O nome do grego Yorgos Lanthimos ascendeu quando seu filme Dente Canino fez um sucesso em Cannes (ganhou o prêmio Um Certo Olhar) e depois figurou entre os cinco finalistas a Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2011. Dono de um cinema bem particular, ganhou mais destaque com o recente O Lagosta (seu primeiro filme falado em inglês) e agora com o seu mais elogiado trabalho, A Favorita, drama épico centrado na relação de amor, discórdia, inimizade e loucura, repleta de intrigas, entre a rainha Anne da Inglaterra (Olivia Colman) e as mulheres mais próximas a ela: a duquesa de Marlborough (Rachel Weisz) e uma empregada recém-chegada ao palácio e prima desta última, Abigail (Emma Stone).
Os filmes de Yorgos transitam pelo que há de bizarro na nossa condição, explorando com sarcasmo e deboche (às vezes em quantidades exacerbadas) o horror e o humor que surgem das situações humanas. A ironia, ácida ou desmedida, vem para reforçar os sentimentos de chacota e desprezo que o cineasta evoca com personagens excêntricos que inspiram desde antipatia até vulgaridade. A Favorita segue esse padrão de deturpar personagens tão detestáveis do mundinho de Lanthimos, mas o resultado é surpreendentemente bom quando vemos que o estilo dele, quase misantrópico, casa perfeitamente com o subgênero dos filmes épicos de reis e rainhas, proporcionando um frescor que há tempos não víamos nesse tipo de história.
O equilíbrio é fundamental, o cuidado pela forma é tamanho que torna esse o mais bem realizado filme do grego (figurinos, fotografia e cenários impecáveis), e o trio de performances incrivelmente poderosas de Olivia Colman (agora vencedora de um Oscar, sendo ela a melhor daqui do elenco, com uma atuação arriscada e muito bem arquitetada, cheia de momentos tensos), Rachel Weisz e Emma Stone (igualmente admiráveis), com suas personagens enlouquecidas, esdrúxulas, às vezes irritantes, deslocadas, mas que parecem conter mais humanidade do que Yorgos permitiria a seus personagens, dão ao filme o seu aval de importância e maestria, que, alados ao autorismo de Lanthimos, fazem dele um trabalho tão incomum quanto original.
Insano, divertido e pra lá de esquisito, como todo filme de Yorgos, A Favorita pode não ser sua obra-prima, mas é certamente seu trabalho mais bem-feito. Furiosamente sarcástico e sem limites, traz um olhar drástico e rude sobre as mordomias, peripécias, segredos e podres da realeza, com a devida parcela de esquisitices e vilezas que um olhar afiado exige, sem nunca sair da pose, com seus planos muito rígidos, quase coreografados de tão simétricos, e precisamente vertiginosos, para nos sentirmos na pele daquelas mulheres tão perturbadas. E muitas cenas ficam grudadas no nosso pensamento.
A Favorita
The Favourite
dir. Yorgos Lanthimos
Os filmes de Yorgos transitam pelo que há de bizarro na nossa condição, explorando com sarcasmo e deboche (às vezes em quantidades exacerbadas) o horror e o humor que surgem das situações humanas. A ironia, ácida ou desmedida, vem para reforçar os sentimentos de chacota e desprezo que o cineasta evoca com personagens excêntricos que inspiram desde antipatia até vulgaridade. A Favorita segue esse padrão de deturpar personagens tão detestáveis do mundinho de Lanthimos, mas o resultado é surpreendentemente bom quando vemos que o estilo dele, quase misantrópico, casa perfeitamente com o subgênero dos filmes épicos de reis e rainhas, proporcionando um frescor que há tempos não víamos nesse tipo de história.
O equilíbrio é fundamental, o cuidado pela forma é tamanho que torna esse o mais bem realizado filme do grego (figurinos, fotografia e cenários impecáveis), e o trio de performances incrivelmente poderosas de Olivia Colman (agora vencedora de um Oscar, sendo ela a melhor daqui do elenco, com uma atuação arriscada e muito bem arquitetada, cheia de momentos tensos), Rachel Weisz e Emma Stone (igualmente admiráveis), com suas personagens enlouquecidas, esdrúxulas, às vezes irritantes, deslocadas, mas que parecem conter mais humanidade do que Yorgos permitiria a seus personagens, dão ao filme o seu aval de importância e maestria, que, alados ao autorismo de Lanthimos, fazem dele um trabalho tão incomum quanto original.
Insano, divertido e pra lá de esquisito, como todo filme de Yorgos, A Favorita pode não ser sua obra-prima, mas é certamente seu trabalho mais bem-feito. Furiosamente sarcástico e sem limites, traz um olhar drástico e rude sobre as mordomias, peripécias, segredos e podres da realeza, com a devida parcela de esquisitices e vilezas que um olhar afiado exige, sem nunca sair da pose, com seus planos muito rígidos, quase coreografados de tão simétricos, e precisamente vertiginosos, para nos sentirmos na pele daquelas mulheres tão perturbadas. E muitas cenas ficam grudadas no nosso pensamento.
A Favorita
The Favourite
dir. Yorgos Lanthimos
★★★★