Interessante e fervoroso retrato de personagens de uma época testemunhando mudanças políticas e sociais profundas, o embate entre os jacobinos e membros da aristocracia pró-monarquia no cenário da Revolução, sob a visão de uma amiga próxima de um duque (Grace).
Transparente, muito vívido e concentrado nas minúcias históricas, é um filme que tem um olhar épico sincero e transparente. Preza pela inimputabilidade das figuras e pelas contradições da ebulição política do momento, pintando a Revolução ora como um levante patriótico de liberdade e progresso, ora como um capítulo violento e sombrio, com tons de terror e perseguição.
Sua narrativa consegue valorizar o conflito sem precisar reduzir nada a nada. Rohmer está, ademais, interessado no exercício formal de um então ainda pouco explorado cinema digital. O resultado é no mínimo admirável, e o maior mérito do longa é aproveitar as possibilidades de contemplação histórica através do formato, um digital ainda rarefeito, buscando uma construção estética mais palpável, recriando o ambiente de quadros da época e reproduzindo o sentimento da época em si.
A Inglesa e o Duque sublinha a crescente tensão entre aquelas personagens e em como a presença delas acaba tendo algum peso político na Revolução. À parte do contundente registro histórico que ele faz, reflexivo acerca da dimensão dessa História, Rohmer tem um olhar sensível para os dramas da sua protagonista.