★ Pegadinha do Oscar ★
Num feito quase histórico, a categoria de Melhor Filme foi anunciada erroneamente pela dupla Warren Beatty e Faye Dunaway, estrelas de Bonnie & Clyde – os envelopes foram trocados, Warren teria pego o de melhor atriz, que já havia sido entregue por DiCaprio, ao invés do envelope correto de Melhor Filme. Anunciado que La La Land teria ganhado o grande prêmio da noite, fechando um círculo já previsível de vitórias e favoritismo incisivo, após algumas vitórias bem-sucedidas, houve um engano: o verdadeiro vencedor era Moonlight. O alarme falso encerrou com chave de ouro a noite de um dos Oscars mais acirrados dos últimos anos, e a briga entre os dois principais concorrentes foi tão árdua que até mesmo no momento da revelação houve uma reviravolta épica, algo sem precedentes no evento – uma espécie de reprise da Miss Universo de 2015.
Moonlight saiu vitorioso com três estatuetas nas categorias de filme, ator coadjuvante e roteiro adaptado. A aclamada obra-prima do cineasta independente Barry Jenkins é um feito cinematográfico grandioso quão essencial. E se por um lado a equipe de La La Land foi injustiçada de uma maneira quase humilhante, o longa de Chazelle detém o número de maior estatuetas desta edição: seis, incluindo as de direção e atriz.
Dizer que este foi um Oscar confuso não é errado. A maioria das categorias desta edição tiveram vencedores incertos e por vezes surpreendentes, grande parte destas técnicas. E se as categorias de atuação foram, de longe, as mais previsíveis, o resto teve de sobra surpresas tão gritantes que quem vê é capaz de nem acreditar.
O legal dessa edição é que muitos outros filmes foram lembrados e premiados, como Até o Último Homem, A Chegada e Manchester à Beira-Mar (que é na minha opinião o melhor dos indicados a filme, e que mereceu seus reconhecimentos em ator e roteiro original). La La Land também saiu com muitos prêmios (a média menor do que a esperada). Em um ano em que a Academia buscou a diversidade para rebater as críticas ao #oscarsowhite e à ausência de indicados negros em anos anteriores, houve uma enorme e merecida visibilidade. Pela primeira vez na história deste prêmio, tivemos como vencedor um filme formado por um elenco de atores negros. Este é um significativo avanço para esta premiação tachada de conservadora que começa a dar voz aos rejeitados no mundo do cinema e em Hollywood.
Particularmente a vitória de Emma Stone foi a mais injusta, já que, ao lado da atriz, tínhamos Isabelle Huppert, cuja performance estrondosa em Elle era a favorita de muitos, que acabou perdendo o prêmio. Stone está muito boa em La La Land, mas Huppert é quem merecia este Oscar. Bem, quem sabe no futuro, a Academia não reconheça mais amplamente os trabalhos da intérprete francesa?
Casey Affleck, cujo SUPOSTO envolvimento em um polêmico caso de estupro estava gerando certo burburinho em relação às suas possibilidades de faturar este Oscar, levou merecidamente o prêmio de Melhor Ator para casa. Independente se ele cometeu ou não, repito, SUPOSTO assédio sexual, tiro meu chapéu para a sua atuação deslumbrante e magnífica. Deixem o Casey em paz, porra!
Em Filme Estrangeiro, não foi surpresa a vitória de O Apartamento, drama do cineasta iraniano Asghar Farhadi, que já era cogitada por muitos como forma de rebate às polêmicas de Donald Trump em relação ao banimento de imigrantes árabes nos EUA. O filme em si é espetacular, mas há quem diga que Toni Erdmann, obra de Maren Ade, merecesse o prêmio.
No mais, fiquei feliz pela vitória do filme de Farhadi, e a importância que esse reconhecimento reflete, além do discurso de Farhadi, lido por uma representante (já que o diretor não pôde comparecer à cerimônia por motivos de Trump) marca um dos pontos altos da noite do Oscar. Também gostei de ver o excelente O.J.: Made In America levar o prêmio em documentário. Justíssimo. Zootopia levar em melhor animação não foi tão surpreendente, mas foi merecido.
Nossa querida Viola Davis ganhou hoje seu primeiríssimo Oscar. Depois de duas indicações pelos filmes Dúvida e Histórias Cruzadas, a atriz finalmente abocanhou sua primeira estatueta por Um Limite Entre Nós. E Mahershala Ali, cuja vitória até então era bastante incerta, papou melhor ator coadjuvante. E foi muito merecido.
O host desta edição, Jimmy Kimmel, não poupou piadas à Donald Trump e até aproveitou um momento da cerimônia para mandar tuítes ao presidente. No geral, achei que foi bastante digna a apresentação dele, embora tenha alguns momentos fracos, mas o importante é que ele foi bastante carismático e conseguiu trazer descontração no nível certo e humor também. Acho que ele deve ser o melhor host da cerimônia desde a DeGeneres em 2014. Aquela parte em que o grupo de turistas entra no Dolby Theatre e começa a cumprimentar as celebridades é genial. Gostei bastante desse momento, muitos até chegaram a comparar à selfie da Ellen.
Bem, acho que entre os momentos mais memoráveis desta edição fica a vitória de Moonlight (pegadinha do malandro heheh), a abertura de Kimmel, alguns segmentos, a categoria de filme estrangeiro e a vitória de Viola Davis. Senti que as performances musicais este ano também estavam mais fraquinhas e de certa forma passageiras, mas talvez a única que eu gostei, mesmo que seja mediana, foi a do John Legend cantando "City of Stars" e "Audition" e também o segmento In Memoriam, homenageando os profissionais do cinema que nos deixaram em 2016 e no comecinho de 2017, um dos momentos mais sensíveis da noite.
Esta foi uma edição satisfatória por alguns momentos de beleza, entretenimento, mas que passa a sensação de que foi arrastada demais, acho que poderiam ter encurtado mais. Concordo com a grande parte das vitórias (ou talvez todas, até) mesmo que ache algumas injustas demais, enfim... O Oscar 2017 foi uma coisa meio insana e ao mesmo tempo divertida, um pouco mais memorável que a média dos anos anteriores, mas que poderia ter sido melhor.
O tapete vermelho, como sempre, teve aquele clima agradável, entrevistas com as celebridades e tal, normal para quem acompanha a premiação há muito tempo. Só tenho a dizer que essa polêmica do anúncio errado ainda vai dar o que falar. A poucos dias da premiação, por exemplo, tivemos um indicado desclassificado (Greg P. Russell, mixagem de som por 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi) acusado de fazer lobby, mendigar indicação, por telefone.
Enfim, esse foi mais um Oscar, de altos e baixos, mas é sempre bom acompanhar com exclusividade o maior evento do cinema. Foi uma noite agradável, e eu espero que no Oscar 2018 venham mais momentos divertidos e emocionantes como desta noite.
Moonlight
MELHOR DIRETOR
Damien Chazelle – La La Land
MELHOR ATRIZ
Emma Stone – La La Land
MELHOR ATOR
Casey Affleck – Manchester à Beira-Mar
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Viola Davis – Um Limite Entre Nós
MELHOR ATOR COADJUVANTE
Mahershala Ali – Moonlight
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Manchester à Beira-Mar (Kenneth Lonergan)
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Moonlight (Barry Jenkins & Tarell Alvin McCraney)
MELHOR FILME ESTRANGEIRO
O Apartamento (dir. Asghar Farhadi, Irã)
MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
Zootopia
MELHOR DOCUMENTÁRIO
O.J.: Made In America (Ezra Edelman & Caroline Waterlow)
MELHOR TRILHA SONORA
La La Land (Justin Hurwitz)
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
City of Stars
La La Land
MELHOR FOTOGRAFIA
La La Land (Linus Sandgren)
MELHOR EDIÇÃO
Até o Último Homem (John Gilbert)
MELHOR FIGURINO
Animais Fantásticos e Onde Habitam (Colleen Atwood)
MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
La La Land (David Wasco & Sandy Reynolds-Wasco)
MELHOR MAQUIAGEM/PENTEADOS
Esquadrão Suicida
MELHOR EDIÇÃO DE SOM
A Chegada
MELHOR MIXAGEM DE SOM
Até o Último Homem
MELHORES EFEITOS VISUAIS
Mogli, o Menino Lobo
MELHOR CURTA-METRAGEM (LIVE-ACTION)
Sing
MELHOR CURTA-METRAGEM (ANIMAÇÃO)
Piper
MELHOR CURTA-METRAGEM (DOCUMENTÁRIO)
Os Capacetes Brancos
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