sábado, 27 de janeiro de 2018

VISAGES VILLAGES (2017)


Acho que nem dá pra fazer uma crítica de algo tão especial assim porque na verdade não há nada o que criticar, o filme consegue ser tão perfeito na sua premissa modesta e acomodada que a gente não consegue encontrar motivos para não se deliciar ou não admirar tamanha obra, que pode (e deve) ser considerada até um presente da mãe da nouvelle vague Agnès Varda, acompanhado de um artista chamado JR que serve de guia para suas novas aventuras pela França. E este trabalho trata-se, basicamente, de rostos e lugares, como seu título sugere – e, particularmente, as histórias que cada rosto e cada lugar tem pra contar, e o fascínio que daí surge e serve de material para essa obra cinematográfica que se esforça em eternizar o efêmero, em não criar limites para uma arte que está impressa nos rostos e nos lugares que conhecemos, que encontramos e que enfim contemplamos.

Há algo de extremamente belo na inventividade da dupla de diretores – ela, uma veterana do cinema, ele, um artista pouco conhecido – em canalizar uma sensibilidade tão apurada e conferir olhar tão precioso na simplicidade do seu longa, nos objetivos modestos que acabam se metamorfoseando em observações tenazes sobre a vida humana através do tempo e também nas funções da imagem, na sensibilidade da imagem, essa dimensão tão bem estudada pelos dois mesmo que num estudo tão informal, entre lugares e rostos. A arte é tão natural quanto um olhar, quanto uma imagem. 

Varda prova que ainda tem disposição. JR é uma espécie de assistente, não um substituto ou sucessor ou coisa do gênero, mas ele também possui crédito dessa criação. Ambos, são apaixonados pela imagem. Renomados pela arte. Buscam o sublime. E fazem uma jornada pela França para fotografar rostos e colá-los em dimensões maiores em lugares, paredes, prédios, objetos, casas, muros, espalhando um pouco dessa arte meio "espontânea" – natural – pelo interior francês. É a arte daquilo que ultrapassa a imagem, do poder que as coisas possuem de ultrapassar as barreiras, as superfícies, e aprofundar, reinserir, ressignificar, inteirar, preencher, contar. 

É um filme que maravilhou de tal maneira, na forma como ele segue seus objetivos de maneira simplista e ainda sim com uma dedicação totalmente absorta, em respeito ao que essa arte materializa (e não materializa) que eu só consigo assistir totalmente deliciado pela proposta e seguindo essa jornada encantadora, de imagens honestas e poderosas, e os rostos que estão ali para contar as suas histórias, para deixar uma marca no tempo, para eternizar os lugares onde passaram, e espalhar o que há de mais sagrado e humano pelo mundo. Se isso não é filme de verdade, eu não sei mais o que é então.

Visages Villages
dir. Agnès Varda & JR
★★★★½

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Novos filmes na BERLINALE 2018


Mais cinco filmes foram anunciados na competição do Festival de Berlim 2018. Aí estão eles:

7 Days in Entebbe
dir. José Padilha

Ága
dir. Milko Lazarov

Season of the Devil
dir. Lav Diaz

Museum
dir. Alonso Ruizpalacios

Unsane
dir. Steven Soderbergh

COMPETIÇÃO COMPLETA (E ATUALIZADA)

3 Days in Quiberon – dir. Emily Atef
7 Days in Entebbe – dir. José Padilha
Ága – dir. Milko Lazarov
Black 47 – dir. Lance Daly
Damsel – dir. David & Nathan Zellner
Don't Worry, He Won't Get Far on Foot – dir. Gus Van Sant
Dovlatov – dir. Alexey German Jr.
Eldorado – dir. Markus Imhoof 
Eva – dir. Benoît Jacquot
Daughter of Mine – dir. Laura Bispuri
In the Aisles – dir. Thomas Stuber
Isle of Dogs – dir. Wes Anderson
The Heiresses – dir. Marcelo Martinessi
Mein Bruder heißt Robert und ist ein Idiot – dir. Philip Gröning
Mug – dir. Małgorzata Szumowska
Museum – dir. Alonso Ruizpalacios
Pig – dir. Mani Haghighi
Season of the Devil – dir. Lav Diaz
The Prayer – dir. Cédric Kahn
The Real Estate – dir. Måns Månsson
Touch Me Not – dir. Adina Pintilie
Transit – dir. Christian Petzold
Unsane – dir. Steven Soderbergh

Ao todo, são 23 filmes na competição do festival desse ano.

domingo, 21 de janeiro de 2018

Apostas finais ao SAG 2018


Minhas apostas de última hora para o SAG 2018. Vou dar apenas 3 apostas por categoria.

ELENCO

1. Três Anúncios para um Crime
2. Corra!
3. Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi

MELHOR ATRIZ

1. Frances McDormand
2. Sally Hawkins
3. Saoirse Ronan

MELHOR ATOR

1. Gary Oldman
2. Timothée Chalamet
3. Daniel Kaluuya

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

1. Allison Janney
2. Laurie Metcalf
3. Mary J. Blige

MELHOR ATOR COADJUVANTE

1. Sam Rockwell
2. Willem Dafoe
3. Richard Jenkins

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

VIVA – A VIDA É UMA FESTA (2017)


Creio que não restam dúvidas de que a Pixar é a produtora de animações de maior renome dos últimos tempos (pelo menos mundialmente falando, eu acho) superando até mesmo a própria produtora da Walt Disney, ainda que as duas sejam detentoras de algumas das obras de animação mais famosas, aclamadas e vistas dessa década. Viva – A Vida é uma Festa é, primeiro de tudo, uma grata surpresa. Talvez porque represente que a Pixar ainda está em ótima forma, talvez porque é ele próprio um trabalho um pouco distinto do body of work da produtora ainda que respeite muito as tendências cinematográficas do pessoal, mas até na questão de uma certa ousadia em envolver temáticas mais adultas em um universo mais infantilizado, embora eu ache que o filme mesmo vá ter uma impressão maior nos adultos do que nas crianças.

Acho que existe pelo menos dois pontos do filme que merecem uma relevação: a construção narrativa (o que inclui a estruturação dos dois universos pelo qual o filme transita, literalmente falando, a conceitualização do mundo dos mortos e dos vivos, envolvendo questões como memória, afeto, representatividade, hierarquia familiar, divisão de classes, o papel e a influência da arte dentro de uma cultura e suas raízes étnicas – e todo o histórico que reside aí – entre outros aspectos que estão fabulosamente trabalhados nessa alegoria meio musicalizada e repleta de cores que encontra justamente na cultura mexicana uma fonte interminável de inspiração para o que essa história – por mais americana que a sua narrativa possa soar, até mesmo nas perceptíveis concepções quase estereotipadas de uma realidade cultural distinta, tão cabíveis quando gringo decide filmar uma historinha sobre outro gringo – retrata e captura. 

Digam o que quiser, mas eu fiquei muito emocionado. De verdade. Foi minha primeira sessão do ano e já é a mais marcante, por uma série de fatores, incluindo que o filme me emocionou de tal forma que eu estava parecendo uma criança, encantado com todo aquele arsenal de cores e os personagens, como se eu nunca tivesse visto aquilo antes. Então, sim, Viva mexeu profundamente comigo, e em certos momentos não pude conter as lágrimas (e olha que pra mim chorar no cinema, em público, é uma coisa muito rara de acontecer).

O meu veredito é: pra quem quiser (ou souber) embarcar na viagem, o filme será maravilhoso. E pra quem quiser se apegar aos "blá-blá-blás" da manipulação sentimental e dos clichês, o filme terá problemas bem evidentes. Mas não deixa de ser um ótimo exemplar dos filmes da Pixar, e que tem uma força afetiva enorme mesmo. É de chorar, inclusive. A canção "Remember Me", que deve ir para o Oscar, é encantadora e dá calafrios.

Trata-se do conto de um menino que sonha com a música e cuja família é, na verdade, totalmente aversa à isso (por conta de um membro da família que, no passado, largou uma antecessora para se dedicar à música e nunca mais voltou). Disposto a seguir seu sonho, ele parte em uma jornada de redescoberta familiar no mundo dos mortos. E a premissa, em sua concepção, é bem mais fabulosa do que pode soar à primeira vista. Pode me chamar de emotivo, mas eu achei isso aqui muito bonito. E ver no cinema é um deleite espetacular. Repleto de vários momentos bem musicais, no sentido mais rítmico da palavra, e uma mensagem linda. Te faz celebrar o cinema e a arte com a alegria mais infantil.

Viva – A Vida é uma Festa (Coco)
dir. Lee Unkrich & Adrian Molina (co-diretor)
★★★★

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

RODA GIGANTE (2017)


Se nos últimos anos Woody Allen tem ficado mais reservado à sua "zona de conforto", sempre revisitando velhas temáticas e fórmulas, mas gerando resultados até positivos e com suas parcelas de acertos, que se sucedem nessa linha de tramas e personagens que parecem pertencer a um mesmo universo. Se alguns enxergam esse retorno como uma mera preguiça, os exercícios de Allen em revisitar esse universo e tentar aprofundar ainda mais personagens que são tão conhecidas da sua obra, vez ou outra geram um resultado que acaba surpreendendo pelos pequenos toques de originalidade que surgem nas arestas, como pequenos milagres do cinema.

É aí que entra Roda Gigante, o mais novo filme do nova-iorquino (seu 47º longa), que é um exemplar muito bem-feito dessa nova fase "digital" da carreira de Woody que começou recentemente em 2016 com o belíssimo Café Society, que me deixou nas nuvens. A partir desse filme, Allen aderiu à fotografia digital com o auxílio do sempre magistral Vittorio Storaro, parceria frutífera que está rendendo à filmografia do Allen um toque até mais sofisticado e acentuado no quesito da fotografia, que, se já tinha se mostrado perfeitamente brilhante em Café Society (filme repleto de momentos memoráveis de construção fotográfica) pode-se dizer exatamente o mesmo de Roda Gigante, cuja fotografia é daquelas que fazem marejar os olhos e nos elevar dentro da sala de cinema, transformando a experiência num belo deleite para o espectador.

Apesar da doçura do seu antecessor, Roda Gigante é um trabalho pra lá de amargo, quando Woody adentra o melodrama com traços trágicos para contar a trajetória de Ginny, uma garçonete que sonha alto que busca nos velhos sonhos e memórias e numa relação extraconjugal com um salva-vidas que também é dramaturgo (Justin Timberlake) uma fuga dos problemas do presente e de sua realidade dura (casada com um homem violento e de temperamento atribulado, um operador de carrossel, que vive a maltratando). Tudo muda quando ela recebe a visita da jovem Carolina, filha de seu marido com uma ex-mulher, que por sua vez está fugindo de um gângster perigoso com quem se casou, e encontra abrigo na casa do pai, um lugar tempestuoso que fica dentro de um parque de diversões, com vista para uma roda gigante. 

Com a pompa, a amargura e a explosiva teatralidade dos textos melodramáticos de mestres da dramaturgia como Tennessee Williams e Eugene O'Neill, e um traço cinematográfico repleto de charme e elegância reforçado pelo lindo trabalho de Storaro e pelos cenários minimalistas e que casam tão bem com essa veia teatral da narrativa, Woody Allen traz à tona esses personagens envoltos em seus dramas pessoais que acabam se alinhando graças ao destino e veem suas vidas colidirem com esses transtornos que surgem no caminho: a traição de Ginny e a paixão entre Mickey, o salva-vidas, e Carolina, e uma série de eventos que partem disso, temperam o drama e estabelecem a tragédia que enegrece os rumos da história. Os mistérios do coração... 

A casa é um ambiente frequentemente dominado pela desencanto, pelos momentos de tensão e amargura, o palco dos ataques de Ginny e Humpty, enquanto também acaba sendo o cenário que gera alguns dos planos mais belos do filme, como aquele em que Ginny está experimentando figurinos com o filho. Já a praia é um lugar associado a uma ideia de graça, de um certo encanto que acaba unindo essas personagens e dando um novo tom às suas vidas melancólicas, é lá que Ginny (e Carolina também) encontra pela primeira vez Mickey, além das meigas cenas de amor que se passam nessa locação. Há um jogo bastante autêntico com as cores e como elas acabam dialogando com a narrativa e os cenários, chegando a um nível de quase fantasia, nesse aspecto. 

É mais uma crônica sobre as eventualidades e os acasos da convivência humana e os seus vertiginosos conflitos, com aquele olhar que só o Woody sabe conferir quando se trata do tratamento de seus personagens, os sonhadores, desiludidos, perdidos e desencontrados. Tudo vai conduzindo a um final necessariamente obscuro, que se não surpreende muito, pelo menos fica marcado pela condução deliciosamente prazerosa. 

O elenco está em um estado de pura graça. Kate Winslet, que há tanto não aparecia tão bem, dá vida a uma personagem com todas as suas crises nervosas, histerias, perdições e falas neuróticas. Nesse ponto (e em outros elementos dentro da narrativa) a comparação a Blue Jasmine é inevitável, ficando até mais evidente naquela cena da epifania de Ginny durante a visita de Mickey, perto do final. Jim Belushi e Juno Temple também estão formidáveis em cena. E até o Justin Timberlake encaixou excelente no papel dele. 

Dado isso, esse melodrama que parece homenagear a Hollywood dos anos 50 pós-guerra com um visual até meio aperfeiçoado e com seus magistrais toques de artificialidade que reforçam a impressão dramatúrgica da narrativa, prova que Woody Allen consegue fazer um belo trabalho partindo de histórias amarguradas e desencantadas, que parecem encontrar justamente no que a vida tem de mais triste e melancólico um lar para depositar seus impulsos embebidos de autenticidade e pura emoção. É, sobretudo, honesto, de certa forma um caos calmo no meio de toda aquela instabilidade e frenesi, e essa ideia dramática casa muito bem com o que o filme cria para as suas personagens. 

Esperar arroubos de originalidade de Woody Allen a essa altura do campeonato é um pouco ilusório, digamos, mas ainda é muito bom ver que ele pode emergir de premissas que parecem ser tão descompromissadas e se revelam mais profundas do que o esperado. Isso é muito bom. E infelizmente Roda Gigante não será reconhecido tão cedo dessa forma por conta das acusações que estão rolando no momento e que acabaram desfavorecendo o Woody. Se isso vai afetar o trabalho dele como diretor, não sabemos ainda, mas ele está com um projeto novo que deve sair ainda esse ano (como tradicionalmente ocorre). O cinema estava vazio (seria um sinal de que ele está perdendo a credibilidade?) mas levemos em consideração que o filme estreou no circuito há mais ou menos umas três semanas (no finalzinho de 2017). É uma grande oportunidade conferir um trabalho do mestre Woody no cinema, até gratificante, digamos, em especial este aqui, que é muito bonito. 

Roda Gigante (Wonder Wheel)
dir. Woody Allen
★★★★

domingo, 14 de janeiro de 2018

TOP OF THE LAKE


Agora é a minha vez de comentar um pouco sobre o mais novo trabalho da cultuada cineasta Jane Campion, que na verdade não é diretamente ligado ao cinema, mas que se trata de uma minissérie (na verdade duas minisséries distintas): Top of the Lake (2013) e sua continuação, Top of the Lake: China Girl (2017), criação dela em parceria com o roteirista Gerard Lee. 

Top of the Lake (2013)
diretores: Jane Campion & Garth Davis
★★★★


Começa com o retorno de uma detetive de Sydney, Robin Griffin (interpretada majestosamente por Elisabeth Moss, uma das maiores atrizes do momento) à sua cidade natal, um lugarzinho escondido no interior da Nova Zelândia, e prossegue com o desaparecimento de uma adolescente grávida de 12 anos e o desembaralhamento de uma trama que envolve diversos temas e histórias capturadas numa complexa rede de revelações que conectam os personagens uns aos outros, criando um laço fortíssimo entre cada um deles. 

É uma história de redenção, principalmente, mas que para chegar nesse ponto atravessa muitos perrengues. Até porque a destemida Robin Griffin, que assume o caso da jovem desaparecida, Tui, é uma mulher forte, resistente, indomável, que dá cara à tapa para poder afirmar seu lugar num mundo dominado pela figura masculina que sempre (ou quase sempre) é retratada com muito ódio, pintados como emissores do mal e da vilania (e as mulheres, que aqui são retratadas como seres machucados e à procura da liberdade, são as vítimas dessa vilania, e que, nesta trama, tem seus caminhos definidos pelas feridas provocadas pelos homens nas suas histórias particulares e os rumos delas). Inclusive um dos personagens, interpretado por Peter Mullan, pai da garota desaparecida, é um sujeito tão desagradável que a maior parte do tempo é visto com muita antipatia e um certo rancor e o seu comportamento brutal, quase animal, que se manifesta não só na forma como ele trata as mulheres mas também os homens, como é o caso dos seus filhos, que também são vitimados (e foram moldados) pelo comportamento irascível e odiável do pai. 

Se há um vilão na história, é ele. E se há uma heroína, bem, temos então Robin Griffin, a detetive cuja missão (inicial) é re-estabelecer a paz e a segurança na cidadezinha e resolver o misterioso caso de Tui (isso antes dela desaparecer, quando sua gravidez é descoberta e existe um grande risco dela ter sido vítima de estupro, embora a menina não se pronuncie a respeito disso, quase não diz uma só palavra, muito contida, reservada).

Outra personagem bastante interessante da trama (e enigmática, digamos) é a G.J., interpretada misticamente por Holly Hunter, uma mulher com espécie de poderes espirituais que se trata de uma espécie de guia para um grupo de mulheres que está acampando numa região chamada Paradise. As falas dela são incríveis e a atuação da Hunter valoriza bastante o poder que essa personagem tem. 

Campion, que já dirigiu filmes como O Piano, lida com o brutal e o amargo com um puro brilhantismo na sua condução repleta de energia e domínio. Sabemos que se trata de uma minissérie, mas é ótimo quando temos uma cineasta por trás do projeto, que recebe um tratamento mais cinematográfico, o que é bastante especial. E Campion, dos cineastas que estão "migrando" para a TV, é um dos principais destaques com este belo, sensível, cruel e duro conto sobre encontros entre passado, presente e futuro e as cicatrizes que carregamos nas nossas vidas, e a(s) história(s) por trás dessas cicatrizes. Comparações foram feitas entre Top of the Lake e Twin Peaks, o que de fato não deixa de ter sua parcela de verdade.

Top of the Lake estreou no Festival de Sundance e também foi exibido no prestigiado Festival de Berlim, em 2013.

Top of the Lake: China Girl (2017)
diretores: Jane Campion & Ariel Kleiman
★★★★★


Se em Top of the Lake as revelações da personagem Robin Griffin ganharam uma atenção diferenciada ali pros últimos episódios, em China Girl temos um foco ainda mais extenso dentro dessa personagem, que desde a primeira minissérie, quando passamos a saber mais os detalhes do seu trágico passado, já tinha uma abordagem mais diferenciada dos outros núcleos da trama, afinal é o núcleo dela que guia (e conecta) os outros, e aqui vemos uma continuação disso só que com um certo amadurecimento da construção dramática de Griffin.

Agora o cenário é outro. Saímos da cidadezinha do interior e entramos na metrópole oceânica Sydney, na Austrália, onde Griffin agora trabalha como detetive no mesmo departamento de abusos e crimes sexuais. Já se passaram quatro anos desde os eventos na Nova Zelândia, e muitas coisas se passaram desde então: Griffin, que ia se casar com Johnno, o deixou depois que descobriu, no dia de seu casamento, que ele a traia; com isso ela ruma a Sydney, ainda partida, talvez procurando uma forma de se redimir. É aí que entra a filha de 17 anos dela, Mary, que tem problemas com a sua mãe e que está prestes a se casar com um homem bastante problemático, um ex-professor chamado Alexander, que vive dentro de um bordel onde ensina prostitutas asiáticas "a falar inglês". O pensamento "revolucionário" dele acaba contaminando Mary, quem ele acaba incentivando a entrar na prostituição.

Robin começa a investigar um estranho assassinato em quem uma jovem asiática foi encontrada morta numa mala. E ao mesmo tempo, inicia uma nova relação com sua filha biológica, quem ela nunca tinha encontrado antes, e aos poucos vai se tornando uma presença forte na sua rotina. Outra pessoa que também vai marcar esse novo capítulo é Miranda, a policial que acompanha Robin em suas investigações, com quem ela inicialmente não compactua, apesar de desenvolverem uma amizade inusual e até um pouco cômica, às vezes.

Se aqui Campion vai mais fundo no que diz respeito à abordagem (dissecação) das temáticas que surgem nas tramas interligadas (prostituição, adoção ilegal, barriga de aluguel, etc.) pode-se dizer que o mesmo acontece na narrativa, que de certa forma se aprofunda, em especial com os personagens, e por um outro lado dramaticamente também. Pode-se dizer que este trabalho é superior ao anterior, mesmo que os dois tenham méritos que os qualifiquem quase que igualmente. Campion prova que a delicadeza também pode nascer da brutalidade e da crueldade da vida, tão desnorteantes são as suas histórias que, no final, se provam mais humanas do que poderíamos prever. Top of the Lake é, então, um trabalho sobre humanidade, sobre descobrirmos através das nossas próprias feridas e de como lidamos com elas, a capacidade de amar. E de como transformamos as pessoas com quem convivemos. Elenco gigante, China Girl é uma pequena grande obra-prima da TV.

Foi exibido fora de competição no Festival de Cannes 2017, como parte da seleção especial do aniversário de 70 anos. 

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

impressões do CRITICS CHOICE 2018


A Forma da Água se consolidando como queridinho da temporada, mas ainda tem um oponente forte em Três Anúncios para um Crime. O prêmio de melhor filme pode ser uma alternativa, mas ainda tem um longo caminho pela frente. Del Toro, favorito a diretor. 

– Maioria dos vencedores do Globo de Ouro se repetiram aqui, especialmente os de atuação. Pode ser um sinal de que as premiações estão rumando pro mesmo caminho, o que talvez torne tudo mais previsível (ou não). Será que o Oscar vai preferir escolhas óbvias ou surpresas? Pegue o exemplo das (pelo menos) três edições anteriores e compare com as respectivas edições dos demais prêmios. As surpresas pesam na balança. 

– Algumas pequenas surpresas e vitórias merecidas, Corra! e Me Chame pelo seu Nome foram em roteiro, Trama Fantasma foi lembrado em figurino e teve até empate em edição entre Dunkirk e Em Ritmo de Fuga (que são mesmo os dois favoritos supremos dessa categoria).

– Surpreendentemente, Em Pedaços ganhou mais um prêmio importante e parece rumar para o Oscar com esse mesmo favoritismo. Será que a Diane Kruger vai ser favorecida? Pouco provável, mas tudo pode acontecer (ou não).

Lady Bird saiu de mãos abanando. Para a lógica dos prêmios da crítica, nos quais o filme brilhou e não foi pouco, essa ausência é pra lá de estranha, bem duvidável. 

CRITICS CHOICE AWARDS 2018 – OS VENCEDORES


MELHOR FILME
A Forma da Água

MELHOR DIRETOR
Guillermo del Toro – A Forma da Água

MELHOR ATRIZ
Frances McDormand – Três Anúncios para um Crime

MELHOR ATOR
Gary Oldman – O Destino de uma Nação

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Allison Janney – Eu, Tonya

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Sam Rockwell – Três Anúncios para um Crime

MELHOR ELENCO
Três Anúncios para um Crime

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Corra!

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Me Chame pelo seu Nome

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Em Pedaços (Alemanha, dir. Fatih Akin)

MELHOR ANIMAÇÃO
Viva!

MELHOR TRILHA SONORA
A Forma da Água

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
"Remember Me", Viva!

MELHOR FOTOGRAFIA
Blade Runner 2049

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
A Forma da Água

MELHOR EDIÇÃO (empate)
Em Ritmo de Fuga
Dunkirk

MELHOR FIGURINO
Trama Fantasma

MELHOR MAQUIAGEM/PENTEADOS
O Destino de uma Nação

MELHORES EFEITOS VISUAIS
Planeta dos Macacos: A Guerra

MELHOR COMÉDIA
Doentes de Amor

MELHOR FILME, AÇÃO
Mulher Maravilha

MELHOR FILME, HORROR OU SCI-FI
Corra!

ATOR EM COMÉDIA
James Franco – O Artista do Desastre

ATRIZ EM COMÉDIA
Margot Robbie – Eu, Tonya

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Indicados ao DGA


Indicados ao sindicato dos diretores

MELHOR DIRETOR, LONGA-METRAGEM

GUILLERMO DEL TORO
A Forma da Água

GRETA GERWIG
Lady Bird

JORDAN PEELE
Corra!

MARTIN MCDONAGH
Três Anúncios para um Crime

CHRISTOPHER NOLAN
Dunkirk

MELHOR DIRETOR ESTREANTE

GEREMY JASPER
Patti Cake$

WILLIAM OLDROYD
Lady Macbeth

JORDAN PEELE
Corra!

TAYLOR SHERIDAN
Terra Selvagem

AARON SORKIN
A Grande Jogada

MELHOR DIRETOR, DOCUMENTÁRIO


KEN BURNS & LYNN NOVICK
The Vietnam War (PBS)

BRYAN FOGEL
Icarus (Netflix)

MATTHEW HEINEMAN
City of Ghosts (Amazon Studios)

STEVE JAMES
Abacus: Small Enough to Jail (PBS)

ERROL MORRIS
Wormwood (Netflix)

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018


Indicados ao prêmio do sindicato dos figurinistas

FILME CONTEMPORÂNEO
“Get Out” – Nadine Haders
“I, Tonya” – Jennifer Johnson
“Kingsman: The Golden Circle” – Arianne Phillips
“Lady Bird” – April Napier
“Three Billboards Outside Ebbing, Missouri” – Melissa Toth

FILME DE ÉPOCA
“Dunkirk” – Jeffrey Kurland
“Murder on the Orient Express” – Alexandra Byrne
“Phantom Thread” – Mark Bridges
“The Greatest Showman” – Ellen Mirojnick
“The Shape of Water” – Luis Sequeira

FILME DE FANTASIA/FICÇÃO CIENTÍFICA
“Beauty and the Beast” – Jacqueline Durran
“Blade Runner 2049” – Renée April
“Star Wars: The Last Jedi” – Michael Kaplan
“Thor: Ragnarok” – Mayes C. Rubeo
“Wonder Woman” – Lindy Hemming

terça-feira, 9 de janeiro de 2018


Indicados ao prêmio do sindicato dos diretores de fotografia

LANÇAMENTO DE CINEMA

Roger Deakins, ASC, BSC
Blade Runner 2049

Bruno Delbonnel, ASC, AFC
Darkest Hour

Hoyte van Hoytema, ASC, FSF, NSC
Dunkirk

Dan Laustsen, DFF
The Shape of Water

Rachel Morrison, ASC
Mudbound

PRÊMIO SPOTLIGHT
Máté Herbai, HSC
On Body and Soul

Mikhail Krichman, RGC
Loveless

Mart Taniel
November

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

GLOBO DE OURO 2018 (75th Golden Globe Awards)


Ontem tivemos a 75ª edição do Globo de Ouro, que abriu muito bem a temporada de prêmios da TV nesse ano, e que será lembrada por muitos pelo teor altamente político dos discursos da noite e que também tiveram foco nas polêmicas de assédio sexual que tomaram conta de Hollywood em 2017 e cujos ecos ainda estão ressoando na voz que clama por igualdade e respeito ao trabalho das mulheres nas indústrias cinematográfica e televisiva, e essa noite finalmente encontraram essa voz nos discursos inspiradíssimos das vencedoras. 

Destaque foi a comovente homenagem a Oprah Winfrey, que conquistou o prêmio Cecil B. DeMille pelo conjunto da obra, e entregou o mais poderoso e ovacionado dos discursos da noite, que levou muita gente às lágrimas e arrancou aplausos emocionados da plateia. Quem vê o discurso dela pode até ter uma noção de que a indústria parece ter finalmente acordado para a urgência e a importância das questões levantadas ali e o empoderamento da mulher no meio artístico, mas a impressão é que ainda existe um longo caminho a ser percorrido. Importante é que 2018 promete ser uma nova fase para o devido reconhecimento feminino em Hollywood, que já tinha ganhando força no ano passado, enquanto também existem outras questões de extrema urgência tocadas por Oprah, como o preconceito racial. 

Foi a noite em que o tom político dos discursos deu o tom. E eu não vejo nada errado nisso. Até porque esse é sim um momento em que a indústria hollywoodiana está atravessando um período de transformações, que prenuncia a chegada de novos tempos. É urgente, e a indústria parece ter finalmente aberto os olhos para a sua própria política e está disposta a alterar os seus fatídicos rumos e tomar um outro caminho, de mudança. Todas as celebridades estavam de preto – na tendência da noite "Time's Up" (o tempo acabou) – em protesto. 


Se nos últimos três anos essa questão do empoderamento veio crescendo enormemente, e ali em 2015 foi justamente o momento em que isso se deu com uma maior intensidade, tivemos em 2017 (e posteriormente, agora, em 2018) a influência do poder masculino em Hollywood e como as mulheres foram afetadas ou vitimadas por isso ao longo dos anos. Exemplo disso é o caso de Harvey Weinstein (que até foi mencionado pelo apresentador Seth Meyers – que até conseguiu ter uma apresentação decente e bastante criativa mesmo visto que seu "repertório de piadas" poderia ficar mais limitado pelo tom político da cerimônia – numa piada em que ele fala que Harvey seria vaiado no futuro ao ser lembrado no segmento "In Memoriam", que foi seguido por um longo barulho da plateia, ao que ele fechou: vai soar desse jeito), produtor renomado que perdeu todo o seu crédito assim que as absurdas acusações de assédio a respeito dele começaram a sair na 2ª metade do ano passado, e em menos de um mês ele já estava praticamente banido da indústria, e isso foi só o começo. Pelo que eu sei, as revelações ainda não cessaram, e mês passado a atriz Salma Hayek, em uma publicação do The NY Times, denunciou os episódios loucos de abuso e desrespeito que sofreu do produtor. Kevin Spacey, outra figura que foi praticamente banida depois que revelou-se (e ele próprio confirmou) um episódio de assédio sexual a um menor na década de 80, não faltou nas piadas. Até porque tocar no nome de um ator com uma acusação grave e fazer piadinhas das quais a plateia ri, mas que quase não se compara ao histórico predador de um chefão milionário cujo nome é dito cautelosamente mesmo diante de acusações já confirmadas, uma piada o envolvendo sendo capaz de gerar um enorme estardalhaço e controvérsia, vê-se que essas diferenças com que a indústria lida com suas personagens e o poder que elas ainda geram nesse meio, por mais destituídas que possam estar, é assombroso. 


E não foi só nos discursos que o tom político se concentrou não. Na maioria dos vencedores (e a disposição de prêmios), isso foi visto de forma mais forte também. Nos prêmios de cinema, quase que como por surpresa mas não completamente, o drama Três Anúncios para um Crime levou em quatro categorias principais: filme, atriz, ator coadjuvante e roteiro. O filme fala sobre uma mulher lutando para se vingar da morte da filha. O prêmio de atriz foi apresentado pela nossa querida Isabelle Huppert e a Angelina Jolie, que estavam radiantes. Isso parece mudar os rumos da corrida, e é um indicador de que o filme do inglês Martin McDonagh pode fazer bonito nos prêmios da TV, o que talvez possa prejudicar outros candidatos que foram queridinhos da crítica, como Corra! e Me Chame pelo seu Nome

Lady Bird conquistou 2 prêmios: filme e atriz (comédia), este último entregue para a nossa graciosa Saoirse Ronan, a protagonista do coming-of-age mais aclamado do ano. E Greta Gerwig, mesmo ausente em direção, conseguiu fazer um belo discurso quando o filme levou em outra categoria. É muito legal ver ela, agora como diretora, recebendo prêmios por um trabalho com um hype tão honesto. O fato de termos 2 produções indies ganhando os prêmios de filme é um sinalizador de que a HPFA está abrindo portas e quebrando barreiras, no que parece ser uma lenta modificação desse sistema que privilegiava big shots e está dando lugar para os "pequenos" (que são gigantes).


A Forma da Água, que, apesar de também pertencer a uma distribuidora indie, teve um número menor de vitórias (duas) caso a gente for comparar com o número recorde de indicações dessa edição (sete) que o longa recebeu. Del Toro estava visivelmente emocionado aceitando o prêmio que ele super merece e Desplat, o compositor, caminha rumo a um segundo Oscar.

Na categoria já atribulada de melhor ator, levou o Gary Oldman (que há alguns anos até fez um pronunciamento baixo a respeito da HPFA, que entrega os globos, e para a nossa surpresa parece ter "feito as pazes" com esse prêmio) na frente de Timothée Chalamet, dono do hype todo, e Day-Lewis e seu papinho de "último filme" que poderia ser uma boa desculpa para prêmios.

Entre surpresas e vitórias merecidas, tivemos a extraordinária Allison Janney que ganhou um prêmio por Eu, Tonya, apenas o começo do reconhecimento dessa ótima atuação de uma das maiores intérpretes americanas. Sam Rockwell ganhou na frente de Willem Dafoe (que foi um dos favoritos disparados da crítica) em ator coadjuvante, embora ele mesmo tenha aparecido, mesmo que mais contido, em alguns prêmios críticos sim.

Outro momento alto da noite foi quando James Franco ganhou melhor ator e levou ao palco do Globo de Ouro Tommy Wiseau, o homem por trás da história real de O Artista do Desastre. Foi um momento divertido e bastante inusual, até pelo fato de Wiseau ser um rejeitado pela indústria e ter o filme sobre a sua vida e seu trabalho finalmente reconhecido, mesmo que nas mãos de outro diretor e ator.


Em Pedaços, do alemão Fatih Akin e estrelado por Diane Kruger, foi a surpresa da noite (pelo menos pra mim) ao levar filme estrangeiro. Produção da Pixar, Viva! é favorito supremo e levou prêmio de animação, mais um pra coleção da produtora. 

Nos prêmios de TV, houve um enorme destaque para Big Little Lies (vencedor de quatro estatuetas) e também The Handmaid's Tale (com 2, melhor série e atriz para Elisabeth Moss, após 4 anos desde que ela ganhou por Top of the Lake). The Marvelous Mrs. Maisel foi vencedor das categorias de comédia. 

Bem, como eu não vi muita coisa nem da lista de cinema e muito menos da de TV, não posso opinar sobre muita coisa a respeito da qualidade de fulano de tal em não-sei-qual filme, ou se aquela vitória foi justa, isso eu só poderei dizer após conferir os trabalhos, mas de longe, a noite consumou algumas decepções que foram sentidas para a minha pessoa, que é o caso da esnobação de Kyle MacLachlan, que estava representando Twin Peaks, a maior realização do ano de 2017, numa única categoria (melhor ator, minissérie/telefilme) e perdeu para Ewan McGregor. Muito decepcionante. Nas categorias de cinema, minha torcida em filme estrangeiro era para Uma Mulher Fantástica, e infelizmente o filme não recebeu. Em canção, "Mighty River", de Mary J. Blige, era meu favorito. Mas "This Is Me" levou ao invés. Apesar de não ter sido indicada esse ano a nenhum prêmio, a deusa Isabelle Huppert brilhou no tapete vermelho como ninguém. E pra mim isso já foi o suficiente pra chamar a noite de "A NOITE". 


E eu sei que muita justiça foi feita nas outras categorias, de filmes que ainda não vi mas que só vejo gente elogiando. Então, de certa forma, mesmo que essas ausências acabem deixando a gente um pouco mais pra baixo, o prêmio sempre consegue balancear e fazer uma justiça ou outra, ainda que permaneça bastante fiel às convicções das quais eles não fazem o menor esforço de disfarçar o cheiro do lobby. Mas, é verdade, há muita coisa boa que aconteceu na edição desse ano, e que com certeza ficará marcadíssima. É tempo de abrir os olhos. Há muita coisa acontecendo e o Globo de Ouro segue o passo dessa modificação. Foi uma cerimônia agradável, emocionante, e repleta de coisas boas. Uma ótima forma de começar os prêmios de TV. 

Cinema

MELHOR FILME – DRAMA
Três Anúncios para um Crime

MELHOR FILME – COMÉDIA OU MUSICAL
Lady Bird

MELHOR DIRETOR
Guillermo del Toro – A Forma da Água

MELHOR ATRIZ – DRAMA
Frances McDormand – Três Anúncios para um Crime

MELHOR ATOR – DRAMA
Gary Oldman – O Destino de uma Nação

MELHOR ATRIZ – COMÉDIA OU MUSICAL
Saoirse Ronan – Lady Bird

MELHOR ATOR – COMÉDIA OU MUSICAL
James Franco – O Artista do Desastre

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Allison Janney – Eu, Tonya

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Sam Rockwell – Três Anúncios para um Crime

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Em Pedaços (Alemanha – dir. Fatih Akin)

MELHOR ROTEIRO
Três Anúncios para um Crime – Martin McDonagh

MELHOR ANIMAÇÃO
Viva! – A Vida é uma Festa

MELHOR TRILHA SONORA
A Forma da Água – Alexandre Desplat

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
"This Is Me" – O Rei do Show

Televisão

MELHOR SÉRIE DRAMÁTICA
The Handmaid's Tale

MELHOR SÉRIE – COMÉDIA OU MUSICAL
The Marvelous Mrs. Maisel

MELHOR MINISSÉRIE OU TELEFILME
Big Little Lies

MELHOR ATRIZ – SÉRIE DRAMÁTICA
Elisabeth Moss – The Handmaid's Tale

MELHOR ATOR – SÉRIE DRAMÁTICA
Sterling K. Brown – This Is Us

MELHOR ATRIZ – SÉRIE COMÉDIA OU MUSICAL
Rachel Brosnahan – The Marvelous Mrs. Maisel

MELHOR ATOR – SÉRIE COMÉDIA OU MUSICAL
Aziz Ansari – Master of None

MELHOR ATOR – MINISSÉRIE OU TELEFILME
Ewan McGregor – Fargo

MELHOR ATRIZ – MINISSÉRIE OU TELEFILME
Nicole Kidman – Big Little Lies

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Laura Dern – Big Little Lies

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Alexander Skarsgård – Big Little Lies

sábado, 6 de janeiro de 2018

EU, TONYA (2017)


Talvez seja mesmo uma grata surpresa esse destaque da awards season, Eu, Tonya, que ainda guarda algumas das características mais concebíveis aos filmes dessa temporada, mas que em algum lugar ali no meio dessa cinebio com cara de Oscar encontra um retrato doentio, atípico e um tanto autêntico, por mais irregular que sua proposta possa soar. 

Margot Robbie – na que é a melhor performance de sua carreira – interpreta Tonya Harding, uma patinadora obcecada com fama e sucesso cuja carreira declina por um caso criminoso de intrigas envolvendo uma outra patinadora, que acaba de forma mal para ela. O filme investiga a jornada de vida de Harding, desde a sua relação tempestuosa com a mãe de temperamento difícil e problemático, passando por um casamento infeliz e turbulento com um homem agressivo e irascível. Da violência que a cerca, Tonya imprime nas pistas de gelo seu talento fascinante com movimentos delicados, brutos e arriscados. Da mulher com ambições grandes e um empenho impressionante que acaba se tornando pivô de uma intriga sinistra, a ascensão e o declínio de Tonya são retratados com vigor, intensidade, energia e honestidade. 

Aliás, todo o elenco está de parabéns, Robbie, insana e absurdamente fabulosa, entrega o que nos podemos chamar de mérito maior da produção. Logo em seguida, temos a coadjuvante, mas igualmente e tão ímpar quanto Allison Janney, dona de grandes performances coadjuvantes desse século (como nos filmes Por Uma Vida Melhor Margaret), impulsiona a força de uma protagonista com sua atuação visceral e brutal, na pele de uma mulher desordenada, raivosa e que parece fazer de tudo para destruir a vida e a carreira da própria filha. Não é um papel necessariamente revoltante ou vilanesco, e talvez esse seja o principal ponto dessa interpretação: um equilíbrio impressionante e um domínio pleno da personagem que não se permite a maniqueísmos sequer virtuosismos excessivos, mas que encontra neste controle uma manipulação acertada das características dessa performance. Aliás, devemos ver ainda muitos prêmios para Janney nesta awards season, e ela (com certeza) os merece. 

Como um todo, o filme se sobressai por uma narrativa ágil e sempre elétrica, quase de suspense, mas que também encontra ótimos momentos de comédia, e outros mais dramáticos que são desnorteantes. Fato é que ele contém um elenco de ouro, e uma condução competente de Craig Gillespie, diretor de um dos meus filmes favoritos da década passada, A Garota Ideal, num exercício de mise-en-scene inspirado, embora irregular certas vezes. A montagem, inclusive, é de tirar o fôlego. Destaque para as sequências de patinação, muito bem dirigidas. 

Eu, Tonya é um exemplar seguro desta nova onda de "filmes do Oscar". Por trás dos personagens e da história pessoal de Tonya Harding, corre, aos fundos, mas em dimensão ampla, um retrato da América amarga dos sonhos depositados num mundo onde somos amados por todos e reconhecidos pelos nossos méritos, e um cenário decorrente de destruição que aniquila todas as convenções do universo anterior. A América que dá e que tira. A América dos sonhos – ou, provavelmente, dos pesadelos. 

Eu, Tonya (I, Tonya)
dir. Craig Gillespie
★★★

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

INDICADOS AO PGA


Indicados ao prêmio do Sindicato dos Produtores, cujos concorrentes costumam se repetir quase infalivelmente no Oscar na categoria de melhor filme. 

“The Big Sick”
Judd Apatow, Barry Mendel

“Call Me By Your Name”
Peter Spears, Luca Guadagnino, Emilie Georges, Marco Morabito

“Dunkirk”
Emma Thomas, Christopher Nolan

“Get Out”
Sean McKittrick & Edward H. Hamm, Jr., Jason Blum, Jordan Peele

“I, Tonya”
Bryan Unkeless, Steven Rogers, Margot Robbie, Tom Ackerley

“Lady Bird”
Scott Rudin, Eli Bush, Evelyn O’Neill

“Molly’s Game”
Mark Gordon, Amy Pascal, Matt Jackson

“The Post”
Amy Pascal, Steven Spielberg, Kristie Macosko Krieger

“The Shape Of Water”
Guillermo del Toro, J. Miles Dale

“Three Billboards Outside Ebbing, Missouri”
Graham Broadbent & Pete Czernin, Martin McDonagh

“Wonder Woman”
Charles Roven & Richard Suckle, Zack Snyder & Deborah Snyder

Indicados ao MUAHS Awards


Indicados ao sindicato dos maquiadores e penteadores:

1. Filme Contemporâneo (Maquiagem)

BABY DRIVER
Fionagh Cush, Phyllis Temple
THE BIG SICK
Leo Won, Kirsten Sylvester
GHOST IN THE SHELL
Deborah La Mia Denaver, Jane O’Kane
PITCH PERFECT 3
Melanie Hughes-Weaver, Judy Yonemoto, Erica Kyker
WONDER
Naomi Bakstad, Jean Black, Megan Harkness

2. Filme Contemporâneo (Penteados)

THE BIG SICK
Tonia Ciccone, Toni Roman-Grimm
GUARDIANS OF THE GALAXY-VOL. 2
Camille Friend, Louisa Anthony, Jules Holdren
THREE BILLBOARDS OUTSIDE EBBING, MISSOURI
Cydney Cornell, Susan Buffington
PITCH PERFECT 3
Cheryl Marks, Melissa Malkasian, Andrea Bowman
WONDER
Robert Pandini, Alisa Macmillian

3. Filme de Época (Maquiagem)

BLADE RUNNER 2049
Donald Mowat, Jo-Ann MacNeil, Csilla Horvath Blake
BRIGHT
Alessandro Bertolazzi, Cristina Waltz, Judy Murdock
DARKEST HOUR
Ivana Primorac, Flora Moody
THE GREATEST SHOWMAN
Nicki Ledermann, Tania Ribalow, Sunday Englis
I, TONYA
Deborah La Mia Denaver, Teresa Vest, Bill Myer

4. Filme de Época (Penteados)

ATOMIC BLONDE
Enzo Angileri
BEAUTY AND THE BEAST
Jenny Shircore, Marc Pilcher, Charlotte Hayward
BLADE RUNNER 2049
Kerry Warn, Lizzie Lawson Zeiss, Jaime Leigh McIntosh
DARKEST HOUR
Ivana Primorac, Flora Moody
I, TONYA
Adruitha Lee, Mary Everett

5. Efeitos Especiais de Maquiagem

GUARDIANS OF THE GALAXY-VOL. 2
John Blake, Brian Sipe
DARKEST HOUR
Kazuhiro Tsuji, David Malinowski, Lucy Sibbick
THE SHAPE OF WATER
Mike Hill, Shane Mahan
STAR WARS: THE LAST JEDI
Neal Scanlan, Peter Swords King
WONDER
Arjen Tuiten, Michael Nickiforek

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

GLOBO DE OURO 2018 – APOSTAS


MELHOR FILME – DRAMA


quem vence A Forma da Água
quem tem chances Me Chame pelo seu Nome
quem pode surpreender The Post

MELHOR FILME – COMÉDIA OU MUSICAL


quem vence Lady Bird
quem tem chances Corra!
quem pode surpreender Eu, Tonya

MELHOR DIREÇÃO


quem vence Guillermo del Toro – A Forma da Água
quem tem chances Christopher Nolan – Dunkirk
quem pode surpreender Steven Spielberg – The Post

MELHOR ATRIZ – DRAMA


quem vence Sally Hawkins – A Forma da Água
quem tem chances Frances McDormand – Três Anúncios para um Crime
quem pode surpreender Jessica Chastain – A Grande Jogada

MELHOR ATOR – DRAMA


quem vence Timothée Chalamet – Me Chame pelo seu Nome
quem tem chances Daniel Day-Lewis – Trama Fantasma
quem pode surpreender Gary Oldman – O Destino de uma Nação

MELHOR ATRIZ – COMÉDIA OU MUSICAL


quem vence Saoirse Ronan – Lady Bird
quem tem chances Margot Robbie – Eu, Tonya
quem pode surpreender Emma Stone – A Guerra dos Sexos

MELHOR ATOR – COMÉDIA OU MUSICAL


quem vence James Franco – O Artista do Desastre
quem tem chances Daniel Kaluuya – Corra!
quem pode surpreender Steve Carell – A Guerra dos Sexos

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE


quem vence Allison Janney – Eu, Tonya
quem tem chances Laurie Metcalf – Lady Bird
quem pode surpreender Mary J. Blige – Mudbound

MELHOR ATOR COADJUVANTE


quem vence Willem Dafoe – Projeto Flórida
quem tem chances Sam Rockwell – Três Anúncios para um Crime
quem pode surpreender Christopher Plummer – Todo o Dinheiro do Mundo

MELHOR ROTEIRO


quem vence Três Anúncios para um Crime
quem tem chances A Forma da Água
quem pode surpreender Lady Bird

MELHOR FILME ESTRANGEIRO


quem vence Uma Mulher Fantástica
quem tem chances The Square
quem pode surpreender First They Killed my Father

MELHOR TRILHA SONORA


quem vence Trama Fantasma
quem tem chances A Forma da Água
quem pode surpreender Dunkirk

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL


quem vence/minha favorita "Mighty River", Mudbound

MELHOR ANIMAÇÃO


quem vence Coco
quem tem chances The Breadwinner
quem pode surpreender ???

WGA AWARDS: OS INDICADOS


Indicados ao Prêmio do Sindicato dos Roteiristas, que costuma ser um infalível termômetro para as categorias de roteiro no Oscar. 

ROTEIRO ORIGINAL

The Big Sick
Get Out
I, Tonya
Lady Bird
The Shape of Water

ROTEIRO ADAPTADO

Call Me by Your Name
The Disaster Artist
Logan
Molly's Game
Mudbound

DOCUMENTÁRIO

Betting on Zero
Jane
No Stone Unturned
Oklahoma City

ACE EDDIE & ART DIRECTORS GUILD: OS INDICADOS


ACE EDDIE (SOCIEDADE DOS EDITORES)

Filme Dramático

Blade Runner 2049
Joe Walker, ACE

Dunkirk
Lee Smith, ACE

Molly’s Game
Alan Baumgarten, ACE
Josh Schaeffer
Elliot Graham, ACE

The Post
Michael Kahn, ACE
Sarah Broshar

The Shape of Water
Sidney Wolinsky, ACE

Filme de Comédia

Baby Driver
Jonathan Amos, ACE
Paul Machliss, ACE

Get Out
Gregory Plotkin

I, Tonya
Tatiana S. Riegel, ACE

Lady Bird
Nick Houy

Three Billboards Outside Ebbing, Missouri
Jon Gregory, ACE

Animação

Coco
Steve Bloom

Despicable Me 3
Claire Dodgson

The Lego Batman Movie
David Burrows, ACE
Matt Villa
John Venzon, ACE

Documentário

Cries From Syria
Aaron I. Butler

Jane
Joe Beshenkovsky, ACE
Will Znidaric
Brett Morgen

Joan Didion: The Center Will Not Hold
Ann Collins

LA 92
TJ Martin
Scott Stevenson
Dan Lindsay

ART DIRECTORS GUILD (SINDICATO DOS DIRETORES DE ARTE)

Filme de Época

DARKEST HOUR
 Production Designer: SARAH GREENWOOD
DUNKIRK
Production Designer: NATHAN CROWLEY
MURDER ON THE ORIENT EXPRESS
 Production Designer: JIM CLAY
THE POST
 Production Designer: RICK CARTER
THE SHAPE OF WATER
 Production Designer: PAUL DENHAM AUSTERBERRY

Filme de Fantasia

BEAUTY AND THE BEAST
 Production Designer: SARAH GREENWOOD
BLADE RUNNER 2049
 Production Designer: DENNIS GASSNER
STAR WARS: THE LAST JEDI
 Production Designer: RICK HEINRICHS
WAR FOR THE PLANET OF THE APES
 Production Designer: JAMES CHINLUND
WONDER WOMAN
 Production Designer: ALINE BONETTO

Filme Contemporâneo

DOWNSIZING
 Production Designer: STEFANIA CELLA
GET OUT
 Production Designer: RUSTY SMITH
LADY BIRD
 Production Designer: CHRIS JONES
LOGAN
 Production Designer: FRANÇOIS AUDOUY
THREE BILLBOARDS OUTSIDE EBBING, MISSOURI
 Production Designer: INBAL WEINBERG

Animação

CARS 3
 Production Designers: WILLIAM CONE, JAY SHUSTER
COCO
 Production Designer: HARLEY JESSUP
DESPICABLE ME 3
 Art Director: OLIVIER ADAM
THE LEGO BATMAN MOVIE
 Production Designer: GRANT FRECKELTON
LOVING VINCENT
 Production Designer: MATTHEW BUTTON

UMA MULHER FANTÁSTICA (2017)



Minha primeira resenha de 2018 é justamente sobre um filme que passou nos cinemas em 2017 e eu acabei perdendo: Uma Mulher Fantástica, o prestigiado drama chileno de Sebastián Lelio que está bombando nas apostas para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Na dúvida de colocar ou não o filme na minha lista do ano passado, que eu fechei no último domingo, decidi por não incluir pra não ter que bagunçar as posições, então eu provavelmente lembrarei desse filme tão especial na minha lista de 2018. Trata-se do filme mais importante da temporada (e dos últimos anos) por uma série de razões, e acima de tudo é dos mais especiais trabalhos que o cinema chileno nos entrega, em uma de suas mais inspiradas fases.

Neste filme, Daniela Vega vive Marina, uma transsexual que mora com um homem mais velho, Orlando, e com quem compartilha um profundo amor. Inesperadamente, Orlando acaba falecendo, e Marina se encontra desolada e perdida. Ela, a única companhia dele, já na mesma noite em que ele morre, começa a ser intimidada pela polícia no hospital, que é apenas o começo de uma jornada de luto e de auto-afirmação pela qual Marina passará durante esse momento. Ao mesmo tempo em que ela enfrenta a morte da pessoa que ela ama, tem que lutar avidamente pelo direito de ser e afirmar quem é, mesmo que o preconceito alheio sufoque, aprisione e despreze a mulher fantástica numa sociedade que, à medida em que parece reconhecer mais, também parece odiar, machucar, destruir e desrespeitar mais. 

O filme é guiado por tensão, melancolia e sentimentos tão sufocantes quanto à beira do desespero. Sentimos tudo o que a angustiada personagem de Vega sente, ao ser negada e maltratada ao ver o seu grito silenciado. Em algumas cenas, isso provoca emoções tão fortes que pode levar o espectador às lágrimas, como foi meu caso, que me encontrei quase chorando numa certa cena em que Marina vai até a igreja onde está sendo velado Orlando, mas é obrigada a deixar o lugar depois que a ex-mulher dele a insulta. É de partir o coração, e revoltante também. 

A condução é primorosa, Lelio prova ser um dos mais competentes diretores do cinema chileno atual com seu retrato desnorteante e emocionante de uma mulher tentando ser quem é, e que não permitirá que os limites impostos definam quem ela é. Sobretudo, uma história de amor, uma busca por identidade e afirmação, sobre os fragmentos que surgem de quando somos deixados sozinhos com a nossa própria negação. Daniela Vega, magistral, não pensaria duas vezes antes de afirmar que é uma das mais tocantes atuações dos tempos recentes e merecedora de todo reconhecimento. Ainda que o filme seja um potente candidato ao Oscar, infelizmente Vega tem poucas chances de entrar na briga de melhor atriz (a categoria está muito acirrada). Mas que ela merece, amigos, disso eu nunca duvidarei. O filme é lindo, sua protagonista é excepcionalmente maravilhosa, e com certeza deve ser visto. Mais que obrigatório. De uma potência imbatível. 

Uma Mulher Fantástica (Una mujer fantástica)
dir. Sebastián Lelio
★★★★