price Williams, direção de fotografia), cuja riqueza é mais que complemento à complexidade metafísica do filme, mas um alento que procura acompanhar em sintonia as configurações da narrativa. Pode-se dizer que trata-de se um filme teatral (pra mim não há problema em um filme que emula uma certa teatralidade, embora eu creio que aqui não seja o caso, mas pra mim isso pode ser visto como um elemento de grande porte dramático, dependendo da situação, é claro) embora o que exista de mais cinematográfico em Marjorie Prime seja justamente esse comportamento do elenco que é tão caro às principalidades da trama e, centralmente, da maneira como o filme trabalha sua riquíssima disposição cênica, e subsequentemente a detalhista construção espacial. 

É também de cortar o coração que um filme como esse abarque tamanhas verdades – chega a ser até melancólico assistir – observar que o tempo esvanece e com ele uma cadência de transformações, desaparecimentos e urgências preenchem as lacunas da percepção humana, faz-se necessária a busca por uma presença, ainda que artificial, quando descobre-se que depois da ausência o que surge é o temer pelo esquecimento. A ausência é o ponto final, e ao mesmo tempo ponto de partida para uma cobrança nostálgica, um sentimento de reaproximação e natural redescoberta. É essa ilusão – a ilusão da artificialidade das substituições e do transbordar humano das presenças – que o filme questiona e explora. 

Poucos filmes recentes foram tão verdadeiros, tão melancólicos e profundos como Marjorie Prime. Vai diretamente no seu ponto para dissecar a ação do tempo sobre seus personagens e na existência humana, bem como na nostalgia. Direção incrível, mais uma vez, de Michael Almereyda. Sobressai-se um elenco de ouro, formado centralmente por quatro dos mais talentosos atores americanos trabalhando hoje (e provavelmente deve vir um Oscar – ou algo do gênero, pelo menos – para Lois Smith). 

Marjorie Prime
dir. Michael Almereyda
★★★★

domingo, 22 de outubro de 2017

MANIFESTO (2015)


É num filme como Manifesto que a gente começa a refletir sobre como a presença de um determinado intérprete em cena pode fazer toda a diferença, em diferentes aspectos, no que diz respeito à construção de um trabalho cinematográfico. É aí que entra a gigante Cate Blanchett, que já provou (várias vezes, inclusive) que é uma das maiores atrizes dos nossos tempos, em um de seus papéis mais emblemáticos e curiosos no cinema. Neste filme, que sem sombra de dúvida é um achado na filmografia da australiana, ela alterna entre diferentes personagens numa alegoria que questiona os valores, os fundamentos e princípios da arte na vida humana, na história e na filosofia. Projetado inicialmente como uma instalação (que não chegou a vir para o Brasil) e depois "traduzido" para a linguagem de cinema, Manifesto é um desses filmes bizarros que acabam pegando a gente pela sua iminente estranheza e cativante interação com o espectador, e por isso mesmo não deixa de ser uma experiência no mínimo inovadora e quase chocante até pra quem está do lado de cá da tela. 

Blanchett figura nas treze esquetes deste projeto vivendo personificações distintas em monólogos riquíssimos e repletos de questionamentos à arte em si, envolvendo famosos manifestos de artistas, filósofos e pensadores aclamados. A alternância pode surpreender pelas pitadas inesperadas de humor, pela bizarrice frontal ou pela exuberância da atuação, fato é que, por mais irregular que seja, Manifesto consegue conspirar sua atmosfera em torno de Blanchett de uma maneira que raramente se viu, e é por isso mesmo que vale dizer que vale a pena conferi-lo justamente pela presença dela, num de seus momentos mais inspirados e tentadores e que é prato cheio pra quem acompanha ela há algum tempo e nutre uma certa admiração por seu talento. 

Sim, o filme é interessante, tem um quê bem mais experimental do que propriamente narrativo, mas não há como deixar passar que existe aqui uma pretensão em dar conta de um conteúdo extensíssimo e muito variado, repleto de referências, códigos e contextos próprios, que vão se atropelando para dar lugar a outros. Há um discurso bastante rico sobre a arte, mas é imaginável (e o filme deixa isso claro) que é um trabalho bem mais compatível à uma instalação artística do que um longa-metragem em si. Ainda sim, é notável que Blanchett esteja numa de suas performances mais celebráveis e talentosas, com suas mil faces, transformações fascinantes que já dão motivo de sobra pra valer uma conferida. 

Manifesto
dir. Julian Rosefeldt
★★★

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

AS MIL E UMA NOITES (2015)


Comentarei sobre os três filmes da maravilhosa trilogia do cineasta Miguel Gomes As Mil e uma Noites


Por incrível que pareça, o primeiro filme (ainda que seja o melhor dos três) demorou um pouco pra me pegar, confesso que no começo ainda tive um certo receio de não "embarcar na viagem", mas esse sentimento foi passageiro. É o mais delicioso e relevante dos filmes da trilogia, Miguel Gomes também está participando, que é bem mais denso, tem uma ótima síntese de construção narrativa e o trabalho com a câmera é destaque. Pra quem não estiver no pique, pode ser um pouco difícil seguir a linha desse aqui, entretanto é um trabalho mais que encantador. Ali naquele olhar crítico pra crise em Portugal (que é o tema central dos três longas), o Gomes encontra brechas pra fazer comentários ainda mais desconcertantes e inserir ordens que parecem não estar muito conectadas às principais atenções do filme, e que gradativamente vão se fazendo importantes e essenciais. O elenco está em ótima forma, não tem do que reclamar, certas cenas de diálogos são deveras exímias e nestas os atores estão impecáveis.

As Mil e uma Noites: Volume I, O Inquieto
★★★★


A cena genial do julgamento já diz muito sobre o que este filme vem a abordar, e está entre as sequências mais importantes e hilárias desta trilogia (se não for a mais). Aliás, humor aqui neste filme recebe um tratamento bastante diferenciado, talvez porque esteja mais explícito do que no primeiro, e ainda sim nesse aqui um senso de comédia impressionante se apropria do formato crítico do filme, mas de forma alguma o drama é desvalorizado, até acho que existem certas passagens que encontram uma ótima expressão dramática. Notáveis presenças de atores já recorrentes à filmografia do Gomes (inclusive de Tabu) e do filme anterior. Por vezes é vertiginoso, a presença da comédia primeiramente se torna um aliado desse comentário do diretor e segundamente é a ferramenta pela qual o elenco acaba acessando uma certa liberdade e rigor excepcionais, e os diálogos ficam ainda mais interessantes com essa inserção. O segmento do cachorrinho também merece menção. Este é, sem dúvida, o mais original dos três filmes, destaque pela abordagem inventiva que já se denotava no primeiro.

As Mil e uma Noites: Volume II, O Desolado
★★★½


Este filme, embora apontado como o menos relevante, tem a cena mais linda entre os três trabalhos, que é da Crista Alfaiate (cujas performances ao longo da trilogia são excelentes) cantando "Perfidia", me emocionou profundamente. Há de se perceber que, no que diz respeito ao filme, esse deve ser mesmo o menos impressionante e nem por isso é ruim. Foi falado que há muita irrelevância no conto dos passarinheiros, que pra mim tem ótimos momentos, mas é fato que isso pode deixar muita gente impaciente. Há cenas memoráveis, como o senhorzinho que acaba caindo na armadilha de um passarinheiro (hilária) e entre outras, a cena do encontro de Sherazade e de um homem na praia com seus filhos. Trata-se de um segmento desolador, não menos tocante, ainda que cometa certos deslizes sim, especialmente na estrutura.

As Mil e uma Noites: Volume III, O Encantado
★★★½

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

INDICADOS AO GOTHAM 2017


E foi dada a largada! A corrida pelo Oscar já começou e algumas premiações já estão anunciando seus indicados e revelando favoritos do ano cujos nomes poderão se repetir com frequência nos próximos prêmios da awards season. Acabaram de ser anunciados os indicados ao Gotham, premiação exclusiva do cinema independente que já está apontando os principais filmes e performances a serem destacados na temporada. 

melhor filme

Call Me By Your Name
The Florida Project
Get Out
Good Time
I, Tonya

melhor documentário

Ex Libris – The New York Public Library
Rat Film
Strong Island
Whose Streets?
The Work

melhor roteiro

The Big Sick
Brad's Status
Call Me By Your Name
Columbus
Get Out
Lady Bird

melhor ator

James Franco – The Disaster Artist
Willem Dafoe – The Florida Project
Daniel Kaluuya – Get Out
Robert Pattinson – Good Time
Harry Dean Stanton – Lucky
Adam Sandler – The Meyerowitz Stories

melhor atriz

Haley Lu Richardson – Columbus
Melanie Lynskey – I Don't Feel At Home in This World Anymore
Margot Robbie – I, Tonya
Saoirse Ronan – Lady Bird
Lois Smith – Marjorie Prime

melhor ator estreante

Mary J. Blige – Mudbound
Timothée Chalamet – Call Me by Your Name
Harris Dickinson – Beach Rats
Kelvin Harrison, Jr. – It Comes at Night
Brooklynn Prince – The Florida Project

melhor diretor estreante

Maggie Betts – Novitiate
Greta Gerwig – Lady Bird
Jordan Peele – Get Out
Kogonada – Columbus
Joshua Z Weinstein – Menashe

domingo, 8 de outubro de 2017

DOENTES DE AMOR (2017)


Na saúde, e na doença...

Preparem seus lencinhos, vem aí mais uma comédia romântica pra te emocionar. Kumail Nanjiani é honesto e direto (a autoria do roteiro é dele e de sua esposa, que vivenciaram a história descrita no filme), não disfarça o tom e aborda frontalmente cada pedacinho dessa narrativa, tal qual é a história de amor vivida pelos personagens principais. Não há esquematização ou coisa do tipo, é sobre o que é, o amor "impossível" entre duas pessoas dividas por culturas diferentes. Poderia ser um filme "pós-Trump"? Poderia. E tinha tudo pra ser, é verdade. Mas acima disso, qualquer pretensão dessa vertente não ganha espaço onde o amor é relatado com a mais sentimental veracidade. A gente torce, com energia, para a união. Aqui o escape acaba servindo também como uma confrontação clínica dos dramas instalados em relações humanas face à tensão, em ameaças de desunião e separação, sejam elas amorosa, étnica ou familiar. Tudo que subexiste nesse ínterim é reservado para uma confrontação fina, o humor é firme, porém é ainda mais relevante saber quando inserir um pause na piada para dar lugar ao drama, e esse respeito, um mutualismo genuíno de cinema, é uma das coisas mais lindas desse filme. A cena final expressa, em toda a sua maravilha, uma reconexão de todos os elementos que estavam ali suspensos pelo romance do casal, é a catalisação definitiva desse sentimento de aproximação que até ali estava em águas turvas, e acaba encontrando na simplicidade de um curto diálogo a sua afirmação final, o seu réquiem "feel-good". O prazer ingênuo que esse filme evoca talvez nem possa ser expressado em palavras. O elenco está gracioso, em plenitude que há muito não se via no cinema norte-americano, com performances digníssimas de Holly, Zoe, Kumail, Romano, e até mesmo o elenco secundário é destaque. Eu daria um Oscar pra cada um deles.

Isso aqui é romântico pra caramba, não resisti. Lindo de verdade.

Doentes de Amor (The Big Sick)
dir. Michael Showalter
★★★★

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Shyamalan começa a rodar seu próximo filme


O mestre M. Night Shyamalan já começou a rodar seu próximo projeto, exatamente na data de hoje, 02 de outubro de 2017: Glass, a então aguardada sequência de Corpo Fechado, um dos principais trabalhos da filmografia do cineasta. Glass deve aterrissar nos cinemas em 2019, conforme as previsões, trazendo em seu elenco Bruce Willis e Samuel L. Jackson (de Corpo Fechado), Anya-Taylor Joy e James McAvoy (de Fragmentado, sua mais recente obra), Sarah Paulson, Spencer Treat Clark e Charlayne Woodard. Rumores de que James Newton Howard assinará a trilha do filme permeiam na net, mas nada foi confirmado (por enquanto). A fotografia está a cargo de Mike Gioulakis e a edição, Luke Ciarrocchi (os mesmos de Fragmentado). 

SOBRE CAFÉ E CIGARROS (2003)


No que diz respeito a filmar conversas regadas a cafés e cigarros, Jarmusch está um passo à frente. De uma certa maneira, todos os filmes do Jim se lembram – alguns mais, outros menos – não necessariamente por se repetirem, mas por basicamente imprimirem uma evocação muito espontânea de suas personagens e das situações calcadas na sutileza da naturalidade e da caricatura, o que surge disso é de uma beleza inexplicável. Não vou falar muito, apenas que trata-se de um filme muito delicioso, cada esquete melhor que a outra (ainda mais na companhia de uma xícara de café do lado de cá da tela) e um elenco inesgotavelmente excêntrico e gracioso que dá gosto de assistir.

Sobre Café e Cigarros (Coffee and Cigarettes)
dir. Jim Jarmusch
★★★★