Poucos cineastas na história do cinema brasileiro – e, porque não, mundial – possuíram um cinema tão completo como o de Júlio Bressane. É essa capacidade de transformar cada frame e cada canto de um filme em uma obra que faz dele um sui generis da sétima arte, um tesouro escondido, um mestre. Todos os detalhes são orquestrados com um olhar minucioso, atento e feroz, tornando a sessão um prato cheio para quem gosta de "contemplar a vista", ainda mais quando temos em cena uma atriz tão inigualável como Alessandra Negrini, em suas poses e gestos, mil faces e contornos, expressa uma exuberante tentação imagética, que aliada às nuances bressanianas, movimenta e ressignifica a forma da maneira mais contundente possível. Trata-se de um épico da imagem, majestoso em sua dimensão quase surrealista, delicioso de se acompanhar, tanto por seu visual quanto por um retrato no mínimo interessantíssimo de uma personagem tão adorada pela cinematografia, a Cleópatra: um mito, um símbolo ou uma farsa do imaginário histórico/cinematográfico?
Cleópatra
dir. Júlio Bressane
★★★★
Interessante estudo de personagem/desconstrução de gêneros que consegue ampliar um foco em uma mesma característica sem sair do tom, e sem medo de subverter o protagonista para fundir duas perspectivas de um mesmo espectro (ou mais, até, se formos levar em conta uma dimensão diegética). Sion Sono trabalha de forma imersiva com os elementos que cercam seu filme, uma imersão totalmente cinematográfica, e ele parece realmente acreditar neste ponto, na sua proposta, mais do que qualquer outra pessoa, o que acaba se tornando um convite agradabilíssimo para o espectador em se sentir imerso em um universo lírico inexplicavelmente imprevisível e delicioso, onde somos guiados por uma sensação de surpresa e ao mesmo tempo encantamento, diversão. A tartaruga gigante é uma das criaturas mais fofas concebidas no cinema contemporâneo. Impossível não sentir seu coração derretendo. Meu primeiro Sion Sono é arrebatador. Sem mais.
Love & Peace
dir. Sion Sono
★★★★
Não sei bem ao certo o que o Sean Penn queria ao fazer este filme, parece mais uma série de experimentalismos com a câmera (numa certa cena, vergonhosa, há um jogo de closes, fast-motion e zooms muito zoado mesmo, a intenção de tornar a sequência, talvez, agitada, acaba se tornando uma zorra) acompanhando um casal de personagens (Bardem & Theron, provavelmente nunca estiveram tão péssimos em cena) e o pano de fundo, um conflito civil na África (o backdrop humanitário mais forçado e desleixado que se pode imaginar). A mise-en-scène é equivocada em muitos sentidos, desde uma concepção arbitrária e costurada com reducionismos ilógicos até o roteiro que parece ter sido escrito em questão de minutos tal qual é a falta de interesse e qualidade que ele reproduz. Toda e quaisquer tentativas que possam ser lidas como meras "boas intenções" não passam de tentativas.
The Last Face
dir. Sean Penn
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