quarta-feira, 1 de julho de 2015

Crítica: "UM BEIJO ROUBADO" (2007) - ★★★★★


Eis outro filme que há tempos estava escondido na  minha prateleira e só agora me veio à cabeça a brilhante ideia de vê-lo. Comprei Um Beijo Roubado e nem lembro mais quando. Só sei que fiquei tão impressionado por ver a cópia deste longa no supermercado que acabei levando sem pensar duas vezes. Lembro que ano passado até tinha colocado pra ver, só que acabei dormindo, não por chatice (olha que uma coisa que Um Beijo Roubado não é é ser chato), mas acredito que por que estava cansado aquele dia. Coloquei só pra provocar. Como incentivo, o filme estava em português (não gosto de filmes dublados). E o bom dessas férias que chegam é que elas me trazem uma porrada de filmes para ver (e isso inclui uma lista ferozmente cheia no Netflix). 

Começo este novo semestre falando de Wong Kar-Wai, um cineasta que muito admiro por sua capacidade excelente de combinar com absoluta perfeição modernidade e epicismo, algo que não nos é desconhecido: é motivo de fracasso para muitos cineastas. Gostei bastante de longas como Amor à Flor da Pele, 2046, (o fantástico) Amores Expressos e seu último, O Grande Mestre. E esse gosto imediato não foi diferente enquanto assistia à Um Beijo Roubado, que já nos primeiros minutos me cativou intensamente. A estreia de Kar-Wai em um filme de língua inglesa não poderia ser melhor, na minha opinião mais sincera. Além disso, o diretor trouxe consigo nessa estreia um baita elenco, que também inclui uma estreante de mão cheia: Norah Jones, que, tendo me fascinado inúmeras vezes com seu talento para a música, incluindo o jazz, nesta comédia romântica me deixou ainda mais encantado, mostrando ser uma atriz absolutamente formidável, em par com Jude Law, que aqui aparece bem mais como coadjuvante, e Natalie Portman, em uma plausível performance mais ainda sim detalhada por pequenas falhas. 

Gostei da Rachel Weisz... Essa sim me deixou de queixo caído no papel desolado da ex-esposa orgulhosa e maluca de Arnie, um policial de coração partido que vive se embebedando, e faz amizade com Lizzie (Elizabeth, feita com glamour por Norah), enquanto a moça, que se identifica com ele por também ter tido um capítulo bem semelhante (Lizzie foi traída por seu namorado com outra, algo que ela descobre na primeira cena, onde entra no bar sofisticado de Jeremy buscando notícias dele, e deixa uma chave). Arnie vive sendo humilhado pela espalhafatosa Sue Lynne, que vive tendo diversos casos e só vem se redimir na última inconveniente hora.

Um Beijo Roubado é um mix bem generalizado de romance, drama, comédia e road movie, quando ela se encontra com a jogadora de cartas Natalie Portman, que a faz uma proposta bem tentadora, mas legível, que acaba ganhando a moça, enquanto as duas partem numa viagem para Las Vegas onde Portman pretende arranjar mais dinheiro para realizar mais jogos. E no final, o romance entre Lizzie e Jeremy imortaliza num estilo bem "à distância", já que a moça estava em Memphis trabalhando como garçonete e o rapaz em Nova York, impossibilitado de conseguir qualquer informação vinda dela, já que não sabe nem onde ela trabalha e nem como contatá-la, tendo, em uma das cenas, ter que ligar para noventa bares de Memphis no intuito de conseguir ligar para ela. Mas tudo funciona nos "mínimos detalhes", mesmo que algumas imperfeições tenham impedido o filme de alargar sua trama.

Digo isso, a única coisa que impediu o filme de ter uma trama de qualidade foi o fato de que o roteiro reservou demais os elementos e deixou tudo prontamente para o espectador, sem deixar pistas. Ou seja, no final, tudo saiu "mastigado". Não deu nem pra sentir o gosto da emoção. Talvez esse seja o grande problema de Um Beijo Roubado: tudo muito livre, "fácil". No entanto, não há quem discorde do trabalho magnífico e perfeccionista do diretor de fotografia iraniano Darius Khondji. Um Beijo Roubado torna-se um filme bem mais agradável por um lado pelo tamanho da beleza que nos é destinada nas cenas em tons bem nítidos de vermelho, azul, roxo, preto, e muitas outras cores que apenas destinam nossa atenção à mais poética visualização. Se não fosse a beleza impecável da fotografia, Um Beijo Roubado, ou melhor, o título em inglês My Blueberry Nights (Minhas Noites de Blueberry/Mirtilo) seria um filme com o gosto bem diferente do visto aqui. E essa é a coisa boa dos filmes de Kar-Wai: a cor, que quase sempre combina com a beleza, e nos faz perder o medo de ver um conteúdo meramente imprestável ou inválido.

Um Beijo Roubado (My Blueberry Nights)
dir. Wong Kar-Wai - 

Nenhum comentário:

Postar um comentário