segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

OSCAR 2017 (89th Academy Awards)


Pegadinha do Oscar

Num feito quase histórico, a categoria de Melhor Filme foi anunciada erroneamente pela dupla Warren Beatty e Faye Dunaway, estrelas de Bonnie & Clyde – os envelopes foram trocados, Warren teria pego o de melhor atriz, que já havia sido entregue por DiCaprio, ao invés do envelope correto de Melhor FilmeAnunciado que La La Land teria ganhado o grande prêmio da noite, fechando um círculo já previsível de vitórias e favoritismo incisivo, após algumas vitórias bem-sucedidas, houve um engano: o verdadeiro vencedor era Moonlight. O alarme falso encerrou com chave de ouro a noite de um dos Oscars mais acirrados dos últimos anos, e a briga entre os dois principais concorrentes foi tão árdua que até mesmo no momento da revelação houve uma reviravolta épica, algo sem precedentes no evento – uma espécie de reprise da Miss Universo de 2015.

Moonlight saiu vitorioso com três estatuetas nas categorias de filme, ator coadjuvante e roteiro adaptado. A aclamada obra-prima do cineasta independente Barry Jenkins é um feito cinematográfico grandioso quão essencial. E se por um lado a equipe de La La Land foi injustiçada de uma maneira quase humilhante, o longa de Chazelle detém o número de maior estatuetas desta edição: seis, incluindo as de direção e atriz.

Dizer que este foi um Oscar confuso não é errado. A maioria das categorias desta edição tiveram vencedores incertos e por vezes surpreendentes, grande parte destas técnicas. E se as categorias de atuação foram, de longe, as mais previsíveis, o resto teve de sobra surpresas tão gritantes que quem vê é capaz de nem acreditar. 


O legal dessa edição é que muitos outros filmes foram lembrados e premiados, como Até o Último Homem, A Chegada Manchester à Beira-Mar (que é na minha opinião o melhor dos indicados a filme, e que mereceu seus reconhecimentos em ator e roteiro original). La La Land também saiu com muitos prêmios (a média menor do que a esperada). Em um ano em que a Academia buscou a diversidade para rebater as críticas ao #oscarsowhite e à ausência de indicados negros em anos anteriores, houve uma enorme e merecida visibilidade. Pela primeira vez na história deste prêmio, tivemos como vencedor um filme formado por um elenco de atores negros. Este é um significativo avanço para esta premiação tachada de conservadora que começa a dar voz aos rejeitados no mundo do cinema e em Hollywood.

Particularmente a vitória de Emma Stone foi a mais injusta, já que, ao lado da atriz, tínhamos Isabelle Huppert, cuja performance estrondosa em Elle era a favorita de muitos, que acabou perdendo o prêmio. Stone está muito boa em La La Land, mas Huppert é quem merecia este Oscar. Bem, quem sabe no futuro, a Academia não reconheça mais amplamente os trabalhos da intérprete francesa? 

Casey Affleck, cujo SUPOSTO envolvimento em um polêmico caso de estupro estava gerando certo burburinho em relação às suas possibilidades de faturar este Oscar, levou merecidamente o prêmio de Melhor Ator para casa. Independente se ele cometeu ou não, repito, SUPOSTO assédio sexual, tiro meu chapéu para a sua atuação deslumbrante e magnífica. Deixem o Casey em paz, porra!

Em Filme Estrangeiro, não foi surpresa a vitória de O Apartamento, drama do cineasta iraniano Asghar Farhadi, que já era cogitada por muitos como forma de rebate às polêmicas de Donald Trump em relação ao banimento de imigrantes árabes nos EUA. O filme em si é espetacular, mas há quem diga que Toni Erdmann, obra de Maren Ade, merecesse o prêmio.

No mais, fiquei feliz pela vitória do filme de Farhadi, e a importância que esse reconhecimento reflete, além do discurso de Farhadi, lido por uma representante (já que o diretor não pôde comparecer à cerimônia por motivos de Trump) marca um dos pontos altos da noite do Oscar. Também gostei de ver o excelente O.J.: Made In America levar o prêmio em documentário. Justíssimo. Zootopia levar em melhor animação não foi tão surpreendente, mas foi merecido.

Nossa querida Viola Davis ganhou hoje seu primeiríssimo Oscar. Depois de duas indicações pelos filmes Dúvida e Histórias Cruzadas, a atriz finalmente abocanhou sua primeira estatueta por Um Limite Entre Nós. E Mahershala Ali, cuja vitória até então era bastante incerta, papou melhor ator coadjuvante. E foi muito merecido.


O host desta edição, Jimmy Kimmel, não poupou piadas à Donald Trump e até aproveitou um momento da cerimônia para mandar tuítes ao presidente. No geral, achei que foi bastante digna a apresentação dele, embora tenha alguns momentos fracos, mas o importante é que ele foi bastante carismático e conseguiu trazer descontração no nível certo e humor também. Acho que ele deve ser o melhor host da cerimônia desde a DeGeneres em 2014. Aquela parte em que o grupo de turistas entra no Dolby Theatre e começa a cumprimentar as celebridades é genial. Gostei bastante desse momento, muitos até chegaram a comparar à selfie da Ellen.

Bem, acho que entre os momentos mais memoráveis desta edição fica a vitória de Moonlight (pegadinha do malandro heheh), a abertura de Kimmel, alguns segmentos, a categoria de filme estrangeiro e a vitória de Viola Davis. Senti que as performances musicais este ano também estavam mais fraquinhas e de certa forma passageiras, mas talvez a única que eu gostei, mesmo que seja mediana, foi a do John Legend cantando "City of Stars" e "Audition" e também o segmento In Memoriam, homenageando os profissionais do cinema que nos deixaram em 2016 e no comecinho de 2017, um dos momentos mais sensíveis da noite. 

Esta foi uma edição satisfatória por alguns momentos de beleza, entretenimento, mas que passa a sensação de que foi arrastada demais, acho que poderiam ter encurtado mais. Concordo com a grande parte das vitórias (ou talvez todas, até) mesmo que ache algumas injustas demais, enfim... O Oscar 2017 foi uma coisa meio insana e ao mesmo tempo divertida, um pouco mais memorável que a média dos anos anteriores, mas que poderia ter sido melhor. 


O tapete vermelho, como sempre, teve aquele clima agradável, entrevistas com as celebridades e tal, normal para quem acompanha a premiação há muito tempo. Só tenho a dizer que essa polêmica do anúncio errado ainda vai dar o que falar. A poucos dias da premiação, por exemplo, tivemos um indicado desclassificado (Greg P. Russell, mixagem de som por 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi) acusado de fazer lobby, mendigar indicação, por telefone. 

Enfim, esse foi mais um Oscar, de altos e baixos, mas é sempre bom acompanhar com exclusividade o maior evento do cinema. Foi uma noite agradável, e eu espero que no Oscar 2018 venham mais momentos divertidos e emocionantes como desta noite. 

MELHOR FILME
Moonlight

MELHOR DIRETOR
Damien Chazelle – La La Land

MELHOR ATRIZ
Emma Stone – La La Land

MELHOR ATOR
Casey Affleck – Manchester à Beira-Mar

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Viola Davis – Um Limite Entre Nós

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Mahershala Ali – Moonlight

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Manchester à Beira-Mar (Kenneth Lonergan)

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Moonlight (Barry Jenkins & Tarell Alvin McCraney)

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
O Apartamento (dir. Asghar Farhadi, Irã)

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
Zootopia

MELHOR DOCUMENTÁRIO
O.J.: Made In America (Ezra Edelman & Caroline Waterlow)

MELHOR TRILHA SONORA
La La Land (Justin Hurwitz)

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
City of Stars
La La Land

MELHOR FOTOGRAFIA
La La Land (Linus Sandgren)

MELHOR EDIÇÃO
Até o Último Homem (John Gilbert)

MELHOR FIGURINO
Animais Fantásticos e Onde Habitam (Colleen Atwood)

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
La La Land (David Wasco & Sandy Reynolds-Wasco)

MELHOR MAQUIAGEM/PENTEADOS
Esquadrão Suicida

MELHOR EDIÇÃO DE SOM
A Chegada

MELHOR MIXAGEM DE SOM
Até o Último Homem

MELHORES EFEITOS VISUAIS
Mogli, o Menino Lobo

MELHOR CURTA-METRAGEM (LIVE-ACTION)
Sing

MELHOR CURTA-METRAGEM (ANIMAÇÃO)
Piper

MELHOR CURTA-METRAGEM (DOCUMENTÁRIO)
Os Capacetes Brancos

FILMES COMENTADOS:


sábado, 25 de fevereiro de 2017

A CHEGADA (2016)


Nos últimos anos, Denis Villeneuve vem se consolidando como um dos cineastas mais influentes e importantes da atualidade, dada a profusão de seus trabalhos e a recepção de seu cinema. Seu novo filme, A Chegada, é a prova mais contundente de sua mise-en-scene paradoxal e que consegue conciliar os elementos cinemáticos à força da trama que ele conduz. Este é talvez seu melhor, um trabalho que merece ser reconhecido como tal e que é capaz de gerar as mais diversas interpretações acerca de sua narrativa singular e interessantíssima. 

Em A Chegada, Amy Adams (em uma performance estarrecedora) dá vida a Dra. Louise Banks, uma professora de linguística que recentemente perdeu a filha adolescente, vítima de um câncer, é convocada para participar de uma missão das forças armadas quando seres extraterrestres invadem a Terra e começam a se comunicar através de sinais. Seguindo esse contexto, as investigações de Banks sobre a linguagem extraterrestre evoluem, mas o governo teme que algo de ruim aconteça, e a alienação acaba provocando constante paranoia. 

Villeneuve, cuja filmografia sempre tida como promissora está repleta de filmes multifacetados, que abrem inúmeras interpretações acerca sua história, seus contextos e simbolismos, talvez nunca tenha feito um filme que fosse tão dinâmico em sua abordagem, em relação à sua complexidade e seus contextos, embora tenha feitos semelhantes em trabalhos embebidos de complexidade como os excelentes Os Suspeitos, O Homem Duplicado e Sicario: Terra de Ninguém.

Fato é que Villeneuve realizou sua obra-prima, um filme que gera tantas interpretações e abre portas para tantos contextos que merece ser relevado por sua conexão com a linguagem que nos fornece e sua análise meticulosa dos desdobramentos da linguagem cinematográfica e como os elementos dessa história dialogam perfeitamente com esse simbolismo. Há uma comunicação tão mútua, que acaba resultando em um calculismo impressionante. A maneira como a linguagem (e a temática em si) é trabalhada em A Chegada é uma obra completa.

Gosto de pensar do filme dessa maneira, como ele consegue reunir diversas abordagens num só segmento e é realmente incrível. É um dos filmes mais articulados de Denis Villeneuve, ele que é um diretor massa e que não costuma desapontar. A Chegada e seu lirismo fundamental contextualiza o aspecto mais particular da arte: o significado. Por essa e por outras razões, seu teor metafórico, seu trabalho magnífico com os artifícios técnicos (trilha, fotografia e desenho de som, estonteantes e absurdamente brilhantes) eu creio que trata-se de um filme tão especial, bem feito e potente, o melhor até agora desse cara que a cada filme reafirma seu status de cineasta de primeira grandeza. 

A Chegada (Arrival)
dir. Denis Villeneuve
★★★★★

O APARTAMENTO (2016)


Em O Apartamento, novo filme de Asghar Farhadi (diretor dos ótimos A Separação, À Procura de Elly e O Passado), Rana e Emad vivem um casamento prestes a desabar, como um edifício rabiscado por frágeis e profundas rachaduras. Passando por momentos turbulentos, o casal é afetado drasticamente por um acontecimento envolvendo Rana, a mulher, que acaba se acidentando no banheiro após a entrada de um estranho no apartamento recente deles. A busca por vingança e redenção toma rumos drásticos, e a trama de O Apartamento é abraçada pelo suspense e temperada pela tensão, impecavelmente arquitetada por Farhadi, que a cada filme reafirma seus talentos e a maestria de seu cinema com histórias que exploram dúvidas morais e conflitos entre personagens cujos destinos se entrecruzam. 

O thriller é guiado pelas performances irretocáveis de Shahab Hosseini (que ganhou o prêmio de interpretação masculina no Festival de Cannes em maio do ano passado) e Taraneh Alidoosti, que dão vida a um casal de atores encenando a famosa peça "A Morte do Caixeiro Viajante" (ou Death of a Salesman, de Arthur Miller) e atravessando uma crise no casamento. Quem conhece o cinema de Farhadi sabe como o cineasta trabalha bem temáticas envolvendo moralismos, e neste filme não foi nada diferente. Dados os contextos aos quais a história do filme se apoia, é bastante compreensível que este seja um filme tão complicado de se captar, sob certas perspectivas, já que depende basicamente das metáforas às quais adere. 

De longe, é um dos filmes mais inteligentes e intrigantes de Farhadi, embora caso seja observado de perto, não consiga esconder certos deslizes e tropeços na narrativa, que às vezes soa demais confusa, mas que cumpre seu dever. A construção das personagens é bastante irregular, ainda que nitidamente exista a tentativa de conferir consistência à elas, mesmo que de forma tão embaçada.

Quem está familiarizado com a peça de Arthur Miller provavelmente captará com facilidade o que ele quer dizer com este filme, que reúne contextualizações aproximadas da peça e que tornam mais compreensíveis as intenções da trama. O Apartamento possui um gostinho teatral, mesmo assim sua veia cinemática está bem definida, a presença de artifícios cinematográficos que ajudam a compor a atmosfera do filme (a fotografia e a montagem, por exemplo) estão muito bem definidos.

O Apartamento (Forushande)
dir. Asghar Farhadi
★★★★

ESTRELAS ALÉM DO TEMPO (2016)


Estrelas Além do Tempo, segundo longa-metragem de Theodore Melfi (cujo primeiro, Um Santo Vizinho, me agradou bastante) conseguiu, além de ser um baita sucesso de bilheteria, aclamação dos críticos e inclusão em várias listas de indicações a prêmios da safra mais renomada de Hollywood. E o sucesso do filme, em parte, é bastante justo. Num ano pós-"oscars so white", em que a polêmica da ausência de negros na maior premiação do cinema norte-americano gerou uma incômoda repercussão, o reconhecimento a filmes que denunciam o racismo e retratam a cultura negra é até justificável e essa abrangência faz-se necessária em tempos em que a diversidade é discutida de forma tão libertina. 

As temáticas são trabalhadas com um certo rigor, mas às vezes percebe-se um certo desinteresse em aprofundar a abordagem e trabalhar com ela diante de novos ângulos. Estrelas Além do Tempo segue à risca a clássica fórmula de "filme de história real" com pedigree hollywoodiano, mas o faz sem apelo dramático, sem a necessidade de polir sua trama com excessos narrativos, e a fluidez da narrativa acontece quase que naturalmente. 

O foco é o grupo de mulheres negras que trabalhava para a NASA na década de 60 ajudando a construir um veículo que pudesse levar o homem ao espaço. Nesse ínterim, pinta um contraste entre os interesses capitalistas do governo americano e os avanços do lado socialista. É uma história bastante curiosa de se acompanhar, ainda que não traga nada de inovador quanto às suas narrativas e intenções, embora esteja compromissado fortemente às causas do empoderamento feminino e da luta dos negros durante épocas difíceis na história americana. 

O ponto forte deste filme é o elenco, que está excelente, com destaque para o trio Taraji P. Henson (injustiçada nesta awards season, e que numa ótima cena do filme surta por sofrer discriminação dos colegas de trabalho), Octavia Spencer e Janelle Monaé. Também são destaques Kirsten Dunst, Kevin Costner, Mahershala Ali, Jim Parsons e Glen Powell. 

Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures)
dir. Theodore Melfi
★★★

APOSTAS FINAIS PARA O OSCAR 2017


MELHOR FILME


quem vai ganhar La La Land
quem tem chances Moonlight
quem merece Manchester à Beira-Mar & Moonlight

La La Land é o grande favorito do Oscar 2017. Disso ninguém tem dúvida. O musical mais falado da temporada vai papar o prêmio principal da noite amanhã e se isso não acontecer muita gente com certeza vai estranhar – até porque o favoritismo não gira em torno apenas da popularidade do filme e de sua qualidade, mas também dos inúmeros importantes prêmios que faturou nesta awards season (PGA, por exemplo) que reafirmam seu status de favorito para o prêmio. Moonlight, o favorito independente de 2016, ganhou vários prêmios entregues pela crítica, e também o Globo de Ouro, mas é pouco provável que ele vença amanhã (ainda que merecesse mais que La La Land). Meu favorito pessoal é o drama Manchester à Beira-Mar, o mais tocante dos indicados deste ano, que pra mim merecia mesmo o prêmio de Melhor Filme.

MELHOR DIRETOR


quem vai ganhar – Damien Chazelle, La La Land
quem tem chances – Barry Jenkins, Moonlight
quem merece – Barry Jenkins, Moonlight

Damien Chazelle levou Globo de Ouro, BAFTA, Critics' Choice, DGA e tem tudo para fazer o mesmo amanhã no Oscar. Barry Jenkins ameaça, mas tem poucas chances de ganhar se a gente for comparar ao favoritismo de Chazelle. Mesmo assim, é Jenkins quem merecia esse prêmio.

MELHOR ATRIZ


quem vai ganhar – Isabelle Huppert, Elle
quem tem chances – Emma Stone, La La Land
quem merece – Isabelle Huppert, Elle

A lenda do cinema francês Isabelle Huppert foi indicada pela primeira vez ao Oscar apenas este ano por sua performance magistral no suspense Elle, de Paul Verhoeven. Ela nunca esteve tão perto de ganhar esse prêmio e todos estão achando que esta é a grande chance dela ganhar. O favoritismo da crítica e a estrondosa atuação da intérprete são fatores que merecem ser relevados quando se fala em ganhar o Oscar. Emma Stone, a estrela de La La Land, também tem muitas chances de levar sim, mas convenhamos: é Huppert quem merece este Oscar, meus amigos.

MELHOR ATOR


quem vai ganhar – Casey Affleck, Manchester à Beira-Mar
quem tem chances – Denzel Washington, Um Limite Entre Nós
quem merece – Casey Affleck, Manchester à Beira-Mar

A elogiada atuação de Casey Affleck em Manchester à Beira-Mar rendeu ao ator muitos elogios e prêmios nesta awards season. Mas o hype em torno do intérprete diminuiu devido aos ataques da imprensa e às acusações de que o mesmo supostamente estaria envolvido em um caso de assédio sexual. Quem duela com ele é Denzel Washington, vencedor do SAG, que mais e mais é tido como o provável vencedor do Oscar. Ambos estão excelentes em seus respectivos trabalhos, mas Casey está um passo à frente – e sua performance é estremecedora.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE


quem vai ganhar – Viola Davis, Um Limite Entre Nós
quem tem chances – Michelle Williams, Manchester à Beira-Mar
quem merece – Viola Davis, Um Limite Entre Nós

Nossa querida Viola Davis é uma aposta certeira para o Oscar de amanhã. Acho bem pouco provável alguém, à esta altura do campeonato, bater ela na categoria em que ela faturou tantos outros prêmios. E, aliás, não só é ela a mais bem definida das atrizes indicadas como também é a dona da mais impactante atuação do grupo e certamente merece essa honra.

MELHOR ATOR COADJUVANTE

quem vai ganhar – Mahershala Ali, Moonlight
quem tem chances – Dev Patel, Lion
quem merece – Mahershala Ali, Moonlight

Se a categoria de Melhor Ator Coadjuvante costuma ser bastante previsível conforme os anos, neste ano tivemos uma exceção. Acho que há muito tempo a categoria não esteve tão turva como ela está, mas, dentre os indicados, nós temos um destaque que é Mahershala Ali. Ameaçam ganhar Dev Patel (vencedor do BAFTA) ou, ainda, Jeff Bridges. Lucas Hedges e Michael Shannon tem poucas chances de levar. 

MELHOR FILME ESTRANGEIRO


quem vai ganhar – O Apartamento
quem tem chances – Toni Erdmann
quem merece – Toni Erdmann

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL


quem vai ganhar – Manchester à Beira-Mar
quem tem chances – La La Land
quem merece – Manchester à Beira-Mar

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO


quem vai ganhar – Moonlight
quem tem chances – A Chegada
quem merece – Moonlight

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO


quem vai ganhar – Zootopia
quem tem chances – Kubo e as Cordas Mágicas
quem merece – A Tartaruga Vermelha

MELHOR TRILHA SONORA

quem vai ganhar – La La Land
quem tem chances – Moonlight
quem merece – Jackie

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

quem vai ganhar – City of Stars, La La Land
quem tem chances – Audition, La La Land
quem merece – Audition, La La Land

MELHOR DOCUMENTÁRIO

quem vai ganhar – O.J.: Made In America
quem tem chances – A 13ª Emenda
quem merece – O.J.: Made In America

MELHOR FOTOGRAFIA

quem vai ganharLa La Land
quem tem chancesLion
quem mereceMoonlight

MELHOR EDIÇÃO

quem vai ganhar – La La Land
quem tem chances – Até o Último Homem
quem merece – A Chegada

MELHOR FIGURINO

quem vai ganhar – La La Land
quem tem chances – Jackie
quem merece – Jackie

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO

quem vai ganhar – La La Land
quem tem chances – A Chegada
quem merece – La La Land

MELHOR MAQUIAGEM/PENTEADOS

quem vai ganhar – Star Trek: Sem Fronteiras
quem tem chances – Esquadrão Suicida
quem merece – Um Homem Chamado Ove

MELHOR EDIÇÃO DE SOM

quem vai ganhar – Até o Último Homem
quem tem chances – Horizonte Profundo
quem merece – Até o Último Homem

MELHOR MIXAGEM DE SOM

quem vai ganhar – La La Land
quem tem chances – 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi
quem merece – La La Land

MELHORES EFEITOS VISUAIS

quem vai ganhar – Mogli, o Menino Lobo
quem tem chances – Doutor Estranho

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

ANIMAIS NOTURNOS (2016)


Se o primeiro filme de Tom Ford, o mediano Direito de Amar, tinha como fortaleza sua estética singular, mas pecava na narrativa retorcida e pouco inventiva, não se pode dizer o mesmo do novo trabalho cinematográfico de um dos homens mais reconhecidos do mundo da moda. Animais Noturnos traz tanto na imaginação obscura e bem construída quanto na narrativa repleta de contextos e simbolismos um bocado de acertos, que fazem deste thriller cheio de estilo e inconvencionalidades próprias em um material fílmico realmente apreciável. A inovação é o combustível de Tom Ford ao explorar de forma escancarada e pouco crível sua narrativa desalinhada enquanto traça uma história que apresenta personagens entrecruzados e um plot desconcertante. Se os excessos às vezes falam mais alto, Ford consegue equilibrar os maneirismos desnecessários de sua trama absurda à mise-en-scene avassaladora. 

Em Animais Noturnos, é um pouco difícil compreender os rumos que sua trama inusual e instigante toma. Entre sequências magistrais (como a da perseguição de carro) e outros momentos nem tão cativantes, pedaços desconexos de uma narrativa repicada vão se alinhando, mas vale lembrar que Animais Noturnos é um filme que não vai ter a sua compreensão tão fácil, e por isso mesmo é um filme mais difícil de se entender. Os adereços e as minimalidades que Ford insere a cada cena servem de porta para x interpretações. 

A personagem de Amy Adams (em uma performance estonteante, ainda que por vezes fria demais para transparecer as sensações de sua personagem já complicada na questão de ser pouco palatável, ao meu ver) é Susan, a dona de uma galeria de arte conceituada da alta sociedade que é tomada de surpresa quando recebe um livro de um antigo romance, o misterioso Edward Sheffield. Enquanto lê a história, a mulher é invadida pelos mais turbulentos sentimentos, enquanto relembra seu caso com o escritor.

É um filme que traz algo de interessante sim, na sua premissa conturbada e em seus desdobramentos magnificamente calculados, mesmo que soe pretensioso com sua narrativa ambiciosamente complexa e retalhada que nem sempre faz sentido. Mas trata-se de um grande passo na filmografia de Tom Ford, e pode ser visto como um avanço caso comparado a Direito de Amar, que era um filme mais relaxado no quesito da narrativa.

A trilha sonora consegue compor uma atmosfera bastante densa e impactante em Animais Noturnos. A montagem também é brilhante, com momentos tão inspirados quanto atordoantes que chegam a nos causar uma certa comoção, tamanha é a sua importância neste filme tão fragmentado e que vai se montando aos poucos (ou não, depende do ponto de vista). A fotografia de Seamus McGarvey é radiante, e toma conta das cenas tornando-as provocantes, exuberantes e profundas em muitos aspectos. O filme em si depende bastante do visual (e da direção de arte também) para a sua contextualização metafórica/simbólica.

O elenco é um trunfo, Michael Shannon e Aaron-Taylor Johnson são destaques de peso. Jake Gyllenhaal, subestimado, também está ótimo. Laura Linney, que aparece (quase irreconhecível) em outras cenas também merece menção. Por se tratar de um filme de estilista, Animais Noturnos é um filme com um requinte, uma arquitetura mais moderna, sofisticada, contemplável. A paleta de cores, os figurinos despojados e que falam bastante sobre as personagens que os vestem, os cenários, e a organização das sequências... Tudo conta em Animais Noturnos. Até mesmo o que não deveria ser contado. Plástico demais para ser levado a sério como cinema, distinto e provocador como o cinema deve ser.

Animais Noturnos (Nocturnal Animals)
dir. Tom Ford
★★★½

domingo, 19 de fevereiro de 2017

LOVING (2016)


Jeff Nichols conseguiu se estabelecer como um dos diretores mais aclamados do cinema independente americano recente, com filmes bastante interessantes e riquíssimos que confirmam sua fama e seu cinema desconcertante. E sua filmografia é um relicário de trabalhos formidáveis, em exemplos: o ótimo O Abrigo, o mediano, porém curiosamente deleitoso Midnight Special e os aplaudidos Amor Bandido e Separados pelo Sangue (seu filme de estreia). Com Loving, Nichols desfila com suas habilidades cinematográficas dirigindo dois atores impecáveis, Ruth Negga e Joel Edgerton, em uma história verídica de cunho dramático acertado que encontra em Loving sua representação mais honesta e, de certa maneira, romântica.

Loving foca em Richard e Mildred, que estão prestes a se casar e construir uma vida juntos, mas acabam indo parar na cadeia apenas por não serem da mesma cor. Tão revoltante é o rumo desta jornada que traça injustiças e inacreditáveis acusações que delatam racismo, imparcialidade jurídica e tempos amargos em que nem mesmo o amor entre duas pessoas conseguia acabar com uma cultura de preconceitos tão extrema. 

Ainda que este filme possua sua quantia de acertos e de deslizes, não há como negar a excelência dos seus atores principais, Ruth e Joel, merecedores de muitos prêmios e elogios por suas atuações poderosas, que fazem de Loving um filme preciso. Nichols dirige bem, sim, mas a sensação que fica quando a sessão termina é de que o retrato é rarefeito demais para ser considerado autêntico, magistral, mesmo que traga em suas intenções uma dignidade fílmica irrefutável. 

Ainda sim, este é provavelmente o melhor filme do cineasta até agora junto com O Abrigo, que ainda consegue ser superior por condições mais satisfatórias. Um grande acerto de Loving é seu tom neutro, que consegue dar voz às suas personagens mesmo sem necessariamente se apoiar em uma prevalência maniqueísta, um equilíbrio quase fundamental que filmes dessa escala aspiram, para que a história mantenha-se fiel aos fatos, de forma a imprimir um selo de excelência neste drama tão rico e importante, sobre viver o amor, o nosso desejo, em tempos difíceis e em um ambiente tão conturbado.

Loving foi indicado ao Oscar na categoria de melhor atriz (para Ruth Negga, também indicada ao Globo de Ouro) e competiu pela Palma de Ouro no Festival de Cannes ano passado. O filme segue sem previsão de estreia nos cinemas do Brasil. 

Loving
dir. Jeff Nichols
★★★★

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

JACKIE (2016)


O primeiro filme em língua inglesa do cineasta chileno Pablo Larraín (diretor de No, aclamado drama político indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2012) inicialmente teria sido imaginado como uma minissérie da HBO, à versão do roteiro de Noah Oppenheim, e depois reimaginado para as telonas, resultando nesta que é uma das cinebiografias inconvencionais mais bem construídas concebidas nos últimos anos. O retrato agoniante dos dias mais atordoantes da vida da primeira-dama americana Jacqueline Kennedy Onassis, após o assassinato de JFK, é costurado com delicadeza, postura irretocável e uma notória singularidade. Uma observação íntima e densa de uma mulher considerada um ícone do status político e da sociedade americana atravessando um dos momentos mais turbulentos de sua jornada.

Natalie Portman, recentemente indicada ao Oscar por sua performance estonteante em Jackie, encena a primeira dama com o devido olhar, respeitoso e honesto, que esculpe sua figura sem enaltece-la, retratando-a como quem ela era, deixando de lado a clássica imagem que é conferida a ela, e dar um tom mais complexo à sua abordagem perplexa e onírica. Há também a crítica política indireta que o filme lança sobre um dos momentos mais pesados da história americana e o impacto no universo político. Mas, lembrando que o foco do filme é a primeira-dama Jackie, seus sentimentos, seus questionamentos, suas confissões e suas revelações, e, dessa forma, a abordagem política fica em segundo plano.

A trilha sonora, composta pela genial Mica Levi (a mesma do surrealista Sob a Pele) instala um certo clima de suspense, sustentado pelos artifícios inconvencionais de Larraín, que torna Jackie muito bem dirigido. As sequências da entrevista são bastante interessantes, e a posição que Portman toma diante da personagem, com uma certa frieza, também é bastante notável.

Enfim, Jackie é um filme a ser estudado, tanto por retratar de maneira quase controversa fragmentos de um capítulo marcante da história dos EUA e, respectivamente, da vida de uma das mulheres mais influentes dentro do universo político, a lendária Jackie, nesta reconstrução tão autêntica. A fotografia (Stephane Fontaine, o mesmo de Elle e Capitão Fantástico) é maravilhosa, riquíssima. Gosto de pensar dos figurinos e da direção de arte desta maneira também. Aliás, tecnicamente falando, Jackie é impecável.

Jackie
dir. Pablo Larraín
★★★★

domingo, 5 de fevereiro de 2017


Na noite de ontem, foram revelados os vencedores do Prêmio do Sindicato dos Diretores, o Directors Guild of America Awards

O cineasta Damien Chazelle ganhou o prêmio de Melhor Diretor por La La Land. Ele acaba de confirmar a sua vitória no Oscar. 

Na categoria de diretor de documentário, ganhou Ezra Edelman, que dirigiu O.J.: Made In America. Em diretor estrante, foi a vez do australiano Garth Davis, o realizador de Lion: Uma Jornada para Casa

LION: UMA JORNADA PARA CASA (2016)


Quem assistiu (ou assiste) a minissérie da Austrália Top of the Lake deve estar familiarizado com Garth Davis, que dirigiu alguns episódios para o trabalho em questão. O drama Lion: Uma Jornada para Casa, que recentemente abocanhou 6 indicações ao Oscar (inclusive em melhor filme) é o filme de estreia de Garth, e conquistou a todos com sua celebração amistosa e irregular da diversidade. Dos filmes da safra do Oscar deste ano, Lion é provavelmente o menos cotado dos títulos, muito embora não seja um filme ruim. Trata-se de um trabalho que efetua certos êxitos, mas no geral pode ser uma grande decepção se formos levar em conta seu potencial.

As acusações de que Lion copia (ou na maior parte do tempo o faz) Quem Quer Ser um Milionário? não são mentirosas não. Aliás, se tem uma coisa que me aborreceu em relação a este filme foram as referências baratas e copiosas ao filme de 2008. E, centralmente durante a primeira metade do filme, essas referências estão explícitas, nítidas ao extremo, e de uma maneira tão descarada que até dá a impressão de que o filme em si se vangloria em ser uma possível "sequência" de tão copiosas que algumas cenas são. É como se praticamente 50% do filme fosse imitação de Slumdog Millionaire. 

Curiosamente, a substância dramática funciona de uma forma bastante delicada, capaz até de levar os espectadores às lágrimas em certos momentos dramaticamente inspirados. Por isso, a sessão de Lion chega a ser emocionante, entre outras coisas, até um certo ponto. Lá no fundo, trata-se de um filme simples, que não se assume assim e decide cultuar suas pretensões, daí surgem tantas irregularidades dentro do filme em querer ser um espetáculo de dramas mal-resolvidos e tramas esculhambadas. Chega a decepcionar, porque há uma história interessante por trás das artimanhas falhas de Garth Davis em compor um melodrama. No final de tudo, a essência é artificial, e Lion revela-se insustentável, para a decepção de quem esperava algo a mais. 

Pra mim, é um filme que guarda sua importância, mesmo sendo tão irregular e, às vezes, exagerado. Hollywood tem demonstrado um enorme interesse em retratar as histórias ignoradas das sociedades de terceiro mundo. Só não o faz com a competência e o esmero que tal tarefa exige. As pretensões atropelam o significado por trás dessas histórias, o que esses filmes de fato querem dizer, expondo superficialidade e falta de compromisso. Um exemplo disso é Lion, que preserva suas intenções dignas, mas nada extrai delas. 

A história verídica por trás de Lion chega a surpreender a quem não estiver informado de que tudo relatado aconteceu de verdade. É coisa que só filme faz mesmo. Um homem, adotado por uma família australiana na infância, anseia em reencontrar o irmão e a mãe depois de ter sido separado deles, pelo destino, quando ainda era criança. E a ferramenta dele é o Google Earth, vejam só! O desfecho talvez até seja previsível, mas ainda sim surpreende por estender um laço tão frágil entre a realidade e o produto narrativo. O final feliz, aliás, é muito mais verdadeiro do que poderia se imaginar em um filme tão razoável, digamos. 

Pra mim é um filme ok. Nem mais e nem menos. Mas promete emocionar muita gente. Não acho que é tão grande assim a ponto de receber uma indicação ao Oscar de melhor filme, por exemplo. Dev Patel e Nicole Kidman mereceram suas indicações, mas estão longe de ganhar. Sunny Pawar, o ator mirim que interpreta Saroo, está realmente excelente. Ele sim merecia ser indicado, hein? Tinha gente que, até uns dias aí, estava apostando nele. Das indicações que eu já acho "extrapolar o limite" é em roteiro e fotografia. Aceitaria mais se o filme tivesse placado uma indicação em direção do que em fotografia. Eu, sinceramente, não consigo imaginar o filme ganhando em nenhuma das categorias às quais foi indicado. Trilha sonora, quem sabe? Pouco provável, mas, vai que.

Lion trabalha bem suas temáticas, apesar de falhar no retrato de seus personagens e na construção narrativa como um todo, mas que se sai consideravelmente bem por questões técnicas e, principalmente, pela força de um elenco imbatível. Superestimado, mas que tem seus valores. Não é o que eu chamaria de filme ideal, por um lado. E pra quem gosta de chorar no cinema, esse é o filme perfeito. 

Lion: Uma Jornada para Casa (Lion)
dir. Garth Davis
★★★