quarta-feira, 15 de julho de 2015

Crítica: "VÊNUS" (2006) - ★★★


Em memória de Peter O'Toole, assisto a Vênus, que por sinal é um dos filmes mais triunfais feitos pelo lendário ator britânico, e por si só também trata-se de uma obra visionária e excelente. Olha, que sufoco achar esse filme. Faz meio ano que ando procurando ele. Não achei em DVD. Tentei pedir emprestado. Uma boa história é que um amigo meu disse ter uma cópia de Vênus consigo, e me prometeu que iria procurar, mas no final terminou por crer que a tinha perdido, já que não tinha achado. Bem, na internet - até hoje - também não havia um sinal sequer da existência de alguma cópia, mesmo que dublada (o que eu odeio) do longa. Por acaso, achei o filme no Netflix. Endoidei no mesmo exato segundo que o vi, e não demorei mais tempo para clicar no widescreen que já intitulava Vênus para ver o filme.

Minto. Na verdade, desde 2013, quando Peter O'Toole nos deixou, procurei varridamente por Vênus, começando, logicamente, pela rede. Não achei, infelizmente. Como tratava-se de um de seus últimos importantes trabalhos, achei na época que era conveniente ver. E, como eu não estava no pique de ver Lawrence da Arábia (em um pleno domingo, a preguiça me derrubou e me senti impossibilitado de prosseguir com a missão de ver a grande obra, que também rende um pouco de tempo). Terminei sem ver nem Vênus e nem Lawrence da Arábia. Me contentei com O Leão no Inverno - suntuosíssimo filme, mas que também não deixa de esgotar por total nossas energias -.

Em uma performance (merecidamente) indicada ao Oscar de Melhor Ator (cujo eu mesmo acredito que, se não fosse por Forrest Whitaker e sua extraordinária atuação em O Último Rei da Escócia, poderia muito bem ter dado à Peter sua primeira estatueta, é claro, não-honorária, já que na cerimônia de 2003 Peter havia recebido um Oscar Honorário, cujos, na minha opinião, apenas foram inventados para "consolidar" a falta de Oscars das lendárias personalidades do cinema, mas que só tende a maximizar a vergonha e até mesmo concretizar o fato de que a Academia erra demais ao deixar de dar prêmios à vários talentos dessa vital indústria), Globo de Ouro, BAFTA, e entre outros mais prêmios, Peter O'Toole me surpreendeu aqui bastante, e ainda sim me deixou muito alegre. Seu desempenho é de uma qualidade exímia e uma extensa vivacidade, mesmo que ainda sim seu personagem, que lá tem momentos cômicos ao redor da jornada, permaneça em tela com um ar densamente melancólico e profundamente abalador. No entanto, o talento deste homem, sempre notável, prevalece e maravilha o espectador.

Peter O'Toole encarna em Vênus Maurice Russell, um ator veterano que faz papéis pequenos para a televisão. Colega de Ian, ele fica encantado com a visita da sobrinha-neta do amigo, Jessie, uma rebelde e insensível garota do campo, que não simpatiza com Ian, mas logo faz amizade com Maurice, apesar de constantemente desprezá-lo e tratá-lo com crueldade e frieza. No entanto, é nessa amizade que Maurice e Jessie irão brindar o amor, que passará por maus-bocados, mas não cairá, uma vez que Jessie, mesmo sendo rude com Maurice, também revela à ele, em uma das cenas, que não consegue viver sem a sua presença. Assim é Vênus. Uma história de amor que surge tímida, mas logo torna-se incomum, brilhante e sensível, características que já eram bem visíveis no primeiro grande sucesso de Roger Michell, Um Lugar Chamado Notting Hill, plausível comédia romântica com Hugh Grant e Julia Roberts. Apesar de que este Vênus seja bem mais um drama do que uma comédia dramática em si. É um drama que parte o coração. Ver a doença de Maurice o desgastando aos poucos, e nisso desgastando sua relação com o mundo e ainda sim colocando numa austera prova sua relação com Jessie é bem triste. Mas é a vida. No fim, Vênus resulta num drama que focaliza nos medos, nas esperanças e na percepção de um homem idoso à beira da morte, muito fraco para suportar sua força, tendo que confrontar a realidade ao então assumir sua paixão pela Vênus, nesse caso Jessie, a quem ele mesmo apelida de Vênus. É muito apaixonante, embora depressivo.

Michell, que nos trouxe Notting Hill, também fez gargalhar, apesar de ter demais decepcionado em Uma Manhã Gloriosa, e atualmente voltou à ativa em Um Final de Semana em Hyde Park, que traz Bill Murray numa plausível performance. Mas acredito que, mais do que Notting Hill, Vênus é o maior filme da carreira de Michell até agora. Não em questão de crítica, bilheteria, nada disso... Digo de verdade, na minha mais sincera opinião. É um ótimo filme. Uma obra inquestionável. Além de todas as inúmeras qualidades, traz consigo uma performance impressionante e versátil de um dos maiores atores de todos os tempos, Peter O'Toole, uma estrela indubitável, cujo brilho ainda sim reluz no céu cinematográfico. Vai-se Peter. Mas o melhor: ficam os filmes!

Vênus (Venus)
dir. Roger Michell - 

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