quinta-feira, 31 de março de 2016

Crítica: "A DAMA NA ÁGUA" (2006) - ★★★★★


Ah, os críticos não sabem de nada! Como tiveram a pachorra de ignorar um filme tão bonito e singular como A Dama na Água? Eita, viu? Mas eu não vou ficar me estressando com essas coisas não, porque gente sem cabimento é o que não falta no mundo da crítica. Em vez de gastar tempo se estressando com esses infames, bora celebrar essa delícia de filme que é A Dama na Água, enfeitiçante e maravilhoso a cada segundo. Simplesmente uma doçura. Dizer não aos gracejos e às infinitas qualidades deste trabalho é, no mínimo, insano. 

Este fofo e atraente conto de fadas moderno narra o encontro de um encanador solitário que trabalha num condomínio na Filadélfia com uma jovem sobrenatural, uma moça que habita em um outro mundo, e está contando com a ajuda desse homem para voltar à sua terra e escapar de uma fera vilanesca. Os dois compartilham uma jornada de descoberta emocional enquanto vão tentando desvendar os mistérios de um enigma que transportará a moça para o seu lar.

M. Night Shyamalan é um gênio. Isso é um fato. E até hoje não tem um filme que eu não tenha gostado dele, de verdade, muito embora o cara tenha andado comendo na mão da crítica com seus filmes mais recentes. O que acontece é que desde A Vila ninguém mais gostou dos filmes dele. E olha que A Vila só perde para O Sexto Sentido como o melhor filme dele. Mas, seriamente, nenhum filme mais agradou, e nisso não apenas me referindo à crítica, mas também ao público, que não está sabendo respeitar direito o gênero e o estilo de Shyamalan (vergonhoso ficarem cobrando a cada filme que ele faz um novo O Sexto Sentido). No mais, o último dirigido por ele, A Visita, obteve boas resenhas muito embora não tenha se saído muito bem nas bilheterias.

A Dama na Água é primoroso. Eu gostei bastante. Achei simples e descomplicado, mas desenhado no estilo e no padrão Shyamalano, bem no ponto. Admirável os traços da trama e a construção interessante da lista de personagens, gente como a gente, ajudando a bela mocinha a voltar à sua terra natal e a escapar de um bicho esquisito. Pior roteiro do Shyamalan? Queridos, Shyamalan não tem roteiros ruins. Shyamalan é um roteirista nato, e até mesmo o pior de seus filmes (se é que há um filme ruim) deve, no mínimo, possuir um roteiro sadio. O idiota que disse "pior roteiro do Shyamalan" só pode estar louco. Que coisa! Ainda mais quando A Dama na Água tem um roteiro tão caprichado e colossal.

Deixando de lado o thriller, mas sem abandonar o suspense, Shyamalan abraça uma história repleta de humanidade e sensibilidade, afeição e emoção. Não à toa A Dama na Água é seu filme mais tocante. O drama de um homem tentando se afastar do passado e ajudando uma jovem de outro mundo que acha que não faz nada certo é crível e extremamente emocionante. A Dama na Água é também a chance de ver o cineasta, sempre tão assombroso e tenso, se permitindo a sequências cômicas, o que é bastante lisonjeiro.

O elenco é demais. Paul Giamatti, como de costume, nos presenteia com uma performance excepcional e irretocável. Bryce Dallas Howard, que estava estupendamente ótima em A Vila, é a dona de um desempenho ainda mais esmerado e talentoso em A Dama na Água. M. Night Shyamalan, que geralmente faz pontas em seus filmes, aqui aparece como coadjuvante. Deplorável terem indicado ele ao Framboesa de Ouro de Pior Ator Coadjuvante.

Christopher Doyle, que é muito certamente um dos maiores diretores de fotografia que já viveram, e que raramente é visto em colaborações internacionais (Doyle geralmente, pra não dizer "tradicionalmente", trabalha em filmes orientais, e por isso não é lá comum ver ele trabalhando em produções não-orientais), é o dono de um trabalho de fotografia belíssimo, belíssimo e belíssima. A aquarela, o posicionamento da câmera, aqueles takes desconcertantes... Que fotografia, meus amigos! Também vale mencionar a trilha sonora eletrizante do James Newton Howard. 

A Dama na Água é tudo isso e mais. Adorável. Mais que uma obra lindíssima, uma fábula contemporânea humana e singelamente afável, de morais mundanas e fortes emoções. Indescritivelmente belo. Ao meu ver, é quase um crime dizer que se trata de um filme ruim, ora essa! Rapaz, A Dama na Água é um filme maravilhoso.

A Dama na Água (Lady in the Water)
dir. M. Night Shyamalan - ★★

Crítica: "NO CORAÇÃO DO MAR" (2015) - ★★★


Se eu me apegar aos clássicos e às revisões demais acabo esquecendo que terminei 2015 com uma dívida enorme de filmes pra ver. Enquanto o calendário de lançamentos segue morno, estou aproveitando para tentar dar uma olhada no que não vi, ou até mesmo alguns filmes que ignorei durante o ano e que foram as estrelas de listas de melhores e etc. E amanhã já é abril, mês 4, então preciso apressar e quitar essa lista senão vou ficar sobrecarregado. Vi no início desse mês No Coração do Mar, o mais novo filme de Ron Howard. Se é um filme bom? Olha, bom é. Tem umas coisinhas, mas até que é bom. O que eu não garanto é uma obra-prima, o que No Coração do Mar está bem longe de ser. Ainda sim, à parte certos defeitos, o filme é um trabalho muito bonito e estonteante, por mais mediano que seja.

Ultimamente, os filmes de Howard são mais odiados do que amados. É claro, há exceções (Rush e Frost/Nixon, por exemplo), mas os críticos no geral desceram o cacete em No Coração do Mar, O Código da Vinci & sequência (Anjos e Demônios), A Luta pela Esperança, O Dilema... Muito embora estes sejam títulos defeituosos, não são filmes tão ruins a ponto de serem péssimos. 

O caso de No Coração do Mar é um pouco confuso. O filme carrega uma trama interessante, mas que perde a textura com o passar do tempo. A estranheza é indecifrável. É como se a história perdesse a graça, sabe? O elenco não consegue sustentar e a gente começa a prever que o filme será uma grande de uma bagunça. E é isso que ele é. Uma bagunça. No Coração do Mar começa bom e fica maçante. 

E isso necessariamente não transforma o filme numa total perdição, levando em conta a direção excelente do Ron Howard, a fotografia triunfal do Anthony Dod Mantle, a trilha sonora, sem contar que o filme é por si só um espetáculo de magia e potência visual admirável. No Coração do Mar é insustentável mas belo, gracioso, sensível. 

Mas simplesmente não dá pra não ficar no mínimo chateado com a seleção do Chris Hemsworth para o papel principal. Que coisa, hein? Nada contra o Chris, mas é tão chato, tão chato o filme com ele como protagonista. Não sei se já é porque eu mesmo acho o Chris um pouco maçante, mas não dá pra engolir a atuação tosca dele, me desculpem. Fosse qualquer outro, mas o Chris Hemsworth não encaixou. 

Não é que eu ache o filme muito parado ou coisa do tipo, mas é que ele fica desinteressante, azedo, sem graça. Podia ter sido um baita de um filme, mas não foi. Ô, seu Howard, aí não dá, né? Ainda sim, há esperança para o próximo projeto de Howard, que chegará aos cinemas esse ano, Inferno, que encerra a trilogia do Robert Langdom. Será que vão gostar do filme? Enfim, No Coração do Mar é assim, bonitinho, bem-feitinho, bem dirigidinho, mas que não passa disso, e por outro lado é uma grande de uma chatice. Não vou impedir ninguém de ver, até porque não chega a ser um filme péssimo, mas que tem umas coisinhas irritantes, ah, isso eu não vou negar.

No Coração do Mar (In the Heart of the Sea)
dir. Ron Howard - 

quarta-feira, 30 de março de 2016

Crítica: "SONHANDO ACORDADO" (2006) - ★★★★


Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças foi uma experiência cinematográfica alucinante e absolutamente encantadora. Foi no filme de 2004 que conheci o francês Michel Gondry, outrora diretor de clipes musicais pop e que agora faz um enorme sucesso do cinema, sendo dono deste título que é muito provavelmente um dos melhores filmes que eu já vi na minha vida. Apesar de não ser tão glorioso quanto, Sonhando Acordado me interessou bastante da primeira vez que fui conferir (e terminei não terminando). É bem mais esquisitão que Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. E isso, em partes, é bom. 

A irreal viagem adentro as loucuras de um rapaz metade mexicano metade francês (o ótimo Gael García Bernal, numa das melhores performances de sua carreira) que, com a morte do pai, viaja para a França para trabalhar numa empresa que produz calendários. Lá, ele descobre a farsa do emprego arranjado pela mãe e se apaixona pela nova vizinha, uma excêntrica mulher (Charlotte Gainsbourg) com quem ele apronta as maiores e dá asas à criatividade. Aliás, criatividade é o que não falta em Sonhando Acordado, filme com uma premissa criativa sobre um cara com várias ideias criativas em seu universo criativo. Talvez essa premissa não tem lá a complexidade de um Charlie Kaufman, mas é interessante observar o cinema de Michel Gondry por ele mesmo, desse jeitinho. 

O francês solta a imaginação e usa e abusa de truques criativos fílmicos e fabrica um trabalho tanto surreal quanto gostoso de se ver e cativante. O filme não só brinca com o nosso pensamento e nos coloca dentro um jogo ao mesmo tempo mágico e elétrico como também nos faz refletir sobre a natureza dos relacionamentos humanos nos dias de hoje e sobre a estética dos sonhos literalmente e figuradamente, mas sem deixar o tema maçante ou irritante. Também é bem bacana ir observando os atores entrando no ritmo da brincadeira, se descontraindo com a trama leve e sensível de Sonhando Acordado, em especial o protagonista de garra Gael García Bernal, que vai tecendo o personagem Stephane com amabilidade e engenhosidade de uma maneira peculiarmente sensacional.

Também se destaca a formidável Charlotte Gainsbourg, que faz o papel da mulher por quem Stephane se apaixona, que por sua vez se chama Stephanie. Os dois compartilham juntos uma porção de momentos engraçados e no geral graciosos e a química é inevitável quão proporcional. 

Não sei se sou só eu, mas eu achei o filme uma delícia. Quero dizer isso não como se eu fosse a única pessoa a ter gostado de Sonhando Acordado, ainda que muita gente tenha odiado o filme, mas sim como se ele fosse mesmo mágico assim. Acho que é coisa minha mesmo. Me envolvi fácil à história, sem falar no elenco, e todas as palhaçadas do Gael... É verdade, o filme pode aborrecer muita gente, mas eu amei. É lindo. Nunca vi uma comédia romântica tão onírica e estilosa funcionar tão bem como Sonhando Acordado funcionou. É uma exceção deliciosa dentro do gênero. 

Ao mesmo tempo, Michel Gondry, se já havia demonstrado ser em Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças um diretor exímio, em Sonhando Acordado, além da direção preciosa, é também a oportunidade de Gondry de se revelar como um roteirista espetacular (Gondry foi creditado como roteirista de Brilho Eterno, mas cá entre nós sabemos que o Charlie Kaufman praticamente fez tudo quanto ao roteiro do filme).

De um lado os brilharecos de Gondry e do outro as artimanhas de um elenco talentoso, Sonhando Acordado é inesquecível. É quando você termina que vem a vontade de ver de novo, e de novo, e de novo. Digam o que quiser, mas é um filme caprichado e me ganhou. Não dá pra comparar com Brilho Eterno, mas é certamente um belo de um deleite. Mágico, fantástico... O mundo dos sonhos é um universo surreal, cheio de enigmas, personagens inusitadas, paralelos incógnitos e uma diversão extasiante. Sem desaprimorar o lado obscuro do mundo onírico, Gondry fantasia a ilusão do universo dos sonhos e o decora com uma história romântica apaixonante. A leve complexidade da trama ajuda em muito a construir um clima de um mix de futurismo com arcaísmo inexplicavelmente fascinante. E o melhor de tudo é que toda essa brincadeira funciona genialmente.

P.S.: Favor não confundir com Sonhando Acordado [Jake Paltrow, 2007]. Apesar de não ter sido lançado no Brasil, consta no IMDB que o título em português é Sonhando Acordado, ainda que em certos veículos de informação o filme esteja como Sonhando Mesmo Acordado

Sonhando Acordado (La science des rêves)
dir. Michel Gondry - 

EXTRAS / 1ª Temporada


Olha, se existe uma série que me deu trabalho para encontrar foi Extras. E isso há um bom tempo. E vejam que é uma série boa, não tem como negar. É incompreensível como, nos dias de hoje, é tão difícil encontrar esses conteúdos na internet. Raridade. E o pior é que agora estou ficando sem memória aqui no computador e vou ter que dar um jeito de me organizar e apagar alguns arquivos para disponibilizar mais espaço. Faz uns dias, graças à "tecnologia" torrent, consegui baixar as duas temporadas de Extras, a aclamada série do comediante britânico Ricky Gervais, um dos meus favoritos. O programa foi o auge da carreira cômica de Ricky, que deslanchou com a primeira versão de The Office (se a versão americana já é um achado, imagine a inglesa, que delícia que deve ser, ainda mais protagonizada pelo Ricky). Apesar das 2 temporadas (2005-2006), cada uma com 6 episódios, sem contar 1 episódio especial de Natal, a série inglesa Extras repercutiu o suficiente para conquistar Globo de Ouro, Emmy e o gosto dos críticos, que adoraram o seriado. E não é por acaso. A série é realmente boa. Mal eu a terminei e já amo.

Ricky Gervais interpreta Andy, um figurante aspirante a ator que leva uma vida de azar e insucessos. Pra se ter uma noção, o caso do homem é tão sério que ele passa os episódios perambulando pelo set de filmagens mendigando falas para grandes atores e diretores também. Pode parecer até bizarro do jeito que eu tô falando, mas a verdade é que é tão ridiculamente engraçado, sabem? E certas vezes essas situações até refletem na nossa realidade, e como a gente tem de enfrentar certas coisas com garra e, se não, o desespero vira a nossa arma. Nos breaks das gravações, ele faz piadas com a amiga, Maggie Jacobs, também figurante. Os dois se metem em cada presepada. É de gargalhar!  E, como se não bastasse mendigar falas, ou ele não sai na gravação, ou ele é cortado, ou ele faz alguma coisa de errado e acaba ficando de fora... Vou confessar, é bem engraçado!

O interessante da série é ver como o Ricky Gervais consegue trabalhar bem um estilo de humor difícil e que predispõe de uma visão mais excêntrica e detalhista como a do Ricky mesmo. A delícia desse humor é que ele te pega de surpresa. A complexidade das piadas, o arranjo discreto dos personagens, a armação do conflito... É bem legal ver que por trás de um episódio há toda uma realização.

E a série funciona. Ricky Gervais se vira na direção, na atuação e no roteiro da série impecavelmente. O cara sabe fazer humor como ninguém. Singular. Uma pena que Extras não tenha passado da 2ª temporada. Seria lendário. Acho que vou dar um intervalo daqui da 1ª para a 2ª temporada e vou tentar baixar ou assistir em algum lugar a versão inglesa de The Office. Caso não, vou dar uma espiada na mais recente série do Ricky, Derek, que rendeu a ele indicação tanto ao Globo de Ouro quanto ao Emmy. Ouvi elogios de amigos quanto à performance premiada dele. Tô doido pra conferir.

Cada episódio da série leva o nome de uma celebridade, que geralmente é o/a protagonista ou principal de um filme onde Andy é figurante. Vocês não tem a noção do quão engraçado é.

1. Ben Stiller

Andy Millman e sua amiga, Maggie Jacobs, estão figurando num filme de guerra dirigido por Ben Stiller. Andy acaba virando amigo do homem que inspirou o filme, um refugiado checheno (?) cuja mulher foi assassinada em virtude da guerra. Nesse mesmo episódio, ele e Maggie vão a uma festa e acabam se metendo em encrenca: Andy tenta reverter racismo, Maggie fica sem saber o que fazer quando um homem com uma perna menor que a outra quer sair com ela... E pra acabar tem um bate-boca no final entre o Andy e o Ben Stiller, uma das melhores cenas.

2. Ross Kemp / Vinnie Jones

Esse episódio eu não consegui entender muito bem (acho que foi aquela legenda toda desorganizada que me fez perder a concentração), mas tem partes engraçadas. Já na primeira cena, o Andy, após terminar uma gravação, ouve de um dos diretores: "Ok, só temos que retirar aquele gordo patético da cena...". Não é o melhor da temporada, mas tem coisas boas.

3. Kate Winslet

O melhor episódio dessa temporada. Andy e Maggie estão trabalhando num épico sobre o Holocausto. Indiretamente, eles acabam fazendo amizade com a Kate Winslet, protagonista que faz uma freira no filme, e que "ensina" Maggie a dizer besteiras para o affair da moça, um outro figurante. Nesse episódio a Kate Winslet faz um discurso mega engraçado, mas verdadeiro, sobre os vencedores do Oscar, dizendo que é só você fazer um filme sobre o Holocausto ou guerra e eles te dão um Oscar (ela dá exemplos, como O Pianista e A Lista de Schindler). Ironicamente, a Kate venceu o Oscar de Melhor Atriz em 2009, alguns anos depois, por O Leitor.

4. Les Dennis

Se por um lado a primeira temporada de Extras traz participações de estrelas como Kate Winslet, Patrick Stewart e Samuel L. Jackson, participações bem interessantes, surpreende trazendo alguns nomes até então desconhecidos, como o Les Dennis, quem eu nunca tinha ouvido falar de até esse episódio. E ele está bom aqui. Nesse episódio, ele faz um ator que contracena com Andy na versão teatral de Alladin. Que raiva daquele agente do Andy, viu? Ô carinha incompetente (quem interpreta ele -- e eu não sabia -- é o co-roteirista e co-diretor da série, Stephen Merchant). O episódio, em si, é engraçadíssimo.

5. Samuel L. Jackson

Maggie marca um encontro com um rapaz e faz de tudo para não soar racista ao lado do homem, que é negro. Andy consegue uma fala com Samuel L. Jackson através de um outro figurante, que o chama para sair. O Samuel L. Jackson aparece em umas três cenas, ele quase nem tem falas, chega até a ser o próprio figurante do episódio.

6. Patrick Stewart

Último episódio da 1ª temporada. Andy entrega pessoalmente a Patrick Stewart a cópia de um roteiro televisivo seu para Patrick avaliar e tentar enviá-lo à BBC. O Andy consegue uma reunião com dois caras, produtores de comédia da emissora, e fica encarregado de desenvolver os episódios ao lado de um homem escandaloso que acaba o tirando do sério (e isso acaba tirando o outro homem, gay, do sério também). Uma das coisas mais engraçadas desse episódio é o encontro do Andy com o Patrick Stewart, e o Patrick contando para o Andy um filme que ele escreveu, sobre um homem que tem o poder de realizar tudo com a mente, como o famoso personagem de Stewart, o Professor Xavier. É hilário.

★ 

sábado, 26 de março de 2016

Crítica: "NOITES DE CABÍRIA" (1957) - ★★★★★


Fellini é mais que um mestre. O homem é dono de alguns dos maiores e mais importantes filmes de todos os tempos. Sua filmografia de ouro resume-se a obras-primas escandalosamente excepcionais do cinema italiano, exemplares originais de sua autenticidade e genialidade inesgotáveis. Federico Fellini revolucionou a 7ª arte e a enfeitou com películas primorosas e inesquecíveis. É só ver um filme dele para confirmar. Não houve ninguém como ele. Fellini é único. E é em vezes em que a gente vai ver um filme seu e acaba se deliciando inesperadamente, como foi o caso de Noites de Cabíria, um dos melhores filmes dele e que o internacionalizou, levando seu nome à fama mundo afora como um dos ícones eternos do cinema, fama que vive até hoje pelas mentes cinéfilas da Itália ao resto do planeta. 

Enfim, falemos de Noites de Cabíria, essa delícia de filme que me encantou pra caramba. E muito se deve à Giulietta Masina, a Cabíria do título, uma prostituta italiana iludida pelos fracassos amorosos que vaga sensualizando pelos becos de Roma e arredores à procura do grande amor entre seus clientes, com um alto percentual de insucessos. A sequência inicial já é uma pérola: Cabíria, passeando com o "namorado", um tal de Giorgio, é trapaceada pelo rapaz, que rouba a sua bolsa e a joga num rio. Cabíria quase morre afogada, mas, após acordar do desmaio, sai toda desvairada atrás do amado ladrão. 

Esse prólogo tragicômico já diz muito sobre a nossa protagonista: uma prostituta escandalosa e iludida, sem rumo e sem expectativas, à espera do grande amor que irá tirá-la da vida de miséria que leva. Apesar de quase sempre aparecer como uma "donzela" rude, mal-humorada e barraqueira, Cabíria esconde sua personalidade ingênua, tenra e doce por trás do olhar de doida que carrega e o jeitão todo desajeitado e boçal. 

O clássico de Fellini combina romance e drama delicadamente. O desfecho é de partir o coração. Fellini decora sua fábula com sensibilidade. A jornada de Cabíria, por mais sofrida que seja, não deixa de ter seus encantos afáveis. O filme é mais drama do que comédia, mas o diretor sabe combinar as duas linguagens com uma organização tentadora. 

A performance da Giulietta Masina, uma das melhores da atriz, é uma das provas mais satisfatórias e certeiras do talento e da competência dessa intérprete magistral, num desempenho fascinante e devidamente memorável. Ela na pele de Cabíria é simplesmente delicioso, um espetáculo inexplicavelmente adorável. 

Assim é Noites de Cabíria. Fellini brinda o cinema com uma obra especial, perspicaz e muito bela. Difícil não ficar comovido, arrasado e presenteado com essa história amável, pra lá de emocionante, capaz de nos mover no demorar de um toque e no intervalo entre uma lágrima e um sorriso. 

Com estilo, Fellini apimenta com um humor próprio e elegância esse trabalho primoroso. Segmentos icônicos, personagens bem construídos... Não tem do que reclamar. Noites de Cabíria é extraordinário e ponto. Assim como é impactante, também é engraçado, verdadeiro e clemente. Noites de Cabíria é simplesmente sublime. Sublime em todos os sentidos. É uma obra inegável, plausível e prazerosa, fantástica e magicamente apaixonante. Um conto sobre amor e ilusão refrescante e intenso, um item valioso dentro da filmografia de um dos maiores cineastas da história.

Noites de Cabíria (Le notti di Cabiria)
dir. Federico Fellini - 

Crítica: "LONGE DELA" (2006) - ★★★★


Certas performances fazem alguns filmes tão poderosos que fica difícil explicar ou redesenhar com palavras a magnitude dessas atuações, o efeito delas sobre nós. Longe Dela é um desses filmes cujo elenco é tão, mas tão talentoso, que todas as outras qualidades da produção são eclipsadas instantaneamente. Em Longe Dela, uma mulher idosa, que padece de Alzheimer, é colocada num asilo pelo marido. A mulher se esquece dele, e acaba se apaixonando por um dos pacientes de lá. É um filme profundo, que certamente não seria o mesmo sem o elenco estrondoso e maravilhosamente potente. 

A diretora/roteirista do filme é a atriz canadense Sarah Polley (aliás, foi indicada ao Oscar de Roteiro Adaptado em 2008 por Longe Dela), que comanda um trabalho cinematográfico de primeira, um filme que transcende emoção e contundência dramática. A maturidade de Sarah em assumir a direção e o roteiro de um projeto tão complicado, ambicioso, e que exige rigor, é extraordinária. O resultado é incrível. O roteiro é inteligente, a adaptação é gloriosa, a direção é estupenda em todos os sentidos. Sarah não erra a mão. Sua obra-prima é um deleite. 

O desdobramento do filme é calmo e lento, de forma com que o espectador tenha a oportunidade de degustar de cada sequência com trunfo e amabilidade, e que a sensibilidade aguçada desta fábula romântica tocante seja captada com proximidade e intensidade. 

A dupla de protagonistas, Julie Christie e Gordon Pinsent, são fascinantes. As atuações de ambos os atores são lendárias, extasiantes, marcantes, vívidas e profundamente emocionantes. Os dois vivem um casal em crise com a doença que afeta a esposa, o mal de Alzheimer. O passado ressurge misticamente nesse meio e o amor entre eles dois é posto à prova com os questionamentos da esposa sobre a fidelidade do marido e com as mudanças que a mulher sofre com a evolução da doença. Do elenco, também vale mencionar a coadjuvante Olympia Dukakis, numa das melhores atuações de sua carreira. 

A abordagem não mente e, apesar de envolver uma história mais particular, interna, não deixa de equilibrar muito bem uma temática séria como o mal de Alzheimer e como a doença afeta o relacionamento de um casal de idosos e o amor. Polley esquematiza com genialidade os traços de uma trama envolvente e tenaz. A estabilidade dramática é excelente e notória. Longe Dela é um longa espetacular, um exemplo de drama, um exemplo de elenco, um exemplo de filme!

Longe Dela (Away from Her)
dir. Sarah Polley - 

sexta-feira, 25 de março de 2016

Crítica: "AMOR PARA A ETERNIDADE" (2014) - ★★★


Amor para a Eternidade, o mais novo projeto do cineasta chinês Zhang Yimou, que sequer chegou aos cinemas nacionais (o filme foi lançado em DVD há pouco), marca mais um trabalho vigoroso na filmografia exemplar de um dos maiores diretores orientais de todos os tempos. O filme é excelente. Me pergunto porque não foi lançado. É cada uma que as distribuidoras brasileiras aprontam, viu? Zhang, outrora diretor dos ótimos Lanternas Vermelhas, Tempo de Viver, Operação Xangai, Amor e Sedução e também recentes como Herói, O Clã das Adagas Voadoras e A Maldição da Flor Dourada, instiga e maravilha o espectador com uma tocante história de amor, família e desencontros. 

No filme, um homem, detido durante a Revolução Cultural Chinesa, é afastado da família. Após fugir, ele tenta reencontrar a mulher, mas é preso numa estação de trem. Quase duas décadas mais tarde, ele é solto. No entanto, a esposa já não mais o reconhece por um problema de memória (a tal doença é retratada no filme como uma forma de amnésia, mas talvez tenha sido desenhada como Alzheimer). Junto da filha, uma ex-bailarina, que abandonou o sonho, o homem tenta diversas vezes convencer a esposa de quem ele realmente é, ainda que sempre que ele se aproxima ela fica horrorizada, pensando que ele é uma outra pessoa, um tal de Fang, que perto do final é revelado.

Melodrama sem ser espalhafatoso, Amor para a Eternidade carrega uma narrativa competente e sem muitos luxos, simples mesmo que monótona, às vezes. O problema desse filme é que ele não é engajado. E muitas vezes há um certo incômodo no desenrolar da trama, desenrolar esse sem vida. Não me levem a mal, o elenco é primoroso e tecnicamente falando Amor para a Eternidade é super potente. Mas trata-se de um filme sem vida, que poderia ser algo maior do que é se não fosse tão encharcado, dramaticamente miúdo.

E, mesmo com tanta coisa boa aqui, como o elenco já mencionado (as performances são sublimes, exatamente no ponto), a direção sempre irreparável do Zhang Yimou, a trilha sonora impactante, reluto em me restringir à fotografia excepcionalmente bela de Zhao Xiaoding (o mesmo de O Clã das Adagas Voadoras, que foi indicado ao Oscar em 2004 na categoria de Fotografia). O cara é fenomenal. Em mais uma parceria com Yimou, Zhao fabrica um trabalho de fotografia majestoso e inesquecível. Não à toa é a melhor coisa desse filme, que de força técnica tem de sobra.

Ah, Zhang Yimou, falando nisso, está prestes a lançar como diretor The Great Wall, filme sobre a construção da Grande Muralha, que leva no elenco Matt Damon e Willem Dafoe.

Amor para a Eternidade (Gui lai / Coming Home)
dir. Zhang Yimou - 

segunda-feira, 21 de março de 2016

Crítica: "BORAT - O SEGUNDO MELHOR REPÓRTER DO GLORIOSO PAÍS CAZAQUISTÃO VIAJA À AMÉRICA" (2006) - ★★★★


Comédia de fazer a gente rachar de rir, o politicamente incorreto Borat - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à America ou simplesmente Borat é um daquelas comédias que quando você for ver vai estar dando gargalhadas naturalmente. Uma cena atrás da outra, é impossível não rir e se deliciar com as aventuras desse cara insano acompanhado do seu produtor mais maluco ainda. Aliás, insano é apelido para esse filme. Talvez nunca haverá outro filme como Borat na história do cinema. É sério, não falando da qualidade do filme, que é certamente uma comédia fantasticamente exímia, mas sim me referindo ao formato, ao estilo do humor, às sacadas do roteiro, às sequências brilhantíssimas... Borat é um tesouro genial, no mínimo.

Descobri o filme faz uns dois anos, e da primeira vez que vi era manhã de sábado e minha irmã também viu comigo. Rimos demais. Vendo hoje em dia, dou umas risadinhas e tal... Mas da primeira vez foi uma coisa incrivelmente louca. Eu ri pra caramba, de cena em cena, sem parar, ininterruptamente. Até posso estar exagerando, mas eu garanto que Borat irá te fazer rir, goste-se ou não do tom satírico assumido pelo longa ou pelas piadas de mau gosto que o personagem principal, um repórter vindo do Cazaquistão sem noção que apronta as maiores loucuras em uma visita aos Estados Unidos. 

A loucura em Borat já está na premissa dos criadores: o filme foi inteiramente filmado como um pseudo-documentário, incluindo depoimentos e cenas gravadas ao lado de pessoas reais, que não sabiam que era tudo uma grande brincadeira, e que foram enganadas pela equipe de produção o tempo todo. É tanto que os produtores sofreram diversos processos após a estreia e o comediante Sacha Baron Cohen chegou até a ser investigado pelo FBI na época (Sacha revelou à imprensa que "o FBI recebeu denúncias de pessoas alegando ter visto um terrorista num carrinho de sorvete"). Os caras passaram dos limites... Mas e não é que o filme funcionou, rapaz? Funcionou de tal maneira que, como eu bem falei no começo do texto, muito provavelmente será irrepetível ou irreproduzível. 

Sacha, também roteirista (o controverso humorista inglês recebeu o Globo de Ouro pelo personagem Borat e foi agraciado com uma indicação ao Oscar na categoria de Roteiro Adaptado), brinca com as mais variadas situações e mexe com temas sérios e os desconstrói na vértice de um humor afiadíssimo e vulgar, hilariante e irresistível. O comediante submete o espectador a uma experiência triunfal. A aposta é bem arriscada, mas felizmente a fórmula funciona e o filme é majestoso, dotado de um humor radiante e engraçadíssimo.

Apesar da descontração e do humor piadista, Borat aborda com um olhar fiel e sólido quesitos de vital importância e fundamenta uma sátira política repleta de simbolismos e críticas ao american way of life e à cultura do pós-9/11 e a posição da sociedade americana em relação a temas como homossexualismo. Interessante observar o filme também como um ataque à xenofobia e ao preconceito, sem cair no ridículo. 

Algumas das sequências cômicas de Borat estarão marcadas pra sempre na minha vida cinéfila como as cenas mais engraçadas que eu já vi, como a cena do hotel, onde onde o Borat e seu produtor doidão começam a brigar pelados e acabam invadindo acidentalmente um salão de apresentações (a particularmente cena mais engraçada do filme inteiro), ou também a cena do jantar high society, onde Borat leva uma prostituta à casa de um grupo de burgueses hipócritas... Também há aquele segmento onde Borat e o produtor, antissemitas, passam uma noite na casa de um casal de idosos judeus. Perto do começo, também há a cena onde o Borat entra no metrô e começa a cumprimentar as pessoas, e depois solta uma galinha no vagão. A cena onde ele vai ao lançamento do livro da Pamela Anderson e a "propõe em casamento" também é demais. E várias outras, que não me vem à cabeça nesse momento. Ah, sim, também tem aquela cena onde o Borat vai a um encontro com um grupo de feministas, ou também a cena do rodeio, onde o Borat anima a plateia com comentários de apoio às tropas no Iraque e a Guerra ao Terror, do tipo "...que Bush beba o sangue de todas as mulheres e crianças do Afeganistão!" (a plateia começa a aplaudir incessantemente).

Em muitos aspectos, Borat trata-se de um trabalho louvável. Comédia exemplar, é bem-feito, genialmente engraçado, deliciosamente complexo na sua premissa satírica, e traz um dos comediantes mais talentosos e excelentes dos últimos tempos, Sacha Baron Cohen, no melhor e mais engraçado filme de sua carreira, isso sem falar no diretor, Larry Charles, da série Curb Your Enthusiasm, à frente de um projeto que exige audácia, firmeza, coragem, objetividade e sanidade, sem falar nos inúmeros perigos da produção... Borat é I-M-P-E-R-D-Í-V-E-L.

Borat - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América
(Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan)
dir. Larry Charles - 

Crítica: "O VISITANTE" (2007) - ★★★★


Em virtude da vitória do filme Spotlight - Segredos Revelados em Melhor Filme na mais recente edição do Oscar, decidi rever O Visitante, dirigido e escrito pelo mesmo de diretor/roteirista do longa, Tom McCarthy. Aliás, O Visitante foi o primeiro filme do cineasta que vi. Quando vi pela primeira vez, estávamos em plena Copa do Mundo (2014) e lembro da minha tia cozinhando alguma coisa, agora não me vem à cabeça o quê, enquanto eu assistia ao filme. Era dia de jogo do Brasil, e estava a maior balbúrdia, é tanto que eu nem lembro de ter terminado o filme. O Visitante, vibrante drama de McCarthy (seu segundo longa-metragem), rendeu a Richard Jenkins, o protagonista, uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor Ator, que foi, por sinal, uma baita de uma merecida indicação.

Jenkins encarna um professor universitário viúvo que leva uma vida vazia e sem emoções. É quando ele vai presenciar uma conferência em Nova York que sua vida muda bruscamente: o professor encontra um casal de imigrantes morando no apartamento dele. O homem fica surpreso, mas não demora muito para se solidarizar com os estrangeiros, e passa a dividir o local com eles. Inclusive, o professor faz amizade com o rapaz, que até o dá aulas de tambor, muito embora seja quase sempre visto antipaticamente pela namorada do rapaz.

O filme prossegue num ritmo calmo mas constante, sempre vigilante. É tanto que são duas, eu creio, as cenas realmente tensas que podem ser notadas durante o filme inteiro. A primeira é a cena onde o professor encontra a moça senegalesa na banheira de seu apartamento, e a outra é a cena do surto, perto do final, onde o professor, geralmente pacato, expulsa sua raiva e seu desapontamento diante de uma notícia ruim. Não por acaso, essas duas cenas são duas das melhores do filme inteiro. O drama de Tom McCarthy dá corda a uma tonelada de conflitos em torno de uma história mundana e simples, profundamente tocante e poderosa.

Discretamente, Tom põe o dedo na ferida de uma temática atual e que ainda provoca polêmica, mas sem ser necessariamente escandaloso ou impessoal. É a história sobre o encontro de dois mundos diferentes, duas culturas diferentes, hábitos diferentes, histórias diferentes, numa só. O Visitante opta por um retrato afável de uma realidade cruel. Também é sobre a esperança em um mundo perdido e desgovernado, aprender a lidar com a derrota e seguir em frente, acreditar no poder da união. 

O elenco dá um show de competência bem-sucedido e certeiro. Richard Jenkins, o protagonista sessentão do longa, é dono de uma performance irreparável, absolutamente plausível e emocionante. Além dele, também vale mencionar as atuações ainda mais inesquecíveis e bonitas de Haaz Sleiman (o imigrante sírio Tarek), Danai Gurira (a namorada senegalesa de Tarek e vendedora artesanal, Zainab) e Hiam Abbass (como Mouna, mãe de Tarek que rouba a cena nos atos finais de O Visitante com um desempenho pra lá de versátil).

Além de ser um verdadeiro gênio na área roteirística, Tom McCarthy mostra que sabe trabalhar bem com o gênero dramático e executa em O Visitante uma aquarela de emoções, diálogos e planos sensacionais que tanto contribuem para a atmosfera dramática da trama quanto à estruturação da lista de personagens. Controle e maturidade sustentam a história. É brilhante.

Bem perto do final, o filme logo se metamorfoseia de drama em filme-denúncia, quando logo se propõe sua crítica ao sistema de imigração americano e às pertinências e absurdos do governo da "maior nação do mundo". Direta e indiretamente, a dura alfinetada de Tom. É claro, no quesito filme-denúncia, Spotlight fica na frente, mas é bom observar que o diretor desde então já cultiva essa característica fílmica tão benévola e precisa. Ainda sim, O Visitante é mais drama do que filme-denúncia, enquanto Spotlight perece como mais um filme-denúncia do que um drama propriamente dito. Entretanto, ambos os trabalhos dão conta do recado e funcionam astutamente de ambas as maneiras.

O Visitante é um filme, acima de tudo, sobre a humanidade, sobre abraçar as diferenças, celebrar a união e preservar a boa vontade... É um filme espetacularmente belo e que merece uma conferida. Poderoso e sensível, O Visitante é maravilhoso, tocante, de deixar qualquer um estonteado. Por favor, vejam!

O Visitante (The Visitor)
dir. Tom McCarthy - 

sábado, 19 de março de 2016

Crítica: "TUDO VAI FICAR BEM" (2015) - ★★


É, nada ficou bem com Tudo Vai Ficar Bem. E pensar que um trabalho tão impotente como esse foi dirigido por Wim Wenders e tem no elenco astros do escalão mais refinado, tais como James Franco, Charlotte Gainsbourg, Rachel McAdams e Marie-Josée Croze, só pra começar. O mais recente trabalho de Wenders estreou no Festival de Berlim, hors concours, ano passado, e chegou neste mês aos cinemas nacionais. Se vale ir conferir na telona? Olha, pra ser sincero, há certas coisas que são bem decepcionantes em relação ao filme, mas contando o elenco talentoso e a fotografia exuberante, rende ir ver sim. Mas, infelizmente, nem elenco nem fotografia, por mais excepcionais que sejam, são capazes de sustentar esse filminho maçante, que é uma grande de uma gororoba dramática sem pé nem cabeça.

E olha que eu recebo bem os dramas. É quase prioritário. Gosto pra caramba do gênero. Mas não dá pra suportar Tudo Vai Ficar Bem. E a questão nem é ser um filme dramático demais, porque na verdade nem é tão dramático assim e ser dramático demais às vezes nem é necessariamente um problema. Tem horas que Tudo Vai Ficar Bem é mais como um anti-drama, sabe? Mas o resultado é estranhamente incompleto e ruim. O filme é "vai drama, sai drama, vai drama..." e a história é confusa demais. Não tem sentido em fazer um filme assim. Eu pelo menos não vi graça alguma em tal proposta.

Tudo Vai Ficar Bem conta a história de um escritor (James Franco) vivendo um relacionamento conturbado com uma moça que deseja construir uma família com ele (Rachel McAdams) cuja vida muda após um acidente de carro trágico. Com o passar do tempo, ele vai tentando lidar com o crime e com as pessoas afetadas por ele.

Um jogo de emoções desencantado e sem controle paira sobre a trama e deixa o filme arrastado e desnecessário de muitas formas. A impressão que fica é de que Tudo Vai Ficar Bem é exageradamente forçado, sem força, sem intensidade, sem freio. Luto, sentimentalismo abstrato, desencontros amorosos, passado, culpa e ainda sobra pra redenção... Tem alguma coisa faltando? É tudo junto e misturado. Daí a gororoba dramática: não há sentido, não há direção, não há razão, não há nada. Tudo Vai Ficar Bem é uma grande de uma palhaçada.

No máximo, como eu já disse, vale ver: pelo elenco, de desempenho consideravelmente razoável (o James Franco atipicamente inexpressivo me deixou um pouco confuso) e a fotografia estonteante do Benoît Debie, o belga que já trabalhou com Gaspar Noé (Irreversível e no recente Love), Ryan Gosling (Rio Perdido), Dario Argento (Jogador Misterioso) e que agora concluiu uma bela parceria com Wim (pena que o filme é meio perdidinho, mas o visual é chocantemente avassalador; se eu tivesse visto o filme em 3D, ah, que maravilha seria - ou não?).

E, enfim, é isso aí. Uma das decepções mais deploráveis de 2016, so far, veio, infelizmente, em forma de filme, dirigido por um cineasta fera (e bota fera nisso). Dá uma pena de ver um filme desses, um diretor desses desperdiçando filmografia. É isso aí. Tudo Vai Ficar Bem não me ganhou. É um dramalhão patético de segunda totalmente recusável e broxante. Mesmo com a performance da Charlotte Gainsbourg e a fotografia bombástica, é um filme baixíssimo e de pouco valor. Eca.

Tudo Vai Ficar Bem (Every Thing Will Be Fine)
dir. Wim Wenders - 

sexta-feira, 18 de março de 2016

Crítica: "UM HOMEM SÉRIO" (2009) - ★★★★


2016 está nos trilhos e eu estou mega atrasado com o calendário de estreias. Ainda bem que só estamos em março e se eu correr dá pra quitar a dívida. O problema vai ser se eu me apegar e deixar os lançamentos passarem e acumular filmes (como se já não bastasse a quantidade gigantesca de filmes que eu tenho pra ver). A anta aqui fica nessa onda de rever pra criticar e só se ferra. A culpa é da minha desorganização. Tenho que ser mais organizado. É uma questão de bem estar com o ambiente e o tempo. Otherwise, vou acumular filmes, vou me estressar e vou me atrapalhar todo com a minha rotina. Enfim, bora parar de reclamar e falar um pouco sobre Um Homem Sério, dos Irmãos Coen, que esse ano (daqui a pouquinho, pra ser mais exato) regressarão às salas de cinema com Ave, César!

Um Homem Sério é aquele tipo de filme que você vai ver desprevenido e acaba se surpreendendo além da conta. A questão nem é ir informado, mas é um filme peculiar que agrada pela peculiaridade, independente da simpatia. E isso não vai ser lá estranho pra quem acompanha os irmãos Coen, cujos projetos são bastante excêntricos por natureza, e em muitos sentidos. Neste filme, comédia de humor negro que também funciona formidavelmente como comédia dramática, ambientado na década de 60 (?) um professor de física judeu, Lawrence Gopnik (Michael Stuhlbarg), não está feliz com a sua vida e busca o auxílio espiritual de três rabinos diferentes no intuito de encontrar respostas para os seus problemas: a esposa está o deixando por outro homem, um aluno asiático está na cola dele tentando recuperar uma nota, e um turbilhão de acontecimentos seguintes inconvenientes e desprezíveis pousam no terreno de Lawrence. 

Antes de mais nada, é praticamente impossível não ficar contente com o espetáculo técnico que é Um Homem Sério. A fotografia sempre deslumbrante de Roger Deakins está presente, e em ótima forma; a trilha sonora é igualmente desnorteante; o elenco é autêntico; o roteiro é genial como nenhum outro da dupla; a direção é brilhante ao extremo... Um Homem Sério conquista fácil e, à medida em que corre, vai nos eletrizando com tamanha perspicácia que é difícil descrever. 

Ambição não é lá bem a cara de Um Homem Sério. É um filme bem despretensioso, na verdade, tratando-se dos irmãos Coen, muito provavelmente até o filme mais pessoal da dupla. O que vale é degustar a abordagem e as delícias da narrativa empenhada, que oferece muito ao espectador.

Algumas sequências são bem memoráveis, possivelmente concorrendo até mesmo a melhores da filmografia dos Coen, como a cena inicial, ambientada num tempo passado em um pequeno vilarejo onde um homem judeu chega em casa e relata para a esposa que se encontrou com um conhecido dela na vinda pra casa, que a moça já diz estar falecido. É aí que eles recebem a visita do tal fantasma, que foi convidado pelo marido para tomar uma sopa. A mulher o apunhala, e ele então deixa a casa, a sangrar, intrigando o casal. É um plano especialmente surreal mas delirante de curioso. O outro é a cena do bar mitzvah do filho do Lawrence, engraçada e estranhíssima. Destaco também a sequência final e algumas sequências oníricas com o o professor. 

A fábula moral-religiosa dos Coen filosofa sobre fé e validade do pensamento humano diante das expectativas do existencialismo e a nossa posição sobre o bem e o mal e como isso reflete na nossa perspectiva sobre a vida em si. A questão está em interpretar aquilo nos cerca. Tudo depende de como vemos as coisas, do jeito que interpretamos aquilo que nos acomete, como bem diz a frase que dá partida no filme: "Receba tudo o que te acontece com simplicidade". Será que a nossa posição sobre os valores da religião estão, de fato, justos? A fé implica no rumo das nossas vidas? O filme levanta diversas questões. A meditação metafórica sobre aceitação, crença e realização desdobra-se eu uma série de questionamentos saudáveis e que tendem a amadurecer no nosso consciente com o passar do tempo. É intrigante e atraente. Sem falar também que o filme mexe com diversas temáticas dentro do judaísmo (passagens, provérbios, personagens, éticas...), o que é recomendável e tanto pra quem é mais afeminado à religião, familiarizado com a cultura judaica. Ah, e eu adorei a inclusão da música-tema "Somebody to Love", da banda Jefferson Airplanes. É uma das minhas canções prediletas. Só de terem a posto aqui fiquei estonteado. 

Um dos mais recentes (e primorosos) trabalhos dos Coen é um interessante e memorável exercício de reflexão que instiga e maravilha o espectador, que abre portas para várias possibilidades e divagações. Penso e penso, e o filme vai crescendo na minha mente. É impressionante. Mais uma vez, os geniais Coen Brothers emplacam pontos com uma obra deliciosamente bem-feita e digníssima de aplausos, uma experiência única.

P.S.: Pra quem procura uma análise mais aprofundada sobre o filme, recomendo demais este endereço. Me ajudou a compreender muita coisa, mas vale lembrar que o processo de digestão de Um Homem Sério é vagaroso mesmo. O filme respira com o passar do tempo. Mas se você não viu o filme ainda, não é aconselhável visitar, já que ele contém spoilers. 

Um Homem Sério (A Serious Man)
dir. Joel Coen, Ethan Coen - 

quinta-feira, 17 de março de 2016

THE OFFICE / 1ª Temporada


A primeira temporada de The Office, muito provavelmente por ser a mais curta (são 6 episódios no total), é a mais leve das temporadas. E, mesmo sendo também despretensiosa e minimamente introdutória, a temporada inicial de um dos seriados mais aclamados e populares da televisão norte-americana não escapa de certas falhas. Por outro lado, é interessante pra quem começou a acompanhar a série lá nas últimas temporadas (como eu) observar esse pontapé inusitado e acomodado. Se formos ver no geral, até que a 1ª temporada de The Office vale a pena, viu? 

Não sei se já narrei essa história antes, mas meu professor de inglês ficou de me emprestar há mais de um ano, eu acho, o box da versão original do Ricky Gervais (The Office britânico), segundo ele "mais hilário que o americano". Mas o tempo passou e eu acho que ele acabou se esquecendo, muito embora uma hora ou outra ele ainda me lembre. O pior é que na época não consegui achar na internet. Quando eu tiver um tempo, vou tentar procurar em torrent. Enfim, Ricky Gervais leva o crédito de co-roteirista e produtor executivo dessa primeira temporada. Legal a iniciativa dele de ter emprestado a sua criação para os americanos, já que ele não obteve muito sucesso mesmo na TV britânica (a versão original chegou a ganhar um Globo de Ouro, mas a fama foi pouca). 

Foi até inteligente da parte dele, digamos, já que, em comparação ao inglês, o The Office americano foi mil vezes mais bem-sucedido e amplamente recebido e distribuído mundo afora. E, de qualquer forma, o projeto, independente desses aspectos, é uma obra. Eu ainda não vi o britânico, mas o americano é maravilhoso. O reconhecimento à versão americana teria justificado o insucesso da versão britânica? Se foi esse o objetivo do Gervais, pode-se dizer que não houve desapontamentos. E, afinal, que mal há nisso? 

Não há muita coisa a se dizer sobre a 1ª temporada de The Office. O desenvolvimento da versão americana foi lento. A lista de personagens é o básico do básico do básico da lista de personagens da série. O clima satírico impera e em certos momentos até se mostra um tanto incômodo (num bom sentido). Há momentos engraçados? Muitos. Há momentos sem graça? É, tem algumas coisinhas que não colam, mas é pouca coisa. Os seis episódios são todos bem agradáveis e digeríveis. É difícil não gostar.

Steve Carell, que antes de The Office era praticamente um Zé Ninguém (realmente, o seriado fez a carreira de Steve decolar) encarna Michael Scott, gerente regional da Dunder Mifflin, corporação responsável pelo transporte e pela confecção de papel e materiais relacionados, que lidera uma sede da empresa localizada em Scranton, Pensilvânia (sim, essa cidade existe) e mantém uma relação de fraternidade bem complicada com o resto dos funcionários (espectro ora cômico ora decepcionante, no geral mais cômico). A 1ª temporada explora uma fase de downsizing que afeta a Dunder Mifflin e põe em risco a filial de Scranton, que está sujeita a corte de gastos e demissão de empregados. 

Ainda conhecemos Jim Halpert (John Krasinski), um homem que está claramente infeliz com o trabalho tedioso mas que não vê outra alternativa em sua vida, e que tem uma queda pela recepcionista da filial, Pam Beesly (Jenna Fischer), uma garota meio deprimida (por natureza) que vive sendo perturbada por Michael. Enquanto vai levando o emprego chato aos bocejos, Halpert ainda tem que aturar o colega imaturo e bagunçado, Dwight (Rainn Wilson), seu "arqui-inimigo". Há ainda Ryan Howard (B.J. Novak), funcionário novato, Oscar Martinez (Oscar Nunez), Angela Martin (Angela Kinsey), Kelly Kapoor (Mindy Kaling), Kevin Malone (Brian Baumgartner), Meredith (Kate Flannery), Phyllis Lapin (Phyllis Smith) e Stanley (Leslie David Baker). 

Vou confessar: sou frequentemente um grande simpatizante dos personagens do Steve Carell (como ele era gordo, não é?), mas tem certos momentos em que o Michael Stone chega a ser bem irritante, hein? Puxa vida. O cara faz de tudo pra transformar a área de trabalho em um ambiente de diversão e mutualidade, mas só termina em encrenca. E o mais engraçado de tudo é que a gente, indiretamente, acaba se identificando com certas situações em que o personagem se mete, mesmo cientes dos exageros do chefe, sempre muito positivo e brincalhão, mas que chega a ser tão, mas tão descontraído que incomoda pra caramba. E, a certo modo, é bem assim que acaba quando nós tentamos consertar as coisas ou tentar novas coisas. E, é claro, tem aquelas horas que é simplesmente muito, mas muito engraçado. A vida de escritório é mesmo uma aventura. E The Office continua sendo minha série predileta.

1. Pilot

Episódio piloto. Michael Stone e o resto dos personagens são apresentados. Aquele já característico aspecto fílmico de mockumentary infesta a tela. É triunfal. Não é o melhor episódio, mas é uma boa introdução. Começamos a compreender logo por aqui o relacionamento dos funcionários e o comportamento do protagonista, o chefe Michael Stone, que perambula pelo escritório fazendo piadinhas, se exibindo em entrevistas, brincando com os demais personagens, e na maior parte do tempo difamando a ele mesmo, o que acontece com frequência nos episódios seguintes.

2. Diversity Day

Michael decide convidar um palestrante para discursar no "Dia da Diversidade" no escritório. Ele se atrapalha todo tentando deixar bem claro seu "não-racismo", e propõe aos funcionários da empresa um jogo de adivinhação relacionado a raças, culturas e religiões. A sequência do jogo é bem engraçada. Esse episódio é muito bom. Ri bastante. O melhor episódio da 1ª temporada. 

3. Health Care

Para reduzir as chances da filial cair em downsizing e economizar dinheiro, Michael coloca Dwight no controle das sistematizações do seguro de saúde dos funcionários. Episódio confuso. Não é lá engraçado, mas apesar de tudo tem seus charmes. 

4. The Alliance

Os empregados ficam paranoicos com a ameaça de downsizing. Dwight propõe uma aliança a Jim, que, ao lado de Pam, o sacaneia. Enquanto isso, Michael está sem ideias para o aniversário de Meredith. Episódio cômico, em especial a cena do aniversário, quando a Meredith e o Michael vão ler o cartãozinho com as piadas. Ri alto.

5. Basketball

Esse episódio é o mais engraçado da temporada, ao lado de "Diversity Day". Para interagir com os funcionários, Michael decide esquematizar uma partida de Basquete com os entregadores. O segmento do jogo é brilhante de tão engraçado. 

6. Hot Girl

Participação (muito) especial da Amy Adams, a moça que nomeou este episódio. Michael faz de tudo para atrair e chamar a atenção de uma vendedora de bolsas, Katy (Amy) que está ocupando uma salinha na filial. Enquanto isso, a Dunder Mifflin irá presentear o melhor funcionário com um prêmio... Até o Michael chegar. Episódio de ouro, bastante engraçado. 

terça-feira, 15 de março de 2016

Crítica: "CLOSER - PERTO DEMAIS" (2004) - ★★★★


Já vai fazer dois anos que o inigualável gênio do cinema Mike Nichols nos deixou. Inacreditável. O mestre, em um período que corresponde a um longevo meio século de atividade, presenteou-nos com alguns dos maiores e mais importantes filmes já feitos (A Primeira Noite de um Homem e Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, por exemplo) e que raramente consegue decepcionar, mesmo sob projetos considerados menores, como aconteceu com Jogos de Poder (seu último filme) e A Difícil Arte de Amar (quase comprei a cópia em DVD uma vez, mas pisei na bola e agora o único jeito parece ser apelar pro torrent). Closer, o antepenúltimo filme realizado por ele, e talvez o mais popular (pelo público), é um filme intenso e voraz, poderoso a todo custo. Mike assume a direção de um trabalho thought-provoking eletrizante. O elenco talentosíssimo e inspirado é a atração principal de Closer - Perto Demais.

Julia Roberts, Jude Law, Clive Owen e Natalie Portman encarnam quatro personagens (uma fotógrafa, um jornalista, um médico e uma stripper, respectivamente) culminados a uma trama romântica repleta de desencontros e reviravoltas inusitadas. Traição, passado, intriga, verdade, mentira, obsessão, ilusão, Closer explora os limites das relações humanas e seus detalhismos e a natureza do estranho. O roteiro genial de Patrick Marber, adaptação da própria peça dele (conheci Marber no excepcional e inesquecível Notas sobre um Escândalo) capricha nos diálogos afiados, inteligentes e formalmente observadores. É difícil não se maravilhar com tamanho trabalho. A escolha de Nichols está bem clara, uma vez que Marber filosofa sobre a traição, tema recorrente na filmografia do cineasta, com sensibilidade e complexidade fenomenais. 

Falando em teatro, o filme bem que se parece mesmo com uma peça, viu? As cenas duradouras, os diálogos bem estruturados, a fotografia pálida e discreta, a valorização do elenco, a câmera, entre outros recursos que transformam Closer em um filme-teatro. Não me estranha o filme ter sido tão finamente elogiado pelo elenco. Clive Owen e Natalie Portman arrecadaram duas indicações ao Oscar. E eles estão certamente brilhantes. Ainda sim, os quatro estão igualmente dispostos e ótimos. Quem se destaca mesmo é a Natalie Portman, aqui estonteante e simplesmente gloriosa em todos os sentidos. Se tem alguém aqui que merece ser chamado de "o melhor" é ela. O Clive Owen também está formidável, mas quem realmente merecia a indicação, e possivelmente a vitória, era o Jude Law, também excelente. Isso pra não esquecer a Julia Roberts, numa das melhores atuações da carreira dela. 

Não acho mesmo que Closer seja um filme esquecível, como muitos proclamaram, mas creio que se trata justamente do contrário. Closer é memorável. Não é o melhor do Mike Nichols, mas é um trabalho notável e que merece respeito. E por último mas não menos importante, a trilha musical é primorosa. De Beethoven a Bebel Gilberto, a seleção é íntegra e combina perfeitamente com o clima do filme. A canção-tema, que abre e encerra Closer, "The Blower's Daughter", de Damien Rice, é melancolicamente belíssima (Ana Carolina e São Jorge produziram a versão nacional da canção, "É Isso Aí", tão emocionante quanto). 

Closer - Perto Demais (Closer)
dir. Mike Nichols - 

sábado, 12 de março de 2016

Crítica: "NÃO ESTOU LÁ" (2007) - ★★★★


Cinebiografia do músico americano Bob Dylan, Não Estou Lá é fascinante. Aproveitei o tempo livre e fui ver na Netflix (me surpreende, aliás, o fato do filme estar no catálogo da rede por tanto tempo - acho que já faz mais de um ano que o coloquei na minha lista), ontem à tarde. A premissa do filme é simples: 6 intérpretes diferentes representam a figura e a música de Bob Dylan em seis episódios intercalados relacionados à vida dele. Quer dizer, nem tão simples assim. A complexidade, gostosa e que distingue o projeto de qualquer outra cinebiografia (ainda mais sobre um músico), é o que proporciona magia e deleite. O formato da narrativa é original e aguçado, distante de exemplares menores e menos competentes de cinebiografias musicais recentes. E funciona.

A princípio, não há como não ser atraído pelo elenco monumental, realmente de dar água na boca: Christian Bale, Heath Ledger, Cate Blanchett, Ben Whishaw, Marcus Carl Franklin e Richard Gere representam Bob Dylan em distintas personas. Mas, também brilham: Charlotte Gainsbourg, Julianne Moore, Michelle Williams e David Cross (esses dois últimos aparecem tão raramente que mal dá pra degustar da participação deles). Quem é o melhor do elenco? Olha, não consigo ver ninguém melhor ali que a Cate. Ela está fabulosa. Quanto à indicação ao Oscar em 2008 (a única indicação do filme para o prêmio, injustamente), foi supermerecida. Pelo menos ela merecia a estatueta mais por esse trabalho do que por O Aviador (ainda que seja uma performance boa, foi superestimada ao meu ver). As semelhanças com o Bob Dylan real são muitíssimas.

Ainda acho que saber que é a Cate Blanchett em tela complica um pouco as coisas, o efeito, sem querer mexer na qualidade da atuação dela. Creio que se eu tivesse visto o filme sem saber que era ela interpretando o Bob Dylan enalteceria-a ainda mais, e seria, provavelmente, bem mais impactante e harmônico descobrir com o desenrolar do filme, já que a grande parte do tempo ela está de óculos escuro. E, ainda que ela esteja brilhante, há um equilíbrio constante entre a participação dela e dos outros atores, sem desfavorecimentos. Todos estão de parabéns, mas a Cate Blanchett está incrível de plausível. Atrás dela, ficam o Heath Ledger e a Charlotte Gainsbourg.

Como o Todd Haynes tem uma carreira pequena, fica difícil fazer comparações no quesito direção. Todos os filmes dele são bem-dirigidos. Do maravilhoso Carol ao versátil Longe do Paraíso, tudo é caprichado ao máximo, sem exceções. E não foi nada diferente com Não Estou Lá. Uma obra cinematográfica gigante, importante e muito bem-feita. O mais legal é que ninguém faz cinema como Todd Haynes. O cara é único. E é um baita prestígio ser agraciado com um filme tão excelente como Não Estou Lá, de um diretor tão impecável e talentoso.

O principal é deixar o filme te levar. Embarque na brincadeira sem medo de ser surpreendido. Alguns se emocionarão e outros coçarão a cabeça. Mas o essencial é deixar o filme te levar. Só assim você compreenderá a fórmula, a trama, os personagens... A construção é o que encanta. Não Estou Lá é inusual e recheado de coisas boas. É triunfalmente prazeroso.

A fotografia calorosa e excepcional, conduzida pelo colaborador de longa data de Haynes Edward Lachman é uma dessas coisas absolutamente especiais e incomparáveis em Não Estou Lá. O filme por si só já vale pela fotografia do Lachman. Todos os filmes do Haynes, não por acaso, possuem fotografias belíssimas, e que já fazem o filme valer por elas mesmas. É claro, Não Estou Lá não é um espetáculo visual como Carol ou Longe do Paraíso, mas carrega uma fotografia impressionante (as sequências do Jude Quinn, que lembram bastante o clássico de Fellini Oito e Meio, com diversas referências inclusive, são visualmente potentes e indispensáveis).

Enfim, Não Estou Lá é simplesmente imperdível. E a cada filme a mais que vejo do Todd Haynes, ele engrandece no meu conceito. A cinebiografia do "malabarista" que mudou o mundo da música americana em grande escala. Ah, e também tem o elenco primoroso! Não Estou Lá é um monumento fílmico imperdível. Vejam!

Não Estou Lá (I'm Not There)
dir. Todd Haynes - 

terça-feira, 8 de março de 2016

30 ROCK / 1ª Temporada


A primeira série de 2016. Entre umas e outras, me pegava vendo um episódio de 30 Rock na TBS, mas nunca tomei coragem pra ver uma temporada completa do seriado, uma das séries de comédia mais aclamadas e queridas da TV americana atual. Baixei no fim do ano passado a primeira temporada, e comecei a assistir semana passada. Hoje terminei os 21 episódios. Cara, que show fantástico! E a Tina Fey... Menina de ouro! A primeira temporada de 30 Rock introduz a farta lista de personagens frenéticos que circulam pelos corredores do 30 Rockefeller Plaza (subsidiária da General Electric e estúdio da NBC, rede americana) e os bastidores de um programa de humor.

A protagonista de 30 Rock é Liz Lemon (Tina Fey), roteirista do programa "The Girlie Show" que só faz uma coisa da vida: trabalhar, e trabalhar, e trabalhar mais ainda. A mulher não tem descanso. Mas ela fica a um passo de perder a cabeça de vez quando recebe a escabrosa missão de escrever novas esquetes para um fenômeno cinematográfico, Tracy Morgan (por ele mesmo), que estrelará o "The Girlie Show", agora re-intitulado "The Girlie Show with Tracy Morgan". Lemon também terá de aturar o mulherengo e teimoso, mas gentil, Jack Donoghy (Alec Baldwin), seu novo chefe e diretor da General Electric. 

Liz se mete nas mais desastrosas armações ao lado da sua trupe de roteiristas e de sua melhor amiga, a "decadente" Jenna (Jane Krasinski) a ex-estrela burra do "The Girlie Show". Há ainda o mensageiro ingênuo Kenneth (Jack McBrayer).

Tina Fey, criadora/produtora/Liz Lemon/roteirista/mulher do compositor (Jeff Richmond), faz malabarismos com truques de humor inventivos e complexos. 30 Rock é uma delícia de se acompanhar porque é humor de verdade, é uma comédia admirável e excelentemente bem-feita. As sacadas geniais, o elenco, a Fey... 30 Rock é um trabalho digno e incomparável. Uma dádiva, plausível.

1. Pilot

Descobrimos Liz Lemon, a idealista roteirista do programa "The Girlie Show", exibido no canal NBC. Também são introduzidos os personagens Tracy Morgan, Jack Donoghy e Jenna. A cena da gravação, com o gato arranhando a cara da personagem Jenna, é bastante engraçada. Legal ver também a química rolando entre a Liz e o Tracy. Não é o melhor episódio desta temporada, mas tem suas qualidades.

2. The Aftermath

Donoghy aborrece a Liz Lemon quando renomeia o programa "The Girlie Show" para "T.G.S. with Tracy Morgan", eclipsando a melhor amiga de Lemon. Pra "recompensar" o erro, Tracy dá uma baita festa em um iate, "supostamente" dele. Episódio cool, com boas piadas.

3. Blind Date

Jack Donoghy se solidariza com a Liz  e marca um encontro entre ela e um "amigo" dele. Para conquistar a equipe do roteiro, ele se infiltra num jogo de pôquer. Episódio o.k.

4. Jack the Writer

Jack se convida para Liz para integrar a equipe de roteiristas. A ideia deixa Liz maluca, e apesar dos esforços para mantê-lo longe da equipe, tudo é em vão. Ao mesmo tempo, ela tenta convencer a sua assistente Cerie a se vestir de maneira menos chamativa. Esse episódio é bem engraçado.

5. Jack-tor

Jack vira o protagonista de uma esquete e não está convencido de que sabe atuar, e entra em desespero. Liz teoriza a possibilidade de Tracy não saber ler. Liz reata com seu ex-namorado, Dennis. Outro episódio que tem momentos cômicos memoráveis.

6. Jack Meets Dennis

Dennis, ficante da Liz, invade o espaço de trabalho dela e dá um show de idiotice. Jack demonstra seu repúdio à relação e aconselha Liz a procurar um alguém melhor. Tracy odeia ser normal, e quando vê uma matéria numa revista o "acusando" de ser normal, entra em pânico. Jenna demonstra certa preocupação quanto à sua carreira.

7. Tracy Does Conan

Jack troca Jenny por Tracy Morgan para ser entrevistado por Conan O'Brien novamente, uma vez que Tracy foi desastrosamente ruim numa entrevista anterior. O único problema é que Tracy está fora de si: esqueceu de tomar os remédios e agora está surtando. Cabe a Liz tentar contornar a situação, com 0% de sucesso.

8. The Break-Up

Liz rompe com Dennis, mas depois se arrepende. A nova namorada de Donoghy é ninguém mais e ninguém menos do que Condoleezza Rice. Episódio bom e com ótimos segmentos bem-humorados.

9. The Baby Show

Liz começa a refletir sobre a idade e criar uma família. Jack sofre com a persistência da mãe, que não para de ligar para ele e que está pensando em se mudar para o cafofo dele. Tracy trava uma guerra com Josh, membro da equipe de roteiristas.

10. The Rural Juror

Jenna está animada com o lançamento de "The Rural Juror", seu novo filme. Liz acaba não gostando do filme e tenta esconder a sua opinião da amiga. Tracy inventa a "máquina de carne", instrumento que promete revolucionar o consumo de sanduíches. Jack acaba aprovando a ideia e passa a estimular a imaginação de Tracy. Episódio de ouro. Um dos melhores da temporada.

11. The Head and the Hair

Liz e Jenna apelidam secretamente dois executivos do setor da General Electric: o "cabeça" e o "cabelo". É um dia especial no 30 Rock: Jack dá a oportunidade ao empregado mais baixo, Kenneth, para ser "chefe por um dia", e inverte de lugar com ele. Bom episódio.

12. Black Tie

Liz é o par de Donoghy no jantar de um príncipe austríaco. Jenna entra de penetra na festa após mostrar os peitos para o segurança e acaba atraindo o príncipe, um homem sem as pernas e os braços, pálido feito neve e deformado. Jack dá de cara com a ex-mulher, Bianca (interpretada pela Isabelle Rosselini, vejam só!). Jack conta para ela, mentindo, que Liz é sua noiva, e Bianca, numa crise de ciúmes, a ataca. O melhor episódio da temporada.

13. Up All Night

Dia dos Namorados. Liz recebe flores acidentalmente de um cara de outra divisão, cuja namorada se chama Liz Lemler (Anna Chlumsky). O grupo de roteiristas se reúne no 30 Rock para uma noitada. Episódio engraçado, um dos melhores. Curioso aquele jogo "casar, transar ou matar".

14. The C Word

A nervosa e rude Liz tenta mudar um pouco depois de ouvir certos relatos desagradáveis sobre a sua personalidade. Jack leva Tracy a um jogo de golfe, onde os dois se encontram com o "poderoso chefão" da General Electric, o C.E.O. Don Geiss. Episódio razoável.

15. Hard Ball

Jack decide usar a ideia de Kenneth sobre um programa, mas nem tudo dá certo. Liz convence Donoghy a não demitir Josh. Péssima decisão.

16. The Source Awards

Tracy Morgan entra para a lista negra de um poderoso produtor musical quando nega a ele a entrada em sua festa. Como forma de redenção, ele só vê uma saída: apresentar o The Source Awards. Liz acaba se decepcionando num encontro e tenta convencer o rapaz de que não está dando um fora nele só por causa dele ser negro. A cena final é provavelmente a mais engraçada dessa temporada.

17. The Fighting Irish

Jack reencontra o irmão, que lhe noticia que o patriarca da família Donoghy faleceu. Abalado, Jack decide reunir toda a família, e só sobra confusão pro lado dele. Ao mesmo tempo, ele comunica Liz que ela terá de demitir um certo número de empregados. Todos passam a querer agradá-la, mas ela já tem um alvo: a "outra Liz".

18. Fireworks

Jack precisa encobrir a programação da NBC com um especial quando Tracy se ausenta, mas está sem ideias. Enquanto isso, ele passa a competir com um executivo de uma filial da NBC, e que está usando Kenneth para obter informações.  

19. Corporate Crush

Liz começa um relacionamento de amizade com Floyd, que era namorado da "outra Liz", mas a largou depois que ela foi promovida por Jack. Enquanto isso, Jack se apaixona pela consultora de arte Phoebe (a sexy Emily Mortimer).

20. Cleveland

Liz fixa-se com o namorado Floyd, e ambos planejam se mudar para Cleveland. Mas nada é o que parece. Tracy decide sumir do mapa quando descobre que "A Cruzada Negra" está atrás dele. Jack pede Phoebe em casamento.

21. Hiatus

Episódio final da 1ª temporada. É divertido, embora um pouco dramático. Floyd está longe da cidade e desencontros de comunicação simulam um rompimento entre ele e Liz. Enquanto isso, Liz descobre quais são as intenções da Phoebe e Jack fica doente.