quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

TOP 60 - FILMES QUE ASSISTI EM 2014


Além dos lançamentos, também teve muitos filmes que tive a chance de assistir em 2014. Sou um cinéfilo a pouco tempo, pouco mais de um ano. Tenho muitos filmes pela frente. 2014 também foi ano de assistir aos filmes já lançados, ou clássicos, dos quais eu sou um grande fã. Neste post, eu fiz quatro listas dos filmes que assisti em 2014, independente de gênero, país, ou ano:

FILMES REVISTOS

O Grande Ditador, de Charles Chaplin
Casablanca, de Michael Curtiz
Apenas Uma Vez, de John Carney
Tudo Sobre Minha Mãe, de Pedro Almodóvar
A Separação, de Asghar Farhadi
Oito e Meio, de Federico Fellini
Simplesmente Alice, de Woody Allen
O Diabo Veste Prada, de David Frankel
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, de Michel Gondry
Kill Bill - Vol. 1 & 2, de Quentin Tarantino
As Férias do Mr. Bean, de Steve Bendelack
Morangos Silvestres, de Ingmar Bergman
Cantando na Chuva, de Gene Kelly & Stanley Donen
Cães de Aluguel, de Quentin Tarantino
Casamento Grego, de Joel Zwick
Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick
Antes do Pôr-do-Sol, de Richard Linklater
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, de Woody Allen
Chicago, de Rob Marshall

FILMES VISTOS PELA PRIMEIRA VEZ

Chocolate, de Lasse Hallstrom
Dorminhoco, de Woody Allen
Dr. Fantástico, de Stanley Kubrick
Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder
O Segredo de Vera Drake, de Mike Leigh
Melancolia, de Lars Von Trier
Moulin Rouge!, de Baz Luhrmann
O Aviador, de Martin Scorsese
Gritos e Sussurros, de Ingmar Bergman
A Garota Ideal, de Craig Gillespie
O Leitor, de Stephen Daldry
As Horas, de Stephen Daldry
A Rosa Púrpura do Cairo, de Woody Allen
Anticristo, de Lars Von Trier
O Segredo de Brockeback Moutain, de Ang Lee
Django Livre, de Quentin Tarantino
O Visitante, de Tom McCarthy
Babel, de Alejandro González Iñárritu
O Paciente Inglês, de Anthony Minghella
Amor, de Michael Haneke

CLÁSSICOS ASSISTIDOS

Através de um Espelho, de Ingmar Bergman
Se Meu Apartamento Falasse, de Billy Wilder
O Pianista, de Roman Polanski
A Cor Púrpura, de Steven Spielberg
E.T. - O Extraterrestre, de Steven Spielberg
Feitiço do Tempo, de Harold Ramis
O Show de Truman, de Peter Weir
Edward Mãos-de-Tesoura, de Tim Burton
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet
Mulheres á Beira de um Ataque de Nervos, de Pedro Almodóvar

ANIMAÇÕES ASSISTIDAS

Frankenweenie, de Tim Burton
A Viagem de Chihiro, de Hayao Miyazaki
Rango, de Gore Verbinski
Ratatouille, de Brad Bird
Persepolis, de Marjane Satrappi
Um Gato em Paris, de Alain Gagnol & Jean-Loup Felicioli
WALL-E, de Andrew Stanton
As Aventuras de Tintin, de Steven Spielberg
O Ilusionista, de Sylvain Chomet
Meu Vizinho Totoro, de Hayao Miyazaki

Os Melhores Filmes de 2014

2014 foi, e será um ano inesquecível, é claro, no cinema; Houve estreias importantes, filmes que conseguiram se aclamar mundialmente, e outros filmes que conseguiram ganhar minha atenção e uma posição nesta humilde lista. Em minha opinião, não há uma arte mais sensacional, uma arte que de tempos em tempos, inove sua magia redentora e traga consigo toda a força e a capacidade de mover. É por isso que eu amo tanto o cinema. Sua capacidade de mover, constantemente. A cada história, um novo mundo. A cada visão, uma nova jornada. Fazer essa lista não foi uma tarefa fácil. Nunca é. Nunca foi. Nunca será. Com certeza. Há uma imensa demanda de variedades dentro do universo cinematográfico. Eleger os melhores filmes de um determinado ano é sempre difícil. Tanto que nem sempre conseguimos reunir nossos melhores filmes no clássico top 10. Por isso, aqui estou eu, montando meu Top 15. Isso sem falar que ainda tem menção honrosa. E, que venha 2015!


15. Mesmo Se Nada Der Certo, de John Carney


14. Garota Exemplar, de David Fincher


13. Relatos Selvagens, de Damián Szifrón


12. Ninfomaníaca - Vol. 1 & 2, de Lars Von Trier


11. O Lobo de Wall Street, de Martin Scorsese


10. Sob a Pele, de Jonathan Glazer


9. Adeus à Linguagem, de Jean-Luc Godard


8. 12 Anos de Escravidão, de Steve McQueen


7. Ela, de Spike Jonze


6. Mais um Ano, de Mike Leigh


5. Dois Dias, Uma Noite, de Jean-Pierre & Luc Dardenne


4. Vidas ao Vento, de Hayao Miyazaki


3. Era Uma Vez em Nova York, de James Gray


2. Boyhood - Da Infância à Juventude, de Richard Linklater


1. O Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson

MENÇÃO HONROSA
[em ordem de preferência]

• Ida, de Pawel Pawlikowski
• Cortinas Fechadas, de Jafar Panahi
• Inside Llewyn Davis, de Joel & Ethan Coen
Magia ao Luar, de Woody Allen
• O Abutre, de Dan Gilroy 
• O Passado, de Asghar Farhadi
• Bem-Vindo a Nova York, de Abel Ferrara 
• Trapaça, de David O. Russell
• Philomena, de Stephen Frears 
• A Imagem que Falta, de Rithy Panh 
• Amante à Domicílio, de John Turturro 

* Algumas das críticas dos filmes que ainda não foram lançados em circuito nacional podem demorar até serem lançadas no blog. As que ainda não estão disponíveis serão disponibilizadas em breve.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

TOP 5 - Os Piores Filmes de 2014



5. Sin City - A Dama Fatal, de Frank Miller & Robert Rodriguez


4. A Culpa é das Estrelas, de Josh Boone


3. À Procura, de Atom Egoyan


2. Homens, Mulheres e Filhos, de Jason Reitman


1. O Candidato Honesto, de Roberto Santucci

MENÇÕES DESONROSAS

O Grande Gatsby, de Baz Luhrmann *
Êxodo: Deuses e Reis, de Ridley Scott
RoboCop, de José Padilha
Transformers: A Era da Extinção, de Michael Bay
300: A Ascensão do Império, de Noam Murro
Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola, de Seth MacFarlane
Sex Tape: Perdido na Nuvem, de Jake Kasdan
Debi e Lóide 2, de Bobby & Peter Farrelly
A Menina Que Roubava Livros, de Brian Percival
Transcendence - A Revolução, de Wally Pfister

* Lançado em 2013, visto apenas esse ano

Sin City - A Dama Fatal é realmente ruim, sendo otimista. Em 2005, até que deu pra engolir Sin City, mas dessa vez, Robert Rodriguez não convenceu tanto. Nem Frank Miller. Acho que Rodriguez tem que entender que nem todos são Tarantino, ou talvez nem todos possam construir obras com o significado das obras do grande mestre da verborragia e do sangue. Seus filmes apenas tentam imitar Tarantino, em uma versão mais grotesca, trash, porém, vamos admitir: seus filmes se baseiam em Tarantino, e isso pressiona o público ao chato e desagradável. Em Sin City - A Dama Fatal, a parceria de Robert e Frank fracassa, mesmo que o filme tenha recebido uma gigantesca promoção em Hollywood, e um elenco bem grande. Bem grande mesmo. Se Robert e Frank pegassem esse elenco e colocassem-o numa história um pouco menos abusiva de "quero ser um filme assistível a toda hora" (o que não é) e incluir um pouco mais de efusão. Sem os clichês impulsivos de Sin City, talvez, o elenco pudesse funcionar de uma maneira bem melhor, sem os desfalques anormais. Mas é assim. Não sei se Robert é inspirado, ou designado por Tarantino. Só sei que por muitas vezes atualmente, excedendo Machete, suas películas estão acompanhando elementos bem particulares do já mencionado diretor, só que de uma maneira completamente diferente. 

Desde o início, eu já previa que A Culpa é das Estrelas não funcionaria. É um fato simples, quase que uma maldição: toda adaptação cinematográfica de romances adolescentes não termina bem. Foi o que aconteceu aqui, e que já tinha acontecido em Querido JohnDiário de uma Paixão, e futuramente prevejo que ocorrerá com Cidades de Papel. Esses filmes apelam bem mais para o lado comercial do que o lado cinematográfico, além de quase sempre serem dramalhões de "blá, blá, blá" sem algo para preencher aquele vazio indômito da estranha covardia de seus protagonistas (resumindo: clichê). Em primeiro lugar: os atores principais são inexperientes. Sim, exatamente. Por falta de experiência, apenas cabe á esses atores os papeis mais rarefeitos ou vulneráveis a qualquer um que mendigar por uma performance que lhes dê consagração (repetindo, comercial). Shailenne Woodley, talvez, seja a única atriz que tenha participado de uma grande produção cinematográfica, em 2011, Os Descendentes, e que aqui, mesmo com  todo o efeito miserável das ocorrências, conseguiu garantir um lugarzinho. Quanto ao Elgort... C'mon guys, what the fuck is that!? Eu nunca tinha ouvido algo a respeito deste rapaz que vem aqui e surge com sua "beleza divina" para destruir todas as minhas expectativas que, conforme meu pensamento desenhou, o filme renderia aplausos assim como o livro!? 

Um dos maiores cineastas canadenses de todos os tempos, perdendo apenas para (possivelmente) Denys Arcand, Atom Egoyan já teve diversas obras-primas em seu currículo. Entre elas, a sua mais famosa é O Doce Amanhã, que trouxe ao diretor indicações ao Oscar e a fama internacional. De lá pra cá, os dramas de Egoyan perderam credibilidade. Muitos acreditavam que o diretor retornaria triunfantemente com Á Procura, principalmente pela performance de Ryan Reynolds. A esperança de ver uma obra-prima como O Doce Amanhã, com certeza, não se realizou em Á Procura. Em seu lançamento em Cannes, o longa de Egoyan recebeu críticas desoladoras. Realmente, Á Procura não é um filme tão bom. Abusa dos elementos, mas é decepcionante. 

Mais uma vez, Jason Reitman apostou numa história adolescente para conseguir aclamação, assim como aconteceu no (nem tão plausível) Juno. Apesar de ter gostado, a história de Juno não me pegou. Achei um pouco boba, na realidade, apesar de ter apreciado o roteiro revelação de Diablo Cody. A tentativa de copiar a grandiosa obra Juno não deu tão certo assim para Reitman em Homens, Mulheres e Filhos. Não sei. Há uma falta de conexão imensa entre seus personagens. Tramas mal resolvidas. É uma das histórias que facilmente seriam contadas em menor tempo da qual ela é narrada. Mas ninguém me escuta. Nem Reitman. Dessa vez, o filme nem tem Diablo Cody para salvar o roteiro, que é assinado pelo (nem tão experiente) Jason Reitman.

LUMIÈRE DE OURO 2014 - OS INDICADOS

LUMIÈRE DE OURO 2014

O blog Lumière & Companhia organiza especialmente o Lumière de Ouro 2014, que tem como objetivo premiar os melhores do ano. O ano de 2014 teve ótimos filmes, que com certeza tiveram um impacto cinematográfico. O ano termina, e consequentemente, a temporada de premiações do cinema se inicia. Bem, aqui vai os indicados desse ano ao Lumière de Ouro 2014:

NOTA. O anúncio dos vencedores será em 4 de janeiro de 2015!

MELHOR FILME 

Ela
Boyhood
O Grande Hotel Budapeste
Era Uma Vez em Nova York
Dois Dias, Uma Noite

MELHOR DIRETOR

Richard Linklater - Boyhood
Steve McQueen - 12 Anos de Escravidão
Wes Anderson - O Grande Hotel Budapeste
James Gray - Era Uma Vez em Nova York
Martin Scorsese - O Lobo de Wall Street

MELHOR ATOR

Chiwetel Ejiofor - 12 Anos de Escravidão
Ralph Fiennes - O Grande Hotel Budapeste
Oscar Isaac - Inside Llewyn Davis
Leonardo DiCaprio - O Lobo de Wall Street
Jake Gyllenhaal - O Abutre

MELHOR ATRIZ

Rosamund Pike - Garota Exemplar
Marion Cottilard - Era Uma Vez em Nova York e Dois Dias, Uma Noite
Judi Dench - Philomena
Scarlett Johansson - Sob a Pele
Isabelle Huppert - Uma Relação Delicada

MELHOR ATOR COADJUVANTE

Willem Dafoe - O Grande Hotel Budapeste
Ethan Hawke - Boyhood
Joaquin Pheonix - Era Uma Vez em Nova York
Woody Allen - Amante à Domicílio
Michael Fassbender - 12 Anos de Escravidão

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

Patricia Arquette - Boyhood
Uma Thurman - Ninfomaníaca - Vol. I
Jacqueline Bisset - Bem-Vindo a Nova York
Erica Rivas - Relatos Selvagens
Lupita Nyong'o - 12 Anos de Escravidão

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO

Como Treinar o Seu Dragão 2
Os Boxtrolls
Vidas ao Vento 
Ernest & Celestine
O Congresso Futurista

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

Boyhood
Ninfomaníaca (vols. I e II - sessão conjunta)
Relatos Selvagens
O Grande Hotel Budapeste
Dois Dias, Uma Noite

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

12 Anos de Escravidão
Sob a Pele
O Lobo de Wall Street
Garota Exemplar
A Pele de Vênus 

MELHOR ELENCO

O Grande Hotel Budapeste
12 Anos de Escravidão
Boyhood
O Lobo de Wall Street
Trapaça

MELHOR PERSONAGEM

Mason Evans Jr. - Boyhood
Mr. Gustave H. - O Grande Hotel Budapeste
Zero Moustafa - O Grande Hotel Budapeste
Jordan Belfort - O Lobo de Wall Street
Joe - Ninfomaníaca

MELHOR CANÇÃO

"Lost Stars"
Mesmo Se Nada Der Certo

"Hero"
Boyhood - Da Infância à Juventude

"Ordinary Love"
Mandela: Longo Caminho Para a Liberdade

"Let It Go"
Frozen: Uma Aventura Congelante

"Hal"
Amantes Eternos

MELHOR TRILHA SONORA

O Grande Hotel Budapeste
12 Anos de Escravidão
O Abutre
Garota Exemplar
Lucy

MELHOR FIGURINO

O Grande Hotel Budapeste
Era Uma Vez em Nova York
O Grande Gatsby
12 Anos de Escravidão
Inside Llewyn Davis

MELHOR FOTOGRAFIA

O Grande Hotel Budapeste
Era Uma Vez em Nova York
12 Anos de Escravidão
Sob a Pele
Inside Llewyn Davis

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE

Magia ao Luar
O Grande Gatsby
O Grande Hotel Budapeste
Era Uma Vez em Nova York
Caçadores de Obras-Primas

MELHOR MAQUIAGEM

A Bela e a Fera
Ida
12 Anos de Escravidão
O Grande Hotel Budapeste
Trapaça

MELHOR EDIÇÃO

12 Anos de Escravidão
Era Uma Vez em Nova York
Adeus à Linguagem
Boyhood
Garota Exemplar 

MELHOR SOM

12 Anos de Escravidão
Lucy
Sem Escalas
Vidas ao Vento
O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos

MELHOR FRASE 

"O momento te curte"
Boyhood

"Me venda esta caneta"
O Lobo de Wall Street

"Ora, senhor. Quem não gostaria? O Hotel Budapeste é uma instituição"
O Grande Hotel Budapeste

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Crítica: "O LEITOR" (2008) - ★★★★


Pela primeira vista, O Leitor pode parece uma obra fantasticamente suprema. Mas não é tanto, confesso. De fato, Stephen Daldry errou o ponto ao filmar a adaptação do romance alemão Der Vorleser, do escritor Bernhard Schlink. É claro, a performance de Kate Winslet não está incluída no fracasso crítico de O Leitor, que na minha opinião, é uma autêntica obra do cinema. Com a exceção de Ralph Fiennes, Kate Winslet e Lena Olin (em uma curtíssima aparição), o elenco deste filme é composto por atores alemães e/ou novatos. O elenco não é tão grande. O roteiro de David Hare não é tão "surpreendente", mas teve um rendimento excelente no desempenho de O Leitor. E sobre a direção de Stephen Daldry, dessa vez, eu concordo: a indicação ao Oscar de Daldry foi bastante exagerada, apesar dele ter dirigido o filme com coragem e talento. Existem apenas duas coisas que "salvaram" O Leitor: a performance extasiante de Kate Winslet (cuja não sabemos se é coadjuvante ou protagonista), e o roteiro magnânimo de David Hare (parceiro de longa-data de Daldry, desde a grandiosa obra-prima As Horas). 

Há pouco tempo atrás, me interessei por O Leitor. Um filme que fulminantemente despertou a minha atenção. Principalmente pela tão agraciada performance de Kate Winslet, que ganhou o (merecidíssmo) Oscar de Melhor Atriz em 2009, derrotando Meryl Streep e Anne Hathaway, as favoritas do ano. E concordo: o que realmente me surpreendeu em O Leitor foi a performance de Winslet, nunca vista. Nem mesmo em Titanic, ou Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. Concordo que, aqui, ela deu o melhor dela a fim de poder oferecer ao filme um pouco de competência e magnanimidade.

Apesar de não chegar em duas horas de filme, O Leitor, pode cansar. Ele é terrivelmente demasiado. Este é mais um daqueles filmes que só devem ser vistos por quem entende de cinema e realmente tem visão para compreender e codificar os elementos. Caso contrário, se você não tem essa noção, é melhor nem assistir a O Leitor. Sim, é um filme demasiadamente demorado, dotado de uma imprevisível lentidão, além de ser um drama bem drama (dramalhão com toques dramáticos de um drama dramático, enfim: um drama muito dramático). Não é um drama conciliado à crises de choradeira, mas também não é um drama fraco. Neste quesito, O Leitor é um grande drama. Só desaponta em sua estrutura efusiva. O Leitor também pode ser considerado a "grande surpresa do ano de 2008" (em relação á temporada de premiações, é claro). O drama foi ignorado em diversas premiações, e sua súbita aparição em cinco categorias no Oscar (incluindo Melhor Filme) foi de um impacto imenso, porém, não deixou de ser merecida. Em minha opinião, o único erro foi indicar Stephen Daldry, que por sua vez, merecia mais ser indicado em Direção por um de seus mais recentes filmes, Tão Forte e Tão Perto. Se fosse para indicar ao Oscar, David Kross, a revelação da película, merecia uma indicação a Melhor Ator Coadjuvante. Ralph Fiennes, apesar do curto desempenho, também poderia estrelar a categoria. A trilha sonora, conduzida por Nico Muhly, também poderia garantir um espaço na premiação. Em relação á Kate Winslet, tudo o que posso afirmar é que sua performance desbravadora como a desolada e culpada Hanna Schmitz foi o que inteiramente salvou o filme. Completamente. 

A satisfação de assistir á O Leitor foi Kate Winslet, felizmente, e um pouco, da direção de Daldry. Apesar de ter merecido uma indicação por Foi Apenas um Sonho, aqui, a atriz também está formalmente excelente. Apenas um erro da Academia desviou sua chance de levar dois Oscars. A atriz, originalmente, deveria ser indicada em Melhor Atriz Coadjuvante por O Leitor, porém, os produtores decidirão substituir Foi Apenas um Sonho, candidatando-a em Melhor Atriz Principal, o que foi um erro desconcertante. Mesmo se indicada em Atriz Coadjuvante, e vencendo, Kate também seria indicada (e em minha opinião, venceria) por Foi Apenas um Sonho. No final, O Leitor, apesar de não ser nem um pouco parecido ás minhas expectativas, foi bom, parcialmente. Para ser sincero, Kate Winslet foi o melhor de tudo em O Leitor, um drama histórico que repete uma fórmula, mas mantém a originalidade de uma comovente e realista obra do cinema.

O Leitor (The Reader)
dir. Stephen Daldry - 

sábado, 20 de dezembro de 2014

Crítica: "AS HORAS" (2002) - ★★★★★


O que mais me fascinou em As Horas é como os detalhes são meticulosamente cuidados por Stephen Daldry, um diretor metódicamente fantástico, cujo trabalho admiro desde Billy Elliot. Apesar de poucos filmes em sua filmografia, Daldry se consagra no universo cinematográfico como um dos maiores diretores do cinema contemporâneo. E As Horas, em minha completa opinião, é seu melhor filme. Protagonizado por um elenco de alta escala, a história avança os mais diferentes ângulos, observa cada personagem de uma maneira arrebatadora. Fiquei sem palavras diante dessa magnânima obra-prima. 

No ano de 2002, outro filme semelhante á As Horas foi lançado. De Almodóvar, Fale com Ela me comoveu substancialmente. Ambos tratam de histórias que acompanham um determinado número de personagens e o desenvolvimento de suas vidas conforme os acontecimentos. Assim ocorre com As Horas. Três mulheres distintas, de diferentes épocas, relacionadas ao clássico romance inglês de Virginia Woolf (também personagem no filme) Mrs. Dalloway. Anos 20. Virginia Woolf, escritora depressiva e melancólica, descontente com sua doença, escreve Mrs. Dalloway. 1951. Laura Brown, dona de casa indecisa sobre sua vida e a família, lê Mrs. Dalloway. Tempos atuais. Clarissa Vaughan, editora de livros conceituada, cuida de um escritor renomado, também seu ex-amante com AIDS. Clarrisa Vaughan vive Mrs. Dalloway. Há uma grande relação entre essas três mulheres. Cada momento reflete, suas vidas são um espelho aberto. Ambas enfrentam as mesmas situações, de diferentes pontos de vista. É assim que Daldry conduz essa jornada espirituosa e emocionante.

A cada novo passo, algo é interrompido. Algo é inventado. Algo acontece. Algo desaparece. A trama de As Horas não gira em torno de apenas um núcleo, mas sim, de núcleos. A trilha sonora, por Philip Glass, autêntica e maravilhosa, dá vida a As Horas. O elenco, indescritível. É claro, em destaque as performances totalmente desoladoras de Nicole Kidman (vencedora do Oscar por uma performance absolutamente impecável), Meryl Streep (atuando fielmente no papel de Clarissa Vaughan) e Julianne Moore (um destaque insubstituível). As três atuam formidavelmente no conflito da trama do filme. O roteiro de David Hare, profundo e marcante. A adaptação do romance de Michael Cunningham (vencedor do Prêmio Pulitzer por este trabalho) é ótima e perfeccionista, realmente, uma obra original e compulsivamente complexa. O filme mantém a fidelidade á obra de Cunningham, e constrói uma memorável película, quão simbólica. Um retrato nunca visto, profundo, que embarca na inspiração dramática de Bergman. As Horas é uma obra-prima belíssima. Um retrato poético e realista da ação do tempo e do ciclo da vida, recheada de uma rara sensibilidade, e uma notória importância cinematográfica.

As Horas (The Hours)
dir. Stephen Daldry - 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Crítica: "IDA" (2014) - ★★★★★


Ao assistir Ida, assisto a uma obra-prima singular do cinema contemporâneo. Não por apenas ser um retrato épico e raramente visto nos últimos tempos, mas por abordar de maneira tão realista e marcante a vida e o cotidiano de uma adolescente de 18 anos, vivendo num convento, e prestes a se tornar uma freira. A madre a obriga a visitar sua única familiar, a tia Wanda. E assim, nossa protagonista inicia uma jornada longa e intensa ao lado da tia, uma juíza temperamental e de meia-idade, que apenas quer viver a vida. O encontro de Ida e sua tia Wanda é algo bem diferente de tudo já visto. Ambas, vivendo em diferentes mundo, tomam a difícil iniciativa de se adaptarem ás condições necessárias para ter uma boa relação.

Filmado em plenos anos 60, Ida é uma história pouco usual, para ser sincero. O drama polonês é exigente, mas ao mesmo tempo, suave. Performances arrebatadoras, e revelações extraordinárias, assim como a jovem interprete de Ida, Agata Trzebuchowska, que também é o grande destaque do filme. Wanda começa a procurar pelo passado de Ida, cuja se atendia por Anna, começando pela morte de seus pais durante a Segunda Guerra Mundial, e no decorrer dessa viagem, as duas percebem que têm algo em comum. Algo a mais do que simplesmente os laços familiares e todas as diferenças que tanto as separam. Há uma conexão especial entre Ida e Wanda. Um selo. Algo que o filme exibe perfeitamente. A trama cuida afavelmente dessa relação humana tão própria entre essas duas mulheres, algo que particularmente, me emocionou em demasia. Ao longo de tal sentimento, me recordei desconhecidamente do clássico polonês, Faca na Água, de Polanski, mesmo sem ter nenhuma possível coincidência em relação á Ida. Percebendo isso, me senti mais confortável e seguro ao ter associado os dois filmes.

Porém, esta grande película, narrada em tão curtos 78 minutos, não se desenvolve apenas em sua história. Seu objetivo é bem maior e mais ambicioso. Por ser uma obra tão independente de efeitos artificiais, Ida consegue convencer o público utilizando pequenos recursos. Recursos que não são tão caros, mas são recursos á altura deste filme. A fotografia preto-e-branco a torna mais viva, e acho que isso foi o que mais me fascinou. Pelo menos, é o que eu realmente acho do filme. Foi uma das obras que mais me agradaram esse ano. Nem mesmo Garota Exemplar, Interstellar ou outros filmes grandiosos tiveram o mesmo impacto deste. 

Um filme sentimental, lento, que busca refletir nas cenas minuciosas do trabalho impecável e árduo que foi fazê-lo, com tanto carinho e esmero. Um retrato absoluto dos limites entre a religião e a sociedade, e as divergências entre estes dois mundos tão próximos, com as mesmas necessidades e as mesmas intenções. Há certos momentos em que nossa protagonista silenciosa reflete sobre essa divergência, e então, percebe sua necessidade de observar o mundo ao redor. Ao final de Ida, a personagem principal, num devaneio surpreendente, se rende aos luxos abstratos que a rodeiam no presente, enquanto ainda tem dúvidas sobre sua religião e seu futuro dentro dela, como freira. Todos nós temos algum tipo de dúvida. Independente das mais diferentes precisões, a dúvida é existente, e persistente. Acredito que esse seja a principal mensagem do filme. Ida realmente me impressionou. Uma obra-prima inteligente, filosófica e belíssima, que busca analisar a vida dos mais diferentes ângulos, das mais diversas posições, dentro desta jornada tão universal, tão viva, tão plausível. Mostra que é preciso aceitar as diferenças para aceitar a vida, dentro das  nossas duas protagonistas: Ida e Wanda. Sem medo, afirmo: um dos melhores filmes produzidos este ano. Pawel Pawlikowski filma uma grandiosa película, e que consagra sua talentosa maturidade cinematográfica. E declaro: a obra mais profunda feita esse ano. Não necessita de tantos artifícios para provocar a solene poesia visual que é.

Ida
dir. Pawel Pawlikowski - 

Crítica: "MAGIA AO LUAR" (2014) - ★★★★


Woody Allen é um dos cineastas mais ativos do cinema. Dirige e escreve um filme a cada ano, sem exceções. Ano passado, fui presenteado com a magnânima obra-prima Blue Jasmine, que deu o Oscar a Cate Blanchett. Este ano, Woody lança Magia ao Luar. Não é a primeira vez que Woody aborda o mesmo assunto. A magia já foi tema deste gracioso cético. Em 2001, a comédia O Escorpião de Jade, estrelada por Helen Hunt, e também por Woody Allen - em uma de suas últimas performances no cinema - Em 2006, em sua segunda parceria com Scarlett Johansson, antecedida pelo genial Match Point, Woody Allen filmou Scoop, que também contou com Hugh Jackman. E mais atualmente, em 2011, Woody dirigiu e escreveu uma de suas melhores obras: Meia-Noite em Paris, que me deixou completamente extasiado. Me apaixonei pela direção, pelo roteiro, e pelo elenco fumegante, comandado pelo protagonista Owen Wilson. E este ano, o diretor voltou a encenar o assunto do qual ele tanto teme, protesta e retrata: a magia. Não é preciso ser um grande admirador de sua obra para saber o seu ateísmo. Com o significativo avanço do tempo, Woody passou a investigar o assunto regularmente em suas tramas. Aqui, confesso: vi um Woody Allen espirituoso que nunca tinha visto. Ele trata do assunto de uma maneira tão complexa, e em algumas partes, isso me assustou. Em Magia ao Luar, é impossível não ser fisgado pelo romantismo dele.

Não me surpreendi por me lembrar tão intensamente de um de seus melhores filmes: Tiros na Broadway. Narrado nos anos 20, o filme conta a história de Stanley, um mágico que se apresenta nos mais diversos teatros ao longo do mundo, de fama maior. Porém, apesar de sua genialidade, Stanley é um homem frio, calculista, omisso, orgulhoso e perfeccionista. Quando é convidado para desmascarar uma jovem, Stanley se vê numa situação da qual nunca havia imaginado: a tal "farsante" se revela nem tão "farsante". Quanto mais as tentativas de Stanley para desmascarar a jovem aumentam, mais ele cria uma conexão com ela. É mais um dos filmes rítmicos de Woody Allen, nos estilos de comédia-romântica-de-uma-hora-e-meia que tanto me fazem admirar seu trabalho. E aqui não foi diferente. Confesso: o roteiro não é um dos melhores. Podia ter sido algo bem melhor, porém, não deixa de ser um filme cujo simbolismo ganha fácil nossa confiança.

Protagonizado por Colin Firth e Emma Stone, Magia ao Luar tenta repetir a mesma fórmula de Meia-Noite em Paris, mas falha, infelizmente. Ambientado na França, década de 20, o roteiro não é idêntico ao do interior por tratar de uma história nitidamente diferente, mas há semelhanças próprias entre a grande obra-prima do diretor e seu mais novo filme nem tão grande assim. Apesar de tudo, é um filme maravilhoso, cujo fiquei encantado. O roteiro de Woody é inteligente, usa elementos característicos e formais. Porém, é consideravelmente clichê. O que foi visto em sua última grande película também é visto aqui, mas de uma forma mais rápida e insatisfatória. O elenco, sublime. A trilha sonora, enfeitada pelo jazz clássico do qual eu tanto admiro. O figurino, peças elegantíssimas e artísticas, feitas pela grande figurinista espanhola Sonia Grande, que conheci em Volver, de Almodóvar, e que também participou de Meia-Noite em Paris. Apesar das críticas que veio recebendo, e de uma recepção pouco estável, eu gostei de Magia ao Luar. Gostei da filosofia que acompanha o filme. "A filosofia de Woody Allen", gostaria de chamar. A filosofia que acredita que é preciso sobreviver no mundo através da ilusão, fugir da inevitável realidade da vida, aceitar tudo como é, e viver o tempo que resta. 

Nos últimos tempos, vi um Woody Allen mais vivaz, do que o Woody Allen que vi nos anos 80/90. Vi um Woody Allen mais humano, mais simpático. E desse mestre do cinema, eu nunca me canso. Magia ao Luar trata desta questão. Trata da vida, da morte, da alma, da ilusão e do amor. E isso é o que mais me comoveu aqui. Ver esse Woody Allen mais otimista, fazendo finais felizes que não pude ver em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa quanto menos em Manhattan ou A Rosa Púrpura do Cairo. Esse Woody, apesar de não ser o clássico Woody, é o Woody que eu quero ver em mais filmes. E é isso que o torna imortal e único, e o faz um mestre incomparável. Magia ao Luar é recheado de momentos bons, apesar de não conseguir se consagrar como a expectativa vende, é constantemente uma doce comédia romântica plausível.

Magia ao Luar (Magic in the Moonlight)
dir. Woody Allen - ★★

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Crítica: "DOIS DIAS, UMA NOITE" (2014) - ★★★★★


Os irmãos Dardenne são famosos por seus filmes cujas observações se demonstram lentas e orgânicas. Em Dois Dias, Uma Noite, não foi diferente, porém, os dois diretores belgas, diferentemente de seus outros filmes, concluíram desta vez um longa virtuoso focado na crise econômica que afetou a Europa inteira através de uma história individual, lançando Dois Dias, Uma Noite em maio desse ano no Festival de Cannes. Em 2011, ao assistir a O Garoto da Bicicleta, realmente me surpreendi com os Irmãos Dardenne, apesar de ter assistido a outros grandes filmes, como O Filho e A Criança, e por ter reconhecido o talento dos dois diretores que há tanto tempo não se via. O que realmente me levou a assistir a este filme foi, confesso, a performance de Marion Cottilard. A francesa veio me surpreendendo nos últimos tempos, e sua parceria com os aclamados Irmãos Dardenne funcionou, como eu tanto expectava. 

No longa, Marion Cottilard interpreta Sandra, uma mulher curada da depressão, que acaba por descobrir que seus colegas decidiram aceitar um bônus no lugar de sua vaga na fábrica. Encorajada por seu marido, Sandra decide procurar todos os colegas que votaram contra sua vaga e tentar mudar a escolha deles. E assim, nossa protagonista usual inicia sua jornada. Uma mulher abalada, iludida, triste, melancólica e calma. Alguns dos objetivos que caracterizam Sandra, que tinha tudo para ser clichê. Mas Marion Cottilard provou que é uma das únicas atrizes que conseguem reverter a história num simples piscar de olhos. Em relação à performance de Marion Cottilard, descrever simplesmente com palavras seria uma tarefa incondicionalmente impossível. Enquanto maneja com habilidade e sutileza, ao mesmo tempo, se nota um anseio por respostas na face de nossa protagonista. 

O filme, inevitavelmente, é sustentado por uma moral: Para se conseguir algo nesse mundo, é preciso batalhar. Usar suas melhores armas, desfrutar dos truques, inventar armadilhas, a sobrevivência não é fácil de se conquistar, mas é preciso batalhar por algo. O mundo é feito disso. Feito de batalhas, desafios que nos fazem refletir, e alcançar nossos objetivos é o maior triunfo. Ás vezes, é preciso derrotar e ser derrotado. É preciso aceitar o destino, e aceitar a sorte como defesa. O mundo é um lugar predatório. É necessário lutar por algo. Sempre. Entendo que essa moral pode até forçar um pouco, como já citei antes, mas ela é algo que sustenta Sandra a todo o tempo, e não falar dessa singular característica ao comentar o filme seria bem incomunicativo. É a grande luta do ser por reconhecimento, tempo e vida. Senão, nós seremos o nada. A trilha operária é governada por uma insistente exigência e dedicação. Tudo conta dentro dela.

Outra coisa interessante em Dois Dias, Uma Noite é a interessante proposta que os Dardenne nos introduz. Enquanto estamos ao lado de Sandra quase todo o tempo de filme, apoiando-a sem cessar na sua missão de conseguir, num fim de semana, retomar seu emprego depois da ausência e evitar que os colegas recebam o bônus, também ficamos divididos quando entramos em contato com as situações atravessadas pelos amigos da Sandra, alguns deles num estado pior que o dela. Aí é que nos damos conta dessa duplicidade que a história encarna, voluntariamente para a nossa compreensão de que poderíamos estar tanto no lugar da Sandra quanto no lugar no receptor do bônus, e defenderíamos de forma igualitária ambas as situações. É meio emblemático. Por exemplo, o cara do futebol, que chega desesperado para a Sandra quando é recebido por ela no campo, entrega sem pestanejar o voto para ela. Ao contrário do cara fechado, que agrede ela, que talvez não queria dar o bônus por simplesmente não querer mesmo. Mas tem gente que também não abre mão da oportunidade por conta da família, ou de outro grupo em que está envolvido, mas não apenas por vontade pessoal, como a Juliette, que, depois de falar para Sandra, insistente, que iria dar o voto para ela na segunda, é recebida com gritos pelo namorado, dentro de casa, reclamando da escolha. Não é possível negar identificação em cada uma das situações. Afinal, é a reação de cada um. Poderia ser a minha, a sua, a dele, a nossa reação à essa proposta. É uma qualidade que faz de Dois Dias, Uma Noite, um trabalho interessante e devidamente rico: a flexibilidade. É um abraço e um tapa na cara ao mesmo tempo.

Para deixar esse retrato ainda mais realista e vivo, os diretores vetam a existência de qualquer alternativa comunal, que serviria de base para uma reviravolta quente e pretensiosa, fervilhada por segundas intenções. É uma escolha bastante inteligente deles. Você pode ver que Sandra, em nenhum momento, incita sexo, chantagem ou qualquer outro método para obter fácil, e forçadamente, o apoio do pessoal. Ela chega e sai humilde. Se ela conseguiu, parabéns. E se não, coitada. Eu também acho que não seria muito favorável colocar a pobrezinha vulnerável à esses atalhos carregando tantos problemas nas costas, como a depressão e o nervosismo de ter apenas dois dias à frente para retomar seu lugar. Acredito que o filme nem faria tanto sentido caso tal inclusão fosse concordada. Quero dizer, para o objetivo de Jean-Pierre e Luc, aqui fazer deste filme algo monumental, nu e cru, isso certamente não teria cabimento. Afinal, na vida real, a que nós enfrentamos, não é muito usual ver gente se prostituindo, chantageando a outra ou se vendendo para acertar seu alvo. Ninguém, caso fosse personagem de novela, faria isso ainda mais nessa situação, tratando-se de colegas de trabalho, praticamente no mesmo barco que você. Trata-se da maneira mais eficiente possível de mantar o clima, a imprevisibilidade dos eventos.

Mais uma vez, os Irmãos Dardenne filmam um drama humano impecável e altruísta. Um filme que busca aprofundar a análise do comportamento humano, com um toque marcante e uma influência digna de Bergman (em alguns aspectos, mas não geralmente). Diante de tal situação, Sandra se desola e ignora até o próprio marido, sinais do ressurgimento da depressão, que vai lutando contra ela mesma, e ela vê que não consegue reagir de maneira completamente racional diante de tais ataques, e isso gera uma enorme confusão em sua cabeça. Nunca vi o desespero de uma forma tão caracterizada em um filme dos Irmãos Dardenne (senão em O Silêncio de Lorna ou A Criança, uma vez que conferi poucos títulos da filmografia dos diretores) num filme cuja principal intenção é intensificar nossa torcida pela vitória incerta de Sandra. Aqui, o roteiro se centraliza em pequenos detalhes propagados pela trama. Este é outro filme que necessita de cuidados especiais por narrar algo tão especificamente delicado. Necessita ser visto por quem entenda de verdade todo o processo atrás dele, ou caso contrário, seu resultado não será identificado. Alguns o acharão chato pela falta de conteúdo e pela lentidão. Quem não está acostumado com as obras dos Irmãos Dardenne, nem se aproxime de Dois Dias, Uma Noite. Um dos filmes mais memoráveis do ano, protagonizado por uma dama do cinema francês, dirigido por dois mestres do cinema contemporâneo e da sétima arte. Me arrisco: este é um dos melhores filmes do ano, e um dos retratos mais originais já feitos por esses gênios, cujo estilo documental ganhou totalmente minha aprovação, e em pouquíssimo tempo.

Dois Dias, Uma Noite (Deux Jours, Une Nuit)
dir. Jean-Pierre Dardenne & Luc Dardenne - 

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Crítica: "DEUS DA CARNIFICINA" (2011) - ★★★★★


Confesso: até agora, nunca me surpreendi tanto com uma adaptação cinematográfica (desde Onde os Fracos Não Tem Vez e Dúvida, apenas para citar exemplos), principalmente quando essa adaptação vem da premiada peça Deus da Carnificina, da dramaturga francesa Yasmina Reza. E apenas a visão incondicional de Roman Polanski poderia adaptar a peça para uma versão cinematográfica, que é exclusivamente fantástica. Deus da Carnificina trata-se de uma eficiente, cômica, feroz e meticulosa narrativa sensata e cheia de pontos altos. 

Não trata-se apenas de 79 minutos. Trata-se de uma comédia dramática recheada com os detalhes do cotidiano fatídico e às vezes, inusual e divertido. Talvez, essas características dão a Deus da Carnificina um gostinho teatral, que o faz mais aproximado da fidelidade ao original, mas isso não significa que o filme não deixe de ser uma experiência consagrada quanto a sua estrutura cinematográfica e sua transformação em um conteúdo filmado. Dois casais firmam uma reunião para conversar sobre o recente episódio violento do qual seus dois filhos protagonizaram. Após uma briga na escola, em que um dos filhos foi espancado pelo outro, esses dois casais se unem para falar sobre o acontecimento, e o que acontece vai bem além do planejado. Com um elenco pequeno, mas intenso, contamos com as performances das protagonistas femininas: Kate Winslet e Jodie Foster, ambas mulheres que apenas querem se concentrar nos objetivos e encerrar da melhor maneira a situação da qual atravessam; e do outro lado, os protagonistas masculinos: Christoph Waltz e John C. Reilly, dois homens enfocados no trabalho, despreocupados, irônicos e prepotentes que se julgam mais hábeis em condenar posturas do que as esposas (fetiche machista proposital do enredo). A principal semelhança entre estes dois casais é a presença inevitável da crise, aqui retratada com sensibilidade por Polanski.

A cada cena, os casais vão se isolando um dos outros, gerando problemas em cima do atual problema. É como se surgissem novas barreiras dentro das já existentes, e isso gerasse uma enorme confusão, mas uma confusão que, embora brusca, faz o público rir e hilariar-se. Porém, há ainda algo mais subversivo, antecipado, ambicioso da parte de Roman. A adaptação deste premiado ícone da dramaturgia também exibido no Brasil (com Julia Lemmertz, Paulo Betti e Deborah Evelyn, cuja eu aplaudi incansavelmente) não poderia apenas se suceder entre cenas desanimadas de diálogo, que não cabe bem nesse ponto onde a trama avança. E é nessa exata parte onde o conflito se desenvolve. O filme exige mais do diálogo, algo que é usualmente visto, mas sem sucesso em filmes que fracamente tentam elaborar engenhosas situações utilizando-se de falas, muitas vezes sem mesmo usufruir do não-verbal. Aqui, Polanski faz diferente, e de uma forma absolutamente nova e profunda. Kate e Jodie, Christoph e John. Os quatro, no set de filmagens, com os textos decorados, atuam as cenas cordialmente projetadas desta película, todos tão bem enfocados que é quase como - mesmo - ver uma peça, como dito, o que torna Deus da Carnificina uma experiência sobrenatural. De fato, é um filme sentimental, e que ainda busca analisar a expressividade do ser (absolutamente genial) com tamanha proficiência que é indiscutível aqui criticar. Há um humor negro na sucessão e na ordem dos acontecimentos, e isso é o que torna o filme interessante. Cenas que constroem um impacto bem diferente de outras comédias. 

E por isso, a magnum opus de Yasmina Reza não poderia ser melhor, na adaptação por um gênio tão qualificado quanto a ela. A desconstrução dos personagens é extrema, e ao mesmo tempo, virtuosa de se ver. É algo raro, mas ao mesmo tempo, soa o mais possível parecido com uma possível realidade. É assim que Polanski, mais uma vez, assina uma obra-prima autêntica, maravilhosa, dedicada, potente, impecável, e é claro, com o rótulo da percepção aguçada, já vista em O PianistaChinatown, dentre outros mais, e que agora é demonstrada a todo vapor neste brilhante presente do cinema contemporâneo. Um retrato mais que realista do comportamento humano ao lado da sociedade abusiva e eloquente, que anseia por um sentimentalismo, que só é visto aos olhos da beleza e do concreto: (concluindo) um retrato extremamente belíssimo do conflito humano. Só que aqui, o que poderia soar de repente demais filosófico ou inteiramente sério, torna-se pura comédia, o que o faz tão genial. Sublime obra de arte!

Deus da Carnificina (Carnage)
dir. Roman Polanski - 

Crítica: "PRAIA DO FUTURO" (2014) - ★★★


Apesar de se tratar de uma obra repleta de sentimentalismo envolta de um manto universal, a história não surpreende tanto. Na Praia do Futuro, em Fortaleza, Donato (interpretado por Wagner Moura) é um salva-vidas que após salvar um motociclista alemão de um afogamento, se apaixona por ele e se muda para Berlim, deixando tudo para trás.

O resultado é efusivamente relutante. Através de diálogos misturados entre o português e o alemão, o filme se desenrola de maneira confusa e extremamente abstrata. Mas não deixa que o filme trate-se de uma reflexão altruísta e original. O filme pode dar essa imagem, mas de fato, o principal ponto do filme não é a homossexualidade, mas a intensa desconstrução da sociedade opressiva. Nossos dois personagens estão reprimidos pela raiva, pelo poder, pelo desejo e pelo amor, mas não conseguem organizar seus sentimentos num único lugar. O filme de Ainouz é classificado como um filme materialista, que na realidade, apenas inventa o contraste entre a homossexualidade e a realidade. O roteiro também ocasiona a fantasia da vida, mas de uma forma exclusivamente temporária, a ponto de que seja imperceptível. Esse é o adjetivo que designa autoritariamente Praia do Futuro: imperceptível. Uma película que nem todos irão concordar, ou "simpatizar", mas é uma obra precisa e onipotente.

Neste ano, dois filmes consideravelmente gays se destacaram no mercado cinematográfico: o elusivo e artístico Praia do Futuro, e o inventivo e inteligente Hoje Eu Quero Voltar Sozinho. A principal diferença entre os dois é a maneira de como as histórias são contadas. Em Praia do Futuro, a trama é indiretamente relacionada á homossexualidade, enquanto no outro, a trama se dirige ao preconceito diante da homossexualidade. São duas formas bem distintas de se narrar sobre o assunto, no entanto, não muda o conteúdo do filme. Em Praia do Futuro, há um certo teor explícito, mas não há nada de polêmico. Não sei bem por que, mas me lembrei, ao final dos poucos 100 minutos, de um filme de Almodóvar, que especificamente, trata da homossexualidade de maneira dramática e genial. Má Educação não é um dos melhores dirigidos por Almodóvar, mas traz bem resolvido esse tema. E como não há nenhuma relação existente entre os dois filmes, não vi o por que de lembrar, mas foi bem lembrado. Uma das polêmicas, no entanto, envolvendo Praia do Futuro aconteceu na rede de cinemas Cinépolis, que frequentemente, passou a notificar previamente os espectadores que entravam nas salas de exibições, carimbando nos tíquetes a seguinte mensagem: "AVISADO", cuja foi errôneamente (ou não) relacionada ás (um tanto exageradas e predatórias)  cenas de sexo homossexual entre o personagem de Wagner Moura e o alemão Clemens Schick. E a minha conclusão não deixa de ser positiva. A lentidão do filme e suas passagens calmas e silenciosas me deram uma relatividade enorme, e com isso, pude observar o enorme retrato que Karim Ainouz, novamente fez, apesar de estar reusando uma técnica utilizada previamente em outros filmes, mas que não deixa de ser interessante e cautelosamente visionária.

Praia do Futuro
dir. Karim Ainouz - 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Parabéns, WOODY ALLEN!



Como me apaixonei instantaneamente pelos filmes de Woody Allen? Como sua transbordante genialidade me levou para um universo, até ali, desconhecido para mim? Será que a boêmia espetacular e o romance iludido de "Meia-Noite em Paris", pela primeira vez, traduziram todo o seu estilo? Ou talvez, a particularidade sensual e monótona de "Vicky Cristina Barcelona" trouxeram o mais autêntico e desinibido do diretor? Ou "Match Point", que trazia consigo uma história de amor, traição e crime, impossivelmente cinematográfica. Quais são os poderes de Woody Allen para levar o público a histórias de mundos tão peculiares, pouco vistas na carreira de qualquer outro cineasta? É isso que especialmente me atrai na estrutura de suas obras-primas. Silenciosas, geniais, coloridas, engraçadas, visuais, barrocas. Quem nunca se deparou com um neurótico protagonista de Woody Allen, e mais especificamente, quem não se recorda de Alvy Singer em "Annie Hall"? Alguns poderão se lembrar de outros personagens do diretor (alguns protagonizados por ele), Milos Monroe, Annie Hall, Cecilia, Mickey, Hannah, Gill, Danny Rose, Harry, Helen Sinclair, Gabe & Judy Roth, Alice, Judah Rosenthal, Cliff Stern, entre outros (citei alguns dos mais memoráveis). Suas criações são sempre cheias de um teor filosófico que aproxima o foco das relações humanas com o conflito. Nem sempre, suas obras vem, mas contém uma influência de Ingmar Bergman e Federico Fellini, o que demonstra o talento de Woody para equilibrar uma comédia e um drama. "Blue Jasmine", lançado no ano passado, mostra uma das personagens mais sensatas e originais do diretor: uma dona de casa falida, neurótica, problemática, desiludida, nervosa e intrigante que busca reconstruir uma vida, da qual antigamente, era totalmente falsa. Dentro desse filme, eu revelo que nunca vi um Woody Allen sendo mais Woody Allen: buscando o profundo de seus personagens, relacionando conflitos, causando crises, criando finais mais absolutos e o uso inevitável de flashbacks. É possível afirmar que esse gênio é quase um gênero de cinema. Hoje, meu ídolo, um grande herói das comédias, completa 79 anos. Tenho uma grande razão para chamá-lo de herói: Woody Allen conseguiu comover a platéia nos últimos 48 anos sem nenhuma falha possível. Os risos e os choros de quem assiste é provocado pela mente usual e valente de Woody, que escreve magnificamente cada roteiro de seus filmes, sem deixar escapar nenhum elemento. Bem possível é dizer: quem não queria ser um personagem de Woody Allen? Viver na grande Nova York, ou então entrar no tempo e voltar na década de 20 em Paris, a belíssima cidade-luz? Quem não queria viver uma história de Woody Allen? É aqui que então, declaro meu amor á Woody, um gênio do cinema, do qual sou um grande fã, e revelo meu anseio em viver uma de suas mil histórias! Parabéns, Woody. Aqui vai minha homenagem.
“Capítulo 1. Ele adorava a cidade de Nova York. Ele a idolatrava de maneira fora de proporção. Hã, não, ele a romantizava de maneira fora de proporção. Melhor. Para ele, não importava qual fosse a estação, aquela era uma cidade que existia em preto e branco e pulsava às grandes melodias de George Gershwin. Ah, não, vamos começar de novo."
– “Capítulo 1. Ele via Manhattan de uma forma romântica demais, como ele fazia com tudo o mais. Adorava o ruído das multidões e do tráfego. Para ele, Nova York significava belas mulheres e sujeitos da rua espertos que pareciam conhecer todos os ângulos. Ah, está piegas, piegas demais para o meu gosto. Vamos tentar fazer ficar mais profundo."
– “Capítulo 1. Ele adorava a cidade de Nova York. Para ele, era a metáfora da decadência da cultura contemporânea. A mesma falta de integridade individual que levava tantas pessoas a escolher a saída mais fácil estava transformando a cidade de seus sonhos em… Não, está com tom de pregação, e eu quero que o livro venda."
(Texto inicial de MANHATTAN, 1979 - dirigido por Woody Allen)


escrito por Luca Augusto