sexta-feira, 31 de julho de 2015

Crítica: "ZODÍACO" (2007) - ★★★★★


Hoje estava muito confiante em relação à Zodíaco. Queria ver muito o filme. Faz uma semana, comecei a vasculhar meus arquivos para ver se achava uma cópia que meu irmão possuía do filme e ano passado eu tinha pego para ver. Depois de tanto procurar, acabei ali mesmo me convencendo de que tal cópia estava perdida. Foi ontem que a achei no mesmo lugar que já havia antes procurado, talvez desatento. Reservei esta tarde especialmente para ver Zodíaco. E, em resumo, é um ótimo filme. Talvez, a narrativa medianamente lógica possa ter atrasado a resolução do crime em tela, mas é inegável dizer que trata-se de uma obra extremamente valiosa e importante. 

Há muita gente que andou falando por aí que Zodíaco tem uma história confusa. Pensando bem, eu mesmo não posso negar isso. As idas e vindas da investigação que Zodíaco investiga, em determinados momentos, confunde a cabeça do espectador. Sendo tal confusão proposital ou não, pouco creio que ela é prejudicial para o entendimento da proposta e trama apresentadas no longa. O que realmente vale em Zodíaco é a fórmula conduzida por David Fincher a fim de conseguir recriar a época e as dimensões existentes no contraste entre o crime e as investigações em cima do ainda irresolvido caso do Zodíaco. Ainda essa semana, vi outro filme bem semelhante à Zodíaco, sobre um caso criminal irresolvido, mas cujo título e fama leva o nome de sua vítima: Dália Negra. Lá, no entanto, a realidade foi transformada pela ficção, já que o próprio filme do De Palma tratava-se da adaptação de um romance que se inspirou no fatídico crime no objetivo de recriar uma outra atmosfera para ele, desta vez onde o mesmo fosse resolvido. Aqui em Zodíaco, que também trata-se de uma adaptação, tal resultado é obtido de duas maneiras, se bem que o próprio final fica bem ambíguo, inexplicado.

O conto, que analisa os passos de uma investigação criminal com base no tenebroso caso de um misterioso serial killer, auto-apelidado de "Zodíaco" em uma de suas mensagens aos jornais de São Francisco, e os crimes que precedem um segundo evento, cujo um jovem casal sofreu tentativa de assassinato, tendo a mulher morrido e o outro jovem sobrevivido. Isso em 1969. O primeiro evento, o assassinato de um casal, tendo ambos morrido, aconteceu no natal de 1968. Quem diria, ali naquele tempo, que a investigação ultrapassaria um limite absurdo de tempo, tendo durado vinte anos e alguma coisa? E o pior é que o caso é de uma profusão tão assombrosa e incompreensível que ver os esforços de Robert Graysmith (autor do livro que originou este filme) e sua obsessão constante em buscar as respostas para o crime, mesmo anos depois de sua origem, chega a perpetuar o próprio espectador a uma tortura silenciosa e invisível, mas que causa certo desconforto, já que a certa altura nos encontramos tão perdidos quanto essas respostas. Chega em um ponto que parece impossível descobrir quem é o assassino, logo que o suspeito idêntico (que no final volta para assombrar as nossas expectativas) é dispensado por falta de provas. 

E, embora a confusão e a duplicidade do roteiro sejam problemáticas e um pouco dolores, Zodíaco, sob nenhum pretexto sequer, deixa de ser um filme extraordinário, e simplesmente marcante. Não chega a superar, por exemplo, Seven - Os Sete Crimes Capitais, mas é um trabalho muito bem feito, e um dos melhores de Fincher, que, pelo incrível que pareça, não possui nenhuma aparente ou gritante falha até o momento em sua filmografia. A influência de Hitchcock, aqui novamente presente, não deixa de provar mais uma vez aquilo que, praticamente, tá estampado na cara: a competência de David com o suspense, e sua tão cedo maestria. Além disso, como não esperar de Zodíaco, um thriller excepcional, certa inspiração de Alfred Hitchcock, ainda mais quando seu próprio diretor foi um dos alunos mais dedicados dele? Muito provável que David Fincher seja, em uma pequena partezinha, nosso mais novo Hitchcock. A fotografia do falecido Harris Savides, colaborador de Gus Van Sant, é tremendamente bela e ágil, uma vez que ela penetra de uma forma tão esplendora nos cenários e os transporta para as suas respectivas épocas num piscar de olhos. A trilha sonora de David Shire é outra dádiva a ser comemorada. E o elenco é um espetáculo. Jake Gyllenhaal, como protagonista, mostra-se, como de sempre, um ator excelente, sendo o melhor membro deste grande elenco. Robert Downey Jr., aqui testando seu talento dramático, não se livra do ar meio bonachão que sua face tanto lembra. Mark Ruffalo, cuja voz me é um pouco desconcertante, e Chloë Sevigny também possuem performances fortes.

Zodíaco (Zodiac)
dir. David Fincher - ★★

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Crítica: "O SEGREDO DAS ÁGUAS" (2014) - ★★


Nunca entendi muito a filmografia de Naomi Kawase. Pra falar mesmo a verdade, vi poucos filmes dirigidos pela japonesa. Seus pretextos poéticos e filosóficos quase sempre, pra não falar toda vez, resultam em fracassos. Alguma coisa sai errado. Neste O Segredo das Águas, a mesma coisa se repete. Não há flexibilidade, a certo modo. Tal predileção, já característica do cinema de Naomi, falha em sua tentativa de maravilhar, comover, estabilizar o espectador, e só tende a causar cansaço e retalhar uma grande história, transformando-a em um conteúdo inútil, sem precisão. O Segredo das Águas, do que mais tem de belo, acaba errando feio em sua proposta ambiciosa e inicialmente mágica, mas que vai perdendo a força quando alguns elementos vão se dissolvendo incessantemente na narrativa. 

Uma grande pena ver que este lindo filme, que eu tanto esperava gostar, acabou se transformando tão rapidamente numa tediosa perda de tempo. Talvez, o melhor a se ver em O Segredo das Águas é a delicadeza e constante beleza da fotografia, de Yutaka Yamazaki, frequente colaborador de Hirokazu Koreeda, tendo participado de Ninguém Pode Saber, o ótimo Andando e Depois da Vida. Por que de resto, nada de bom vejo. 

Em Cannes, Kawase revelou: "Esta é a primeira vez que digo algo do tipo à um filme. Depois da Camera D'Or e do Grand Prix, não há nada mais que eu queira do que a Palma de Ouro. Eu não tenho olhos pra mais nada", ao dizer que O Segredo das Águas é a sua "grande obra-prima, merecedora da Palma de Ouro". Bem, não posso em nenhum ponto discordar que tal afirmação tem cabimento para Naomi, por que para mim, não é a mesma coisa não. Se não fosse o clima distorcido, a mudança repentina de gêneros, os clichês pouco inventivos e os atalhos mal-feitos do roteiro, em alguma parte até poderia concordar com Naomi, mas O Segredo das Águas é demais para o meu gosto.

De todo, não é um filme sem sentido. O erro de O Segredo das Águas, o principal deles - pelo menos - é a sua falta de comprometimento com a dramatização, em minha opinião. A reflexão de Kawase, calma e pura, inspira os efeitos lisonjeiros da natureza e leva na história como cenário ela própria. O título mesmo sugere que um dos temas explorados na trama deste longa seja a natureza. Só que O Segredo das Águas deixa de ser produtivo por se apegar demais à suas próprias invenções. É nesse ponto que o filme passa a ficar chato, sem controle da situação e acaba concluindo-se num fracasso absoluto e impulsivo. 

Nem vou falar da confusão que é essa parte metafórica da história. Ô coisa cansativa. Sem querer dizer que não estive em algum momento interessado por tal segmento, mas, até nessa parte, que naturalmente deveria oferecer certo interesse ao espectador, Naomi não só se rebaixa como também acaba de vez com o realismo do filme, misturando a própria conexão de tramas com a falta de credibilidade dos clichês. Ufa, ainda bem que temos em tela uma fotografia estonteante, em cores rígidas, ora quentes, ora frias, que, embora possuam certa tenacidade e contraste, não perdem em algum segundo a visibilidade. Senão, odiaria por completo O Segredo das Águas!

O Segredo das Águas (Futatsume no mado)
dir. Naomi Kawase - 

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Crítica: "GUERRA AO TERROR" (2008) - ★★★★★


Um dos melhores e mais impactantes filmes sobre a guerra feitos ultimamente, além do candidato nº1 a melhor filme sobre a Guerra do Iraque, Guerra ao Terror é um emocionante retrato desse desgraçado episódio, que destruiu e afetou a vida de vários envolvidos. Fugindo dos repetitivos clichês e da monotonia narrativa, Guerra ao Terror destaca-se dentre os outros filmes de seu gênero e ganha uma notoriedade especial e absolutamente merecida, em minha opinião. Bom elenco, um sublime roteiro, uma inigualável equipe técnica, e uma diretora dedicadíssima e talentosa - uma das mais gratificantes revelações cinematográficas de nossa época, Katheryn Bigelow -. Guerra ao Terror, diante de tanto auxílio do bom e do melhor, impossivelmente, sob qualquer ângulo, poderia resultar num fracasso. 

Será que Katheryn herdou esse fenomenal dom, na separação de bens, de seu ex-marido James Cameron, que, tendo lançado o bilionário Avatar no mesmo ano, teve que ceder ao sucesso de sua antiga mulher, até sendo obrigado a aceitar Oscars de Filme e Diretor (risos)? Estou, obviamente, brincando. Talvez Katheryn, enquanto casada (ela já era diretora à altura), poderia ter aprendido alguns truques do marido, e até pode ter os trazido para cá em Guerra ao Terror. Nisso, me refiro à audácia, ao perfeccionismo, à expansiva austeridade da obra e do relato. Disso, até posso falar. O filme que transformou a carreira desta diretora, que pouco tempo antes de Guerra ao Terror era uma cineasta pequena, não poderia ter sido melhor, em minha opinião. Tudo o que tenho à dizer para Katheryn é: "parabéns". Fico abismado ao assistir Guerra ao Terror, assombrado e encantado por cenas carregadas de uma profunda tensão e uma fúria atenuante, ao som do espírito amedrontador da coragem. Filme exagerado? Muito pelo contrário. A realidade é um alvo iminente, senão, muito superestimado em Guerra ao Terror. Vá lá: Guerra ao Terror, se não fosse pelo elenco, pela câmera lenta e pelos efeitos catastróficos, de trilha, de fotografia, de som, de montagem, e tudo o mais, praticamente seria um documentário. Mesmo que a ficção seja um ingrediente-chave, nada impede Guerra ao Terror de ser uma exposição viva. 

Lembrando que este não é um filme sobre heróis e vilões. É um filme sobre a guerra. Afinal, tal visão explorada, no ponto de vista que a narrativa abrange, seria muito negativa e injusta. Toda guerra funciona como uma moeda. É cara e coroa. Nosso herói pode ser o vilão do outro. Filme sobre moralidade? Bem, depende de você. Isso igualmente funciona como uma moeda. Há algum tempo vi no cinema Sniper Americano. No entanto, lá era uma coisa totalmente diferente, já que em certos pontos o filme protestava o Iraque e seus atos terroristas imperdoáveis, responsáveis por danos fatais, e, naquele mesmo caso, o filme apoiava e andava lado a lado com o patriotismo fanático que o clima da história não só inspirava, como também seu próprio criador, Clint Eastwood, carregava em seu estilo como uma forte marca. E, de qualquer forma, vocês não acham que um filme iraquiano falando sobre essa guerra também não usaria a América como vilã para formular um argumento? É aí que a moeda se instala. Só que Guerra ao Terror não está falando sobre o patriotismo. Em nenhum momento eu vi alguma referência muito clara que me pudesse identificar a presença de tal artifício. Por favor, não pensem que estou julgando o patriotismo. Estou apenas tentando divulgar as extremidades do retrato de Guerra ao Terror. Como eu dizia, Guerra ao Terror é um filme diferente, sobre homens comuns em suas missões. Poderia ser qualquer guerra ali. Qualquer nacionalidade. O que realmente importa e vale em Guerra ao Terror é como ele quer visionar seus integrantes e suas vidas não apenas afetadas pelos contrastes da guerra, mas seus rumos difundidos pelas suas atividades, sozinhas.

Guerra ao Terror até apela para o sentimentalismo, mas funciona. Nem sai feio nem sai bonito. Um bom segmento do filme é quando James (spoiler) encontra o corpo do menino que havia feito amizade antes. Nessa parte vemos o forte lado das estratégias e fundamentos da guerra. Mas é aí que vemos que tudo é espelhado. Assim como americanos possuem seus truques, iraquianos possuem os deles. A Guerra do Iraque, ainda atual, é cheia de prós e contras. Mas deixemos isso de lado, ou terei o risco de causar alguma confusão. Estou aqui em nome de Guerra ao Terror, tentando argumentar e cumprir a minha própria missão, que é fazer o público acreditar em minha comoção, nesta situação. Se nisso fui bem, agradeço demais. Caso discordam de minha adoração ou da minha opinião em alguma parte, agradeço também. Significa que não somos únicos, e eu também, né? E isso é só o início. Quando peguei esta tarde Guerra ao Terror para ver, não apenas esperava, em certo aspecto, me emocionar por sua qualidade interior, mas também pela sua qualidade exterior.

Fotografia belíssima de Barry Ackroyd encorpora os quentes tons do Oriente Médio nada sutilmente, em constante bege. A trilha sonora temporária de Marco Beltrami e Buck Sanders desnorteia em determinados momentos. Os efeitos sonoros (puxa vida!) são inteiramente incríveis. Avatar ter sido duplamente derrotado no Oscar 2010 por este filme nas categorias de Edição e Mixagem de Som é até pouco aceitável, mas que os efeitos sonoros de Guerra ao Terror são deslumbrantes, é inegável. O elenco é equilibrado e dá um enorme show. Jeremy Renner mostra seu autêntico talento na pele do desarmador de bombas William James. Outro que também estava fantástico aqui nesse filme foi o Anthony Mackie, de quem eu nunca tinha ouvido falar antes, mas cujo nome, depois deste longa, não tão facilmente esquecerei. Pensei que veria mais de Ralph Fiennes aqui neste filme (lá vem spoiler), de acordo com que vi certa vez (nem comentarei para difamar o coitado), mas o homem só aparece numa única cena, como um militar amigo que é confundido com iraquianos, e, dois minutos em seguida, com pouquíssimas falas, logo leva um tiro e cai no chão, sem mais nem menos. Eu, primeiramente, não acreditei. Mas é só isso. Enfim. Acho que o único erro de Guerra ao Terror foi esse. Ter desperdiçado Ralph Fiennes (risos). Se bem que o já tão cedo lendário Ralph tá topando tudo (só não sei se é por dinheiro!). 

E Katheryn... Que diretora! Nada estranho ela ter recebido o Oscar de Melhor Diretor em 2010, tendo derrotado os marmanjões da categoria (entre eles o Sr. James), e tornado-se a primeira mulher a vencer o prêmio na história, e a quarta indicada. Tal honra para Bigelow não pode ser melhor definida do que como merecida, por que, de fato, Guerra ao Terror é um filme maravilhoso, uma obra-prima visionária e atordoante, bela e singular em todos os sentidos. Além de Katheryn, outra revelação extraordinária de Guerra ao Terror, pela segunda vez consecutiva arrecadando aplausos, depois de No Vale Das Sombras, foi o jornalista Mark Boal, correspondente da Guerra do Iraque, cuja experiência e competência serviram de base para o versado e bem-feito roteiro desta película. Guerra ao Terror é memorável. Mais que isso, presumo. É impressionante.

Guerra ao Terror (The Hurt Locker)
dir. Katheryn Bigelow - 

terça-feira, 28 de julho de 2015

Crítica: "DÁLIA NEGRA" (2006) - ★★★★★


O melhor filme em tempos do mestre Brian De Palma não só trata-se de thriller envolvente e absurdamente inteligente, como também é um trabalho de arte sensacional e incrível, que merece ser revisto, pois sua qualidade é de uma profusão tão atordoante, que não é totalmente captada se o filme for visto uma única vez. Talvez esse seja um dos motivos nos quais Dália Negra foi recebido com impetuosas críticas negativas em seu lançamento. Ou, a única explicação para tal fracasso seja mesmo o azar. Nem todos apreciarão Dália Negra mesmo. Mas, mesmo vendo as imperfeições, poucas, existentes nesse filme, há algo que me deixou totalmente obcecado em relação à ele, algo que me impede de não apreciá-lo. E isso é algo muito pessoal meu. Dália Negra, em minha mais sensata opinião, é um triunfo cinematográfico exímio. Um presente estonteante e inesquecível de Brian, que nos devia tal regalo há muito tempo.

Inicialmente, pelo título e pelos eventos que vão acontecendo por toda a trama, Dália Negra mais soa como a história do chocante crime, que é real, onde a jovem atriz Elizabeth Short foi brutalmente assassinada e esquartejada, encontrada num terreno baldio em Los Angeles - o crime, até os dias de hoje, não foi desvendado -. Mas na verdade não é tanto não. Decerto o insano assassinato ganha a tela e constrói a trama, mas a história gira em torno de dois detetives, ocasionais boxeadores e grandes amigos, Dwight Bleichert e Lee Blanchard. Após serem promovidos, Dwight e Lee passam a participar de grandes investigações, e em todas elas obtendo um enorme êxito. No entanto, quando o assustador e enigmático assassinato de uma aspirante à atriz de 22 anos ocorre na cidade, a vida desses dois detetives vira de cabeça para baixo. 

O misto de delicadeza e intensidade com o qual Brian De Palma vai conduzindo Dália Negra é de uma formosidade fabulosa. Não é tão à toa que Dália Negra possui um clima tão Hitchcock. O filme, que bebe da fonte do estilo do grande Alfred, não está tão longe da comparação com um filme do lendário cineasta. Dália Negra é um longa instruído de uma perfeição tão excêntrica e invejável. Talvez o roteiro deixe escapar certos artifícios e até crie confusões na mente do espectador, mas nada é tão grave a ponto de justificar o ódio intolerante com o qual o filme foi acolhido. É tremendamente assustador, e ao mesmo tempo peculiar, por que Dália Negra não é um filme ruim.

E, como em todo bom noir, ainda mais neste aqui, realizado à moda antiga, em Dália Negra não faltou mistério, máscaras, ilusão e mentira. Esses ingredientes, juntos, numa receita arriscada e ambiciosa, terminam em um resultado excelente. Bem, até confesso que De Palma poderia ter se saído melhor, dado passos maiores - chances ele teve -. Quem sabe reciclar os elementos e as pistas de uma forma mais meticulosa do que a feita? Não estou falando que estou decepcionado com o resultado, de jeito algum! Só digo que, embora o resultado seja atrativo e ótimo, nada o impedia de ser melhor. 

Que elenco... A junção em grupo de atores tão privilegiados num filme só com tantos personagens engenhosos é um prato cheio. A sensual Scarlett Johansson, aqui no frágil, porém estabelecido papel de Kay Lane, é um recheio desnorteante. Pensara eu que ela seria a femme fatale de Dália Negra, e não a Hilary Swank, que encarna o personagem-chave da trama, de forma bem plausível, mas que não é tudo aquilo. Swank possui força, mas sua interpretação um tanto quanto óbvia da femme fatale é devidamente demais esquisita pro meu gosto. Quem dera fosse Scarlett. Se bem que seu personagem amável e carinhoso mais serve de consolo emotivo à obscura narrativa, onde quase todo mundo tem uma ligação com o crime. 

A experiência única e radiante de ver Dália Negra me proporcionou uma grande satisfação. Já fazia uns tempos que queria ver o filme. Desde que vi Passion, o mais recente filme de Brian, e que também foi uma experiência pra lá de magnificente. Além disso, meu desejo só aumentou depois que comecei, mês passado, a pesquisar sobre o tremendamente bizarro assassinato de Elizabeth Short, que é horrendo (as imagens originais do acontecimento são indescritíveis - no pior sentido da descrição -). Levando em conta que trata-se de um filme de ficção, e que o assassinato de Short terminou como caso perdido, Dália Negra, adaptação do romance homônimo de James Ellroy (sim, o mesmo autor do livro que originou Los Angeles - Cidade Proibida, filme que aborda uma temática muito semelhante da de Dália Negra), remonta o crime em traços meticulosos e vibrantes, que só reprisam seu sucesso. O roteiro fenomenal de Josh Friedman, também roteirista de Guerra dos Mundos, e do já anunciado Avatar 2, é um dos maiores destaques deste filme.

A única, das várias que merecia, indicação ao Oscar que Dália Negra recebeu foi em Melhor Fotografia, nomeação dada à Vilmos Zsigmond. E que bem merecida indicação... Vilmos Zsigmond lidera a direção de fotografia de Dália Negra com uma bravura excepcional e uma majestosidade ainda mais poderosa. Muito difícil de escrever o efeito que seu trabalho causa, que faz de Dália Negra um filme bonito e ainda mais cativante e valioso. Não só a fotografia de Vilmos, me engano. Dante Ferretti, o melhor diretor de arte da indústria cinematográfica atual, realiza em Dália Negra mais uma invencível aventura, com cenários muito bem-feitos, que praticamente dão vida à Dália Negra e intensificam o quê épico da trama. A trilha sonora do pouco conhecido Mark Isham é tocante. Os figurinos da britânica Jenny Beavan são tocantes. Dália Negra, rodeado por tanta eficiência, muito dificilmente não me conquistaria. É mais uma grande obra, belíssima e visionária, dirigida por Brian De Palma, esse mestre cuja perícia é inteiramente genial e esplendorosa. Em Dália Negra, De Palma prova, como sempre, a celebridade de seu cinema.

Dália Negra (The Black Dahlia)
dir. Brian De Palma - 

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Crítica: "LE CHAMBRE BLEUE" (2014) - ★★


Le Chambre Bleue, o mais novo filme do ator francês Mathieu Amalric, que muito ultimamente tem se aventurado na direção, não chegou aqui no circuito nacional e provavelmente não chegará, já que até na França foi lançado bem timidamente, e o que dirá aqui em nosso país. Exibido no Festival de Cannes ano passado, na seção Un Certain Regard, este drama, que mais tem cara de noir, poderia ser bem melhor. Enfim, o grande erro deste longa é que ele compra aquilo que não pode pagar. Le Chambre Bleue (O Quarto Azul) começa enganando, apresentando alguns elementos que já começam a dar nó na cabeça do espectador, que no fim vai começando a compreendê-los de perto. Mesmo assim, com todo o cuidado que Amalric vai costurando a história, de trás pra frente, de uma maneira bem perspicaz e inventiva, alguns elementos escapam e ficam perdidos, sem resposta. Como eu disse: Le Chambre Bleue tem cara de noir. No fundo, até que é. Mas o final é muito pequeno comparado às expectativas em torno dele.

Baseado no romance de Georges Simenon, cujo mais futuramente procurarei, o filme acaba caindo na destreza e, mesmo que cegamente, desrespeita o público de maneira severa, arriscando passos e errando feio na jogada. Le Chambre Bleue, de tão resumido que é, acaba virando um filme pequeno demais para aquilo que propõe, e isso acaba influenciando um pouco em seu fracasso. No fim, é um filme confuso, por que não entendemos direito a sua proposta. Até parece que o próprio roteiro tenta encobertar o crime, que bem no finzinho vem à tona, e mesmo assim nem causa tanto impacto. 

O filme, que dura menos de 70 minutos, é rápido demais, em minha opinião. Digo, rápido demais a ponto de fazer o espectador perder a noção do espaço, uma vez que os flashbacks se misturam muito rispidamente aos depoimentos enigmáticos do protagonista. Um dramalhão girado em torno da jornada de dois amantes, que acabam se separando no decorrer de um evento, e acabam se reencontrando quando esse evento gera um crime abominável, Le Chambre Bleue conta com a belíssima fotografia Christophe Beaucarne, a salvação desta perdição, e com um elenco comportado, mas ainda sim demais introvertido pro meu gosto. Esperava mais de Amalric, tanto na direção, quanto na adaptação e atuação. A trilha sonora de Grégoire Hetzel também tem seu momento de glória em Le Chambre Bleue.

Le Chambre Bleue
dir. Mathieu Amalric - ★★

Crítica: "BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS" (2008) - ★★★★


Nunca pensei que gostaria de Batman - O Cavaleiro das Trevas como eu gostei. Nunca fui muito fã do personagem, e mesmo assim, sem ser um ávido fanático, o considero o melhor de todos esses heróis fantásticos da ficção, embora sequer tenha o acompanhado muito de perto. E este Batman - O Cavaleiro das Trevas é uma surpresa deliciosa. Não é aquele filmaço que tanto prometeu ser, mas é um filme muito bom. O segundo e mais popular filme da trilogia Batman, de Christopher Nolan, possui pontos fortes e pontos fracos. Surpreende por muitos motivos. Um deles é a sua sobrevivência intacta do mal dos filmes de seu gênero, que muito tendem a ser demais repetitivos, exagerados e antipáticos. Também se livra da insegurança e dos possíveis atalhos pseudo-climáticos, que poderiam destruir a perspectiva dramática da trama do filme por inteiro. E, por que não dizer que O Cavaleiro das Trevas é um filme, finalmente, maturo, a certo modo? 

Ação pra cá, e ação pra lá, Christopher Nolan presenteia o espectador com um original e espetacular trabalho de arte. Não é "apenas" um filme de super-herói. Engloba todo um significado por trás de tal rótulo e acaba tornando-se algo maior. O som repetitivo que o filme logo de cara aparenta, na verdade é um falso cognato por trás do sucesso astronômico que esconde em si. E isso nada mais é o que O Cavaleiro das Trevas representa: uma bomba, que logo mostra-se efetivamente desarmada. Decerto há algumas imperfeições e indecifráveis incógnitas em O Cavaleiro das Trevas. Mas, por favor, primeiro vejamos o que o filme traz de bom, a real inovação - que é rara -, e depois analisamos os erros, que são mais comunais aos outros filmes, mas aqui não são grande coisa - que também é raro -. Afinal, why so serious

O moralismo perfeccionista de O Cavaleiro das Trevas é o menor dos problemas. O que realmente conta é a novidade. O que é melhor, de fato, em um filme senão sua inovação? O bom deste é que, principalmente, os clichês são reduzidos microscopicamente, e as muitas inovações são gigantes. Contemos primeiro com tal avanço para chegar à conclusão final. A primeira grande inovação de O Cavaleiro das Trevas é seu elenco, extraordinário. Se isso era preocupação, aliviados saímos do cinema em tal ponto. Heath Ledger explica tudo. A competência e versatilidade do ator são colocadas à prova aqui neste filme, e, como resultado, recebemos uma atuação maravilhosa. Não foi em O Segredo de Brokeback Mountain, nem em Casanova, muito menos em Não Estou Lá, mas aqui, em O Cavaleiro das Trevas, que Ledger concebeu a sua melhor performance, e talvez a maior de todas, mesmo que poucas, delas. O Oscar póstumo foi mais que merecido para Ledger. O prêmio nem consegue simbolizar ao todo o grande talento de Heath no papel do Coringa. Elogiar sua performance não é suficiente. Ela é totalmente indescritível.

Ironicamente, o membro do elenco que mais me desapontou foi Christian Bale. E não é a primeira vez. Bale, naturalmente, tem um ar frágil, fraco, meio sem graça, vazio, frio. Mesmo que seu currículo seja preenchido por grandes filmes, e indicações ao Oscar por longas como O Vencedor Trapaça, Bale só consegue surpreender pela facilidade surreal de fazer tão diversos papéis, e encarná-los de forma tão inusual, quebrando, não raramente, seu lado natural. Se por um lado Bale soa muito parado, no outro quem ganha espaço é essa sua capacidade de camaleão, que sempre positivamente nos agrada, e rebeldemente ataca sua personalidade comunal. Não entendam mal. Gosto dele. Possui um dom único, e incrível para atuar. Só que pra mim, Bale funciona como o Harvey Dent: é um duas-caras. Num lado é um tanto vazio, por que assim foi assim que ele nasceu, afinal, não é possível escolher nossa cara, e no outro é fascinante, por que é dedicado e tem um enorme talento. Em O Cavaleiro das Trevas, o lado vazio é quem constantemente toma conta da tela. Afinal, o sujeito anda o tempo todo com uma máscara enquanto encarna o Batman, e enquanto Bruce, que já é bem friozinho, a confusão bate. Fica difícil de saber se é ele ou se é um dublê. E fica difícil saber se é o Batman ou se é o Bruce Wayne. Essa parte aí é meio complicada, viu.

Mas, digo com certeza, se O Cavaleiro das Trevas fosse um céu, não seria nada difícil enxergar brilhantes e incontáveis estrelas nele. Além de Heath e Christian, ainda temos a ótima performance de Aaron Eckhart, Morgan Freeman, Michael Caine, Maggie Gyllenhaal, Gary Oldman, Cillian Murphy (coadjuvante em Batman Begins, aqui mais coadjuvante do que nunca, aparecendo em pouquíssimas cenas). É muita gente. E Nolan? O que dizer de Nolan? Qual é o papel de Nolan em O Cavaleiro das Trevas? É um papel desleixado? Ou bom? É um papel bem silly? Ou um papel bem strong? Christopher Nolan, um dos diretores mais desafiadores e divididos dessa geração talvez também seja como Harvey Dent. Seja, não: é. Foi excelente em A Origem, excepcional em Amnésia, talvez seu melhor filme, e ambicioso em O Grande Truque (e em todos os outros filmes de sua carreira, incluindo este, mas O Grande Truque foi o auge). Não vi ainda Interestelar (não, eu não tô brincando), mas pelo que eu vi é bem mediano. E como Nolan é em Batman - O Cavaleiro das Trevas, e nos outros dois filmes da trilogia? Ele é grande. Muito grande. Gigante, o que funciona de uma forma um pouco diferente de ambicioso. Gigante no sentido de verossímil, esforçado. A audácia também é grande, mas não no sentido dessa giganteza que vos apresento. Detalhista? Duvido muito. Algumas cenas de O Cavaleiro das Trevas, muito nitidamente, fornecem imperfeições catastróficas. Não acredito que detalhista seja a melhor coisa a se dizer de Nolan em O Cavaleiro das Trevas. Ele é grande, e ponto.

E, sendo grande ambiguamente na direção e no roteiro, poderosíssimos, Christopher acaba fazendo desta película uma grandiosidade peculiar. E isso é bom. Como em Chicago: "and that's good, isn't it grand? Isn't it great? Isn't it swell? Isn't fun, isn't it?". O Cavaleiro das Trevas é definido por tal adjetivo: grande. E isso, minha gente, é o que faz dele uma pérola preciosa. Um tremendo sucesso (não só de bilheteria, digo). Levem em consideração que este filme me agradou apesar de seu gênero, que não excede nem um pouco horríveis fracassos. E acabou abrindo a minha mente e mudando minha ideia sobre ele. Me fez ver que nem toda produção de seu porte é um lixo, e que no fundo tudo o que me afetava sobre elas era um preconceito ávido. No final, O Cavaleiro das Trevas, dentre as várias morais que fabricou, fez uma que em sua concepção é totalmente especial para mim, e que é a responsável por esta opinião: why so serious?

Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight)
dir. Christopher Nolan - 

domingo, 26 de julho de 2015

Crítica: "INIMIGOS PÚBLICOS" (2009) - ★★★★


O mais triste deste domingo é que começa a última semana de minhas férias. Na verdade, os últimos dias dela, já que quinta-feira retornarei à ativa. E, mesmo que eu tenha visto uma porrada de filmes nesse intervalo, não acredito que o recesso foi tão bom assim. Fiquei gripado logo no meio dele, e em seguida, veio a bronquite. Fiquei em casa o tempo todo, e não saí para quase nenhum lugar, à exceção do cinema, ainda tendo visto pouquíssimos filmes que entraram em cartaz ultimamente. Bem, em comparação com as férias de junho/julho do ano passado, esta vence, já que na época, em virtude da Copa, as férias não duraram nem ao menos um mês. Mas eu queria ter saído mais. No fim de tudo, passou tão rápido. Enfim, foi o que teve pra hoje. Espero que o próximo recesso de dezembro/janeiro, que é bem mais longevo, me renda o mesmo que as últimas férias de dezembro/janeiro renderam, já que foram ótimas. Elas sempre são. 

E chegamos ao segundo semestre de 2015. Tomara que ele passe bem rapidinho. Mas, mesmo nesse melancolia toda, até que fico feliz por voltar ao meu cotidiano. Mesmo que as férias sejam tão ótimas, se afastar do dia-a-dia não é a minha pretensão, e talvez nem será. Fechando as minhas férias, que ainda não se encerraram ao todo, vejo este belo drama estrelado por Johnny Depp, e dirigido pelo grande Michael Mann, cheio de atrativos e uma natural competência, mas que não escapa das imperfeições. Inimigos Públicos, filme que há muito tempo andava em meus pensamentos, de todo não é um filme ruim. Até que é legalzinho. As sequências de ação são lindíssimas, as performances, manejadas e feitas por um elenco afiadíssimo, são graciosamente espetaculares, e a reprodução técnica da época em que o filme ambienta-se não pode, ao todo, ser resumida num único adjetivo senão relatada meticulosamente, o que eu farei em breve.

A história real do assaltante de bancos John Dillinger é recontada com maestria em Inimigos Públicos. Desde a planejada-com-esperteza fuga da prisão de John até os momentos finais de sua carreira como assaltante, Inimigos Públicos faz uma detalhada e sensível revisão. O que se ausentou aqui em Inimigos Públicos, especialmente na hora da narração, foi o clímax. Quando ele surge, surge do nada e às vezes causa transtornos para o espectador, criando confusão e, em seguida, caos. Os movimentos ágeis e repentinos da câmera também contribuem para esse clímax invertido, algo que, se por um lado contribui, dando ao filme um aspecto mais realista, por conta da dimensão fotográfica, até "futurista", nesse outro nem tanto. 

Embora não seja superficial, Inimigos Públicos deixa uma impressão de que é. E isso incomoda um pouco, por que no fundo não é um filme ruim, mas parece que ele mesmo se esforça ao máximo para ser, e não consegue, o que é bem estranho, convenhamos. Tiro, porrada e bomba mata a sede do público por ação e adrenalina, mas não cala o desejo de ver uma trama de qualidade na tela. Não que Inimigos Públicos não tenha uma boa trama. Mas eu sinto que falta só um pouco de força nela - a timidez da narrativa, que aparenta estar apenas destinada a tomar conta dos fragmentos estéticos do longa, complica -. 

Bem, pra quem desconhece o paradeiro de Dillinger, como eu, que até ver o filme igualmente não sabia nada sobre o caso, o desfecho da história e o final, centralmente, poderão ser bem intensos e surpreendentes. Johnny Depp tem uma baita participação nisso. O ator, em uma performance desoladora e realmente corajosa, vence mais uma vez os obstáculos existentes em fazer personagens históricos (clichês, falta de retrato e conexão com a realidade, superficialidade) e nos convence, como sempre, da autenticidade de seu talento e sua unicidade artística. E, como descontração para a extrema violência do trabalho de John e seus audaciosos e perigosos planos, temos a lindíssima Marion Cotillard contracenando com ele, fazendo seu par romântico perfeito, que oferece à criminosa história um quê amoroso, que conforta e, por sua vez, simboliza a única paz de John.

A trilha sonora do vencedor do Oscar Elliot Goldenthal, sem medo, traça um clima de fúria e tensão a todo instante no longa. Isso contribui para a profundidade épica do filme, que toma espaço nos arredores de Chicago da década de 30, durante a Grande Depressão. A fotografia de Dante Spinotti, que, como eu já descrevi, tem uma baita importância aqui em Inimigos Públicos, e coloca o público à frente da situação, como se nós estivéssemos presenciando cada segundo, cada movimento, cada tiroteio, gravado pela película. E isso é o melhor dessa fotografia empenhada e fabulosa. Os figurinos, os cenários, o som... Tudo é controlado com cautela e talento pelas mãos excepcionais de Michael Mann, que já apresentou trabalhos maravilhosos como Fogo Contra Fogo, Miami Vice, Falcão Negro em Perigo O Informante, traz na tela mais um trabalho prazeroso que, se não corresponde totalmente às expectativas quanto à ele, pelo menos é um retrato bem feito de um crime e o homem por trás dele, Dillinger.

Inimigos Públicos (Public Enemies)
dir. Michael Mann - 

sábado, 25 de julho de 2015

Crítica: "À FRANCESA" (2003) - ★★★


À Francesa, por um lado, pode ser um filme bem tosco, mas pelo outro é sensato, intenso, simpático, bem-contado e belíssimo. Se, de tudo, não conseguiu agradar nem um pouco a crítica em seu lançamento (o filme, que relata de modo forte e profundo a relação entre franceses e americanos, não foi bem recebido à altura, lembrando do conflito que França e E.U.A. travaram devido ao 11 de setembro no tempo), pelo menos não é tão enfadonho quanto eu pensava que seria, na questão da história, que pelo enredo já soa demais problemática - o que, para a minha surpresa, não é, não -. Afinal, é doce, tenro, gostoso de se ver. O filme oscila entre o drama e a comédia, mas a todo instante, mesmo em cenas tensas, a pureza e a beleza da vista não deixam de ser radicalmente apreciáveis e enternecedoras. 

Descartado em Cannes, mas aceito em Veneza, este filme, pelo incrível que pareça, se salva do cansaço e da mesmice, e do possível fracasso, ao dissolver minuciosamente as diferenças existentes entre duas culturas tão distintas de uma forma que não é ao certo nova, mas também não é nada tão ruim como muita gente andou protestando por aí. À Francesa, logicamente, não tenderá a agradar todo um público da mesma forma. É um filme que, sim, depende do olhar. Desastroso? Devagar? Inútil? Decepcionante? Perda de tempo? Que nada. Desculpa velha de quem não entendeu ou não teve a intenção de interpretar os objetivos da narrativa por preconceito ou falta de aptidão. Bem, como eu mesmo disse: nem todos gostarão de À Francesa.

Até eu entrei no ritmo, já que detesto Kate Hudson, mas aqui a graça da bela atriz é inegável. E de Naomi Watts, então, nesse papel delicado e bem sutil, que carrega a melhor atuação deste filme, que possui um grande número de estrelas. À Francesa conta a chegada de uma moça americana, chamada Isabel Walker, em Paris, que está na cidade para cuidar da irmã grávida, uma poetisa chamada Roxeanne, e também para encontrar um trabalho. No dia de sua chegada, Isabel descobre que o parceiro de Roxeanne está a deixando por um motivo desconhecido. Isabel tenta reanimar a irmã, enquanto ela permanece tristonha e tensa o tempo todo, ainda mais quando descobre que o amado sacana armou um plano com o advogado para tirar dela uma valiosa pintura.

O maior e fatal erro de À Francesa é o roteiro de Ruth Prawer Jhabvala, vencedora de dois Oscars por trabalhos anteriores com James Ivory, diretor de épicos fabulosos como Vestígios do Dia e Retorno a Howard's End. O roteiro, enquanto apresenta inúmeras falhas, quão absurdas, ainda sim comete o inaceitável desfeito que coloca o próprio roteiro na frente do público, como se o público fosse uma opção descartável para o roteiro, e que ele não dependesse da compreensão do público para a sua própria compreensão. À Francesa faz questão de deixar tudo mastigado por nada. Nesse ponto, o filme perde a graça, por que o conflito abandona a oportunidade de submeter-se à dimensões maiores. Ruth, aqui em À Francesa, autoria um trabalho deteriorado e repleto de imperfeições. Embora tais erros acometam na resolução final do roteiro, as sacadas criativas que Ruth introduz durante o filme, como forma de lesionar ainda mais a aproximação cultural entre França e Estados Unidos, são simplesmente geniais.

Sem fazer um filme desde 2009, James Ivory conquista o coração e dança com nossas emoções num tango agitado e contorcionado neste filme lindíssimo. À Francesa, embora não seja um filme femininista, chega bem perto de tal identificação, já que é mesmo um filme destino à plateia feminina. A aventura das irmãs numa Paris romântica e encantada apenas tende a aumentar tal destinação. O público masculino, bonachão, achará de À Francesa um filme besta, ruim, sem quaisquer perspectivas de sua própria história, e ridiculamente meloso - o que é uma baita mentira -. Por um lado, o público feminino, aceitará sem reclamar os segmentos preenchidos pelas paisagens francesas líricas e audaciosamente versáteis, e por sua vez criará certo laço de reconhecimento com as personagens principais, seja com Isabel ou com a Roxeanne. O certo é que as damas apreciarão a bom porte À Francesa. Meu conselho aos machões em particular é que procurem uma obra de Sergio Leone para substituírem por À Francesa, por que o tempo de vocês será perdido em tal sessão. À Francesa, no entanto, apesar dos erros fatídicos do roteiro, possui performances plausíveis e acalentadoras, em especial a da Naomi Watts, aqui mais linda e triunfal do que nunca, e uma direção dedicada, embora não seja perfeita pelas inadequações, de James Ivory, e não deixa de ser em nenhum momento um bom filme, que emociona, faz rir e encanta. Só digo uma coisa sobre como achei À Francesa: não foi nem um pouco fácil. Por uma sorte lascada, cuja até agora me é totalmente bizarra, achei esta cópia de À Francesa dando sopa numa banca de jornal, pouco tempo depois de ter procurado o filme para ver em torrent. Pois é... A coisa é do mal!

À Francesa (Le Divorce)
dir. James Ivory - 

Crítica: "MANGLEHORN" (2014) - ★


À parte da presença de Al Pacino, Manglehorn, longa exibido em competição no Festival de Veneza do ano passado, onde o ator recebeu, a boa parte delas, críticas positivas por sua interpretação, trata-se de uma bomba fatal. Fortíssimo concorrente à pior filme do ano, o longa, que erra tanto quanto O Último Ato, com Pacino, visto em abril, é um decepcionante fracasso que se deixa levar pelo falso moralismo e também não respeita em nenhum ângulo as necessidades do conflito da trama. É bem parado, inútil e sem nenhum valor. Holly Hunter não faz absolutamente porra nenhuma, assim como o resto do elenco. Manglehorn vale mesmo pela atuação de Al Pacino que, apesar de não ser lá uma grande, ótima performance, como a crítica fez questão de exagerar lá em Veneza, ajuda a esconder o gosto amargo deste horrível lixo.

Olha que eu estou sendo muito otimista elogiando aqui a atuação de Al, por que eu, sinceramente, não gostei nem um pingo de Manglehorn. Sequer por um segundo. Começa bem leve, engana o público, mas aí se perde no vão que separa sua comédia de seu drama, e por aí a confusão já se instala, desnorteando o filme e o fazendo cada vez mais pesaroso de se ver. Tem uma hora em que você só quer que ele acabe. Só isso. Sua duração pequena de noventa minutos prolonga-se numa tortura cansável. Manglehorn, que já no início aparentava ser bem monótono, só vai intensificando essa característica, até transformá-la no mal mais irritante do longa. Odeio falar disso, mas Manglehorn segue a linha padrão dos dramas convencionais e práticos, que apenas querem aproveitar da confiança do público mais comunal para ganhar atenção, principalmente naquelas cenas melodramáticas. É mais uma daquelas histórias de superação embaralhadas que, no final, não resolvem metade do que propuseram, e se auto-descartam quando mantém a trama embaralhada, ocultando alguns detalhes que bem seriam propícios ao conhecimento do espectador.

Chega a ser engraçado, por que parece de propósito. Parece que o diretor quis fazer um filme de merda e transformá-lo em algo sem nenhum significado. Gastar elenco, gastar personagens que, numa armação diferente, poderiam ter dado certo. Mas, infelizmente, Manglehorn não passa de uma bomba. Conta a história de um solitário senhor que não possui uma relação muito boa com o filho rico, que mora distante, é desprezado por alguns outros, e é obcecado com um passado que, até o fim do filme, continua sem fazer o mínimo sentido, justo por que o roteiro não abre ao todo seu leque, limitando informações e fazendo uma completa confusão destas. Quem é mais inocente, e se deixa levar pelo bondoso carisma do protagonista, logo se apaixonará pelo longa. Caso contrário (no meu caso), Manglehorn é chato, meloso pra caramba e maçante. 

E, nessas horas, minha tristeza chega a ocupar um espaço bem maior do que a raiva, por que, é a segunda vez este ano, e a milésima, de uns tempos pra cá, que eu vejo Al Pacino estrelando uma porcaria. Talvez, a melhor performance do ator até o momento estava no recente Não Olhe para Trás, um filme muito bonito e sensato, uma "revanche" de Al. Quanto à Manglehorn, que, durante a sua temporada em Veneza até me tinha deixado com esperança, entra para a lista dos grandes fracassos feitos por Pacino ultimamente. Mas, até que faz lógica odiar tanto assim Manglehorn. A boa parte dos diálogos de Al são entre seu personagem e a cadelinha dele, que, numa parte do filme, fica doente e é operada, sendo afastada de Angelo. Pô, assim não dá. Até entendo que o ato de conversar com os cachorros simbolize certa meiguice e espírito, só que - é preciso ver para entender - em Manglehorn isso ultrapassa os limites. Manglehorn, o chaveiro, vive se desculpando com a cadelinha. Certa noite, fez o maior barraco em casa depois de ter bebido "umas", e na manhã seguinte começou um baita confessionário com a cachorrinha. Sei que isso é comum, só que a sensação que isso deu em Manglehorn foi de que era algo muito bizarro. Enfim, acho que é melhor terminar por aqui. Prefiro deixar que vocês vejam a tragédia que esse filme é. Muito ruim.

Manglehorn
dir. David Gordon Green - 

quarta-feira, 22 de julho de 2015

LUMIÈRE DE OURO 2008



MELHOR FRASE











1. "Eu bebo o seu milkshake!" - Sangue Negro
2. "Você tem que cumprir seus princípios" - Na Mira do Chefe
3. "Por que tão sério?" - Batman - O Cavaleiro das Trevas
4. "En-ra-ha!" - Simplesmente Feliz
5. "É um elogio falar que são as piores tortas de Londres" - Sweeney Todd

MELHOR SOM












1. 007 - Quantum of Solace
2. Agente 86
3. Onde os Fracos Não Tem Vez
4. Sangue Negro
5. Batman - O Cavaleiro das Trevas

MELHOR EDIÇÃO










1. Onde os Fracos Não Tem Vez (Roderick Jaynes)
2. Rebobine, Por Favor (Jeff Buchanan)
3. Agente 86 (Richard Pearson)
4. O Ultimato Bourne (Christopher Rouse)
5. Queime Depois de Ler (Roderick Jaynes)

MELHOR MAQUIAGEM










1. Sweeney Todd (Louise Fisher, Ivana Primorac)
2. A Duquesa (Jan Archibald, Louise Fisher)
3. Batman - O Cavaleiro das Trevas (Jonh Caglione Jr., Conor O. Sullivan)
4. Elizabeth: A Era de Ouro (Jon Henry Gordon)
5. Trovão Tropical (Rick Baker)

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE










1. Sweeney Todd (Dante Ferreti, Franscesca LoSchiavo)
2. Sangue Negro (David Crank, Jim Erickson)
3. Elizabeth: A Era de Ouro (Guy Hendrix Dyas, Christian Huband)
4. O Orfanato (Josep Rosell, Iñigo Navarro)
5. O Grande Dave (Beat Frutiger, Robert Greenfield)

MELHOR FOTOGRAFIA










1. Um Beijo Roubado (Darius Khondji)
2. Sangue Negro (Robert Elswit)
3. Vicky Cristina Barcelona (Javier Aguirresarobe)
4. Onde os Fracos Não Tem Vez (Roger Deakins)
5. Paranoid Park (Christopher Doyle)

MELHOR FIGURINO










1. Sweeney Todd (Colleen Atwood)
2. A Duquesa (Michael O'Connor)
3. Elizabeth: A Era de Ouro (Alexandra Byrne)
4. Sangue Negro (Mark Bridges)
5. Jogos do Poder (Albert Wolsky)

MELHOR TRILHA SONORA











1. WALL-E (Thomas Newman)
2. Desejo e Reparação (Dario Marianelli)
3. O Sonho de Cassandra (Philip Glass)
4. 007 - Quantum of Solace (David Arnold)
5. Simplesmente Feliz (Gary Yershon)

MELHOR CANÇÃO










1. "Barcelona"
- Vicky Cristina Barcelona

2. "Down to Earth"
- WALL-E

3. "Epiphany"
- Sweeney Todd

4. "Another Way to Die"
- 007 - Quantum of Solace

5. "The Story"
- Um Beijo Roubado

MELHOR PERSONAGEM










1. WALL-E (WALL-E)
2. EVA (WALL-E)
3. Max Smart/Agente 86 (Agente 86)
4. Sweeney Todd (Sweeney Todd)
5. Nikolai Luzhin (Senhores do Crime)

MELHOR ELENCO










1. Vicky Cristina Barcelona
2. Simplesmente Feliz
3. Na Mira do Chefe
4. Queime Depois de Ler
5. Ensaio Sobre a Cegueira

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO










1. Sangue Negro (Paul Thomas Anderson)
2. Sweeney Todd (John Logan)
3. Onde os Fracos Não Tem Vez (Joel Coen, Ethan Coen)
4. Ensaio Sobre a Cegueira (Don McKellar)
5. Batman - O Cavaleiro das Trevas (Jonathan Nolan, Christopher Nolan, David S. Goyer)

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL










1. Senhores do Crime (Steven Knight)
2. Vicky Cristina Barcelona (Woody Allen)
3. Na Mira do Chefe (Martin McDonagh)
4. O Sonho de Cassandra (Woody Allen)
5. WALL-E (Andrew Stanton, Jim Reardon, Pete Docter)

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO 










1. WALL-E
2. Persépolis 
3. Horton e o Mundo dos Quem!
4. Kung Fu Panda
5. Madagascar 2: A Grande Escapada

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE 










1. Naomi Watts - Violência Gratuita
2. Penélope Cruz - Vicky Cristina Barcelona
3. Rachel Weisz - Um Beijo Roubado
4. Tilda Swinton - Conduta de Risco
5. Ruby Dee - O Gângster

MELHOR ATOR COADJUVANTE 











1. Javier Bardem - Onde os Fracos Não Tem Vez
2. Eddie Marsan - Simplesmente Feliz
3. Heath Ledger - Batman - O Cavaleiro das Trevas
4. Vincent Cassel - Senhores do Crime
5. Paul Dano - Sangue Negro

MELHOR ATRIZ










1. Sally Hawkins - Simplesmente Feliz
2. Julie Christie - Longe Dela
3. Julianne Moore - Ensaio sobre a Cegueira
4. Helena Bonham Carter - Sweeney Todd
5. Cate Blanchett - Elizabeth: A Era de Ouro

MELHOR ATOR (empate)

















1. Johnny Depp - Sweeney Todd
2. Daniel Day-Lewis - Sangue Negro
3. Colin Farrell - Na Mira do Chefe
4. Viggo Mortensen - Senhores do Crime
5. Eddie Murphy - O Grande Dave

MELHOR DIRETOR










1. Mike Leigh - Simplesmente Feliz
2. Joel Coen & Ethan Coen - Onde os Fracos Não Tem Vez
3. Tim Burton - Sweeney Todd
4. Martin McDonagh - Na Mira do Chefe
5. David Cronenberg - Senhores do Crime

MELHOR FILME












1. Sweeney Todd
2. WALL-E
3. Simplesmente Feliz
4. Onde os Fracos Não Tem Vez
5. Na Mira do Chefe

terça-feira, 21 de julho de 2015

LUMIÈRE DE OURO 2015: FILMES ELEGÍVEIS (Lista Completa - 1º Semestre)


Puxa... Metade de 2015 já passou. Difícil acreditar. Há pouco tempo atrás (para minha memória) era 2014. Eu apenas estava começando o blog (isso em setembro/outubro). Muita coisa mudou não só em mim mas também neste blog desde lá - e olha que nem é um ano, apesar de serem dez meses, erro meu: então é praticamente um ano -. A ideia do Lumière de Ouro surgiu no fim do ano. Uma espécie de cópia do nome do Globo de Ouro, com uma influência maior do Oscar. Na verdade, a ideia de ter uma premiação minha em que eu poderia escolher os melhores do ano por minha excelência já era bem antiga, mas o sonho de realizá-la se concretizou neste prêmiozinho. Não há estatuetas. Os vencedores não comparecem (risos). Mas é um prêmio, e eu gosto dele. É uma parte bem importante deste blog. Bem, voltando ao tópico principal, o ano já está praticamente acabando, já que o segundo semestre voa bem mais longe do que o primeiro. Acho que já é tempo de começar a publicar aqui os filmes elegíveis para o prêmio deste ano. Bem, aqui vão eles. OBS.: Essa lista tá absolutamente desorganizada, mas confesso que a culpa é toda da minha preguiça!

novas categorias:
- Melhor Cinebiografia
- Melhor Filme Brasileiro
- Pior Filme

1. Grandes Olhos, dir. Tim Burton ()
2. Mapas para as Estrelas, dir. David Cronenberg ()
3. Mad Max: Estrada da Fúria, dir. George Miller ()
4. Leviatã, dir. Andrey Zvyagintsev ()
5. Miss Julie, dir. Liv Ullmann ()
6. Vício Inerente, dir. Paul Thomas Anderson ()
7. Um Pombo Pousou Num Galho Refletindo Sobre a Existência, dir. Roy Andersson ()
8. Os Boxtrolls, dir. Graham Annable, Anthony Stacchi ()
9. Operação Big Hero, dir. Don Hall, Chris Williams ()
10. Caminhos da Floresta, dir. Rob Marshall ()
11. Acima das Nuvens, dir. Olivier Assayas ()
12. Whiplash: Em Busca da Perfeição, dir. Damien Chazelle ()
13. A Entrevista, dir. Seth Rogen, Evan Goldberg ()
14. O Jogo da Imitação, dir. Morten Tyldum ()
15. Força Maior, dir. Ruben Östlund (★)
16. Para Sempre Alice, dir. Richard Glatzer, Wash Westmoreland ()
17. A Teoria de Tudo, dir. James Marsh ()
18. Selma - Uma Luta pela Igualdade, dir. Ava DuVernay ()
19. Sniper Americano, dir. Clint Eastwood ()
20. Tangerines, dir. Zaza Urushadze ()
21. Foxcatcher, dir Bennett Miller ()
22. Um Santo Vizinho, dir. Theodore Melfi ()
23. Livre, dir. Jean-Marc Vallée ()
24. No Auge da Fama, dir. Chris Rock ()
25. O Ano Mais Violento, dir. J.C. Chandor ()
26. Life Itself - A Vida de Roger Ebert, dir. Steve James ()
27. Pasolini, dir. Abel Ferrara ()
28. O Amor é Estranho, dir. Ira Sachs ()
29. Cinderela, dir. Kenneth Branagh ()
30. A 100 Passos de um Sonho, dir. Lasse Hallstrom (½)
31. Cidadãoquatro, dir. Laura Poitras ()
32. As Maravilhas, dir. Alice Rohrwacher ()
33. Passion, dir. Brian de Palma ()
34. Mr. Turner, dir. Mike Leigh ()
35. Winter Sleep, dir. Nuri Bilge Ceylan ()
36. Entre Abelhas, dir. Ian SBF ()
37. As Duas Faces de Janeiro, dir. Hossein Amini ()
38. O Sal da Terra, dir. Wim Wenders, Juliano Ribeiro Salgado ()
39. Dívida de Honra, dir. Tommy Lee Jones ()
40. Casa Grande, dir. Felipe Barbosa ()
41. Kingsman: Serviço Secreto, dir. Matthew Vaughn ()
42. O Duplo, dir. Richard Ayoade ()
43. A Espiã que Sabia de Menos, dir. Paul Feig ()
44. Samba, dir. Eric Toledano, Olivier Nakache ()
45. Enquanto Somos Jovens, dir. Noah Baumbach ()
46. Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros, dir. Colin Trevorrow ()
47. A Incrível História de Adaline, dir. Lee Toland Krieger ()
48. O Exótico Hotel Marigold 2, dir. John Madden ()
49. Divertida Mente, dir. Pete Docter ()
50. O Teorema Zero, dir. Terry Gilliam ()

novos (até 20/07 - 2º semestre)

51. Corações Famintos, dir. Saverio Constanzo ()
52. Expresso do Amanhã, dir. Joon-Ho Bong ()
53. Woody Allen: Um Documentário, dir. Robert B. Weide ()
54. Salomé, dir. Al Pacino ()
55. Uma Nova Amiga, dir. François Ozon ()
56. O Conto da Princesa Kaguya, dir. Isao Takahata ()
57. Longe Deste Insensato Mundo, dir. Thomas Vinterberg ()
58. Minha Querida Dama, dir. Israel Horovitz ()