MANGROVE é necessário. Pela indignação, mas sobretudo por seu retrato poderoso do descontentamento contra a parcialidade, e o semeio da luta pela afirmação, defesa da identidade, do ser, através da afirmação do espaço. Identidade, aliás, que as autoridades investem em reprimir. É um exemplar ativista, nada contido, da movimentação por justiça, pulsando raiva, mas também entendendo o que move seus personagens, dando um tratamento muito honesto a eles num filme cercado por pretensões bem definidas. McQueen encontra espaço tanto para um quanto para outro. Um filme feito para esses tempos, com uma urgência que transmite bem essa indignação, mas não se impregna dela. Ele quer encontrar lugar pra respirar, e o filme nunca deixa de passar essa mensagem, de reafirmar o que a luta é sobre.
Já LOVERS ROCK se inclina para o romance, a música, a nostalgia, os detalhes de uma noite de festa, um "baile", regado a reggae, movimento e muito amor. Se MANGROVE pulsa a energia da revolta, LOVERS ROCK pulsa muitas energias diferentes, afetuosas, rítmicas, corporais, espaciais. O filme é movido por isso, lembrando que ele gira em torno de um único dia, mais especificamente a noite desse dia, e extrai dele toda uma gama de emoções bastante ricas e particulares. É um conto de amor, conto de expurgação, conto de convergência, conto do corpo e da mente também, da dança, da musicalidade. Sempre exalando essa intensidade que é toda dele, meio que convida o espectador a se tornar íntimo dela. Provavelmente seja a melhor coisa que o Steve McQueen já fez, porque como cinema é muito verdadeiro em sua fluência, na força desprendida das sequências. Nos dois filmes, os atores dominam a cena. Ambos fazem parte da antologia SMALL AXE.
Small Axe (ep. 1 & 2)
Steve McQueen
Reino Unido, 2020