terça-feira, 7 de julho de 2015

Crítica: "DE OLHOS BEM FECHADOS" (1999) - ★★★★★


Uma obra inesquecível, atordoante, genial e inusitadamente sensacional. É assim que posso melhor descrever De Olhos Bem Fechados, filme de despedida de um dos maiores cineastas de todos os tempos, Stanley Kubrick. Estrelado por Tom Cruise e sua ainda-esposa-na-época Nicole Kidman, o longa trilha a alucinante jornada de um médico, Bill, em um submundo erótico secreto, e as consequências desta viagem, que transforma sua vida a partir de então. Apesar de não ser o melhor filme já feito por Stanley, De Olhos Bem Fechados é capaz de encerrar com chave de ouro a carreira de uma lendária personalidade cujos filmes são marcos e incalculáveis contribuidores para a indústria cinematográfica.

Achei que De Olhos Bem Fechados poderia ter sido melhor. Se bem que é uma adaptação, então não se pode dizer muito nada contra. Só sei que o filme não é tão completo. Faltou algo. O roteiro é bem montado e usa a seu favor artifícios aceitáveis e bem inteligentes, mesmo assim algo se ausenta. O clima irreal criado pela expectativa de vê-lo logo é partido quando a trama começa a esfregar na cara do público detalhes nada estimuladores, assim quebrando aquele clima de suspense, então, anticlímax. No entanto, entre cenas eróticas desoladoras e outros impactantes segmentos, De Olhos Bem Fechados é dotado de uma exímia excelência e extrema virtude.

Nicole Kidman e Tom Cruise estão fantásticos. Ambos mostram a qualidade de seus talentos em performances furiosas, inigualáveis e tremendamente enlouquecedoras, em um filme que se mostra um tanto quanto enigmático e ora misterioso. Afinal, é um dos filmes mais controversos já feitos. A crítica estranhou-se diante da obra, imortalizando-a como "estranha" e "irreversivelmente fracassada" no intuito de oferecer ao público entretenimento. Kubrick, aproveitando-se do casal mais queridinho de Hollywood daquela época, Kidman e Cruise (equivalente, talvez, a Jolie e Pitt hoje em dia), montou um filme preenchido por simbolismos implacáveis e que deixou o espectador desapontado no que diz respeito à cenas de sexo e erotismo gratuito, o que já era esperado por eles quando o filme, que demorou para ser produzido, foi anunciado. Mas não. Os dois tem pouquíssimas cenas de sexo no filme. Até que De Olhos Bem Fechados tem mesmo pouco sexo se visto do ponto de vista mais técnico. A nudez não satisfaz, apenas "aquece".

Se bem que ao meu ver De Olhos Bem Fechados não é objeto do prazer. É mais um objeto da reflexão, ou mesmo, há quem diga, do simbolismo. Em De Olhos Bem Fechados, é praticamente impossível saber se Kubrick lida com a realidade em conjunções paralelas ou estreitamente diretas. Ou seja, o que é real, e o que é sonho em De Olhos Bem Fechados? A genialidade de De Olhos Bem Fechados está em tal mistério, e a forma com a qual Kubrick circula esse suspense e o revira de maneira totalmente paranoica e sensível. 

Se bem alguns dos pretextos do longa, filhos do enigma, são bem fáceis de encontrar e fazem do filme algo parecido como um jogo de caça-palavras, ou melhor, caça-ocultismos, o que não pode ser uma tarefa lá muito fácil, mas meio que "distrai" o pensamento do espectador voltado apenas para a dimensão, e não a compreensão. E no fim, é De Olhos Bem Fechados uma crítica social voltada para as hipocrisias de uma sociedade que nem ao menos consegue encontrar um tênue limite entre sonho e realidade? Ou um fragmento poético da crise de um casamento obstruído pela constante e enfadonha fidelidade e os contrastes com o colossal dia-a-dia? Ou uma série de eventos interligados uns aos outros sobre a materialização dos interesses? Enfim, vale pensar em cada uma das mensagens deixadas por Kubrick e avaliar os mistérios da conspiração, afinal, não é todo dia que aparece na nossa frente valiosas obras como esta aqui. De Olhos Fechados é um filme primoroso e absolutamente maravilhoso. Vejam e revejam!

De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut)
dir. Stanley Kubrick - ★★★★★

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