sexta-feira, 7 de julho de 2023

UM CASAMENTO À INDIANA (2001)

Sucesso indiano de 2001, vencedor do Leão de Ouro, narra os acontecimentos dentro de uma "família moderna" de Nova Deli na ocasião de um casamento. Tem tudo o que se permite a uma típica comédia romântica, e é interessante no geral por conta do elenco, que está ótimo, ao mesmo tempo em que faz uma série de comentários sobre as diferenças culturais entre americanos e indianos e parece estar bastante consciente desse dimorfismo cultural existente em praticamente todo lugar do mundo com a influência da globalização, mas, também possui seu interesse próprio de contar a história e acentuar a essência própria da Índia, da cultura indiana. Pra mim o filme deixou a desejar em alguns aspectos, muito embora a narrativa seja bastante enxuta, mas é inegável que ele funciona bem de certa maneira, e é um destaque na filmografia de sua diretora, Mira Nair. 

O CONGRESSO FUTURISTA (2013)

Do israelense Ari Folman, um filme um tanto antecipatório, que estava bastante adiantado ao refletir preocupações dentro da indústria do cinema americano, em especial a respeito da representação da mulher, e que se ampliaram com o #MeToo, e também sobre outros adendos como os serviços de streaming, o CGI. No geral, aqui se fala sobre um mundo em transformação, em mudança, e o que isso significa para quem já estava aqui antes. O filme tece uma série de comentários a partir da narrativa emblemática do envelhecimento de uma atriz e, como pano de fundo, a mutação pela qual passa a indústria do cinema, e o planeta em uma escala maior, com as mudanças climáticas, em paralelo. Seu tom distópico, carregado de pessimismo e um certo desconforto que fica evidente pela personagem da Robin Wright, criam uma atmosfera de melancolia e frieza, e reforça os comentários que o diretor parece querer fazer de que a indústria do cinema e o mundo caminham rumo ao cataclismo.

HANYO, A EMPREGADA (1960)


Clássico do cinema sul-coreano, de Kim Ki-young, narra a chegada de uma empregada um tanto idiossincrática na casa da família de um professor de música, onde moram ele, sua mulher, que está grávida, e dois filhos. A presença da mulher na casa dá lugar a uma série de acontecimentos imprevisíveis e drásticos. Sozinho o filme já é um marco, mas é interessante salientar que ele serviu de inspiração para o recente estrondo Parasita, e é no mínimo curioso como os dois guardam uma série de paralelos bons de serem estudados, visto que tratam, centralmente, das diferenças de classe social e posição afetando as estruturas das relações hierárquicas de poder e dominação presentes na sociedade. Tanto pelo comentário ácido quanto pelo fenomenal trabalho na construção de uma atmosfera um tanto difícil de ser concebida, Hanyo é um filme necessário pra caramba, bombástico, e o mesmo pode ser dito do seu parente nem tão distante Parasita, que bebeu bastante de sua fonte e, enfim, faturou o Oscar de filme em 2020, sessenta anos após a sua realização. E parece que agora o filme pode receber o reconhecimento internacional merecido. 

O AMANTE DA RAINHA (2012)

Envolvente e explosivo drama histórico que narra o relacionamento proibido entre a rainha da Dinamarca e o médico real, Struensee, na Dinamarca do século 18, e as consequências trágicas do envolvimento entre os dois. O filme oferece detalhes importantes que ajudam a gente a entender o que estava acontecendo no país à época, com ideais iluministas e progressistas começando a serem introduzidos no sistema legal e provendo mudanças significativas na vida da população, tudo em decorrência da chegada de Struensee, que se tornara o aliado principal do rei e começara a ser visto como um agitador, ao defender "loucuras" como a introdução de vacinas e a abolição da servidão. O filme ganha pontos por se distanciar de possíveis julgamentos a respeito da relação íntima entre a rainha e Struensee, que é caracterizada com bastante sobriedade, e ao mesmo tempo mostrando a complexidade da situação, com o rei mentalmente instável sendo questionado a respeito de sua autoridade e a suposta permissividade do médico real, e as implicações políticas tanto dos posicionamentos dele e o escândalo estabelecido pela descoberta da traição da rainha e Struensee, que acaba gerando uma série de acontecimentos cataclísmicos no filme, tanto no âmbito pessoal para ambos quanto político, mostrando como o escândalo e a crise que se instaura no reino acabam arrastando a Dinamarca para um regresso. É dirigido por Nikolaj Arcel e tem os titãs Mads Mikkelsen e Alicia Vikander em duas das mais ricas atuações dos dois. Vikander merecia o Oscar mais por esse papel do que pelo que a deu o prêmio em 2016. Destaque para o ator que interpreta o rei, Mikkel Folsgaard, ganhador de prêmio em Berlim pela atuação. Foi indicado ao Oscar de filme estrangeiro em 2013, mas perdeu para Amor. 

terça-feira, 4 de julho de 2023

OS JOGADORES DE XADREZ (1977)

Belo filme do indiano Satyajit Ray. Assisti em Janeiro através do Mubi e não sei se o filme está tão amplamente disponível, já que o retiraram da plataforma, mas é um achado e um ótimo convite a conhecer melhor a obra de um dos mais importantes e reverenciados cineastas que a Índia deu ao mundo. Este aqui é uma espécie de fábula, narrada no século 19, que ilustra a amizade entre dois homens que vivem na corte e a colonização britânica na Índia como pano de fundo para os acontecimentos relatados. O filme faz tanto um comentário histórico ácido quanto uma alegoria da amizade e do amor como metáfora para a presença dos ingleses e o impacto histórico da colonização no país asiático.

ELVIS & NIXON (2016)

Gostei mais do que a maior parte das críticas indicaram sobre o filme. Até que Michael Shannon como Elvis Presley é uma coisa interessante de se assistir. E o Spacey como Nixon não está tão mal. Acho que é um filme que peca sim no andamento, mas, apesar disso, caminha com uma premissa bem-resolvida, enxuta e satisfeita com sua dinâmica simples e segura, mas que ainda sim produz umas cenas legais de se ver. Pra um filme que foi tão detratado, não é lá tão ruim não... 

O ÚLTIMO REI DA ESCÓCIA (2006)

Retrato impressionante da amizade com um ditador sanguinário. O que mais me fascina aqui é como esse retrato é feito sem a intenção imediata de chocar, de fazer aquela campanha difamatória convencional, e acho que foi isso que tornou a narrativa toda mais tensa e forte. Mostrar esses acontecimentos sem maquiagem, uau. Forrest Whitaker mostrando a que veio e James McAvoy igualmente inspirado. Certamente um grande destaque do cinema britânico dos anos 2000. 

ABAIXO O AMOR (2003)

Eu tinha o DVD desse filme há tempos e eu sempre lia elogios e comentários positivos sobre ele, mas sempre deixava pra ver em outra hora. Que filme divertido é o ABAIXO O AMOR. Desses filmes que são capazes de passar despercebidos, por não ter tido o reconhecimento necessário quando de seu lançamento, e também pelo tempo passado desde quando ele foi lançado. Porém é uma peça rara em uma Hollywood da primeira metade dos anos 2000 que estava olhando pra sua era de ouro pra encontrar inspiração pra novas produções, e essa aqui acertou em cheio apostando em sofisticação simples, uma dupla atômica de atores principais e um roteiro descontraído e afiado. É uma comédia que tem o melhor do screwball e que parece saída diretamente da era de ouro, o que é uma coisa boa e nem tão popular de se dizer pra uma produção de estúdio com um orçamento grande e apelo comercial, especialmente se tratando dos anos 2000/anos 2010, que foram mais ou menos marcados por essa dificuldade latente do cinema americano de definir um novo rumo e sair da sombra das produções dos anos 70-90. Zellweger e McGregor estão fantásticos, e o acerto é que justamente tanto a parte romântica quanto cômica funcionam muito bem. O elenco coadjuvante está nos trinques. O resultado é um filme que diverte pra caramba com umas esquetes sensacionais e com fórmulas puras e já conhecidas, mas que funcionam uma beleza. ABAIXO O AMOR se junta a um número pequeno de trabalhos que parece que foram transportados de uma outra época, tanto na questão da qualidade quanto na questão da aura mesmo, mas que se sobressaem pela sofisticação com a qual se arriscam a ter um toque mais nostálgico, mas longe de parecer uma emulação de um clássico, bem longe, e isso é um elogio e tanto pra se fazer. O que me vem à mente agora é E SE FOSSE VERDADE, que tem uma química ótima da Reese e do Mark, e OS INDOMÁVEIS, que teve êxito em homenagear o western e ao mesmo tempo revitalizá-lo.

THE COOLER (2003)

Não gostei tanto de THE COOLER. Não chega a ser um filme exatamente ruim, não, é bem comportadinho, mas eu não gostei do desenho da narrativa, tem umas coisas bem rasas mesmo. E olha que a história até é interessante, à primeira vista. Talvez não tenha gostado muito também do tratamento dado pras personagens, especialmente pro Macy, mas também pra personagens menores, como o Baldwin (que recebeu sua única indicação no Oscar até hoje por ele), e deixou aquela impressão de já ter visto ele antes, porém com outro título e outros atores. Mas mesmo assim, tem atuações boas do elenco principal. Maria Bello, que depois viria a dar um show em MARCAS DE VIOLÊNCIA, é um destaque. 

NAVALNY (2022)

Depois que começou a guerra entre Rússia e Ucrânia, todo mundo correu pra tentar entender o que de fato estava acontecendo na briga entre os dois países, briga essa que já se arrastava de forma mais bem documentada pela mídia pelo menos desde 2014, ano em que a anexação da Crimeia também fez parte dos noticiários e os nomes Rússia, Ucrânia e guerra foram mencionados juntos com mais frequência, porém o que a gente encontrou foi que a história é bem mais complicada por debaixo da superfície e a relação entre os dois ex-países soviéticos é um verdadeiro enigma chinês, e um ano dentro dessa guerra assombrosa ainda é difícil entender o que realmente está a motivando e o que realmente quer Putin com ela. Afinal, essa é a pergunta que todo mundo está fazendo, o que quer Vladimir Putin com o conflito entre russos e ucranianos? E o documentário sobre a liderança política Alexei Navalny tem o mesmo gosto dessa pergunta. O que quer Navalny? E o filme é uma possível resposta a essa pergunta. O nome de Navalny fez manchetes na pandemia depois que acusaram o governo russo de tê-lo envenenado. Navalny é voz da oposição a Putin, e o envenenamento foi-se dito ter motivações políticas. Visto o documentário pode-se entender facilmente porque Navalny atrai essa ojeriza nas autoridades russas. O filme é o registro desse confronto entre o autoritarismo totalitarista das governanças russas e as tentativas de qualquer corpo de oposição de se infiltrar nesse autoritarismo e questionar a ordem política do lugar. Mas o documentário chega ao nível de ganhar proporções pessoais, sentimentais, e se torna mais do que uma vitrine da persona política de Navalny. É, também, uma espécie de filme-confessionário, de alguém que, cansado de uma luta de Davi contra Golias, ainda não está pronto para baixar a guarda e ceder. Navalny é tanto sobre Navalny quanto é sobre Putin, mas, ainda que o filme tenha seus pontos nesse questionamento saudável do poder e de um autoritarismo que cada vez mais parece beirar o irracional, é meio intrigante a gente pensar que se trata de uma produção da CNN que tem tons documentais tão mais próximos de um filme de campanha presidencial. Porém, o esforço de retratar a angústia de Navalny é muito válido, e se tem um motivo para assistir o filme, então é esse.

FORA-DA-LEI (2010)

Ótimo drama de época sobre um grupo de irmãos vivendo tempos difíceis na Argélia pós-2ª guerra, e que acabam se envolvendo no submundo do crime. Quem já viu o DIAS DE GLÓRIA não vai estranhar, porque os temas entre os dois são muito próximos. Há um diálogo interessante. DIAS DE GLÓRIA tratava dos argelinos indo lutar na 2º G. Mundial em favor dos franceses, e lidando com as questões étnicas que se tornaram tão tensas entre as nações africana e francesa, e esse aqui parece conversar com ele na mesma medida ao mostrar esses irmãos tentando sobreviver numa Argélia pós-2ª guerra que está lutando pela independência e ao mesmo tempo ainda lidando com as marcas da presença francesa na Argélia. Aqui, essas tensões políticas estão fortemente presentes na relação entre os três irmãos, que além de lidar com o estresse político, ainda tentam corroborar com o envolvimento na criminalidade enquanto tentam construir uma vida, cada um no seu caminho. É louvável que a escolha pra interpretar os três irmãos tenha sido os mesmos atores (excelentes) do DIAS DE GLÓRIA, no caso o Jamel Debbouze, o Roschdy Zem e o Sami Bouajila, e o que dá gosto é ver que esses três intérpretes estão igualmente competentes e sensacionais, é a razão para se assistir esse filme. E é inevitável a comparação com Scorsese, visto o tratamento que o filme dá à violência e a criminalidade, e o foco no comentário político sobre o momento delicado de uma nação como a Argélia tentando firmar sua identidade política e conciliar a diferença entre seus cidadãos e dissidentes.

TREZE HOMENS E UM NOVO SEGREDO (2007)

Eu gostei muito do 1º, do 2º acho muitas ideias legais porém não achei tão firme, e o 3º é algo entre os dois, porém surpreende em vários momentos e tem uma dinâmica de elenco muito satisfatória no geral. Alguns personagens são mais desenvolvidos do que nos outros dois filmes, como o eixo do Casey Affleck, e eu acho que o filme tenta dar mais atenção aos personagens do que à trama como um todo. E o roteiro em si também é fantástico. Al Pacino roubando a cena. Enfim, esse "13" me deixou surpreso no bom sentido, talvez por eu não esperar que fosse estar no mesmo patamar de qualidade do "11".

TEMPO DE CAVALOS BÊBADOS (2000)

Vi o filme com curiosidade depois de ter assistido NINGUÉM SABE DOS GATOS PERSAS (2009), ótimo filme de Bahman Ghobadi que mostra o "submundo" da produção musical pop em Teerã desafiando as imposições das autoridades iranianas contrárias à liberdade de expressão e liberdades políticas em geral. Diferente daquele, TEMPO DE CAVALOS BÊBADOS lida com a situação tensa dos curdos durante a guerra entre os iranianos e iraquianos, ocorrida anos antes, e é um filme que vem um pouco antes da confusão que se deu depois de 2001 e que inspirou mais tragédias militares na região, com o envolvimento americano no Iraque. Pessoalmente, me lembrou muito de um filme que eu assisti recentemente da Samira Makhmalbaf, chamado ÀS CINCO DA TARDE (2003), que é um filme que veio alguns anos depois, já quando americanos, britânicos e franceses já estavam invadindo o Afeganistão, e que mostra um cenário de guerra desolador, fome, enfim, o caos que aquela região particular do Oriente Médio enfrentou e já estava enfrentando há anos antes, mas que só se intensificou quando gente de fora veio guerrear, adicionando mais motivos à desordem política da região, e piorando drasticamente o caos humanitário dos seus habitantes. E esse aqui beira o mesmo retrato humanista e desolador que foi feito em ÀS CINCO DA TARDE, porém, voltado pras crianças de uma família tentando lidar com os desastres e os percalços provocados pela guerra, com ênfase em um garoto que possui problemas de saúde e precisa tomar remédios e injeções com frequência. Mas de certa forma é um filme que tem até um certo otimismo, uma leveza, mesmo ao tratar da situação dramática desse pessoal no meio de uma guerra tão trágica, e a leveza está justamente na sua abordagem humana, que parece dissipar o drama da situação e que dá ênfase à pessoalidade de enfrentar a guerra e tentar administrar a situação apesar dela, mostrando situações mais humanas, uma família, um irmão que precisa de assistência, e a guerra pegando fogo concomitantemente a essas situações. É um filme bonito nesse sentido, como se ele estivesse filmando mesmo uma certa resistência, que é a resistência do espírito humano. Muito singelo e bem-vindo.

A LUTA PELA ESPERANÇA (2005)

Não esperava muito desse filme, mas confesso que fiquei positivamente surpreso com a história desse lutador profissional que literalmente lutou pra caramba pra conseguir se ajeitar na vida e sustentar sua casa e família em plena Depressão dos anos 1930 nos EUA. Gostei pra caramba mesmo.

O filme tem esse aspecto de narrativa simples, de uma ingenuidade, à la Spielberg, que já se explica com o crédito de direção do Ron Howard. Um elenco inspirado, com destaque pra uma das melhores atuações de um ótimo Paul Giammati (no papel que, aliás, lhe rendeu sua única indicação ao Oscar até hoje - um Oscar que foi roubado), em pleno domínio de seu personagem, o treinador que está sempre tentando levantar a moral desse lutador em frangalhos, Russell Crowe, aqui também merecedor de Oscar, e Renée Zellweger. 

O resultado é um filme que convence porque tem essa simplicidade, essa leveza narrativa que é algo que já tinha dado ao Ron Howard uma obra-prima em Apollo 13, mas que aqui combina muito com o que o filme quer construir, com a mensagem de esperança que ele quer passar. Vale lembrar também que, talvez, sem esse roteiro excelente, não seria o mesmo filme. Estranho que tenha sido tão pouco lembrado no Oscar, pra um filme com esse appeal, um elenco de atores lista A trabalhando tão bem e com um nome de peso por trás como Howard. Talvez se tivesse mais umas indicações seria um filme mais lembrado e reverenciado do que foi, na época e hoje em dia. Mas sem dúvidas é excelente. No nível de deixar a gente emocionado. Gostei mesmo. Eu acredito que é um filme que tem a seu favor a potência de uma boa narração e uma história sensível, que encontra sua voz em tempos de mais falta de esperança e dificuldade, mas que tem toda essa cativação emocional que chega a ser quase romântico. É uma história, de certa forma, romântica, sobre como perseverar em tempos difíceis, mas de uma forma muito linda, poderosa e humanista. 

CHE: PARTE UM / O ARGENTINO (2008)

Fazer um filme sobre a vida de alguém como Che Guevera é uma tarefa e tanta. Não só porque se trata de uma história de vida tão extensa, tão cheia de idiossincrasias, aventuras e detalhes pra dar conta, mas por conta do imenso legado e simbolismo por trás da vida e figura de Che Guevara, o homem que participou da transformação socialista mais impactante e lembrada do século 20, pelo menos no mundo ocidental, e que décadas depois ainda é um símbolo da luta por melhorias sociais e mudança política. Não tinha como não ser um projeto ambicioso. Trata-se de um filme épico apenas por natureza, pela História. É interessante ver a visão de Steven Soderbergh sobre a participação de Guevara na revolução cubana e a consequente fabricação e consolidação desse símbolo latino-americano que passou a ser tanto reverenciado como tiranizado em igual medida.

O foco do filme é em como se deu essa revolução, como que o exército não tão robusto de combatentes encabeçado por Guevara e Castro (em interpretação digna de nota pelo mexicano Demián Bichir) conseguiu ganhar uma improvável batalha pelo futuro socialista da nação de Cuba. O filme está interessado na luta, e em como Guevara se estabeleceu como uma liderança militante, praticamente o braço direito (ou, com o perdão do trocadilho, braço esquerdo) de Castro na guerrilha. É um filme de guerrilha, e ele é muito competente em ser um filme de guerrilha.

O filme é de Benicio Del Toro, ele está excelente (não à toa ganhou Melhor Ator em Cannes, e Sean Penn disse que ele devia estar no Oscar em 2009 por seu trabalho aqui), mas a força do filme está, justamente, na sincronia de um elenco fenomenal. Trata-se de um filme que, apenas pelo nome, já estaria embriagado de expectativa, mas que é muito mais uma visão minimalista, intimista, do que foi a revolução cubana. Pode não parecer um filme de ação à primeira vista, mas pra mim ele é tão épico quanto o filme de ação mais explosivo, e talvez seu maior mérito seja mostrar como algo que começou pequeno se transformou numa verdadeira odisseia política, cujo estrondo é sentido com força até os dias atuais. Também é legal ver como o Soderbergh consegue adaptar a trajetória de Che com tanto charme para as telas nos dias atuais. É fenomenal.