Semestre passado, não faz tanto tempo, fiz um trabalho sobre Oscar Wilde. Foi um trabalho simples. Tive que elaborar a apresentação de um conto do autor por meio de teatro. O conto que me foi concedido foi O Príncipe Feliz, que tem um tom mais infantil, porém leva consigo um grande cunho dramático. Houve vários outros contos e peças que os outros alunos tiveram de interpretar, incluindo uma versão adaptada de Retrato de Dorian Gray, que ficou muito bom. Mas não Salomé, que é considerada a obra mais enigmático do irlandês, e também bastante pesada. Já sabia da existência de tal obra. O professor disse que deletou a história justamente pela força da narração, e pela dificuldade. Quando perguntei sobre a possível adaptação, o professor negou novamente, dizendo que era praticamente impossível reduzir a força da obra sem deixá-la, a certo modo, enfraquecida.
Eis que achei, pouco tempo depois da realização do trabalho, a versão cinematográfica de Salomé na rede, dirigida por Al Pacino! Fiquei interessado, e acabei baixando o filme, que ainda não foi lançado no circuito nacional, e nem tem previsão. Queria mesmo ver Wilde Salomé, o documentário de 2011 que tinha a peça incluída também, só que só mesmo achei essa versão de 2013, que é uma edição do documentário contendo apenas a peça para lançamento cinematográfico, já que Wilde Salomé teve um lançamento seletivo, que durou pouquíssimo tempo. No entanto, acabei gostando de Salomé, que é um filme intenso, possui ótimas interpretações e mostra o talento de Al Pacino não só como ator, mas também como diretor, ainda que Salomé seja, não tecnicamente, um teatro gravado, ainda que suntuosíssimo e belíssimo.
Salomé começa bem tímido, mas depois fica bem tenso e sua trama vai se enriquecendo com elementos e conflitos bem-feitos que apenas adocicam nosso desejo de ver algo de qualidade. Narrado com um mix atual, mas com o centro no passado, na época de Cristo, o filme conta a história bíblica de Salomé, uma princesa, filha de um rei respeitado, que na verdade é seu padrasto, e que tem por Salomé uma enorme afeição, apesar dela rejeitá-lo constantemente, pois a garota realmente está apaixonada por João, um profeta prisioneiro do Rei Herodes. O final é densamente delicado e intenso, porém é feito com uma majestosidade explícita e feroz. A personagem da talentosíssima Jessica Chaisten, a jovem e sanguinária Salomé, é uma personagem que não se distancia tanto de uma das personagens mais recentes da bela Chaisten, a Miss Julie, do filme homônimo Miss Julie, dirigido por Liv Ullmann. Ambas são de um caráter extremamente altruísta e vilanesco, que tanto com suas belezas e impetuosas audácias usam e abusam da sensibilidade do espectador, de forma desoladora e encantadora.
O elenco é pequeno, mas possui extravagância e excelência, incluindo Jessica e Pacino, que, à beira dos oitenta anos, mostra sua boa forma atuando e dirigindo uma adaptação inusual e fantástica de uma das obras mais geniais de um dos escritores mais importantes da história, Oscar Wilde, com seu provocante texto que apenas causa ao público excitação e emoção colossal. E, traduzindo a literatura para o cinema, Al Pacino é absolutamente brilhante tanto quanto a sensível originalidade de Wilde. E Jessica... Que bela Salomé. A melhor atriz possível para tal personagem. Uma flexível atriz que possui o ambíguo dom, cujo é muito difícil de encontrar, de interpretar tanto uma boa mocinha tanto uma malévola vilã, como Salomé ou a Miss Julie, sendo que a última até deixa o público meio confuso por ser um tanto bipolar, já que ora é mocinha, e ora é vilã, de modos extravasadores e profundos.
Mas aqui ela é bela. Essencialmente bela, e talentosa. Teatro filmado ou não, Salomé abandona os rótulos relativos de uma qualidade escassa e nos deixa extasiados com a enorme competência de seu elenco, que com certeza é a fortaleza da película. E eu gosto disso, até. Muita gente não gosta da ideia de um filme ser um teatro filmado, mas eu adoro. E a experiência de teatro é a mesma aqui nesse longa. É sério. Teatro filmado é algo que, feito com talento, bravura e maestria torna-se algo de valor inestimável e indubitável, como o conteúdo que nos é apresentado aqui, nesta importante adaptação de Salomé; Falando em teatro, ainda depois vou pegar a cópia de O Mercador de Veneza, com Al Pacino, e vou fazer uma crítica qualquer hora aqui no blog.
Salomé
dir. Al Pacino - ★★★
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