segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Titane

Talvez o que eu achei mais genial em Titane seja o mais óbvio. O potencial incisivo desse filme reside no fato de que ele é, antes de mais nada, muito simples na sua premissa. Eu não vejo com maus olhos a tentativa da diretora de mexer com as expectativas do público com uma narrativa que está em constante mutação, e que demanda do espectador um pouco de prudência em rever seus próprios conceitos.

O que chama atenção é que há, certamente, um tom dominante ao longo do filme de recusa em se desculpar, o que parece refletir até mesmo a própria rebeldia da personagem principal, que comete vários atos e segue para o próximo de forma quase inabalável. É como se essa "rebeldia contínua" contaminasse até mesmo a própria condução do filme, é o seu fio condutor.

Para todas as discussões que Titane levantou, eu acho que ele surge num momento em que há uma grande ressignificação acontecendo do cinema como retrato. É interessante porque, na mesma medida em que a diretora tenta dar conta de um mar de convergências, e ela o faz com certo sucesso, fica muita coisa em aberto. O que é bom, porque o filme fica na nossa cabeça depois da sessão, e talvez por isso é que seja necessário voltar a Raw, tão perigosamente carnal e incontido quanto Titane, e que guarda tantas semelhanças com ele. Eu diria que Julia Ducournau é sim um nome pra ficar de olho.