domingo, 28 de maio de 2017

PIRATAS DO CARIBE: A VINGANÇA DE SALAZAR (2017)


Demasiadamente longo, desesperadamente ambicioso e tecnicamente exuberante, o novo Piratas do Caribe é trilhado por um roteiro desnorteado e que não dá conta do recado – um desfecho com soluções preguiçosas e pouco convincentes –, a performance sempre caricata e exagerada de Johnny Depp da qual ele parece nunca se cansar de fazer e refazer. As piadas surtem efeito, e não por acaso os "menos piores" momentos do filme são os mais engraçados. Esta franquia, de tanto repetir os mesmos clichês piratas e com os mesmos propósitos grandiosos, está ficando cansada. Os filmes de aventura de Jack Sparrow ainda podem trazer alguma emoção a quem procure embarcar na viagem, mas são insuficientes, deliberados, inconclusivos.

Traz a direção dos noruegueses Joachim Ronning e Espen Sandberg que – não por acaso – já dirigiram um filme sobre aventuras no mar que foi Kon Tiki, talvez mais lembrado por ter sido indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2013. Certamente há muitos momentos que, graças à mise-en-scène dos dois, serão certamente lembrados como os mais audaciosos e bem elaborados momentos deste filme, como o uso inventivo da câmera em certas sequências de tirar o fôlego, como a estranhíssima cena do roubo do cofre, esquisita e totalmente insana porém muito bem conduzida, acreditem se quiser. E o vilão do Javier Bardem (sim, Bardem está fazendo papel de antagonista de novo...) é impagável. Mas sempre escolhem o cara para esses tipos de papéis de malvado, não? 

O filme, é claro, dispensa quaisquer críticas acerca sua comissão técnica – que é, de fato, fascinante –e por isso mesmo talvez seja interpretado como um dos filmes mais atrativos, no que diz respeito à fotografia estarrecedora e à direção de arte fantasticamente bem elaborada, desta franquia que promete levar muita gente aos cinemas nesta temporada. Elas vão se divertir? Com certeza. Mas o filme é bom? Ele pode ser até legal, como já foi esclarecido, mas certo é que há muitos erros e poucas qualidades que realmente importam. Ou seja, sim, esta é mais uma superprodução hollywoodiana maniqueísta com interesses meramente comerciais, entretanto com pouco investimento em seu conteúdo. 

Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar (Pirates of the Caribbean: Dead Men Tell No Tales)
dir. Joachim Ronning & Espen Sandberg
★★

sábado, 20 de maio de 2017

CORRA! (2017)


O terror racial. Jordan Peele fabrica um dos filmes mais geniais de 2017, so far, com sua brilhante, eufórica, magistral estreia como diretor com Corra! ou, em seu título original, Get Out. O jovem Chris Washington decide visitar a família de sua namorada, Rose Armitage, a pedido dela. Ele receia que a família dela o receba com um certo incômodo por ele ser negro, mas tudo "corre bem" no encontro, até que tudo passa a não "correr bem" – uma estranha reunião da família repleta de bizarrices amedronta Chris para então dar espaço a uma série de loucuras, que passam a deixar mais e mais clara a intenção daquela família ao acolhe-lo com a aparente singela hospitalidade. 

A metáfora do racismo, do preconceito racial que assombra a América, a "terra dos justos", o passado escravocrata, a história de uma nação em um filme que é tanto um retrato ácido e feroz da hierarquia racista da sociedade norte-americana quanto também é um clamor de justiça por respeito e igualdade em pleno século 21. A mise-en-scene é completa, absolutamente formidável em todos os sentidos, a elaboração de um clima de horror capaz de criar uma desestabilização e ao mesmo tempo reproduzir o próprio terror racial, vivido e sentido. 

Poucos filmes recentes foram capazes de criar uma história que conseguiu ter uma dimensão desse clamor de justiça sem cair em um maniqueísmo falível, já não é o caso de Corra!, que dispensa maniqueísmos em sua construção narrativa, trazendo uma espécie de inovação quanto à forma que aborda suas temáticas revitalizando os gêneros do terror e do suspense – que reflete no significado ideológico e metafórico da trama – criando uma atmosfera bizarra, surreal, explicitamente perturbadora.

O elenco – em ótima forma – é liderado pela performance magistral da revelação Daniel Kaluuya. Também estão excelentes Catherine Keener – a mãe hipnótica –, Allison Williams – a filha manipuladora –, Caleb Landry Jones – o filho agressivo – e Bradley Whitford – o mestre de cerimônias deste show de horrores e bizarrices –. 

Certamente trata-se de um dos melhores filmes de 2017, um item obrigatório na sua lista, um filme que vai além das nossas expectativas e surpreende com sua abordagem e técnica inovadoras e sua perspectiva assombradora sobre o conflito racial. Não há, até agora, um filme melhor que este ano tenha tratado de suas ideologias com um cuidado tão grande e cujo resultado é ainda mais satisfatório, e também que tenha sido tão bem dirigido e coordenado, uma experiência tanto sensorial quanto ideológica, sobretudo cinematográfica e imagética. 

Corra! (Get Out)
dir. Jordan Peele
★★★★½

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Blessed Virgin, o novo filme de Paul Verhoeven


A produtora de Saïd Ben Saïd, o mesmo que produziu Elle, Deus da Carnificina, Paixão e Aquarius, anunciou que o próximo filme do nosso querido Paul Verhoeven já está no gatilho. E o projeto já pode ser considerado um dos longas mais aguardados do ano que vem. Blessed Virgin, como o trabalho está sendo apresentado, virá ao mundo em 2018 – o filme ainda não começou a ser rodado – e trará a atriz Virginie Efira no papel da protagonista (Efira co-estrelou Elle, recente filme de Verhoeven, vencedor de 2 Globos de Ouro e indicado a 1 Oscar). Blessed Virgin encontra-se em um estágio de pré-produção. Não há informações de outros atores que talvez possam aparecer no filme, Efira é a única confirmada até o momento. A trama é descrita da seguinte maneira:

      Uma freira na Itália durante o século 17 sofre de visões eróticas e religiosas perturbadoras. Ela é auxiliada por uma outra freira – e a relação entre as duas mulheres se eleva a um tórrido caso de amor.

A personagem Benedetta Carlini – a principal – está a cargo de Virginie Efira. Ainda não há uma data certa de lançamento, estima-se que o filme fique pronto até 2018. O filme é uma adaptação do romance Immodest Acts, da escritora Judith C. Brown, publicado em 1986. O roteiro é assinado por Gerard Soeteman (frequente colaborador de Verhoeven, mesmo roteirista de A Espiã e Conquista Sangrenta e de alguns filmes da fase holandesa do cineasta, como O Quarto Homem). Blessed Virgin será apresentado a compradores no mercado cinematográfico do Festival de Cannes este ano. 

terça-feira, 2 de maio de 2017

O CÍRCULO CROMÁTICO (2011)


Quem se depara com este O Círculo Cromático até pode se confundir achando que se trata de um filme de Noah Baumbach ou, mais provavelmente, Woody Allen: a leveza da história, o humor piadista dos personagens, o deboche, as sacadas geniais... Alex Ross Perry, um dos nomes mais promissores do cinema independente americano da atualidade, em seu segundo longa-metragem, esta espirituosa comédia com um gostinho de road movie O Círculo Cromático (que não chegou a ser lançado no Brasil), desenha uma trama simples, mas não preguiçosa, e recheada de cenas deliciosas com diálogos inteligentes e perspicazes. A graça deste filme está na dupla maravilhosa de protagonistas: o próprio Alex Ross Perry e Carlen Altman.

Alex e Carlen interpretam dois irmãos que se reencontram – uma aspirante a jornalista tentando arranjar um emprego em uma pequena cidade e um homem com problemas em seu relacionamento – eles dois partem em uma viagem, na qual a personagem de Carlen pretende rever seu antigo namorado, outrora seu professor de jornalismo, que está ficando com outra aluna. O roteiro (assinado por ambos Perry & Altman) traz uma sequência de eventos bastante natural, despretensiosa – com uma libido cômica que flui de maneira perversa e sentimental ao mesmo tempo – para chegar em uma conclusão ainda mais simplista. 

Sendo um filme verborrágico, há o constante falatório dos personagens, conversas pontuadas e bastante incisivas. A relação entre os dois irmãos é desenhada de uma forma quase liberal, sem se prender à muitas restrições ou limitações, e a química flui com uma naturalidade imensa. 

Ainda sim, há momentos em que o filme se divide, não consegue estabelecer um equilíbrio definitivo, mesmo que se baseie em um humor puramente irônico e sagaz para a construção de um clima menos arisco e mais sincero. Se por um lado a comédia funciona perfeitamente, do outro o final deixa um gosto de insatisfação no ar, como se faltasse algo para complementar o significado e a proposta do filme. De qualquer maneira, é uma delícia. A forma como o filme se desenrola é espontaneamente divertida e gostosa de se acompanhar. 

O Circulo Cromático (The Color Wheel)
dir. Alex Ross Perry
★★★½