terça-feira, 4 de julho de 2023

TEMPO DE CAVALOS BÊBADOS (2000)


Vi o filme com curiosidade depois de ter assistido NINGUÉM SABE DOS GATOS PERSAS (2009), ótimo filme de Bahman Ghobadi que mostra o "submundo" da produção musical pop em Teerã desafiando as imposições das autoridades iranianas contrárias à liberdade de expressão e liberdades políticas em geral. Diferente daquele, TEMPO DE CAVALOS BÊBADOS lida com a situação tensa dos curdos durante a guerra entre os iranianos e iraquianos, ocorrida anos antes, e é um filme que vem um pouco antes da confusão que se deu depois de 2001 e que inspirou mais tragédias militares na região, com o envolvimento americano no Iraque. Pessoalmente, me lembrou muito de um filme que eu assisti recentemente da Samira Makhmalbaf, chamado ÀS CINCO DA TARDE (2003), que é um filme que veio alguns anos depois, já quando americanos, britânicos e franceses já estavam invadindo o Afeganistão, e que mostra um cenário de guerra desolador, fome, enfim, o caos que aquela região particular do Oriente Médio enfrentou e já estava enfrentando há anos antes, mas que só se intensificou quando gente de fora veio guerrear, adicionando mais motivos à desordem política da região, e piorando drasticamente o caos humanitário dos seus habitantes. E esse aqui beira o mesmo retrato humanista e desolador que foi feito em ÀS CINCO DA TARDE, porém, voltado pras crianças de uma família tentando lidar com os desastres e os percalços provocados pela guerra, com ênfase em um garoto que possui problemas de saúde e precisa tomar remédios e injeções com frequência. Mas de certa forma é um filme que tem até um certo otimismo, uma leveza, mesmo ao tratar da situação dramática desse pessoal no meio de uma guerra tão trágica, e a leveza está justamente na sua abordagem humana, que parece dissipar o drama da situação e que dá ênfase à pessoalidade de enfrentar a guerra e tentar administrar a situação apesar dela, mostrando situações mais humanas, uma família, um irmão que precisa de assistência, e a guerra pegando fogo concomitantemente a essas situações. É um filme bonito nesse sentido, como se ele estivesse filmando mesmo uma certa resistência, que é a resistência do espírito humano. Muito singelo e bem-vindo.

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