Acho que nunca falei antes aqui no blog sobre a dupla Safdie, os irmãos Josh e Benny, nomes promissores do cinema independente americano. Ainda vamos ouvir falar muito sobre esses dois arteiros, até porque Bom Comportamento é um grande filme e que deverá ser bastante comentado e falado daqui pra frente, ainda que muita gente praticamente desconhecia a filmografia deles. Antes de começar a falar sobre esse aqui, vou recomendar rapidamente 2 filmes da dupla que eu tive a chance de conferir esse ano e que são bastante especiais (e isso vale pra quem quer uma introdução na filmografia dos diretores) que são Traga-me Alecrim e Amor, Drogas e Nova York, sem falar também em The Pleasure of Being Robbed.
Agora, vamos ao filme. Que alucinação, hein? Quem já tinha visto Amor, Drogas e Nova York até podia esperar uma boa dose de loucura e uma vibe meio alucinógena, mas talvez essa seja a confirmação definitiva do cinema dos Safdie. Bom Comportamento acompanha, em uma única noite, a trajetória de um criminoso tentando livrar seu irmão deficiente da prisão, e para isso ele enfrenta vários perrengues, encontra os tipos mais bizarros e as situações mais inesperadas. Aliás, Robert Pattinson está em sua melhor atuação (acreditem, totalmente digna).
As comparações a John Cassavetes surgem já nas semelhanças estéticas e narrativas, mas eu creio que existe também um certo laço espiritual entre os filmes dos Safdie e Cassavetes, muito no que diz respeito às histórias de uma jornada mundana, de personagens mundanos, não rotineiros, mas que pertencem ao mundo, que vivem pelo mundo e que podemos encontrar ao virar a esquina. Comparou-se também a Scorsese e Friedkin, de forma mais indireta, até pela construção do gênero aqui, fica muito evidente que existe uma trilha entre o indie e uma aspiração maior ao cinema americano.
Bom Comportamento coleciona uma série de momentos altos e memoráveis. O filme já começa imerso num nível desmedido de adrenalina quando Connie invade o consultório onde está seu irmão, um jovem rapaz com problemas psicológicos (vivido pelo próprio Benny Safdie), e decide tirá-lo dali nem que seja a força. É o ponto de partida para uma jornada entorpecente, onde somos colocados no banco da frente a mil por hora, enquanto a emoção pulsa firme nas veias. Pra se ter uma noção, só durante os créditos, há uma utilização fantástica da narrativa, e o que segue dali é o cinema da mais pura e verdadeira qualidade.
Bem, não vou dizer muito. Acho que é um filme que fala por si mesmo. Só garanto que os Safdie estão confirmadíssimos nessa nova safra de grandes diretores do cinema independente e Bom Comportamento é o melhor filme deles até agora. Fiquei muito contente em poder assistir esse baita filmaço. Sobre a nossa constante busca por libertação, redenção, fuga, o constante desejo da alma de se livrar das amarras do destino. É a fuga, é o escapismo que alimenta nossa vontade de sentir a vida no seu limite, pois é unicamente nessa intensidade, nesse ritmo frenético, que podemos sentir o tempo. Essa vontade louca de fugir de tudo, de enfim achar a liberdade, onde quer que ela possa ser encontrada. And have a good time.
Bom Comportamento (Good Time)
dir. Benny & Josh Safdie
★★★★½