segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Crítica: "O DIÁRIO DE UMA CAMAREIRA" (2015) - ★★★


Depois da decepção total 3 Corações, Benoît Jacquot finalmente mostra um trabalho digno de reconhecimento: a terceira adaptação cinematográfica do romance homônimo de Octave Mirbeau, precedido pela versão de Luis Buñuel, de 1964 e por uma de Jean Renoir. O resultado é valorizável. E Léa Seydoux, na pele de uma protagonista destemida e sofrida, prova mais uma vez que é bem mais do que um rostinho bonito, numa performance esforçada e bem feita. Essa menina vem me surpreendendo cada vez mais. É certo que há semelhanças com o do Buñuel, mas creio que Jacquot usou como fonte principal o livro mesmo, já que, como eu nunca o li, se for usar este aqui como base, é bem diferente do com a Jeanne Moreau, e logicamente proporciona a esta versão um toque de autenticidade, ou novidade até. Ouvi falar que o diretor tentou utilizar a mansão que serviu de cenário para o longa do Buñuel, mas não obteve sucesso na sua missão.

Não vim aqui como único propósito discutir diferenças e/ou semelhanças entre este e o recentemente visto de 1964, mas quero detalhar que isso talvez tenha implicado na minha percepção do filme, já que o anterior trata-se de uma comédia enrustida, onde imperava o humor negro e a crítica, diferentemente deste, que já é um drama pesado, e que abre fogo contra diversos moralismos sociais da época quando o romance foi escrito sem deixar de lado o teor crítico, ainda que este espírito esteja diretamente onipresente na satírica releitura do mexicano. A priorização do epicentro dramático logo lhe confere uma autoridade de épico, uma das mais estupendas características de O Diário de uma Camareira, e não que a comédia não esteja presente, mas sim reduzida (ri timidamente alto com a cena onde o trem é parado, e a mala da sra. Lanlaire é revistada. Ela insiste para um oficial não abrir uma caixa com um pertence muito misterioso. Aberto o pequeno recipiente, revela-se em seu interior um pênis de borracha). Aceitei com estranheza a vinda desse clima intenso para a história antes narrada com certa descontração pelo mestre Buñuel, digamos.

O miserável destino de Celestine, uma lindíssima empregada, a reservou uma senhora demoníaca, a Madame Lanlaire, proprietária, ao lado do marido pervertido, já à beira da velhice, uma mansão no campo. Obrigada a respeitar e obedecer "caladamente com resmungos" aos mandos impertinentes da mulher, Celestine vai conhecendo melhor a vida na cidadezinha do interior tal como seus habitantes, fazendo amizade com Marianne, cuja dolorosa jornada foi marcada pela desgraça e pela perdição, assim como beira a história de Celestine, de pesaroso passado.

Há também em O Diário de uma Camareira a enaltação do papel da mulher, até com certa insinuação feminista, visto nessa relação entre as duas empregadas, Celestine e Marianne, mais especificamente na cena onde Marianne relata as suas tórridas e infelizes aventuras passadas, perto do fim. A presença do personagem machista e anti-semita interpretado pelo Vincent Lindon não é tão marcante quanto a de Buñuel, mas é muito interessante observar o talento de Lindon, que recentemente exibiu La Loi du Marché no último Festival de Cannes e arrecadou a Palma de Melhor Ator. A fotografia, de Romain Winding, é estonteante. Bravíssimo.

O Diário de uma Camareira (Journal d'une Femme de Chambre)
dir. Benoît Jacquot - 

domingo, 29 de novembro de 2015

Crítica: "TÁXI TEERÃ" (2015) - ★★★★★


O caso do cineasta iraniano Jafar Panahi é absurdamente paradoxal e ridículo. Detido em dezembro de 2010 após ter declarado apoiar o candidato opositor à presidência do país Mir Hossein Husavi, ele foi condenado a seis anos de prisão, sentença que recaiu em vários ativistas do país inteiro e também do cineasta Mohammad Rasulov naquela mesma época. E não para por aí. A justiça decretou que o cineasta não deixasse o Irã e nem se envolvesse com nenhuma produção cinematográfica por vinte anos. Ou seja, o diretor não poderia trabalhar com cinema até 2030. 

Contudo, Jafar veio resistindo à esse mandato com já três filmes adicionados à sua filmografia desde sua prisão: Isto Não É Um Filme, Cortinas Fechadas e Táxi Teerã, o primeiro do diretor realizado fora de sua reclusão domiciliar, ao "ar livre", desta vez nas ruas de Teerã. O comum entre esses três extraordinários títulos? O contexto crítico onipresente e direto ao governo iraniano e à prorrogação do seu absoluto estado de ocultação. Simplesmente fascinante. Jafar, nessa produtiva fase marcada por duras alfinetadas ao sistema político de sua nação, mostra que nada, nem mesmo a prisão, nem mesmo a condenação que o impede de filmar por duas décadas, seja quaisquer mandamentos que forem, são capazes de o silenciarem, de adstringirem a sua liberdade. 

Merecidamente vencedor do Urso de Ouro no mais recente Festival de Berlim, Táxi Teerã começa com um segmento que já de abertura aponta sua intensa natureza crítica, com um homem e uma mulher discutindo a pena de morte. O homem e Panahi discursam sobre artifícios de segurança, com o homem trabalhando numa área mais ou menos adepta à esse fundamento. O homem, de passagem, expressa seu idealismo sobre quem rouba, e que deveriam executar um ou dois ladrões só para servir de exemplo. A mulher, no banco de trás, inicia um bate-boca com esse moço, o indagando se o ladrão não poderia ter cometido tal ato com uma outra intenção, se não a intenção que prontamente pudesse estar ligada ao raciocínio criminal, mas sim necessidade. Essa cena de discussão se interconecta com outras mais, principalmente vindas com a segunda parte do filme, onde a avalanche ataca de vez, e Jafar finaliza, com primor, sua complexa trama repleta de teses sobre um país cada vez mais inacreditável, sujeito à barbaridades e regras sem cabimento das mais escrotas. 

Na passagem que segue, um vendedor de DVDs piratas reconhece o diretor e logo o questiona "os passageiros que acabaram de sair, eram atores, não?", criando uma realidade inversa sobre a veracidade do documentário, que é falso, mas que bem poderia ser muito impressionante pra quem vai ver sem saber dessa condição, ainda que a sequência de episódios seja muito incerta para representar a realidade, sendo mais de uma surreal ordem, ainda com atores anônimos. Panahi até tentou, de fato, realizar o documentário anteriormente com a população comum, mas que se sentiu culpado quando uma das pessoas gravadas pediu a Jafar que excluísse o conteúdo a fim de preservar sua segurança e privacidade. 

A parte do cara que se acidentou de moto, junto da mulher, também é explosiva. À beira da morte, ele logo pede para o motorista (Panahi) que escreva num papel seu testamento. Nisso, o documento é testificado no celular de Jafar, com ele deixando tudo para a esposa, e pedindo que a família respeite sua vontade, tal como a justiça, e que não direcione seus bens para seus irmãos, unicamente à esposa. [alerta de spoiler] Depois de deixar o casal num hospital, ele, minutos depois, recebe uma ligação da mulher falando que o marido passava bem, mas que deixasse com ela uma cópia do vídeo. Questionada o porque, ela responde: "Nunca se sabe". Uma triste realidade para as mulheres iranianas, que apenas tem de arcar com revoltantes direitos lotados de limitações.

O que, mais tarde, é abordado por uma senhora, amiga de Jafar, que entra no veículo com flores, e que se diz extremamente revoltada com o estado em que se encontra uma jovem adolescente que foi presa enquanto assistia à uma partida de voleibol, e que começou a fazer greve de fome no cárcere. Após findar seu discurso de desgosto, ela se dirige para o diretor e diz: "É melhor tirar as minhas palavras do seu filme, senão irão acusá-lo de realismo sórdido! Você se meterá em mais problemas", o que condiz com um segmento anterior, da sobrinha dele, realizando um trabalho de cinema para a escola, e que segue versadamente às regras impostas para um filme distribuível, que impedem certos "luxos", entre estes o "realismo sórdido". Intrigante. Uma das melhores partes do filme fica reservada para o final, irônico e pensativo.

No desenvolvimento de seu protesto, Jafar, tão inteligente quanto esteve em seus dois longas anteriores, faz desse grito uma ode ao direito inalienável de ser livre. A construção das esquetes que compõem esse manisfesto é igualmente genial, cada uma melhor e mais chocante que a outra, sábias ressalvas de um pensamento liberal, e atrevido, ao ver do pessoal de lá, mas aqui no mínimo inovador. Afinal, eu sinceramente não consigo me ver tendo que escrever aqui no Lumière & Cia. às escondidas, no receio ser pego e enforcado. Chega dá arrepios. E que cara corajoso é o Jafar Panahi, desafiando imposições a fim de produzir, criar o cinema, custando o que custar. Eu comprei a admirável proposta de Táxi Teerã, mesmo que não seja 100% crível como sua pinta de documentário tenta personificar, o que, convenhamos, é um detalhe menor quando temos em tela um projeto que já fica de bom tamanho pela densidade de seu objetivo, divertido e singular. É um trabalho desafiador e belo. E, além de tudo, criativo, com todas as letras. Do interior de uma cabine de táxi ao mundo, fica o retrato eletrizante de Jafar Panahi sobre as deploráveis condições enfrentadas pelo Irã moderno, um país que no fundo necessita de evolução e mudanças, severas.

Táxi Teerã (تاکسی / Taxi Tehran / Taxi)
dir. Jafar Panahi - 

sábado, 28 de novembro de 2015

Crítica: "O SOM AO REDOR" (2012) - ★★★★★


Um dos filmes mais reverenciados e cultuados do cinema nacional nos últimos anos, O Som ao Redor me deixou colossalmente extasiado. É um sentimento difícil de explicar, fenômeno raríssimo, e confesso que poucos filmes o provocaram em toda a minha vida cinéfila. Bem... Como eu posso definir essa frenesi sem que soe absurdamente espampanante, ou efêmero? É a atração do novo que não é novo. Aquilo que estava adormecido e voltou à vida, num plano que faz com que nossa memória se perca na busca por algo semelhante ou consequente à essa reação. Eu realmente nunca vi nada igual a O Som ao Redor. Nunca. Nem aquilo que é parecido passa a fazer sentido como parecido. O que é algo totalmente benéfico, já que atesta sua exclusividade. É impar. Solene. Rico. Extravagante. Pleno. Exímio. Engenhoso. Sagaz. Sensato. Poético. E tudo mais o que vier. 

É Recife, é Brasil, é universal. Kleber Mendonça Filho, outrora experiente diretor de curta-metragens, revela-se ainda mais competente com longas de ficção (se é que é possível chamar O Som ao Redor, filme tão definitivamente identificável, de ficção), filtrando a simplicidade em complexidade numa história encapada com realismo, mas que não dificilmente parafraseia seu real sentido noutro numa intenção subliminar. Muito barulho por nada, definitivamente. Quer dizer, não por nada. A intenção aqui é denunciar e exibir a crescente paranoia em virtude da onda de violência que ataca um bairro de classe média do Recife, e o quanto essa paranoia influencia nos conflitos adentro diversas relações entre os moradores da região. E/ou também pode simbolizar a importância cinematográfica dos efeitos sonoros, cujo papel na indústria hoje é tachado pelo Kleber como minorizado e negligenciado, sendo este um dos elementos principais na estrutura de qualquer produção. Afinal, qualquer interpretação é bem vinda quando o filme pode/deve gerar distintas avaliações.

Nesse ano, foram vários os meus ataques de paranoia. Acho que até faz parte da minha personalidade agitada e atenta, o que nem sempre é tão bom quanto parece. Foi no início do ano que me assustei por nada quando estava sozinho em casa numa tarde que ameaça findar num temporal. Comecei a ouvir um barulho estranho vindo do portão, seguido de vozes, e logo imaginei que estavam tentando entrar na casa. Entrei em pânico, sendo frouxo como sou, mas no fim os gritos nem eram aqui, já que pararam rapidamente assim que minha neurose atacou. Mês passado, de noite, estava no banheiro prestes a escovar os dentes quando ouvi alguns ruídos, estranhos e incomparáveis. Pensei que eram bandidos. Todo mundo tava dormindo, e eu começava a caminhar pela casa impaciente com a coluna abaixada, no fim de "evitar lesões". 

No fim, era um gato que estava quebrando tudo. No mesmo momento em que tomei coragem e me apoiei na janela para ver o que havia sido, vi o bichano em pé, num tijolo. Ele acabara de pular, e só tive tempo de ouvir o quebrar do tijolo, que chocou-se contra o chão na destreza do seu pulo. A situação era idêntica a que tinha me ocorrido antes, nesse mesmo semestre, tido que ela fora mais rápida do que esta última, o que não deu trégua para a minha tensão. É o que acontece em O Som ao Redor. O constante clima de suspense indica que algo não está certo, e acaba nos contaminando com esse pensamento até que nos darmos conta de que o ali mostrado é produto do nosso cotidiano, é puro realidade, por se dizer. Não há ficção alguma. Pode ter acontecido comigo, com você, e com qualquer outra pessoa na Terra. 

Silenciar um cachorro vizinho que late incessantemente botando partículas de comprimido num pedaço de carne no meio da madruga, e lançando para ele. Reagir com horror a uma coroa de flores na varanda do apartamento de uma moça que dali se jogou, como se tal situação manifestasse um mal pressentimento, o que até pode ser levado como impulso de insegurança. Jogar a bola por cima de um muro só para chamar a atenção de uma menina que se encontra atrás ele. Dormir no serviço. Situações comuns (talvez nem tão rotineiras, mas que são com certeza críveis) e cabíveis a qualquer um em qualquer lugar, mas que, pela inclusão de artifícios sonoros especialmente do contra, do nivelar suspenso, acabam nos direcionando para uma diferente leitura. Engana. E isso é genial. Como consequência, dá essa impressão de novidade. É, mas também não é. 

A chegada de um grupo de vigia particular nas ruas de um bairro no Recife que resulta em desastrosos contrastes e a polarização da apreensão entre os muitos habitantes dali é o que move a trama de O Som ao Redor, um espelho nosso, que averígua a existência de embates e preceitos na sociedade, de maneira crua e nua, na permissão de uma naturalidade absoluta. É na dona de casa solitária que vive reclamando do cachorro que não a deixa ter paz, mas que necessita da presença desse cachorro como forma de encobertar a ausência de sua família, já que ela demonstra preocupação quando o animal fica desacordado após ingerir os benditos calmantes, ainda que até bomba ela use para minguar seus latidos, que vemos a precisão dos conflitos, do querer e não querer, das, enfim, mil e uma diferenças, não só no sistema social, mas também no crime, na vida, no trabalho, como agente do movimento. É nesse cenário de desigualdade que também observamos o aflorar das relações entre patrão e empregado, distintas e multiplicadas. 

É na moradora enraivecida que acusa o zelador de incompetência usando como desculpa receber sua "revista Veja fora do plástico" que então é explicitado o peso do preconceito e suas remotas parcialidades que tanto incitam a propagação de conceitos atestadores da marginalidade, mas também pode ser visto como índice dessa paranoia, espírito de instabilidade e incertas deduções. Ou no próprio personagem do João, que tanto se diz contra a demissão desse mesmo empregado, mas que na mesma cena deixa a reunião de condomínio testificando ter que presenciar compromissos maiores, na forma de exemplificar que, diante de um problema, apenas agenciamos sua existência, mas permanecemos de braços cruzados, sem fazer nossa parte. A hereditariedade do poder de possessão que fixa uma relação avô-neto, e que propaga a estratégia da vingança. A revolta dentro e em cima da revolta. O Som ao Redor é um filme revolucionário, em todos os sentidos dentro do seu abrigo de várias metaforizações para um universo cada vez mais consumido por insegurança e suspeita.

Simples e funciona. Poucos exerceram com tanta leveza imenso estrondo. Certamente o que escrevi sobre O Som ao Redor não passam de desesperadas tentativas de declarar minha paixão e interesse por ele, mas nem de longe é a mais completa ou coerente revisão. Afinal, é um filme que vai se transformando com o passar do tempo, e não facilmente larga nossa mente, por isso não posso ter captado tudo apenas nessa primeira vez (sempre inesquecível). E isso faz bem. Pela força do elenco extraordinário, pela sutileza e impressionante robustez do roteiro, pela talentosa direção, O Som ao Redor é digno de todos os elogios feitos, de todas as estrelas que auferiu, da ótima recepção (obviamente), da candidatura ao Oscar (obrigatória, mas que não conseguiu conquistar os membros da Academia para a semi-final, muito infelizmente). De tudo de bom que obteve. Pra resumir, é um retrato visionário bem feito de uma proeza avassaladora. Registro belo, simples e cativante. Celebra e representa o cinema nacional, numa fase de muitos acertos, esporadicamente reconhecida desse ângulo.

O Som ao Redor
dir. Kleber Mendonça Filho - 

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Crítica: "LOVE" (2015) - ★★★★


Gaspar Noé é um sujeito muito interessante. Com apenas quatro longas no currículo, incluindo Love, o diretor ganhou rapidamente a fama de um dos cineastas mais polêmicos da atualidade graças ao pesado teor presente em cada uma dessas produções. É essa característica de seu cinema, a presença da violência brutal, do sangue, de cores vivas, do estranho, de um mix de surrealidade e inovação, que une esses quatro filmes de longe distintos, e é símbolo do seu controverso estilo. 

Aventurando-se pela primeira vez no 3D (oficialmente, já que a contextualização gráfica do 3D era bastante visível no anterior Enter the Void), Noé fabrica uma autêntica obra, divertida e emocionante, monumental, única. O já considerado filme mais escandaloso do ano foi gentilmente apelidado pela imprensa de "pornô cult", muito embora as pretensões de Love, na alcunha voltadas apenas para o entretenimento do espectador, vão bem além da sua pegada pornográfica. É certamente voltado para o prazer, e tem como objetivo satisfazer nossos pecaminosos desejos sexuais, intimidar-nos com um desafio que rompe limites, vai bem além daquilo do que estamos acostumados. Love é um daqueles filmes que surge apenas uma vez. E perdê-lo seria uma baita vergonha.

Love conta a história de Murphy (suposto alter-ego de Gaspar, com diversas auto-referências à carreira e à vida pessoal do diretor), estudante americano de cinema na França, que se apaixona perdidamente (e carnalmente) por uma pintora, mantendo um relacionamento fervoroso e turbulento com ela por vários anos. Na intenção de variar a situação e realizar um velho desejo, a artista, Electra, decide participar de um ménage à trois junto do amado, que também sonha com a mesma coisa, com a vizinha, Omi. Após um jantar, os três, aloucados, embarcam nessa experiência, que toma um inesperado rumo, quando Murphy, durante a ausência de Electra tempo depois, faz sexo com Omi e, sem querer, acaba a engravidando. 

Devoto à Electra, mesmo com tantas brigas e frequentes conflitos, ele não vê saída senão assumir a criança e abandonar a vida que levava com seu velho amor. Numa manhã de ano novo, Murphy desperta ao som do toque do celular. A mãe de Electra acabara de o ligar, comunicando do sumiço da filha e de sua tendência suicida que se manifestou pouco antes desse desaparecimento. Em choque, assustado pela possibilidade, Murphy revê, em flashbacks, a relação inteira que teve com a estonteante moça, memórias que só mais o pressionam contra a invencível e tortuosa realidade. É aí que ele percebe o quão valioso eram aqueles tempos, onde podia desfrutar da liberdade que hoje lhe é revogada. 

Love fez filas em Cannes, mas não foi bem recebido quanto à distribuição nem aqui no Brasil nem em qualquer outra parte do mundo, tendo sido fracamente apoiado pelas produtoras internacionais, todas sob o mesmo veredicto: "é um filme pornô". Uma grande pena. É a prova imutável de que o gênero ainda sofre com o preconceito, e que ainda não foi aceito pelas camadas mainstream. Até porque o filme não é 100% um pornô, como eu disse. É também drama e romance. Todo esse rebuliço é justamente por conta das cenas de sexo, que mostram os atores realmente transando, o que não muda muito das insinuações de várias outras produções de hoje. A diferença presente é que dá pra você ver a ação dos órgãos genitais e uma vigorosa energia, mas o fato é que até eu, na minha completa admiração por Love, acho que não é aquele filmaço erótico que tanto prometia ser quando foi exibido em maio na Croisette. Para quem é afeminado aos trabalhos de Gaspar Noé, achará este filme mais leve do que os outros três que o antecedem, o que é inevitavelmente verdade.

Em Love, o diretor opta por um caminho repleto de sensibilidade e apelos dramáticos, que não refletem em fracasso muito menos sucesso, mas que definem o caráter da película, que deixa de ser um simples pornô como seria visto e passa a se enraizar numa trama intensa e viva. E mesmo que fosse um pornô, que problema teria? É um padrão pouco explorado ultimamente e que veio perdendo popularidade, com uma decaída astronômica, ainda mais quando estamos vivendo em tempos virtuais, onde você acha o melhor do erotismo em qualquer site de pornografia por aí. Por isso que faz bem ver Love. É uma grande experiência, sim.

Difícil não ficar atraído. Confesso que certos segmentos são irresistíveis. E eles são incontáveis. Mas ressalto a importância da sequência exímia do ménage, a abertura, cena de masturbação onde o vermelho é bem tonalizado, o sexo solo entre a Omi e o Murphy, a boate, e vários cortes (quentíssimos), bem perto do final, de transas do Murphy e da Electra, muito bem filmadas. Gaspar Noé confronta, segundo a própria abordagem do filme, o medo, talvez, ainda existente em retratar a pornografia no cinema. Muito obviamente o padrão não será aceito de primeira, ainda mais com tanto tradicionalismo, mas o filme merece ser apreciado pelo menos por quem entende e idolatra. 

Voltando à discussão, acho que os atores foram mal escolhidos. As protagonistas, Aomi Muyock (Electra - juro que confundi com a Vanessa Paradis no início) e Klara Kristin (Omi) são bem sexys, e não tenho nada do que reclamar quanto à presença delas, mas creio que não custaria a seleção de um elenco mais conhecido, isso porque estamos falando do cara que trabalhou com beldades como Monica Bellucci, em Irreversível, e Paz de la Huerta (essa daí ficou bem feia depois da cirurgia plástica) em Enter the Void. Mas o problema é: quem aceitaria filmar sexo real? Penetração, oral? É até compreensível a escolha de atores em ascensão, bem desconhecidos. Escolha que não deixa de ser excitante e maravilhosa.

A fotografia do filme (Benoît Debie) é excepcional em todos os sentidos. O caliente vermelho, o parado cinza, resolução perfeita e contrastes discretos. Brilhante. A edição, que lembra em aspectos Irreversível, misturada entre flashbacks e cortes de várias cenas paralelamente conectadas, um jogo de montagem apreciável e especial. A trilha sonora, delicada e marcante. Love, no profundo poder de sua imagem, na sensualidade carnal de seus segmentos, na perversidade da trama, adentro questionamentos filosóficos que teorizam a razão da vida, bem como a morte e nossa própria existência colocada em risco pela possibilidade de não haver absolutamente nada entre esse intervalo chamado vida, apenas um escuro e silencioso vazio repleto de nada, a ideia que mais me assusta e desnorteia nesse mundo. 

Love discute o amor carnal como combustível da atração, da firmação pela possessão, da busca por proteção, enfim, amor. Gaspar, numa versão sua bem menos agressiva, apesar do conteúdo explícito, e mais sensível, retrata as muitas faces do amor, seu misterioso universo e seus insolúveis enigmas. Tudo à risca de um filtro tórrido de sexualidade e um suspense tenso. Love é belíssimo. Pura e verdadeira beleza. E, por favor, só peço encarecidamente que cessem com essas comparações infladas a Ninfomaníaca, na minha sincera opinião projeto superior a Love, ainda que ambos sejam prazerosamente impactantes. 

Love 
dir. Gaspar Noé - 

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Crítica: "A VISITA" (2015) - ★★★★


Com o excepcional A Visita, M. Night Shyamalan - depois de um escasso intervalo de sete anos - regressa ao gênero que o imortalizou como um dos diretores mais versáteis e íntegros dessa geração, numa obra tenebrosa e bem feita que simboliza tanto a re-ascensão deste que é possivelmente o mestre do terror alternativo contemporâneo, cujos últimos trabalhos foram recebidos com certa repulsa e dureza pela crítica americana e internacional, quanto reestruturação do estilo, convertido a um pseudo documentário, fórmula que remete ao recente A Forca, em conjunto de A Bruxa de Blair, e, dado o sucesso que experiência gerou a Shyamalan, promete desembocar, no futuro, em uma maior expansão e produtividade, ainda que a estética desse estilo provindo da indústria independente seja intensamente contestada e pouco apoiada. 

Confesso que me surpreendi quando fiquei à par da informação de que o filme tinha sido financiado com apenas cinco milhões, orçamento que, apesar de não proliferado, teve como reação a distribuição da Universal Pictures (que de uns tempos pra cá passou a oferecer suporte para produções de baixo custo), contribuindo para a sua chegada à outros países ao redor do mundo, isso contando com o cedo lançamento dele em nosso circuito, que sempre teve muito carinho pela filmografia do diretor, sem que nenhum longa seu jamais tenha sido lançado com atraso no Brasil, tendo apenas Corpo Fechado sido recebido com frieza nos cinemas nacionais. 

É excelente ver que diante de condições mais limitadas ele soube conduzir com criatividade seu projeto, reinventando o gênero sem que isso alterasse o diagnóstico do filme em si, quando a maioria dos diretores enfrentam uma decaída assim que expostos a orçamentos apertados. Se isso tem uma porrada de pontos positivos, os pontos negativos se instalam justamente nesse quesito da recepção comercial internacional, que, felizmente, não é o caso de A Visita

O filme começa com uma garota filmando um documentário, onde a mãe é entrevistada e revela detalhes de seu relacionamento com um professor, mais velho, na escola, homem que é pai dessa garota e de seu irmão mais novo, que são enviados pela mãe, à pedido dos avós, com quem ela nunca teve uma relação saudável, para a pequena cidade de campo onde ela cresceu no interior da Pensilvânia. As crianças são bem recepcionadas, mas não demora para que estranhos eventos agitem essa visita, que vem seguida de uma perturbadora avalanche de conflitos familiares e emocionais, que aterrorizam os dois adolescentes de diferentes maneiras. Mas o que primitivamente já indica a presença do peculiar nessa acomodação é a regra que dita que eles não devem se deitar às 21:30, como é, para os avós, de costume, regra que ativa incômodo em qualquer jovem nos dias de hoje. Movidos pela curiosidade em saber o porque daquela regra "habitual", ainda mais depois que a avó, Doris, começa a aparentar uma doença mental frágil e grave, assim como o próprio avô, que também tem seus episódios de demência, como começar a brigar com desconhecidos na rua ou temer a imagem de um vulto branco de olhos amarelos. 

Se você aguarda mais um daqueles finais mindblowing, pode vir preparado para sair do cinema vidrado, porque aqui esse "elixir" pode ser visto em bom grado. Não é nada comparado a O Sexto Sentido e A Vila, mas representa com grandeza o talento primordial de M. Night Shyamalan para seus finais, marca registrada de suas tramas embaralhadas e minuciosas, e bem pode sim ser comparado, em menor potência, aos grandes finais citados. Shyamalan prioriza o contato entre suspense, drama e comédia, todos bem colocados na medida certa, sem pecar no exagero. Prova suficiente de competência. 

A desenfreada busca por redenção, perdão, reaproximação, identidade, libertação e revolta, tão almejados pelos personagens deste filme, tempera o núcleo protagonista, formado pelos irmãos Rebecca e Tyler, que vão aos poucos perdendo o controle de suas aversões quando a situação degringola. Tyler, o imaturo irmão atravessando a identidade vê, na sua inocência, um fracasso numa partida de futebol americano como agente danificador da sua relação com o pai. A irmã, Rebecca, crescida, não possui vaidades e por isso na sua ausência liga isso a uma ocultação com ao pai; A mãe, no entanto, é a que mais sofre. Tem de aturar a pressão vinda de todos os cantos, com os "pais" a culpando pela distância, o ex-parceiro a maldizendo, e o trauma nas crianças. Diante do medo, da ameaça do mal e do corrosivo, a união é selada, o passado é perdoado e contas são pagas.

Embora tenha vaiado nos Estados Unidos, com uma aprovação crítica morna, A Visita é sublime, interessante, o retorno impecável de um visionário. E as expectativas para o próximo projeto do cineasta, estrelado pelo Joaquin Phoenix, só cresce. Bem escrito, bem dirigido, bem fotografado (pela esplêndida Maryse Alberti - virei fã), bem atuado... É um baita filme. É uma pena que a crítica "especializada" esteja tão enferrujada e mal frequentada a ponto de estar direcionando A Visita ao fracasso. Que fracasso? Eu, hein. Bem, o importante é prestigiar o trabalho, a qualidade da volta, seus detalhes e seu efeito. 

A Visita (The Visit)
dir. M. Night Shyamalan - 

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Crítica: "JORNADA AO OESTE" (2014) - ★★★


"Como uma estrela, uma miragem, como a visão de uma lâmpada, como ilusões, gotas de orvalho, como bolhas n'água, como um sonho, um relâmpago, uma nuvem, assim é que cada um deve ver o que lhe está condicionado". Jornada ao Oeste encerra-se com essa inspirada reflexão, as únicas palavras proferidas pela legenda durante o filme todo, sem contar o título no início. Curta-metragem do aclamado diretor considerado hoje símbolo do cinema oriental contemporâneo, Tsai Ming-liang, Jornada ao Oeste surge da simples proposta da filmagem de sequências protagonizadas por um monge e um homem comum, sequências marcadas pela lentidão do caminhar dos atores Lee Kang-sheng e o francês Denis Lavant e o surrealismo do conteúdo. Não se deixem enganar por "simples proposta". Digo isso pela leveza com a qual o filme é conduzido, a pureza dos detalhes. É muito provavelmente o filme mais enigmático e complexo que vi neste ano. Carrega na sua incomum natureza non-sense uma beleza extraordinária e regada pelo desejo do desconhecido. Em apenas 50 minutos que no final transparecem como um mega-metragem de quatro horas, Jornada ao Oeste vem para testar o público, desafiando os princípios cinematográficos do tempo, e colocando em pauta a importância desse elemento para uma realização de tal nível. 

À exceção do começo, cuja abertura data oito minutos com um close-up na melancólica face de Lavant, e a sequência que segue essa é ainda mais monótona, a maior parte restante do filme devaneia o contraste entre o rápido fluxo de parisienses, com a sutileza dos movimentos e da câmera, um a um brevemente comovido com o vagaroso andar do monge e sua inquebrável concentração, nem mesmo eclipsada pela euforia de poluição sonora que corre solta enquanto ele, numa escadaria, vai proporcionando incômodo a quem tenta passar por uma das vias da escadaria, sendo um segundo lado totalmente ocupado pelo monge. Essa cena, que tanto identifica o desconforto geral da platéia enquanto o filme era exibido (uma das moças perto de mim espreguiçou-se perto do fim com tanta fervorosidade que quase pulei da poltrona) é também agente do desconforto, quando vemos a glamourosa fotografia e a sensibilidade representada pela passagem sendo aniquilada com a população, no fundo, fabricando discussão, e uma garotinha infernalmente irritante atazanada pelo inusual episódio, que é visto como diversão por certas pessoas, indiferença e também artística, uma romantização particularmente bela vinda do respeitável espectador. 

É certo que, em partes, o filme gera tédio. Mas com um propósito. Estabelecer um equilíbrio lógico acerca do timing perfeito e do timing exagerado, o que já é invasão de um território totalmente diferente: a técnica. O bom de Jornada ao Oeste é que ele produz distintas interpretações. Pode ser tanto uma crítica, um desafio, um exemplar técnico, filosofia surreal, beleza experimental, ou a mistura de todos esses fatores. A complexidade e poder deste filme está em intimidar, e contaminar seu auditório de claustrofobia apenas por focar um rosto durante oito minutos seguidos ou apresentar a filmagem estonteante de dois homens em perfeita sincronia numa lenta e incompreensível trilha ao oeste da tela, provocando impaciência a quem vê portando como escudo uma nova e estranha experiência.

Jornada ao Oeste (Xi You)
dir. Tsai Ming-liang - ★★★

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

SEGURA A ONDA / 4ª Temporada


Eu era fanático por televisão bem antes de chegar e amadurecer na cinefilia, tanto que não faz cinco ou quatro anos, eu era viciado em TV americana, tendo particularmente desenvolvido esse apreço através do meu irmão mais velho, que é um grande TV buff, sendo A Teoria do Big Bang seu programa favorito. Há uma série de fatores que levaram à degradação dessa minha obsessão por TV, que hoje em dia não é mais uma obsessão propriamente dita quanto era alguns anos atrás. Diria que é mais como um hobbie, até porque hoje em dia a televisão, muito especialmente a brasileira, virou o palco do clichê e falta de originalidade. Sem contar que já é difícil pra mim acompanhar seriados e outros programas, como por exemplo a recente temporada do MasterChef, seguindo seu calendário. Só de uns tempos pra cá foi que eu voltei a me acostumar com a agenda televisiva. Acontece que a HBO Signature começou a exibir, não faz muito tempo, a série americana Segura a Onda, cujas duas primeiras temporadas perdi por desinformação. 

O programa, que está há quinze anos no ar (ainda que sua mais recente temporada tenha sido exibida em 2011), é protagonizado pelo comediante Larry David, coadjuvante de Seinfeld e que teve poucos títulos no cinema. Este trabalho, que reviveu a carreira de Larry, lhe rendeu inúmeros prêmios, entre eles o Globo de Ouro, e várias indicações ao Emmy (só pra constar, da 2ª temporada até a 8ª, a série foi indicada, em todos os anos entre esse intervalo, ao Emmy de Melhor Série de Comédia, com, injustamente, nenhuma vitória adentro essas nomeações), que no total somam 39. Inicialmente arquitetado com um especial, o contrato de Larry David foi prolongado e então deu-se a criação de Segura a Onda, que é uma comédia de humor negro que analisa cruamente a ética moral da sociedade americana, bem como seus limites e suas implicações, tendo um panorama crítico focado no tradicionalismo e no próprio diário de um azarento Larry David, visto como um cara insensivelmente irritante, pedante e desajeitado que sempre se mete em confusões. Apesar do mínimo resquício de pena que sentimos pelo personagem, dá uma forte sensação de que ele é ao mesmo tempo culpado, digamos, pelas poucas e boas que lhe são reservadas. 

Da terceira temporada, comecei vendo "Krazee-Eyez Killa", que é possivelmente um dos melhores episódios não só dessa temporada, já que os dois episódios que sucedem este ("Mary, Joseph, and Larry" e "The Grand Opening") são igualmente primorosos. "Krazee-Eyez Killa" narra a amizade íntima de Larry e um rapper, que dá título a esse episódio, que é o noivo da Wanda Sykes, amiga da esposa de Cheryl, a esposa do Larry, e que acaba resultando num contraste de situações miraculosamente bem boladas e engraçadíssimas. O último episódio, que tem Larry assumindo o comando de um restaurante, e esmagando os dedos de um crítico de culinária (o que achei fantasticamente criativo e cômico) é esplêndido. A 4ª temporada começa com Larry recebendo a proposta do Mel Brooks para fazer o papel principal de Max Bialystock na adaptação musical do clássico cinematográfico  Os Produtores. É um episódio muito interessante, mas que tem sua importância reduzida quando posto ao lado dos outros episódios que o seguem. 

O seguinte, "Ben Birthday's Party", que denota ainda mais a participação de Ben Stiller, convidado nesta temporada, merece destaque. Já indica certo afastamento entre Larry e Ben, cotados para fazerem os papéis principais de Leo e Max, rivais. E também entra para a coleção das mancadas mais hilárias do David, com ele quase cegando o Ben Stiller na própria festa de aniversário dele, com um espetinho. Em "The Blind Date", Larry estampa uma grave crítica à América, em pleno pós 11 de setembro, com o comediante tomado por uma vontade incessante de urinar, bem enquanto dirige. Ele desce do carro e passa a bater em portas, sendo rejeitado por todo mundo. Quando ele bate na porta de uma muçulmana, ela atende. Severo. Não achei muita graça de "The Weatherman", embora a cena do jantar seja uma pérola dessa temporada. E nem do próximo, "The 5 Wood". 

"The Car Pool Lane", onde Larry vai à um jogo de baseball com uma prostituta, é bem especial e exoticamente cômico, tanto pela participação da atriz Kym Whitley quanto pela sua estrutura natural e que reflete as condições da série quanto ao humor mega extrapolado e divertido. Soube mais tarde que também é considerado o episódio mais contestado da série, isso sem qualquer envolvimento do Curb Your Enthusiasm. Na gravação dele num estádio em Los Angeles, na platéia foi filmado um dos suspeitos de ter cometido um assassinato. O corpo da pessoa encontrava-se a poucos metros do local. Houve uma grande repercussão.

Porém, creio que nenhum deles supera o último, que tem quase uma hora de duração, "Opening Night", no qual Larry David vai à Nova York para apresentar o musical. Embora não seja tão engraçado quanto muitos outros, é o melhor e vale pelas várias reviravoltas em torno de sua trama. Vale aplaudir as performances do próprio David, excepcional a cada episódio, com seu personagem à la Woody Allen, Cheryl Hines, Wanda Sykes (que faz uma pequena participação na 4ª temporada em "The Surrogate", outro episódio maravilhoso), Susan Essman, entre várias outras celebridades que passam de fininho pelas temporadas, como Ted Danson, David Schwimmer, Jerry Seinfeld, Cady Huffman, e por aí vai. E que cara competente é o Larry David. Puxa vida. Que humorista!

4ª TEMPORADA: 
MELHOR EPISÓDIO: Opening Night (E10) - 
MENÇÃO HONROSA: The Car Pool Lane (E6) - 

domingo, 22 de novembro de 2015

Crítica: "OS 33" (2015) - ★★★


A quantidade de atores estrangeiros em produções hollywoodianas atualmente é bem surpreendente. Os 33, que na verdade trata-se de uma co-parceria entre Chile e Colômbia, mas que foi inteiramente financiado pela Fox International, produtora americana, leva no elenco Antonio Banderas (espanhol), Juliette Binoche (francesa), Rodrigo Santoro (brasileiro), Gabriel Byrne (irlandês), Oscar Nunez (cubano), Mario Casas (espanhol), entre muitos outros, à exceção de chilenos. Até mesmo a diretora do filme, Patricia Riggan (mexicana). Porém, o sangue de Os 33 é americano. Não é ao acaso que o filme é inteiramente falado em inglês, sendo ambientado no Chile, com personagens chilenos, ainda que o elenco seja estrangeiro e não-americano, o que talvez explique o idioma no qual o filme é falado. Porém, nada disso tem influência direta no impacto do filme e em sua importância. É verdade que Os 33 poderia ser bem melhor, mas não dá pra reclamar muito do longa, que reproduz com força o soterramento de 33 mineiros no Chile, cujo resgate levou um pouco mais de dois meses para ser executado. 

O início do filme corre bem, mas com o passar do tempo o drama vai se aprofundando numa pequena novela, beirando drama e comédia sem equilíbrio, na exata parte onde tramas desconexas se mixam. Embora exista um complicado desencontro na nivelação e desenvolvimento do clima, a sensação de instabilidade e imprevisibilidade é constante, reforçando o quo status de ficção que vai fragilmente tomando conta do filme, de uma maneira segura e sensata, sem desinstalar sua premissa épica. A beldade que é o roteiro de José Riviera impulsiona firmeza dramática, mas não livra o filme daquela chata e improvável pretensão de "quero ser grande". Os 33 não vai além de um simples passatempo. E com certeza não é grande. Não posso discordar que tecnicamente é. Sonhar grande é bem diferente de ser grande. No fim, o filme nem fede nem cheira. 

Apesar do elenco esforçado, há quem questione sua originalidade e funcionalidade. Embora em tela figurem algumas celebridades latinas, como o protagonista Banderas e a outra grande parte secundária, falta em Os 33 realismo, e o que superioriza essa ausência é o casting internacional. Quer dizer, apesar das boas performances, a intenção de Patricia em colocar atores estrangeiros nestes papéis até vale pela demonstração e firmação do talento deles, mas não transparece real o retrato deles de chilenos, população comum, batalhadores destemidos. Medianamente engana. Se pelo menos os atores estivessem hablando español, ainda que o sotaque inglês deles simule. 

Voltando ao quesito no qual iniciei a comentar o filme, ver Juliette Binoche em mais outra produção não-francesa possibilita um prazer instantâneo, ou não sei se sou só eu que estou acostumado a ficar estonteado com a presença da bela intérprete em longas estrangeiros, uma vez que ela esteve em ótimos como O Paciente Inglês (que a deu seu único Oscar em 1997), Chocolate, A Insustentável Leveza do Ser, Um Divã em Nova York, Segredos do Estado, Cosmópolis, Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada ou então nem necessariamente precisa ser em consequência desse fator, mas a parceria de Binoche com diretores de outro país já traz esse bem-estar, como em Cópia Fiel e Shirin (ambos do Abbas Kiarostami), A Viagem do Balão Vermelho (Hou Hsiao-Hsien), Nadie Quiere La Noche (Isabel Coixet), Maria (Abel Ferrara)...

É certo que não é aquele primor de filme que se poderia esperar, porém, por mais conformista que isso soe, Os 33 agrada pela eficiência técnica e uma história que comove e desperta o interesse em quem vê, mesmo quem acompanhou de perto a tragédia cinco anos atrás ou melhor ainda pra quem não teve a chance de então denotá-la, o que possibilita mais suspense. A esperança se reacende, e o espectador torce impacientemente pela salvação dos mineiros. É superficial e incompleto, mas a dimensão da falta de tempo e da gravidade da situação nos contagiam com muita facilidade, passando a impressão de que estamos com uma bomba nas mãos prestes a explodir, isso constantemente. A adrenalina é incessante. O final conforta. Imperfeito que é, conquista nosso gosto. Sendo essa ou não uma explicação direta para o iminente fracasso crítico do filme entre especialistas jornalísticos e de imprensa, que usam a seu favor comparações vazias, o que não é nem um pouco novidade, fica a frase que move a trama, "se aprende com os erros".

Os 33 (Los 33)
dir. Patricia Riggan - 

sábado, 21 de novembro de 2015

Crítica: "AMY" (2015) - ★★★★


Lembro exatamente do dia em que Amy Winehouse faleceu. A repercussão foi extravasadora, isso falando de uma celebridade excentricamente polêmica e que era constante vítima dos holofotes e fofocas. A morte dela abalou demais. Jovem demais. Lendária demais para desaparecer tão cedo. Não há um que não fique maravilhado ao som de sua doce e grave voz, talento de ouro, que faz falta. Amy é sim uma artista de primeira, um tão cedo ícone do jazz, e que partiu partindo o coração de seus ouvintes e admiradores ao meio. Amy, muito provavelmente um dos filmes mais esperados de 2015, novo longa do documentarista britânico Asif Kapadia, diretor de Senna, é um espetáculo sem igual, tanto pelo retrato belíssimo e estremecedor da vida pessoal da cantora, quanto pelo acervo incomparável de imagens, vídeos, entrevistas, prêmios entre diversos outros, recuperados com exímio empenho pela equipe por trás da produção do documentário, e que de longe definem a competência de Amy e a preciosidade do seu arquivo, prova de esforço e dedicação. 

Os depoimentos apresentados em Amy não são nenhum deles gravados. Há apenas uma narração em off e uma legenda para identificar quem é que fala no áudio, fundo do gigantesco arquivo reunido incluindo fotografias particulares da cantora (algumas dessas fotos com ela usando drogas, e algumas delas na companhia de seu amado), como também certas gravações, que incluem férias da cantora, alguns desses vídeos pertencentes a amigos e afiliados à ela. O que é certo é o tamanho inacreditável dessa reunião, que reforça nossa comoção ao quadrado. Afinal, não é todo dia que vemos um documentário tão bem produzido como esse. É claro, há pontos negativos. Enquanto é uma montagem estratégica e estrondosa de mídia, trata-se de uma polarizada arquivação de pretextos focados em revelação intimadora e maniqueísta, numa leva de Sônia Abrão, como se a mesma estivesse no comando deste, muito sinceramente. E ainda que estivesse, não deixaria de contemplar o impacto deste mesmo em mim. É incrível. 

Com Amy, Asif Kapadia afirma-se como um gênio do documentário, seu poder acerca o monumento do acervo e sua metódica preparação, fluída pelo talento. As cenas da Amy cantando, geralmente intervenções às polêmicas declarações de uma sequência anterior, eletrizam e arrepiam, tanto pelo já mencionado divino talento vocal quanto pelas letras autobiográficas e lindíssimas. Figuram entre essas canções "Love is a Losing Game", o single "Rehab", "What Is It About Men?" e "Back to Black". 

O documentário, explorando desde os primórdios da carreira da Amy, com ela dizendo que "não se imaginava famosa, e que iria à loucura com a fama", tendo como maior ambição cantar jazz em pequenos barzinhos à um público menor, até o finzinho da sua carreira, com ela sendo atacada brutalmente pela imprensa e pelos paparazzis, e apunhalada pelas costas tanto pelo seu grande amor, quanto pelo seu próprio pai, sendo estes os dois mais imprescindíveis carrascos e contribuintes à perdição da diva, cuja ausência na infância complicada da cantora, marcada pelo divórcio tempestuoso dele com sua mãe, que refletiu no futuro os relacionamentos de Amy marcados pela monogamia e diversos conflitos amorosos, foi rebatida com o retorno dele que implicou uma reaproximação à ela com o envolvimento de um chamariz financeiro, lembrando que por show Amy recebia um cachê de aproximadamente um milhão e estava podre de rica com a fama ao redor do mundo, tal como é bem propriamente visto nas férias da cantora em Santa Lucia, onde o pai levou toda uma equipe de filmagem para filmar o episódio, o que despertou fúria e desgosto em Winehouse. Ambos o pai e o ex-namorado deram depoimentos ao documentário, sem saberem que ali seriam denunciados e tachados como vilões dentro da sublime narrativa de Amy. Brilhante.

Bem como seu repertório analisa, o amor foi cruel a ela. Amy não teve saída senão aceitar o destino, com todos, de todos os ângulos, sugando suas energias. Dá um ódio dessas pessoas. O pai, o namorado, os estúdios, a própria imprensa... Dá raiva desses infames que deixaram isso acontecer a ela. Graças à ganância, à falta de compreensão, às segundas intenções e ao desrespeito, ela foi direcionada a um trágico e prematuro final. E ainda muita gente tem coragem de dizer que ela é que foi a problemática, a que se afogou, se destruiu por loucura. Será mesmo? Permanece a memória da ímpar pessoa que ela foi, amante da vida, engraçada, e que tinha como objetivo a felicidade, e não a destruição, como foi imortalizada a imagem dela. Amy possibilita tudo isso e mais. É simplesmente o melhor do melhor. Uma lindíssima homenagem, nostálgica revivência da vida dessa mulher, já considerada por muitos a maior figura musical dessa geração. E com razão!

Amy 
dir. Asif Kapadia - ★★★★

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Crítica: "MISTRESS AMERICA" (2015) - ★★★★


E lá vem Noah Baumbach de novo, ao lado da musa Greta Gerwig, dupla que no ano retrasado trouxe às telas Frances Ha, homenagem à Nouvelle Vague e que rendeu ao cineasta filas inacabáveis de elogios e estrelas. Com esse novo Mistress America, semelhante, mas nem tão aclamado quanto Frances Ha, é, de fato, um projeto interessantíssimo. Há muitos motivos para ser. Enquanto sinaliza o amadurecimento de Noah Baumbach num filme de autor, entra para a lista das exóticas crônicas cinematográficas do cineasta com aquele sutil toque de agilidade e simplicidade que sempre atraem a nossa graça e prazer. Enquanto não é maior que Margot e o Casamento e A Lula e a Baleia, Mistress America se iguala a Frances Ha: comédia com tons amargos de drama e romance mixados, ainda que timidamente explorados na trama; é mais uma versátil experiência proporcionada por Noah, preenchida por uma filosofia anedótica e uma lista de personagens excêntricos em situações esquisitas e, apesar de inusuais, carregadas por um ar naturalmente rotineiro.

Tracy está em transição, saindo da fase adolescente e migrando para a fase adulta. Nessa faixa, ela começa a então pôr em prática seu sonho de ser escritora, tomando como impulso inicial enviar uma história a uma organização literária da universidade onde estuda. Focada nesse objetivo, ela precisa de uma história inspiradora e desafiadora que ponha em teste os membros deste grupo e então a coloque nele. Ignorada uma vez, ela a tenta a sorte na história de Brooke Cardines, filha do noivo de sua mãe, carismática e descontraída figura que de longe traz aquelas idas da Frances Ha, embora exista uma certa distância entre a co-protagonista dessa história e a personagem-título do longa mais bem recebido de Baumbach. Brooke não fez faculdade, mas para quem nunca pisou os pés dentro de uma até que não é de se jogar fora. Ela é simplesmente uma daquelas pessoas faz-tudo. Pensando em abrir um restaurante, ela também é professora particular, trabalha numa academia com treinamento de ciclismo e é também cozinheira amadora, o que entra no currículo de dona de restaurante. Nesse cenário, é que vemos o decolar de conflitos entre Brooke e Tracy, uma amizade fraternal arrasada pelos reflexos da realidade. Enquanto uma sobe, a outra desce, sem aceitar essa decaída quase irreparável, é claro. Enquanto uma tem a vida toda pela frente e faz desse trajeto uma trilha de ouro já do início, a outra faz planos meramente dificultosos, está em uma idade mais avançada e está inteiramente desprovida de algum futuro produtivo. No entanto, as duas estão trajando o mesmo figurino de declínio emocional. Cair na real é o que traz à tona a desenfreada rebeldia e ausência de sintonia nessa relação. De alma, Brooke e Tracy são gêmeas.

O ritmo acelerado da trama, com personagens entrecortando conversações com novos tópicos e enriquecendo a gama de ilustrações nos excepcionais diálogos, é de uma excelência indispensável, tanto para o tipo de história apresentado quanto para o sentido para o qual ela aponta, isso é, sem ter necessariamente uma edição fujona e pretentada por intervalos. A lógica dessa narrativa combina bem com os traços ávidos do elenco, principalmente da Greta Gerwig, que, além da personagem já tagarela, a porta com ininterruptas falas que aumentam a divisão do espectador em ler as legendas ou apreciar as cenas. Quer dizer, a Greta também é autora do roteiro, ao lado do Noah, o que talvez explique a motivação feminista presente nas duas protagonistas, feitas por Greta e Kirke. Mistress America entra para a lista ainda embrionária das grandes atuações da Greta Gerwig, que tem momentos ótimos neste elétrico papel, e colaborações entre a moça e Noah Baumbach, namorados na vida real. Mistress America é engraçado e também derrotista, organiza bem a avalanche de emoções que é, sem sobrecarregar o elenco e cometer inibições. É um belo trabalho. Diverte. Os diferentes ângulos adentro as relações humanas com o olhar crítico, autêntico, irônico e simpático de Noah e Greta é a marca desta perceptiva obra, entusiasta de um humor ácido, ora agitante ora deprimente. E viva o cinema independente, fellas!

Mistress America
dir. Noah Baumbach - 

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Crítica: "A COLINA ESCARLATE" (2015) - ★★★★


Só um filme do Guillermo del Toro pra salvar 2015 da perdição quanto ao terror, já que o ano, até agora, só trouxe desgraça para o gênero com produções vazias e fraquíssimas, sequências pobres e refilmagens horrendas, no sentido de serem ruins mesmo. E que lindo filme é A Colina Escarlate, o melhor até o momento, obra deliciosa e excepcional de tão rara vinda do magistral Guillermo del Toro, aclamado mexicano que começou a carreira lá em meados de 90 com Cronos, e desde então conquistou uma legião de seguidores muito centralmente por duas importantes películas suas, A Espinha do Diabo e, sua maior e mais encantadora, O Labirinto do Fauno, e também a já trilogia Hellboy (há rumores de que um terceiro filme está em fase de negociações). A Colina Escarlate, embora esteja passos atrás de O Labirinto do Fauno, reproduz determinados aspectos lá presentes e por isso deixa no ar um clima familiar, que por um lado não é tão forçado a ponto de transparecer repetitivo, e favorece nossa compreensão, e segurança, em termos de força técnica. 

Com A Colina Escarlate, Guillermo del Toro confirma mais uma vez seu imprescindível talento para o roteiro (brilhante) e a direção, sua dedicação e um futuro de muitos sucessos dentro do gênero, do qual Del Toro é um fiel adepto e agora mestre. A Colina Escarlate bebe na fonte do clássico Nosferatu, assumido por Guillermo à revista britânica Sight & Sound como um de seus dez filmes favoritos, na presença de monstros nem apenas sobrenaturais e um núcleo romântico (aqui centrado no casal Edith e Thomas) que surge para confortar o espectador, ou maioria das vezes só funcionar como um intervalo às cenas de tensão. 

Em Nova York, Edith Cushing, filha de um rico proprietário de construções, aspirante à escritora, ainda é assombrada pelo fantasma da mãe, visto quando criança, logo após a morte dela, sendo esse episódio influência em seus trabalhos literários, em cujos se ausenta, segundo um leitor, romance. A chegada de Thomas Sharpe e irmã, Lucille, que veio da Inglaterra para tratar de negócios com o sr. Cushing, desperta na jovem o amor. O alvo dos terríveis irmãos Sharpe não é, porém, Carter, e sim a filha dele, Edith, cobiçada por Thomas e por quem ele também se apaixona. 

Descoberto os reais interesses dos dois irmãos, Carter Cushing lhes pede para voltar à Inglaterra, e que Thomas, indiretamente, machuque Edith com palavras espontâneas de despedida. É a partir daí que o filme, até então bem superficial quanto ao terror, ganha expansivas proporções com a chegada e profundeza de cenas de violência e crueldade infinitamente saciantes. É em Crimson Peak (Pico Escarlate) que a situação degringola de vez. Edith, acompanhada dos misteriosos irmãos, passa a desvendar, pouco a pouco, a verdade por trás de toda a mascarada armação na qual está envolvida. 

Ao contrário do que se especulava, A Colina Escarlate é mais terror do que drama em si, lembrando que o auge dramático de Guillermo foi em O Labirinto do Fauno, com a combinação perfeita de ambos os gêneros. Aqui há, só que num valor minimizado. A humanidade da trama está na elaboração de vilões que funcionam como as reais bestas, e não os fantasmas que assombram a Edith. Aparentemente portadora de algum distúrbio psíquico, Edith encontra na existência de fantasmas a graça de todo o mistério da vida. 

É tanto que, nas cenas onde há o envolvimento dos monstruosos mortos-vivos, ela só fica tensa na hora que se depara ou com o rosto e demais aspectos físicos da figura, sem precisar ficar toda histérica, o diabo a quatro, e etc. Coragem, digamos. Eu acho que a personagem de Edith é bem corajosa, quando muito marmanjo sujaria as calças diante de uma situação dessas. Isso faz parte até de uma metaforização femininista de A Colina Escarlate, que bem exemplifica a independência da mulher dentro dos mais evoluídos serviços trabalhistas, que ganhou amplitude do fim do século 19 até os dias atuais. 

A Colina Escarlate é um daqueles filmes cuja beleza é indiscutível. Não é apenas bela. Não é apenas grande. É, em todos os ângulos possíveis, indiscutível. Um estrondo visual. E não é de se estranhar vindo do cara que arquitetou O Labirinto do Fauno. O homem por trás dessa incrível fotografia é Dan Laustsen que, entre umas e outras, é diretor de fotografia de Terror em Silent Hill. Espetáculo. Isso por que eu ainda não falei da direção de arte. Que maravilha! Que maravilha! Desde o plano que abre a vinda de Edith à grande mansão de campo até os quarenta minutos finais a direção de arte mostra-se a mais potente aliada da magnificência desta obra. Cenários cinzentos e em ruínas, charme de um épico do terror que não poupa gastos quanto à construção deste monumento, passagens secretas, lareiras fervescentes, poltronas antiquadas. Impecável. 

A câmera de Guillermo del Toro consegue captar bem o obscuro espírito da história e suas malévolas segundas intenções, que proporcionam ao espectador um final cativante e certamente bem-montado. Interessante é nas sequências onde Edith encara as almas penadas do assombrado castelo, onde a imagem fica apoiada na personagem, de forma com que ela funcione como um escudo. Isso contribui tanto para o suspense quanto para a apreciação da nata trilha sonora de Fernando Velázquez. Nas ricas cenas de agressão, como na do banheiro do clube, pra mim a melhor, a trilha sonora é bem valorizada quando é mixada ao impacto dessas sequências (estou começando a desenvolver uma teoria de que Guillermo del Toro é fanático por fraturas, cortes, tiros e qualquer outro tipo de lesão relacionado à fase, lembrando o "sorriso" do Vidal em O Labirinto do Fauno e aqui em duas cenas, ou quatro, dependendo do ponto de vista).

Esses três últimos anos marcam uma ótima fase para "os três amigos", o trio dos maiores diretores mexicanos dessa geração, formado por Alfonso Cuarón (presenteou-nos com o especial Gravidade em 2013), Alejandro G. Iñárritu (arrecadou três estatuetas na última edição do Oscar dirigindo, produzindo e escrevendo Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), de 2014) e agora Guillermo, que traz um terror maturo, de qualidade, charmoso, belíssimo e bizarramente macabro. 

O elenco é de primeira. Mia Wasikowska, mesmo aqui numa performance sombria e escurecida pela mal ao redor, permanece com o posto de beldade irreparável. Quem parece ter sofrido sérias mudanças com a inclusão da maquiagem foi a Jessica Chastein, que por sinal ficou bem gótica na melhor performance de A Colina Escarlate, a fatal megera Lucille, e o Tom Hiddleston, que finalmente parece ter encontrado uma utilidade neste mundo numa atuação digna de aplausos. A Colina Escarlate não seria absolutamente nada sem esse trio.

A Colina Escarlate (Crimson Peak)
dir. Guillermo del Toro - 

domingo, 15 de novembro de 2015

Crítica: "PARIS, TE AMO" (2006) - ★★★★★


Na última sexta, tinha acabado de voltar do cinema quando fui surpreendido pela minha tia anunciando os atentados em Paris. Estranhei de primeira, mas foi pouco tempo após aquele falatório entre ela e minha prima que então interpretei a gravidade do episódio. Paris, a cidade-luz, havia sido atacada pelo Estado Islâmico em seis ataques terroristas simultâneos que tornaram a última sexta-feira 13 numa das mais escuras e tristes da história não só da França, mas da humanidade inteira. Este fim-de-semana foi tomado por uma onda de informações tristíssimas acerca dos ataques, mas ainda não caiu a ficha de que Paris foi alvo de um dos grupos terroristas mais perigosos e com mais adeptos espalhados pelo mundo todo, inclusive lá mesmo, com a segurança reforçadíssima e a cidade praticamente fantasma, com o comércio indeterminadamente fechado, as escolas e universidades sem aulas, monumentos e pontos turísticos como o Museu do Louvre e a Torre Eiffel também bloqueados. 

É um triste tempo para os franceses. Para a humanidade inteira, fazendo uso das palavras do presidente americano Barack Obama. Famílias impactadas, (a maioria) jovens com suas vidas prematuramente encerradas, tudo a preço de quê? Grandeza? Estabilidade econômica? Poder? É triste ver a população inocente pagando por erros políticos internos, a eterna luta de ratos versus ratos, nesse jogo onde não há mocinho nem vilão. Ninguém está certo. Ninguém está errado. Até quando isso vai prosseguir, com o mundo tendo de assistir calado à barbaridade que surge de todos os lados, essa violência toda que não cessa? Vidas estão em jogo. Nem se passaram dois ou três dias desde o atentado e a França já está bombardeando o Estado Islâmico, eliminando mais gente que não é culpada de nada... A fim de quê? De atrair mais terroristas infiltrados em Paris e na Europa inteira, dispostos a facilmente abrir mão de suas vidas para explodir uma bomba e exterminar uma absurda quantidade de gente? É isso? Qual é, pessoal? Tá na hora de acordar. Violência só gera mais violência. É um ciclo interminável. 

Enfim, num clima tão imprevisível e de medo como esse que tomou a consciência mundial nos últimos dias, vejo Paris, Te Amo, antologia-declaração de amor realizada por cineastas do mundo inteiro, um dos retratos mais belos já feitos da cidade que pra mim é o coração do nosso mundo, centro da beleza, da cultura e do amor. Como não amar Paris? Triste, além dessa lamentável carnificina, é ver a bela Paris tomada pelo pânico e pelo horror. Nunca pensaria que um dia teria de vê-la desse jeito, obscura, e sem cor. Morta. Paris apagou. E, diante de tal situação, Paris, Te Amo é um poderoso e automático chá de camomila. Mais que isso. Revigora. Enfim, deixando de lado o cenário tenso e trágico que lá habita, vos falo de Paris, Te Amo, provavelmente a melhor antologia já feita. Isso por que antologia é um estilo de filmes que surgiu, ou atingiu a produtividade, muito recentemente, e ainda tá em fase de crescimento. Paris, Te Amo, dentro desse idealismo, já é um clássico.

Afinal, é um filme que, discutindo e explorando o amor dentro de uma atmosfera conspiradora e mega romântica, colorida e simpática, desperta o amor em que o vê. O amor por Paris. Metrópole que, se não fosse chamada Paris, se chamaria Romance, Paixão, Calor, Coração... Enfim, Paris é o amor dos amores. Ainda espero a chance de visitá-la bater à minha porta. Enquanto minha idade e minha "agenda" não me liberam para então consumá-lo, vou me apaixonando cada vez mais, conhecendo-a melhor, me embebedando de boemia e prazer. Paris é, pra mim, a melhor de todas elas. Nova York, Londres, Tóquio, (até mesmo a além-do-imaginável-adorada-por-mim) São Paulo, Buenos Aires, Ontário, Roma, Madrid, Berlim, Moscou, Cairo, Nova Delhí, Sydney, Amsterdã, Estocolmo, Lisboa, Rio de Janeiro, (fica em segundo lugar) Veneza... Nenhuma delas é tão grande, é tão intensa, é tão invencível e, acima de tudo, linda, como Paris. Digam o que quiser. Paris é Paris. É elegância, é finura, é Eiffel, é amor, é a moradia da arte... É o melhor lugar da Terra.

É interessante ver como aqui não só a beleza romântica da cidade é encarnada, mas também há certos curtas que polarizam o sofrimento e a tristeza, sem deixar o romance de lado, como Loin du 6e, Place des Victories, Place des Fêtes. Tem alguns que passam uma impressão meio-a-meio, um mix de depressão, mas ao mesmo tempo doçura, destacando 14e Arrondissement, Bastille, Tour Eiffel e Quartier des Enfants Rouges.

Em dezoito curtas, cada um passado em um distinto arrondissement da cidade, vemos o amor. O amor no coração do mundo. É a reunião de atores espetaculares, mencionando só de passagem Juliette Binoche, Nick Nolte, Gaspard Ulliel, Willem Dafoe, Catalina Sandino Moreno (que latina sexy, hein?), Miranda Richardson (não reconheci), Javier Cámara (esse eu reconheci, sem nem saber que estava lá), Steve Buscemi, Maggie Gyllenhaal, Bob Hoskins (saudades...), Olga Kurylenko, Ludivine Sagnier (essa deusa tá me perseguindo, hein), Ben Gazarra e Gena Howlands (da velha Hollywood), Emily Mortimer (outra beldade indispensável), Natalie Portman (sedutora como nunca), Elijah Wood, Rufus Sewell, Margo Martindale (no segmento mais engraçado de todos), Fanny Ardant... A lista é bem grande, e do que tem de grande tem de justa e bem selecionada. Abaixo, a análise da cada um dos curtos fragmentos, um mais fascinante que o outro, em ordem de aparição:

Montmartre - dir. Bruno Podalydès
Não conhecia o diretor e fiquei estonteado com esse curta, um dos mais especiais do filme, e também deliciosos. É sobre um homem que não encontra vagas e é um daqueles tipos que vive se confessando para si mesmo. A primeira parte do segmento é praticamente um monólogo do personagem interpretado pelo diretor. É meio bizarro você ouvir da pessoa um: "bairro de merda!" em relação à Montmartre... Quer dizer, pra quem nunca esteve lá, talvez, ou pra quem não mora lá, como eu, que já de estar lá não teria nenhum problema quanto à vaga. Já ficaria feliz só de ter não só um carro, mas também um lugar tão especial para passar por. Ele finalmente encontra uma vaga e passa a se questionar sobre sua vida amorosa. Até que uma moça desmaia ao lado do seu carro, e ele então decide ajudá-la. Muito fofo.

Quais de Seine - dir. Gurinder Chadha
É um dos meus prediletos. Três adolescentes estão passando cantadas às moças que caminham pela beira do Rio Sena, rindo juntos. Um dos rapazes fica atraído pela beleza (excepcional) de uma jovem muçulmana sentada próximo à ele e que se acidenta. O nome da atriz é Leïla Bekhti, casada com o Tahar Rahim, e que trabalhou em O Profeta, de Jacques Audiard, por sinal desnorteante (já falei isso?). O final é bem confortante.

Les Marais - dir. Gus Van Sant
O curta engana direitinho, e o final (surpreendente) também é bem precioso. Trata-se de uma passagem divina da seleção. É sobre um rapaz, artista - creio -, que está apresentando um trabalho num ateliê e fica maravilhado com um outro rapaz que talvez seja o empregado. Inicia com ele, em francês, uma discussão sobre vidas passadas e sobre a atração que lhe levou à ele. 

Tuileries - dir. Joel & Ethan Coen
Achei um pouco confuso no início, mas o segmento, bem como o último, apresenta uma estética loser forte e logo desemboca num duro senso sarcástico, o que não é nenhuma novidade vindo dos irmãos Coen. Um homem solitário tá no metrô e, à espera do trem, começa a ler um guia. Ele acaba meio que espionando um jovem casal que está "se pegando" na estação, e o cara percebe. Não demora para que uma discussão violenta comece. Há poucos cortes, e, perto do final, a falta deles oferece um clima suspenso e imprevisível à sequência de ações. No fundo, é bem deprimente. 

Loin du 16e - dir. Walter Salles, Daniela Thomas
Quase chorei. Lembra muito Que Horas Ela Volta?, carregando a história de uma mulher batalhadora que deixa o filho no berçário para cuidar do filho de outra. Simples e bem-resolvido, sem muitos truques de edição e tais. Um dos melhores. Sem falar que o curta é todinho da Catalina Sandino Moreno. Também há o contraste das categorias sociais e a questão dos imigrantes. É lindo, e pesado.

Porte de Choisy - dir. Christopher Doyle
Um dos maiores colaboradores de fotografia do cinema oriental, Christopher Doyle, além de não apresentar aqui um curta cujo forte é a direção de fotografia, o que seria certamente um deleite, dá marcha ré no caminho até então brilhante da antologia com um filminho inflado, desinteressante e nada interativo, além de complicadíssimo. É sobre um vendedor de cosméticos que acaba parando num bairro chinês e se depara com uma cabeleireira mestra do kung-fu. O final não esclarece nada, e só piora o estado das coisas. Enfim, é um soco nas gônadas. O único ruim.

Bastille - dir. Isabel Coixet
Depois da decaída, o filme volta à ativa. O divertidíssimo Bastille oscila num profundo drama e uma leve comédia. Conta a história de um homem adúltero que, após descobrir que a mulher tem uma doença terminal, abandona a amante para viver com ela. A montagem é perfeita, o monólogo do protagonista oferece ritmo à história, a fotografia não é nada mal, a Miranda Richardson, que anda sumida ultimamente, linda. É certamente bem-feito. 

Place des Victoires - dir. Nobuhiro Suwa
Surreal e simples. Adorável, por enfim dizer. Juliette Binoche, talvez na melhor atuação dentre todas, é uma mãe que perdeu o filho e tem dificuldades para aceitar a perda. Numa noite, ela, num devaneio, tem um inusitado encontro com um caubói, cuja existência foi atestada pela falecida criança, já que a mãe então dizia que não. Outra passagem pra lá de deprê. Não conhecia o diretor, falando nisso, que é japonês e nasceu em Hiroshima, anos depois dos ataques, em 60. Apesar de ser praticamente desconhecido, com pouquíssimos títulos na filmografia, seu curta leva no elenco duas radiantes celebridades cinematográficas: a Binoche e o Willem Dafoe (caubói). 

Tour Eiffel - dir. Sylvain Chomet
Engraçado e suntuoso à la Jacques Tati, talvez o único filme definitivamente infantil ou nem tão dramático da seleção. Além de tudo, é bem produzido. Bobo, em certas partes, mas inocente. Começa com uma criança falando como seus pais se conheceram. A resposta é bem inusitada, mas o flashback motiva. Outro curta loser, sobre um mímico sozinho que não tem ninguém na vida, até que vai para a prisão. Vem do Sylvain Chomet, animador que trouxe ao mundo duas das melhores animações contemporâneas, sendo uma delas já considerada um marco: o conhecido As Bicicletas de Belleville, e O Mágico. Acho que esse aqui cairia muito bem como animação. Mas a fotografia do live-action é primorosa.

Parc Monceau - dir. Alfonso Cuarón
Tá aí outro que é bem suspenso e guarda um final redentor, e que não deixa de ser inocente também, assim como o anterior. Começa com Nick Nolte e (a divina, como o próprio nome sugere) Ludivine Sagnier, conversando enquanto caminham por uma calçada. Tudo dá a entender que são amantes, especulando uma relação acentuada pela diferença de idades. Vou parar por aqui. Tive que dar um replay, já que numa parte do curta é possível ver uma locadora, onde estão estampados posters de trabalhos de longa de diretores da antologia, como o Walter Salles (Diários de Motocicleta) e Gus Van Sant (Elefante). Sem falar quem também é exibido o pôster de Setembro, do Woody Allen, o que me faz pensar o quão imprescindível seria a participação do cineasta aqui, já que ele é devoto à Paris e até filmou Meia Noite em Paris declarando seu amor à metrópole de uma das formas mais expressivas que o cinema já viu, num de seus melhores filmes. No fim, se não temos Woody Allen, temos Alfonso Cuarón que, com esse curta bem Alleiano, preenche a ausência do diretor aqui.

Quartier des Enfants Rouges - dir. Olivier Assayas
Achei bem inusual a Maggie Gyllenhaal falando francês. Ela faz uma atriz americana que conquista um traficante de quem compra drogas. Logo, ela também se apaixona. Interessante. Lembra alguns aspectos de Clean.

Place Des Fêtes - dir. Olivier Schmitz 
Puxa, esse é de doer o coração. É sobre um cara que foi machucado e, pelo destino, acaba se deparando com sua amada lhe oferecendo ajuda. É muito depressivo. No entanto, me ganhou de primeira. Gostei da imagem final, dela tremendo com as duas xícaras de café na mão, ainda portando as luvas com as quais tentou socorrê-lo. Muito bonito.

Pigalle - dir. Richard LaGravenese
É bem engraçado, embora muita gente tenha o achado complicado e dramático. É sobre um casal de meia-idade, feito por Bob Hoskins e Fanny Ardant, que estão tentando variar no relacionamento parado. No fim, é até bem carismático, o oposto do que a sua história aspira. 

Quartier de la Madeleine - dir. Vincenzo Natali
Pop e gótico, pensei que era da autoria de Wes Craven, listado no projeto, mas não. É de Vincenzo Natali, e notando isso trata-se de uma das realizações mais criativas. É a história de amor entre uma vampira e um humano. Ela não quer que ele vire uma besta, mas ele quer que ela tenha seu sangue. Romântico e temperado. 

Père-Laichase - dir. Wes Craven
É o melhor. Conta com a presença da excelente Emily Mortimer, Rufus Sewell e o Alexander Payne, que dirigiu um segmento, também está aqui. Gira em torno de um casal em lua-de-mel visitando um cemitério, e que acaba tendo uma discussão feia, com a mulher acusando o homem de ser sempre sério e frio e de nunca ter tempo pra ela, e que não está satisfeita com a atual situação da relação. Diante da tumba de Oscar Wilde, onde ele começa a fazer piadinhas toscas sobre o escritor que só contribuem para o nervosismo dela, o marido acaba tropeçando numa pedra e bate a cabeça no túmulo, na tentativa de ir atrás dela, que saiu correndo furiosa. Ele de repente vê o fantasma do escritor, que lhe dá uma mãozinha. Ele surpreende ela com um beijo fogoso e arrecada o perdão, na mais bela cena de Paris, Te Amo. O mais doce e poético de todos. Wes mostra suas habilidades no romance, tão exímias quanto no terror. 

Faubourg Saint-Denis - dir. Tom Tykwer
Expansivo e romanesco. Natalie Portman, aqui astronomicamente imperdível, é par de um estudante cego que, por acaso, acaba se encontrando com ela durante seu ensaio para uma audição, com ele pensando dela estar em apuros. A cena do encontro é fabulosa. A montagem, os cuidados com a fotografia, mais ainda.

Quartier Latin - dir. Frédéric Auburtin, Gerárd Depardieu
Aqui fazendo uma pequena ponta como o dono de um restaurante, Gerárd Depardieu dirige, ao lado de Frédéric Auburtin, um curta que expande a distância de um casal idoso à beira do divórcio, interpretado por duas lendas da velha Hollywood: Gena Rowland, neste último sábado laureada com o Oscar Honorário, e Ben Gazzara. Divertido. 

14e Arrondissement - dir. Alexander Payne
Impactante, cômico e crítico. Impacta por que arrasa com o coração de qualquer um num final pra lá de duplamente triste e feliz, como é descrito pela protagonista. Faz rir por conta do francês nada fluente da personagem da Margo Martindale e também de certos elementos ressaltados durante a narrativa, ainda que bem rapidinha. E critica porque alfineta o padrão americano de lazer, o que é facilmente denotado pelo horrendo sotaque da mulher e por conta de uma certa distância cultural, como ela opinando sobre a comida francesa ser ruim. É claro. Todos amamos Paris. Mas o melhor é que Paris também nos ama. A canção que encerra o filme, "We're All in the Dance" é sublime.