domingo, 23 de outubro de 2022

FAY GRIM

Sequência do filme de 1997, HENRY FOOL, e precedido por NED RIFLE (2014), FAY GRIM é o segundo de uma trilogia envolvendo o personagem central do 1º. Este se centra na personagem-título, que sai à procura dos manuscritos de seu ex-marido Henry Fool, cara que se pensa estar morto e está envolvido numa intriga internacional de espionagem e terrorismo. Parker Posey dá vida a ela, e o filme todo é ela quem dá as cartas. Eu diria que ela é o motivo principal para vê-lo. Na filmografia do Hal Hartley, se trata de um exercício grato, esperto e bem montado e elaborado, que mostra o diretor trabalhando com elenco já conhecido, e flertando com o mesmo experimentalismo de obras anteriores, vide AMATEUR e FLIRT. É um filme adorável, com sequências espirituosas, torpes e um elenco fiel à premissa. É mais ou menos um balé, o filme tem todo um tom bastante sisudo, de ares de um 007 mais um mundo burocrático, e ao mesmo tempo, é uma comédia assumida, com todas as cores. É mais ou menos um "deboche estilístico". 

J. EDGAR

Clint Eastwood arriscou tratar da vida e do trabalho de J. Edgar Hoover, o homem que encabeçou o FBI na primeira metade do século 20, e tornou-se uma figura lendária da história política americana mais atual. O bom aqui é DiCaprio, numa de suas raras atuações ótimas que mereceu mais reconhecimento do que teve, e o já cancelado Armie Hammer, em uma de suas primeiras atuações de destaque (ele está igualmente bom). Há momentos bons, trata-se de uma biografia abrangente, conta com o roteiro decente do mesmo cara que escreveu MILK, mas a impressão é que a história poderia ter sido mais bem costurada, e em alguns momentos faltou mais concisão, por exemplo no cuidado da relação de Hoover e Clyde. A direção de Clint, no entanto, merece o nosso respeito, claro. 

BERGMAN ISLAND

Numa leva inspirada de filmes recentes (o excelente O QUE ESTÁ POR VIR trazia Isabelle Huppert numa atuação brilhante, e o bom MAYA trouxe o romance de um repórter francês na Índia com uma moradora local), a diretora Mia Hansen-Love dribla as expectativas com o aguardado BERGMAN ISLAND, seu primeiro com um elenco de estrelas hollywoodianas (tem Tim Roth, Mia Wasikowska e Vicky Krieps), e que consegue chegar bem perto do que o que ela tinha atingido em O QUE ESTÁ POR VIR, com aquela mesma vibe filosófica, de uma certa agitação espiritual, resultando num filme muito conciso e de momentos dramáticos bem acertados, narrando uma história de inspiração, deslocamento e amor numa viagem turística à ilha que servia de inspiração ao lendário Ingmar Bergman. Hansen-Love está em ótima forma e sabe onde quer chegar. Continua sendo uma diretora para a gente continuar de olho, valendo lembrar que há um novo filme dela chegando, com Léa Seydoux, chamado ONE FINE MORNING. 

CASAMENTO OU LUXO?

Um dos primeiros filmes de Chaplin fora do gênero da comédia e na qual ele também não estava presente no elenco, em que se constrói um comentário social sutil sobre costumes morais, em torno dos dramas dos personagens envolvidos na trama de uma mulher que troca o campo pela cidade. Interessante que é um filme muito bom e ao mesmo tempo um dos menos falados de sua autoria, se comparado a TEMPOS MODERNOS, O GRANDE DITADOR e até MONSIEUR VERDOUX, para citar um que sai um pouco do eixo das comédias mais escrachadas pelas quais ele se popularizou. É um filme inspirado que não é em nenhum momento piegas, mas consegue emocionar e tocar. Merecia ser mais mencionado, pois ele é bom até em como Chaplin consegue equilibrar momentos de humor e seriedade, flertando com o suspense, lembrando até alguns trabalhos do Hitchcock no começo da carreira.

MONGOL

Obra indicada ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2008 pelo Cazaquistão, que trata da trajetória do mítico Gengis Khan, passando por sua infância, pelas dificuldades que ele enfrentou, seu aprisionamento até a ascensão ao Império Mongol. É interessante ele focar mais nos percalços, nos contratempos e lutas que o homem enfrentou, ao invés de mostrá-lo como o imperador e conquistador que a fama lhe consagrou. Apesar de ter umas sequências visualmente encantadoras, no mais MONGOL cumpre seu papel de filme biográfico misturado com cinema de ação cheio de artimanhas, um elenco competente, um filme competente, que cumpre o que prometeu. O interessante é que surgem alguns momentos de uma rara beleza, desse poder que o cinema tem, em que a gente percebe as intenções mais puras e sutis da história, e isso é sustentado nessas cenas.