Woody Allen é um dos cineastas mais ativos do cinema. Dirige e escreve um filme a cada ano, sem exceções. Ano passado, fui presenteado com a magnânima obra-prima Blue Jasmine, que deu o Oscar a Cate Blanchett. Este ano, Woody lança Magia ao Luar. Não é a primeira vez que Woody aborda o mesmo assunto. A magia já foi tema deste gracioso cético. Em 2001, a comédia O Escorpião de Jade, estrelada por Helen Hunt, e também por Woody Allen - em uma de suas últimas performances no cinema - Em 2006, em sua segunda parceria com Scarlett Johansson, antecedida pelo genial Match Point, Woody Allen filmou Scoop, que também contou com Hugh Jackman. E mais atualmente, em 2011, Woody dirigiu e escreveu uma de suas melhores obras: Meia-Noite em Paris, que me deixou completamente extasiado. Me apaixonei pela direção, pelo roteiro, e pelo elenco fumegante, comandado pelo protagonista Owen Wilson. E este ano, o diretor voltou a encenar o assunto do qual ele tanto teme, protesta e retrata: a magia. Não é preciso ser um grande admirador de sua obra para saber o seu ateísmo. Com o significativo avanço do tempo, Woody passou a investigar o assunto regularmente em suas tramas. Aqui, confesso: vi um Woody Allen espirituoso que nunca tinha visto. Ele trata do assunto de uma maneira tão complexa, e em algumas partes, isso me assustou. Em Magia ao Luar, é impossível não ser fisgado pelo romantismo dele.
Não me surpreendi por me lembrar tão intensamente de um de seus melhores filmes: Tiros na Broadway. Narrado nos anos 20, o filme conta a história de Stanley, um mágico que se apresenta nos mais diversos teatros ao longo do mundo, de fama maior. Porém, apesar de sua genialidade, Stanley é um homem frio, calculista, omisso, orgulhoso e perfeccionista. Quando é convidado para desmascarar uma jovem, Stanley se vê numa situação da qual nunca havia imaginado: a tal "farsante" se revela nem tão "farsante". Quanto mais as tentativas de Stanley para desmascarar a jovem aumentam, mais ele cria uma conexão com ela. É mais um dos filmes rítmicos de Woody Allen, nos estilos de comédia-romântica-de-uma-hora-e-meia que tanto me fazem admirar seu trabalho. E aqui não foi diferente. Confesso: o roteiro não é um dos melhores. Podia ter sido algo bem melhor, porém, não deixa de ser um filme cujo simbolismo ganha fácil nossa confiança.
Protagonizado por Colin Firth e Emma Stone, Magia ao Luar tenta repetir a mesma fórmula de Meia-Noite em Paris, mas falha, infelizmente. Ambientado na França, década de 20, o roteiro não é idêntico ao do interior por tratar de uma história nitidamente diferente, mas há semelhanças próprias entre a grande obra-prima do diretor e seu mais novo filme nem tão grande assim. Apesar de tudo, é um filme maravilhoso, cujo fiquei encantado. O roteiro de Woody é inteligente, usa elementos característicos e formais. Porém, é consideravelmente clichê. O que foi visto em sua última grande película também é visto aqui, mas de uma forma mais rápida e insatisfatória. O elenco, sublime. A trilha sonora, enfeitada pelo jazz clássico do qual eu tanto admiro. O figurino, peças elegantíssimas e artísticas, feitas pela grande figurinista espanhola Sonia Grande, que conheci em Volver, de Almodóvar, e que também participou de Meia-Noite em Paris. Apesar das críticas que veio recebendo, e de uma recepção pouco estável, eu gostei de Magia ao Luar. Gostei da filosofia que acompanha o filme. "A filosofia de Woody Allen", gostaria de chamar. A filosofia que acredita que é preciso sobreviver no mundo através da ilusão, fugir da inevitável realidade da vida, aceitar tudo como é, e viver o tempo que resta.
Nos últimos tempos, vi um Woody Allen mais vivaz, do que o Woody Allen que vi nos anos 80/90. Vi um Woody Allen mais humano, mais simpático. E desse mestre do cinema, eu nunca me canso. Magia ao Luar trata desta questão. Trata da vida, da morte, da alma, da ilusão e do amor. E isso é o que mais me comoveu aqui. Ver esse Woody Allen mais otimista, fazendo finais felizes que não pude ver em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa quanto menos em Manhattan ou A Rosa Púrpura do Cairo. Esse Woody, apesar de não ser o clássico Woody, é o Woody que eu quero ver em mais filmes. E é isso que o torna imortal e único, e o faz um mestre incomparável. Magia ao Luar é recheado de momentos bons, apesar de não conseguir se consagrar como a expectativa vende, é constantemente uma doce comédia romântica plausível.
Magia ao Luar (Magic in the Moonlight)
dir. Woody Allen - ★★★★
Magia ao Luar (Magic in the Moonlight)
dir. Woody Allen - ★★★★
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