Hoje estava muito confiante em relação à Zodíaco. Queria ver muito o filme. Faz uma semana, comecei a vasculhar meus arquivos para ver se achava uma cópia que meu irmão possuía do filme e ano passado eu tinha pego para ver. Depois de tanto procurar, acabei ali mesmo me convencendo de que tal cópia estava perdida. Foi ontem que a achei no mesmo lugar que já havia antes procurado, talvez desatento. Reservei esta tarde especialmente para ver Zodíaco. E, em resumo, é um ótimo filme. Talvez, a narrativa medianamente lógica possa ter atrasado a resolução do crime em tela, mas é inegável dizer que trata-se de uma obra extremamente valiosa e importante.
Há muita gente que andou falando por aí que Zodíaco tem uma história confusa. Pensando bem, eu mesmo não posso negar isso. As idas e vindas da investigação que Zodíaco investiga, em determinados momentos, confunde a cabeça do espectador. Sendo tal confusão proposital ou não, pouco creio que ela é prejudicial para o entendimento da proposta e trama apresentadas no longa. O que realmente vale em Zodíaco é a fórmula conduzida por David Fincher a fim de conseguir recriar a época e as dimensões existentes no contraste entre o crime e as investigações em cima do ainda irresolvido caso do Zodíaco. Ainda essa semana, vi outro filme bem semelhante à Zodíaco, sobre um caso criminal irresolvido, mas cujo título e fama leva o nome de sua vítima: Dália Negra. Lá, no entanto, a realidade foi transformada pela ficção, já que o próprio filme do De Palma tratava-se da adaptação de um romance que se inspirou no fatídico crime no objetivo de recriar uma outra atmosfera para ele, desta vez onde o mesmo fosse resolvido. Aqui em Zodíaco, que também trata-se de uma adaptação, tal resultado é obtido de duas maneiras, se bem que o próprio final fica bem ambíguo, inexplicado.
O conto, que analisa os passos de uma investigação criminal com base no tenebroso caso de um misterioso serial killer, auto-apelidado de "Zodíaco" em uma de suas mensagens aos jornais de São Francisco, e os crimes que precedem um segundo evento, cujo um jovem casal sofreu tentativa de assassinato, tendo a mulher morrido e o outro jovem sobrevivido. Isso em 1969. O primeiro evento, o assassinato de um casal, tendo ambos morrido, aconteceu no natal de 1968. Quem diria, ali naquele tempo, que a investigação ultrapassaria um limite absurdo de tempo, tendo durado vinte anos e alguma coisa? E o pior é que o caso é de uma profusão tão assombrosa e incompreensível que ver os esforços de Robert Graysmith (autor do livro que originou este filme) e sua obsessão constante em buscar as respostas para o crime, mesmo anos depois de sua origem, chega a perpetuar o próprio espectador a uma tortura silenciosa e invisível, mas que causa certo desconforto, já que a certa altura nos encontramos tão perdidos quanto essas respostas. Chega em um ponto que parece impossível descobrir quem é o assassino, logo que o suspeito idêntico (que no final volta para assombrar as nossas expectativas) é dispensado por falta de provas.
E, embora a confusão e a duplicidade do roteiro sejam problemáticas e um pouco dolores, Zodíaco, sob nenhum pretexto sequer, deixa de ser um filme extraordinário, e simplesmente marcante. Não chega a superar, por exemplo, Seven - Os Sete Crimes Capitais, mas é um trabalho muito bem feito, e um dos melhores de Fincher, que, pelo incrível que pareça, não possui nenhuma aparente ou gritante falha até o momento em sua filmografia. A influência de Hitchcock, aqui novamente presente, não deixa de provar mais uma vez aquilo que, praticamente, tá estampado na cara: a competência de David com o suspense, e sua tão cedo maestria. Além disso, como não esperar de Zodíaco, um thriller excepcional, certa inspiração de Alfred Hitchcock, ainda mais quando seu próprio diretor foi um dos alunos mais dedicados dele? Muito provável que David Fincher seja, em uma pequena partezinha, nosso mais novo Hitchcock. A fotografia do falecido Harris Savides, colaborador de Gus Van Sant, é tremendamente bela e ágil, uma vez que ela penetra de uma forma tão esplendora nos cenários e os transporta para as suas respectivas épocas num piscar de olhos. A trilha sonora de David Shire é outra dádiva a ser comemorada. E o elenco é um espetáculo. Jake Gyllenhaal, como protagonista, mostra-se, como de sempre, um ator excelente, sendo o melhor membro deste grande elenco. Robert Downey Jr., aqui testando seu talento dramático, não se livra do ar meio bonachão que sua face tanto lembra. Mark Ruffalo, cuja voz me é um pouco desconcertante, e Chloë Sevigny também possuem performances fortes.
Zodíaco (Zodiac)
dir. David Fincher - ★★★★★