quinta-feira, 30 de junho de 2016

Crítica: "SRA. HENDERSON APRESENTA" (2005) - ★★★


Já pelo trailer, Sra. Henderson Apresenta aparentava ser um filme visualmente rico e tecnicamente vislumbrante. E, de fato, é tudo o que se possa esperar de um filme com a direção de Stephen Frears, Judi Dench como principal e uma qualidade técnica invejável. A impressão que fica depois que a gente termina de ver Sra. Henderson Apresenta é que poderia ser um filme melhor, mesmo que seja tão empenhado em sê-lo. De qualquer modo, é basicamente impossível dizer que é um filme mal-feito. Irregular em determinados aspectos (o roteiro, por exemplo), mas nunca um filme mal-feito. O resultado final deixa a desejar um bocadinho, mas Sra. Henderson Apresenta acumula pontos pelo capricho, pelo talento dos intérpretes e pela direção formidável de Stephen Frears. 

E como a Judi Dench se encaixa bem em papel de viúva! É espantosamente gracioso. A atriz interpreta a personagem do título, Laura Henderson, uma recém-viúva que herda a grana do marido falecido e decide comprar um teatro em Londres, o "Moinho de Vento" (Windmill Theatre). A mulher coloca o local nas mãos de Vivian Van Damm (Bob Hoskins, numa atuação plausível), um produtor teatral que planeja uma nova atração e quer ter controle total do teatro independente das decisões dos outros, inclusive de Henderson, com quem tem vários desentendimentos. Não demora muito e o espetáculo de Van Damm fracassa, até que Laura dá a ideia de exibir mulheres nuas para ganhar mais público (e, logicamente, a ideia dela funciona plenamente).

Há pontos positivos e negativos em Sra. Henderson Apresenta. A proposta do filme em si é tanto confusa quanto astuta. O filme é mais uma atração visual e técnica com uma certa disposição teatral do que material cinematográfico. É um projeto decorado por falhas, mas com uma autenticidade notória. 

O filme recebeu duas merecidas indicações ao Oscar 2006 nas categorias de Melhor Atriz (Dench) e Melhor Figurino (Sandy Powell, uma das melhores profissionais do ramo -- os figurinos de O Aviador, A Jovem Rainha Vitória e dos recentes Carol e Cinderela são suas criações, magníficas). Também recebeu 3 nomeações ao Globo de Ouro em Melhor Filme e Atriz - Comédia ou Musical e Ator Coadjuvante e outras 4 ao BAFTA, em Atriz, Roteiro Original, Figurino e Trilha Sonora.  

Sra. Henderson Apresenta (Mrs Henderson Presents)
dir. Stephen Frears - 

PRIMEIRO SEMESTRE


top 20, OS MELHORES
(em ordem alfabética)

Anomalisa, de Charlie Kaufman & Duke Johnson

A Assassina, de Hou Hsiao-Hsien

Ave, César!, de Joel & Ethan Coen

Boi Neon, de Gabriel Mascaro

A Bruxa, de Robert Eggers

Carol, de Todd Haynes

Certo Agora, Errado Antes, de Hong Sang-Soo

Cinco Graças, de Deniz Gamze Erguven

Conspiração e Poder, de James Vanderbilt

O Filho de Saul, de Laszlo Nemes

Fique Comigo, de Samuel Benchetrit

A Grande Aposta, de Adam McKay

Mais Forte que Bombas, de Joachim Trier

Ninguém Quer a Noite, de Isabel Coixet

Os Oito Odiados, de Quentin Tarantino

O Regresso, de Alejandro González Iñárritu

Rua Cloverfield, 10, de Dan Trachtenberg

Spotlight: Segredos Revelados, de Tom McCarthy

Tangerine, de Sean Baker

Zootopia, de Bryon Howard, Rich Moore & Jared Bush

menção honrosa

Brooklyn, de John Crowley
O Cavaleiro de Copas, de Terrence Malick
Creed: Nascido para Lutar, de Ryan Coogler
O Quarto de Jack, de Lenny Abrahamson
Steve Jobs, de Danny Boyle

top 5, OS PIORES
(em ordem alfabética)

Cinquenta Tons de Preto, de Michael Tiddes

Especialista em Crise, de David Gordon Green

Um Homem Entre Gigantes, de Peter Landesman

A Senhora da Van, de Nicholas Hytner

X-Men: Apocalipse, de Bryan Singer

Bem, esse foi o meu 1º semestre de lançamentos. Vi poucas estreias (no total, 43). Para os curiosos de plantão, meu ranking está disponível no Letterboxd. Levem em consideração que neste primeiro semestre deixei de ver muitos e muitos filmes. É uma porrada de filmes, de verdade. Vou apressar o passo nesse 2º semestre e ver se consigo conferir os outros lançamentos. 

sábado, 25 de junho de 2016

AS 15 MELHORES CENAS DE FILMES DIRIGIDOS POR WOODY ALLEN


Que Woody Allen é um grande cineasta disso a gente não tem dúvida. Por vezes subestimado, e quase sempre genial, é raro encontrarmos um filme no mínimo fraco dirigido/escrito pelo homem. Mas que ele é uma figura cinematográfica importantíssima ninguém pode discordar. Desde que me entendo por cinéfilo, sou um fã adoidado do Woody, a ponto de considerá-lo meu diretor de cinema predileto. Estive pensando em fazer essa lista há uns dias. Bem, vamos parar de enrolação: aí vão as 15 melhores cenas da filmografia do Woody.

15. "A aparição de Joe Strombel" (Scoop: O Grande Furo)











14. "A lagosta" (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa)










13. "Amassos na chuva" (Match Point)










12. "Desamarrando as cordas" (Broadway Danny Rose)










11. "Paris fica mais bonita na chuva" (Meia Noite em Paris)










10. "O convite" (Vicky Cristina Barcelona)










9. "Tragédia no barco" (O Sonho de Cassandra)










8. "Eve perde o controle" (Interiores)










7. "Cena do metrô" (Bananas)











6. "Flagra" (Setembro)










5. "Sequência de abertura/Rhapsody in Blue" (Manhattan)











4. "Cena da praia" (Interiores)











3. "Dança na ponte" (Todos Dizem Eu Te Amo)












2. "Tom Baxter sai da tela" (A Rosa Púrpura do Cairo)











1. "Ponte do Brookyln" (Manhattan)

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Crítica: "E AÍ, MEU IRMÃO, CADÊ VOCÊ?" (2000) - ★★★★


Há quem diga que este é um dos melhores filmes dos irmãos Coen e outros que o apontem como o pior da dupla (particularmente, não vejo como esse filme poderia ser ruim de qualquer forma). Talvez seja porque este é um dos filmes mais subjetivos dos Coen. Não é como Onde os Fracos Não Tem Vez ou Fargo, que são frequentemente mencionados como os melhores filmes deles, e que não são tão difíceis ou esteticamente complexos, cinematograficamente falando, como E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?, que pra mim é um ótimo filme. 

A comédia é uma livre adaptação do clássico da literatura grega "Odisseia", de Homero. Apesar de ter uma cópia do livro e um enorme interesse em conferi-lo, sequer conhecia a história. Os Coen, que de bobos não tem nada, usaram e abusaram de diversas referências ao livro e da trama, principalmente. O filme até pode ser considerado uma adaptação cristalizada do livro, com alterações em tempo, espaço, personagens e estrutura narrativa. E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? se passa no Mississipi na década de 30 e conta a aventura de três homens, fugitivos, Uylisses (George Clooney, vencedor do Globo de Ouro de Melhor Ator em Filme - Comédia ou Musical em 2001, cujo personagem remete ao Ulisses de "Odisseia"), Pete (John Turturro) e Delmar (Tim Blake Nelson), que passam por poucas e boas após fugirem da prisão. Ulysses está à procura da mulher (Holly Hunter), que se casou com outro cara pensando que ele a abandonou (ou melhor -- "foi atropelado por um trem").

A trilha do filme foi lindamente composta por T-Bone Burnett, o que justifica a inclusão de tantas canções bacanas, algo raro de se ver num filme dos Coen, que "musicalizam" mais a jornada dos três fugitivos. Aliás, tocando no assunto, E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? tem até uma pinta de musical. O que me leva à questão: "como seria um musical dirigido pelos irmãos Coen"?

O clima debochado e às vezes bizarro do filme, já característicos do cinema dos Coen, reforçam a sátira e o humor descontrolado. George Clooney, quem tão raramente a gente vê em filmes de comédia, entrega uma performance incrivelmente hilária, potente, uma das melhores do ator. Destaque para o Turturro e o Tim Blake Nelson, em duas atuações ainda mais engraçadas e excelentes. A Hunter, que é uma atriz massa, aparece tão pouco tempo em tela que seu desempenho, ainda que seja cativante, é quase esquecível.

A fotografia é de Roger Deakins, fiel colaborador dos Coen, vislumbrante. A indicação ao Oscar em Fotografia foi merecidíssma. Mas, gente, pensem comigo, fotografia comandada por Roger Deakins vai sempre ser uma maravilha. Não tem erro -- é tiro e queda. Não há um filme cuja direção de fotografia leve Roger Deakins no crédito que não seja um estouro visual. E não foi diferente aqui com E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? (gosto das cenas da reunião dos membros da Ku Klux Klan, a dos presos no cinema e a da "enchente milagrosa").

Enfim, ver um filme dos Coen, ainda mais um dos bons, é sempre muito prazeroso e reconfortante. Os caras sabem fazer cinema de verdade. E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? é um dos exemplares mais divertidos e interessantes da filmografia dessa dupla. Bem filmado, bem escrito, um elenco triunfal, uma fotografia de dar gosto, uma comissão técnica que "samba na cara das inimigas"... É um filmaço. Vejam!

E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? (O Brother, Where Art Thou?)
dir. Joel Coen & Ethan Coen - 

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Crítica: "O SÉTIMO SELO" (1957) - ★★★★★


"Bergman anseiava pela possibilidade de o filme se tornar um fenômeno religioso... Mas, no final, ele era um grande entretenimento. O Sétimo Selo prende a sua atenção. Não é como fazer uma lição de casa.", Woody Allen, 2007 ("1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer")

É tanto filme pra comentar que eu nem sei por onde começar. Mas, vamos lá. Vi ontem esse que é uma dos mais obrigatórios filmes do mestre Bergman, o admirado O Sétimo Selo. Que filmão! E ainda é pouco chamá-lo de clássico. É uma obra completa, sem igual, definitivamente um marco cinematográfico. Bergman firma-se, mais uma vez, como o eterno poeta, ilusionista, filósofo do cinema. Sua perspicácia é comovente. 

Creio que não exista nem de longe um filme no mínimo comparável a O Sétimo Selo, inclusive dentro da filmografia do próprio Bergman, no que diz respeito a qualidade, profundidade e força fílmica. É único, não há nada igual. Talvez A Fonte da Donzela, que se passa no século XIV, possa remeter um pouco quanto à época, ainda que eu não tenha tido a chance de conferir ainda. E talvez tenham outros títulos, dos quais não me recordo agora, dada a vasta filmografia de Bergman e a temática religiosa tão propagada na mesma.

Trata-de se um filme extremamente delicado e poderoso. Bergman transforma cinema em monumento, contemplando a filosofia do tempo, do espírito e do espaço, nos maravilhando com imagens e sequências tão absolutas e remotas que chegam a ser oníricas, como a famosa cena do cavaleiro jogando xadrez contra a morte com sua vida como preço caso perca a partida, ou a cena final, da "dança macabra", extremamente inesquecível. Aliás, que ótima interpretação a de Bengt Ekerot no papel de Morte. A melhor do filme. Max von Sydow (o cavaleiro) e Nils Poppe (Jof, o ator) também estão excelentes.

A fotografia de Gunnar Fischer, que trabalhou com Bergman em muitos de seus primeiros filmes, como Juventude, o sensacional Monika e o Desejo, Sorrisos de uma Noite de Verão e Morangos Silvestres, combina bem contraste, realce e proporção. Algumas das melhores cenas do filme o são em virtude do magnífico trabalho de fotografia de Fischer, exímio a cada ângulo, acompanhando bem o clima distópico que o filme inspira, a profundeza dos detalhes, a riqueza técnica e a perspectiva filosófica da trama, bem como a intensidade das atuações. A câmera capta com perfeição as características da época, a escuridão e a atmosfera metafísica. É admirável.

O Sétimo Selo navega pela tenebrosidade e pela complexidade do questionamento, conferindo sagacidade e essência moral e estética à sua audaciosa proposta. O resultado é primoroso. Não há como negar que O Sétimo Selo é um filme incrível, espetacular. Isso é que é cinema de verdade. Bergman é um gênio. E O Sétimo Selo é um presentão.

O Sétimo Selo (The Seventh Seal)
dir. Ingmar Bergman - 

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Crítica: "CASAMENTO GREGO 2" (2016) - ★★★


Desde quando o projeto foi anunciado, nutria grandes expectativas quanto a ele, mesmo já prevendo que não seria tão mágico e excepcional quanto o primeiro, a ótima comédia romântica Casamento Grego, filme que eu amo de coração e defendo ainda que seja odiado por muitos. A sequência, se deixa a desejar em certos quesitos, pelo menos de bem-humorada e entretedora tem de sobra. Casamento Grego 2 está longe de ser um Casamento Grego, mas não deixa de ser imensamente agradável e docemente nostálgico rever o elenco do primeiro filme catorze anos depois nos mesmos personagens. O reencontro dos Portokalos é divertidíssimo e promete contentar aos fãs. 

A filha de Toula e Ian, Paris, está no último ano do ensino médio, a um passo da formatura. Toula, como quase toda mãe, não sabe lidar com os anseios da fase da filha. A turbulência começa quando os pais de Toula, Gus e Maria, descobrem que não estão legalmente casados, o pontapé para uma série de confusões e trapalhadas na família.

Nia Vardalos se reinventa num roteiro que, apesar de não trazer nenhuma novidade, é caprichadamente bem-escrito e estruturado. Alguns clichês do primeiro filme permaneceram, o que não é nada de mais, levando em conta a exploração do roteiro. Digam o que quiser, mas eu gostei de Casamento Grego 2. É despretensioso, comicamente elegante, e cumpre seu dever como sequência. Não dá pra dizer não. Sem falar que eu sou mega fã do primeiro filme (eu já falei?), o que já torna as presepadas dos Portokalos neste segundo um imenso deleite.

Kirk Jones, o diretor de Casamento Grego 2, possui uma "pequena grande" experiência com o gênero comédia, tendo dirigido anteriormente A Fortuna de Ned (disponível na Netflix, se eu não me engano), Nancy McPhee - A Babá Encantada, Estão Todos Bem (indicado ao Globo de Ouro e co-escrito por Giuseppe Tornatore) e O Que Esperar Quando Você Está Esperando.

O elenco está magistral. Todos, sem tirar ninguém. Nia Vardalos desta vez assume como coadjuvante e o resto do elenco fica mais tempo em tela, oferecendo grande amplitude aos outros atores em performances digníssimas, como Lainie Kazan, Michael Constantine, Elena Kampouris e Andrea Martin, só pra dar exemplo.

Enfim, de longe Casamento Grego 2 fica entre as melhores comédias do ano. As piadas são criativas e energéticas. Impossível não rir. As performances histéricas e fora do controle intensificam o comportamento pastelão do filme. O roteiro é impecável. Não dá pra reclamar de nada. E a Nia Vardalos, mesmo depois de 14 anos desde Casamento Grego, continua com a mesma aparência. Que curioso.

Casamento Grego 2 (My Big Fat Greek Wedding 2)
dir. Kirk Jones - ★★★

terça-feira, 21 de junho de 2016

Crítica: "CINQUENTA TONS DE PRETO" (2016) - ★


Na melhor das expectativas, Cinquenta Tons de Preto seria um rápido entretenimento e nada mais que isso. Na melhor das esperanças (e se o caso fosse surpreender), esta seria uma sátira genial. Enfim, sátira o filme já é. Uma pena que ele passa bem, mas bem longe de ser genial, ou no mínimo bom. Era de se esperar: Cinquenta Tons de Preto é, francamente, uma porcaria. Se o objetivo era tirar sarro de Cinquenta Tons de Cinza, que também é outra grande porcaria, que o fizesse com estilo, ao menos. O caso vai além. Cinquenta Tons de Preto é pior do que o de Cinza

Os roteiristas do filme, Marlon Wayans (também protagonista da comédia, no papel de Christian Black, 'imitação' satírica de Christian Grey) e Rick Alvarez apostam em piadas sacanas vencidas para entreter o espectador, abusando de um cinismo cômico insuportável. Se há algum humor em Cinquenta Tons de Preto, é passageiro ou insustentável, e não vale um mísero centavo de um ingresso cinematográfico, tornando a sessão um baita desperdício de tempo e grana. O humor é, sobretudo, forçado, sem timing, vazio, pobre em valor fílmico. As brincadeiras passam dos limites. Chega a ser desnecessário tanto humor apelativo assim num só lugar (gags idiotas, referências banais, as piadinhas pavorosas com uma quantidade de palavrões absurdamente forçada e inútil, e por aí vai...). A estrutura técnica do filme também é um desastre, só pra constar. Acho que a única coisa que me deixou um pouco interessado no filme (um interesse bem passageiro, levando em conta que a cena em questão é uma merda) foi a referência a Whiplash, numa sequência horrível. O diretor do filme é Michael Tiddes, que já trabalhou ao lado de Marlon Wayans em outras duas sátiras, Inatividade Paranormal & sequência. Enfim, vou resumir pra vocês o filme numa frase: "ruim pra cacete". E uma recomendação pra quem ainda não assistiu: "não vejam". 

Cinquenta Tons de Preto (Fifty Shades of Black)
dir. Michael Tiddes - 

sábado, 18 de junho de 2016

Crítica: "CIDADÃO KANE" (1941) - ★★★★★


No dia 5 de setembro de 1941, 75 anos atrás, chegava às telas um dos mais revolucionários, importantes e geniais filmes já realizados em toda a história. Quem dirigia, escrevia, produzia e encarnava o personagem principal no espetáculo era Orson Welles. Orson Welles? Ninguém jamais havia escutado aquele nome antes. Quem era Orson Welles? Aquele iniciante que havia despertado a dúvida nos produtores e a curiosidade nos espectadores era ninguém mais e ninguém menos que um dos maiores artistas, um dos maiores cineastas e intérpretes que qualquer pessoa na face da Terra jamais poderia ouvir falar de. 

Nascia um gênio, e ao lado dele um épico cinematográfico infinitamente magistral, atemporal, exuberante e ambiciosíssimo. Cidadão Kane é o melhor do melhor. Jamais se viu (e veremos) algo tão inesquecível e grandioso como esta que é certamente uma obra lendária da sétima arte.

Não faltam explicações ou razões para o sucesso de Cidadão Kane. O talento de Orson Welles, a inovação (presente a cada sequência), recursos de fotografia excepcionais (inauditos para a época), técnicas de direção... Cidadão Kane foi o filme-revolução do século. Mais que marcante, um trabalho que nos brinda com um show de excelência, competência e qualidade. 

A gente se sente presenteado com um filmaço desses. É por isso que pra mim essa resenha é quase um desafio. Falar de filmes tão bons assim, clássicos obrigatórios e cinco estrelas sempre é uma missão. Às vezes, a gente não consegue expressar em palavras a nossa gratidão, o nosso amor por um determinado filme. Por isso: obrigado, Orson Welles, onde quer que você esteja! Obrigado e parabéns por Cidadão Kane, uma das mais impactantes experiências cinematográficas que um cinéfilo pode ter. 

Não conheço muito bem a filmografia do Orson, mas tem 4 filmes dele que pretendo ver em breve, que são A Marca da Maldade (se eu não me engano está disponível na Netflix), Falstaff, Othelo e Soberba, que alguns dizem ser tão bons quanto Cidadão Kane. Tem gente que diz que esses são até melhores que Cidadão Kane. Será? 

Bem, só sei de uma coisa: Cidadão Kane é um filmaço. Um filme de primeira! Inesquecível em todos os sentidos. E pensar que esse foi o primeiro filme dele... Puxa vida, é um baita de um filme. Sensacional. Orson Welles é brilhante, um mágico do cinema. Cidadão Kane é inovação, é talento, é genialidade, é versatilidade, é sétima arte na veia. Orson Welles extrapolou as fronteiras de uma produção cinematográfica e arquitetou uma pérola de ângulos extraordinariamente inéditos. É incrível, simplesmente único! Cidadão Kane é majestoso. É justamente como o cartaz nos diz: "It's terrific!". Bravo, Orson Welles! Bravo!

Cidadão Kane (Citizen Kane)
dir. Orson Welles - 

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Crítica: "O IMPOSSÍVEL" (2012) - ★★★★


Engraçado como alguns filmes pegam a gente de surpresa. Eu nunca criava coragem pra ver O Impossível. justamente por achar que seria ruim, até que um professor meu elogiou e me disse que eu precisava ver. Por incentivo dele, fui correndo assistir, e adorei. É um filme maravilhoso, desde a primeira vez que conferi, em 2014. Em 31 de janeiro desse ano, eu fui rever, e, para a minha surpresa novamente, ele continua tão impactante e profundo quanto da primeira vez. É até meio estranho o filme ter sido indicado ao Oscar em uma única categoria (Melhor Atriz, Naomi Watts) ainda que seja uma nomeação bastante merecida, não só por conta de sua qualidade, mas também porque, se a gente for ver de perto, é um filme que tinha capacidade pra concorrer, por exemplo, a Melhor Filme, ou Direção, e que também tinha muitas chances de fazer bonito nas categorias técnicas.

Contrariando a minha desinformação e consequente expectativa de que se tratava de um filme sobre o meio ambiente (minha visão do filme antes de conferi-lo e saber sua história, não me perguntem o porquê), O Impossível, que é inspirado em uma história (inacreditavelmente) real, narra o desfecho de uma família que vai passar as férias na Tailândia e que, após um violento tsunami, são separados, ainda que todos continuem vivos. 

No elenco, temos a querida Naomi Watts, numa performance excepcional, uma das melhores dessa que é uma das intérpretes mais competentes e talentosas dos nossos tempos, mais uma vez numa atuação de deixar a gente boquiaberto. Maria, a personagem dela, é a que mais sofre no filme, em termos de gravidade do acidente. O tsunami agressivo praticamente destroçou a moça, que ficou com diversos ferimentos no corpo. Há cenas no filme que chegam a ser até desproporcionais e agônicas de tão extremas. De qualquer forma, a Naomi Watts está ótima no filme. Eu só acho que ela não é a principal do filme, mesmo que esteja presente nas sequências mais memoráveis do filme, o que torna a nomeação dela em Atriz Principal em vários prêmios um pouco injusto. Quem sabe se ela não tivesse sido candidatada em Melhor Atriz Coadjuvante não recebesse mais reconhecimento, e até um Oscar, quem sabe?

Ewan McGregor também está ótimo, assim como Tom Holland, revelação do filme no papel do filho mais velho do casal, Lucas. Geraldine Chaplin, a filha de Charlie Chaplin, também faz uma pequena aparição no filme como uma senhora sobrevivente, numa cena que eu acho belíssima e bastante interessante, onde ela começa a conversar com os dois filhos mais novos do casal, e diz que "algumas estrelas já morreram, mas elas brilharam tão intensamente que continuam visíveis e brilhando no céu". Eu acho essa curiosidade linda.

Também não são poucos os elogios a Juan Antonio Bayona, diretor do filme (o mesmo que dirigiu O Orfanato). Que direção é essa? Puxa vida, sensacional! O cara realmente sabe dirigir. O que dizer daquela cena impecável do momento do tsunami, com a mãe e o filho combatendo a correnteza? Rapaz, é de deixar a gente sem ar. Eu tiro o chapéu para Bayona, sinceramente. 

O Impossível termina e a gente sente como se nós tivéssemos presenciado o tsunami, e vivido todo aquele terror e agonia, o medo e a tensão. É perturbador. Mas, é claro, a gente precisa ter esperança. É essa história que faz a gente ver e perceber que nem tudo que parece não ter solução está perdido. Pela humanidade, pelo impacto, pela fidelidade, pela emoção, pela realidade, pela minuciosidade, pela dedicação, O Impossível é um filme que vale a pena. Impressionante!

O Impossível (Lo imposible / The Impossible)
dir. Juan Antonio Bayona - ★ 

sábado, 11 de junho de 2016

Crítica: "OS PÁSSAROS" (1963) - ★★★★★


Mal podia aguentar a ansiedade voltando pra casa após ter comprado o DVD de Os Pássaros num sebo na última segunda-feira. Sou um fã de Alfred Hitchcock, e, por acaso, reparei numa banquinha de DVDs no sebo do mercadão de São Miguel depois de uma consulta médica. Parei para observar os DVDs e, para a minha surpresa, encontrei um Hitchcock escondido, Os Pássaros, da coleção Hitchcock da Universal. E também comprei Três Reis, que ainda não vi. Se o bolso permitisse, teria comprado mais (como por exemplo Traídos pelo Desejo ou outros títulos dos quais não me lembro agora). Enfim, ansioso do jeito que sou fui ver Os Pássaros no mesmo dia, mais tarde. Correspondendo às expectativas, o filme foi uma experiência cinéfila arrebatadora. É, definitivamente, uma obra-prima clássica do cinema, e um dos melhores filmes do mestre Hitchcock.

Imagino como seria se eu tivesse visto o filme no cinema. Se em DVD já foi uma baita experiência, imagine então na telona, que inesquecível seria... Puxa, é um sonho. Mas, enfim, bora discutir um pouco dos aspectos técnicos da obra, da direção do Hitchcock, do elenco, e de todas as qualidades dessa inegável joia cinematográfica.

A primeira cena do filme se passa num pet shop, onde Melanie Daniels (Tippi Hedren) conhece um advogado, Mitch Brenner (Rod Taylor), e fica tão interessada e encantada com o homem que decide segui-lo de carro até a cidade onde ele mora, localizada no interior. Após a chegada da moça, os moradores da pequena cidade passam a ser aterrorizados por uma série de ataques violentos de pássaros. 

Chega a ser incrível como o Oscar, em tempos passados, esnobou e deixou de fora tantas obras-primas do cinema, muitas delas dirigidas pelo Hitchcock, como Os Pássaros, que só recebeu 1 (sim, só uma) indicação, em Efeitos Visuais. Há quem diga que injustiça é o que não falta no Oscar nos dias de hoje, mas no passado essa onda era mais forte, se a gente for ver de perto. E isso não aconteceu só com Os Pássaros, no que diz respeito a injustiça e esnobações com a filmografia de Hitchcock. Será que a Academia não gostava do Hitchcock assim? Ou talvez os membros da Academia no passado eram muito invejosos pra não indicá-lo. 

De qualquer maneira, convenhamos, Os Pássaros, com Oscar ou sem Oscar, é um filme obrigatório, necessário em todos os sentidos. Inovador, refinado, autêntico, estiloso, marcante, simplesmente memorável. Os Pássaros possui de sobra todas as características de uma grande obra fílmica, e merece ser reconhecido à altura.

Num filme com tantos atores talentosos, tantas performances impecáveis (Suzanne Pleshette e Veronica Cartwright, ótimas, só pra mencionar), a grande estrela acaba sendo Alfred Hitchcock. Aliás, não sei em qual filme ele não é o principal, o mais importante. Poucos diretores conseguem ser tão influentes dessa forma. Afinal, é pela direção de Hitchcock que a maioria dos filmes dirigidos por ele esbanjam tanto sucesso, legado, classe e aclamação. A direção de Alfred é o melhor de Os Pássaros. Perfeição e excelência na medida certa. É também pela agoniante atmosfera de horror, pelas sequências tenebrosamente bem-dirigidas, pela condução extraordinária do elenco, pela qualidade do filme que Hitchcock deve ser parabenizado, e agradecido. 

Creio que Os Pássaros convença mais como terror do que como um suspense. Se bem que há algo de complexo e excepcional no mistério metafórico que o filme abriga. Afinal, depois da sessão, fica um clima de suspense no ar. Chega a ser algo até meio natural, tratando-se de um filme do Hitchcock, que já traz o suspense "automaticamente" cravado em seu estilo. 

Vale ressaltar que Os Pássaros é um filme magistralmente impressionante e convincente. Não que os filmes do Hitchcock não sejam, mas Os Pássaros é um destaque ímpar, e muito é por conta da direção, mais uma vez exímia, do mestre e as performances seguramente digníssimas de um elenco pra lá de versátil. 

Outra coisa espantosamente fascinante em Os Pássaros é a fotografia brilhante de Robert Burks, na 11ª parceria com Hitchcock. Exemplificando, a cena final é de uma beleza visual hipnotizante. Também gosto demais da sequência da Melanie dirigindo rumo a Bodega Bay no quesito visual, especialmente com aquelas lindas paisagens de fundo. A edição, primorosa, também é um artifício técnico notável, fundamental para a qualidade de Os Pássaros.

A qualidade estrutural e técnica do longa desencadeia em diversos fatores que contribuem para o status de obra-prima de Os Pássaros, como na arquitetação de uma atmosfera de tensão genial, no dimensionamento do horror e na propagação de um mistério inquieto e afiado, contribuintes indispensáveis à trama e à primordialidade do desfecho. 

Os Pássaros é mais uma das fiéis provas da maestria e primor de Alfred Hitchcock, definitivamente um dos maiores diretores de todos os tempos e um gênio cinematográfico atemporal. Os Pássaros é sobre o medo do desconhecido nos controlando, a peculiar natureza do caos e dos mistérios que nos cercam, o desespero diante da incomunicabilidade... É também sobre a nossa capacidade quase invisível de auto-manipulação, de como nos transformamos em alvo dos nossos próprios medos diante da mudança, do incomum, da transformação. Um filme mais que genial. Muito bem-feito. Muito bem produzido. Muito bem em tudo. Nota 10 é pouco para Os Pássaros.

Os Pássaros (The Birds)
dir. Alfred Hitchcock - 

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Crítica: "ESPANGLÊS" (2004) - ★★★


Ainda não sei bem o que achei deste Espanglês. Lembro que, ano passado, quando comecei a assistir numa sessão à noite do Comedy Central, até estava gostando, mas dormi sem terminar de ver. Desta vez eu encontrei ele lá no Netflix, e aproveitei pra ver novamente o começo e o resto que eu não vi. O filme ficou com outra aparência desta vez. Ou talvez só o começo do filme seja bom, porque, com o passar do tempo, ele fica azedo, muda de jeito, de ritmo. Esquisito. 

Confesso que, mesmo assim, não deixa de ser um filme engraçado. Irregular, mas com alguns bons momentos. Só não entendo como podem enxergá-lo como um drama. Na verdade, Espanglês não é nem drama e nem comédia. Comédia dramática? Também não. E por isso é que é um filme tão complicado de se entender, não no sentido de ser complexo, mas sim o que ele quer dizer, sua intenção, a proposta que ele oferece. É um filme bem confuso quando se trata de gênero. 

No entanto, o elenco está ótimo. Adam Sandler, quem eu acho que só esteve realmente bom uma única vez em toda a sua carreira, em Embriagado de Amor, até que está bacana aqui em Espanglês, especialmente naquela cena em que ele surta no carro. A talentosíssima Paz Vega interpreta Flor, uma mexicana que, após o abandono do marido, decide ir para os Estados Unidos viver com a filha, onde acaba trabalhando para o personagem do Sandler, um chef de cozinha. 

Também estão no elenco Téa Leoni, numa performance plausível, como a esposa frenética do Sandler, e Cloris Leachman, como a mãe de Sandler, uma ex-cantora de sucesso, cuja atuação, embora faça o estilo "roubar a cena", foi presenteada com uma indicação ao SAG em 2005. 

Apesar de tudo isso, Espanglês é um daqueles filmes que não tinha que ser feito, ou (aparentemente) não possui razão para ter sido produzido. O filme leva a direção de James L. Brooks, que também escreveu o roteiro. A fotografia é de John Seale e a trilha sonora foi composta por Hans Zimmer. 

Espanglês (Spanglish)
dir. James L. Brooks - ★