terça-feira, 31 de março de 2015

Crítica: "007 - OPERAÇÃO SKYFALL" (2012) - ★★★★★


007 - Operação Skyfall acertou em cheio! A celebração dos cinquenta anos de um dos maiores ícones cinematográficos de todos os tempos não poderia vir de melhor forma. Requintado, elegante, bem-montado e excelentemente caracterizado, Skyfall merece e ganha o apetitoso e consagrador título de obra-prima não só apenas por maravilhar o público em incandescentes segmentações de ação, mas também por eleger e interpretar tão brilhantemente a história que então se torna uma das mais belas e ricas aventuras do agente secreto.

Nem tão artificial mas nem tão supérfluo. Skyfall é ótimo à sua maneira, quero dizer, à maneira de Sam Mendes. Cala-se a polêmica da seleção do cineasta para dirigir o filme lá em 2012, pois muitos suspeitavam que a obra em questão seria desvalorizada por ele. Contrariamente a isto, Mendes no final foi a melhor escolha possível para a película, e agora mesmo não tenho dúvida que ele fará um tremendo trabalho em Spectre, próximo longa da cinesérie de lançamento neste ano, cujo Mendes e Craig estarão novamente membrados. Quanto à Daniel Craig, não tenho mais nem o que dizer, no sentido de estar tão bem certo a partir do talento e da competência dele na pele de Bond, inicialmente visíveis lá em 2006, com 007 - Cassino Royale.

Com respeito ao autêntico estilo, Skyfall ainda sim consegue inovar, é claro, sem perder o senso e o clima originais. Por exemplo, há uma parte, mesmo estando disposto dos mais ricos instrumentos de tecnologia e da mais alta qualidade, James Bond (spoiler à frente) ainda sim acaba com a vida de seu inimigo usando uma enferrujada e velha faca, ou então na cena que reclama dos automóveis modernos, rastreados e monitorados, dificultosos a uma fuga ou despiste (o momento mais nostálgico da trama, no qual o agente resgata do fundo do baú o famoso automóvel de 007 - Goldfinger para esconder a M). 

E tal bem igual como Goldfinger, O Espião que me Amou, 007 Contra Octopussy, 007 Contra a Chantagem Atômica entre outros, Skyfall torna-se um notável clássico da franquia. Uma peça de valor incalculável dentre as mais outras. A M (Judi Dench), personagem que geralmente aparece como coadjuvante nos filmes da franquia, ganha um maior destaque em Skyfall. Um destaque protagonista, pela análise, mas que não deixa de ser um grande e formidável destaque. Gostei disto em Skyfall. Tão quanto senti a ausência das bond girls, apesar de ter me divertido com a secretária Eve Moneypenny deste filme, sensualmente encarnada por Naomie Harris, que também não deixa suspeitas quanto à sua participação no próximo Spectre.

Enquanto Christoph Waltz, vilão veterano conhecido principalmente pelo sádico entretanto cômico Hans "Bingo" [risos] Landa de Bastardos Inglórios se prepara para estrelar o grande mal-feitor de Spectre, outro grande talento igualmente famoso por um vilão marcante das telonas encarna aqui um dos mais repugnantes inimigos de James: Silva, ou Tiago Rodriguez. Estou falando de Javier Bardem, lembrando da sua impecável atuação em Onde Os Fracos Não Tem Vez, aqui fazendo outro inesquecível vilão, tanto em aspectos internos, da franquia; quanto em aspectos externos, do cinema.

E assim aguardo por novembro (previsão), ainda que longe, nas esperanças de novamente encontrar outra lendária obra da série como esta. Celebro Sam Mendes, celebro Daniel Craig, celebro o glorioso elenco, celebro o simbólico roteiro, celebro 007! Celebro Skyfall! Celebro Adele, pela incrível música-tema homônima, e até agora a melhor, empatada com "Goldfinger"! Celebro tudo o que mais há de bom nesta obra, dentre os mais detalhistas e formais elementos a mais eletrizante passagem presente. Muito bom.

007 - Operação Skyfall (Skyfall)
dir. Sam Mendes - 

sábado, 28 de março de 2015

Crítica: "O AMOR É ESTRANHO" (2014) - ★★★


Engraçado, interessante, maduro, intenso, triste. O Amor é Estranho é uma das mais inusuais comédias românticas filmadas de uns tempos pra cá. Fazia um tempão que não via um filme tão questionador e ao mesmo tempo tão limitado, restrito, optativo. George e Ben são um casal de idosos gays vivendo na atual Nova York, se casando depois de longos trinta anos de relacionamento, no entanto, o tão polêmico casamento gera intrigas em suas vidas e faz com que George, professor de música numa escola religiosa, seja demitido por infringir regras, e em consequência, seja despejado de seu atual apartamento, fazendo com que os dois passem a viver com amigos e familiares próximos, até arranjarem um novo lugar. 

Não sei. Não me decepcionei, mas também não saí do cinema cem por cento completo... Achava que, por se tratar de uma trama ligada a um assunto tão exclusivo nos dias de hoje: a homossexualidade, ou talvez, por se tratar de uma história pesada - pela sinopse -, O Amor é Estranho seria algo mais heavy, algo bem mais do que no filme é mostrado: um drama de cotidiano, como dito, restrito, calmo, afável, limiar. Eu esperava um pouquinho mais de "peso", algo a ilustrar mais a situação vivida pelos dois personagens, que parece ser aceita à quase todos no seu círculo social, o que de fato, não é verdade. Homossexualismo infelizmente ainda hoje, por mais pessoas que simpatizem ou não tenham nenhum preconceito, é um limítrofe tabu. Tanto quanto pessoas que respeitam, existem outras tantas homofóbicas. Por sua vez, imaginei algo do tipo Brockeback Mountain, ou, por que não, o atual O Jogo da Imitação, que lá no fundo, discute bem seriamente sobre esse preconceito, já existente lá na década de 40, durante a Segunda Guerra Mundial, onde o homossexualismo atravessava o que hoje chamamos de polêmica; era uma espécie de proibição, crime. Enfim, resumindo: eu esperava sangue, por exemplo; esperava sair tremendo de choque e pânico da sessão. Não foi o que aconteceu. No entanto, eu saí da sessão gratificado, sem palavras, impactado. O Amor é Estranho tem um instinto natural para o drama, mesmo ao exceder tantas características que ainda sim o aprimorariam. É um drama sensato, de um clima excêntrico e belo, apaixonante, "de chorar". 

Não é clichê, por sinal. Senti a ausência de clichê, numa obra tão vulnerável a repetições [risos]. Ira Sachs revelou-se dono de um estilo de boa aparência, sem muitos luxos, um talento bem requerível dependendo da história. Alfred Molina, a quem vi bem raramente nos últimos tempos atuando, e John Lithgow tão excelentes, supremos, talentosos. Duas performances que realmente merecem um sério destaque. Estressa ao pensar o quão difícil atuar em personagens tão singulares como os quais eles atuaram. Marisa Tomei não brilha muito aqui; acho que ela tentou soltar, mas ficou preso, não conseguiu. Não posso dizer que ela não teve a chance de roubar a cena. Uma trilha sonora bem articulada, refinada, pura, que acompanha o clímax das cenas, é algo de se elogiar; A fotografia, uma beleza só (ainda mais quando o sujeito assistiu aos noventa e quatro minutos do filme em uma projeção HD divina). Este filme, sinceramente, uma beleza só. Astuto e legível, competente e livre. Um filme agradável, longe da atual realidade, mas mesmo assim agradável e responsável.

O Amor é Estranho (Love is Strange)
dir. Ira Sachs - ★★★

Crítica: "PASOLINI" (2014) - ★★★


Pasolini é uma contundente e desafiadora obra baseada nos relatos a partir dos últimos momentos de vida do grande ícone do cinema italiano, o tão famoso e polêmico Pier Paolo Pasolini, equilibrando uma criativa ficção com os mais breves detalhes de seu caminho à tão misteriosa morte, sem autoria. A proposta, talvez, mais chamativa e perigosa de Pasolini é seu final, justo por conta disto. A dúvida se sobrepõe ao assassinato de Pasolini, que até os dias de hoje, permanece em branco, sem julgamento, já que basicamente o incriminado na década de 70 revelou mais tarde sua inocência diante deste incoerente crime, injusto crime. Este ano, completam-se quarenta anos que este grande ser despediu-se do público, num adeus violento e leviano, que ainda punido fora pela inconsequência e pretensiosidade de seu ato;

Assistir Pasolini sem expectativas é uma baita falta de consideração, já que apenas pelo objetivo de filmar os últimos passos dele, um turbilhão de pensamentos se vem à mente. E para mim, foi uma espécie de surpresa, confesso. Torna-se difícil, então, calcular as expectativas quando se tem Abel, Willem, uma grande história e uma pitada de ficção no meio. Mas essa surpresa puxou para um lado positivo. No final de tudo, Pasolini não é exagerado, não é amargo, não é infiel, é apenas uma reflexão; uma bela e sensata reflexão sobre a sua vida, sua carreira, sua filosofia, seu modo de pensar. Nas primeiras cenas, já é possível vê-lo em uma entrevista, questionado então sobre o estilo de sua cinematografia, e sua opinião política (imaginem o discursão!). Tocando em Dafoe, é quase um pecado não mencioná-lo ao então mencionar Pasolini. Em sua quarta colaboração com Ferrara, Willem Dafoe, com certeza, faz a sua melhor atuação (até agora, presumo) em um filme dele. E a mais concreta, digamos. Quando encarnar a personalidade controversa e complicada de Pier Paolo Pasolini já é algo tremendamente assustador, imagina-se interpretar Paolo usufruindo de longos diálogos em italiano? É muito talento mesmo, sinceramente.

Maria de Medeiros e Ninetto Davoli (velho recorrente de Pasolini, que além de interpretar, é interpretado no filme - ambas performances gloriosas) surgem na trama bravamente - de surpresa, resumindo -. O elenco, em si acredito, também merece ser reconhecido. A cena final, sendo a mais chocante de todo o filme, também é a que mais exige do espectador. Desconhecer a morte do cineasta ou conhecer o paradeiro por trás dela, ambas as situações, geram a mesma sensação diante dda deslumbrante  e dramática passagem.

Entre outras: Pasolini é simplesmente fantástico. É igualmente bom como outras grandes obras de Abel, incluindo tanto o recente Bem-Vindo a Nova York quanto o clássico da década de 90 O Rei de Nova York. Notoriamente influenciado pelo cineasta, Ferrara fez um autêntico trabalho retratando o fim deste lendário diretor italiano, cuja carreira, bem mais do que seu tão complexo e comentado assassinato, merece um evidente destaque em nota à enorme e incalculável contribuição ao cinema.

Pasolini 
dir. Abel Ferrara - ★★★

sexta-feira, 27 de março de 2015

Crítica: "ANTES DE DORMIR" (2014) - ★★


Que decepção! Poxa, tantas expectativas ao ver que Colin e Nicole estavam juntos num novo filme, depois do fracasso de Uma Longa Viagem, mas no final desta sessão, o que encontro é uma película definitivamente pior do que a citada, o que é desconcertante. É quase histeria ver o número de filmes ruins que Nicole Kidman protagonizou de uns tempos pra cá. Tão talentosa... Uma pena. Sinceramente.

Com um início esperançoso, mas com um final idiota, Antes de Dormir também é sem-graça, parado, indiferente, resumindo: um belo dramalhão. Um dos piores já vistos ultimamente, confesso. Não estou com raiva. Estou decepcionado, até por que a trilha sonora e a fotografia "salvaram", voltando a repetir, entre aspas, o terror que esse não-sei-qual-é-a-droga-do-gênero seria. Afinal, sei lá se é terror, romance, drama, suspense, thriller, ação, aventura, tragicomédia, enfim, só sei mesmo que a confusão é imensa, e que quase nada é possível compreender da triste adaptação do best-seller Before I Go To Sleep. Não sei se o romance é como o filme: fresco, mas é certo de que alguma coisa dele saiu, afinal, além de fracassado, nem na bilheteria foi bem, tanto que sua passagem aqui nos cinemas nacionais foi bem curta. 

Responsáveis pelo fracasso, não culpo Kidman nem Firth, ambos confortavelmente excepcionais em seus papéis, ridicularizados pela pobre trama abordada; nem ao menos vou culpar a adaptação, já que afinal, nem li o tal best-seller. O sujeito a quem devo pedir satisfações é Rowan Joffé, completamente contrário à pessoa que o gerou, a que parece esfregar o nome do pai na lama ao incompetentemente assinar direção e roteiro deste flácido filme. Rowan perde a chance, talvez, de ser um Roland. Elementos avulsos e incógnitas, quase transparentes ou algo do tipo, foram indignadamente utilizados para montar uma teia embaralhada que estraga o bom clima que a história cria. 

Além disto, Kidman e Firth, um motivo que já mencionei anteriormente, realizam aqui sua segunda (vergonhosa) parceria, que desta vez errou o ponto. Mais uma vez diferentemente de Uma Longa Viagem, eles se perderam na convulsiva vulnerabilidade de seus personagens e conduziram-os de forma um tanto quanto repulsiva, para não dizer outra palavra, tanto como demasiadamente lírica. Só sei que foi bem desagradável vê-los em tais interpretações, por mais boas que fossem, excedidas da tão essencial química.

Olha... É melhor parar por aqui. Fazia um bom tempo que a insatisfação não me subia à cabeça como desta vez. Um longo tempo. Bem, acredito que é só. Antes de Dormir ridiculariza e humilha o thriller com uma invenção banal e desapontadora de seu barato roteiro que apenas tem como função retardar a evolução do tão querido gênero. Decepção total.

Antes de Dormir (Before I Go To Sleep)
dir. Rowan Joffé - ★★

quinta-feira, 26 de março de 2015

Crítica: "VÍCIO INERENTE" (2014) - ★★★★


Vício Inerente é um filme de elementos. Um filme cuja atenciosa e surreal trama é quem ganha notoriedade e reconhecimento por toda uma série de técnicas que são utilizadas a seu favor. Já é bem raro ver Paul Thomas Anderson. Ver Vício Inerente é uma oportunidade única que ainda limita-se surgir de dois em dois anos, senão três (Magnólia/Embriagado de Amor) ou cinco (Sangue Negro/O Mestre). São muitos sentimentos interligados num só momento. Anderson, no entanto, faz bem ao ocasionar estes longos intervalos no lançamento de seus filmes: ele nunca erra a receita. Paul Thomas Anderson é um daqueles cineastas que não decepcionam em nada, simplesmente nada. Seu conteúdo dispensa falhas e a cada filme acumula aplausos.

Hoje foi um dia de muitas estreias. Cinderela, O Sal da Terra, Eduardo Coutinho - 7 de Outubro e Vício Inerente. Mesmo se tivesse tempo, acredito que não teria pique para assistir esses quatro filmes juntos num só único dia. Por isso, escolhi Vício Inerente, obviamente por alguns motivos já relatados neste post. Infelizmente, como nosso mercado cinematográfico ainda é um pouco atrasado quando o assunto é distribuição internacional, a opção, a única, foi vê-lo agora, a quase quatro meses depois de sua estreia nos E.U.A., passado os Oscars e tudo mais, numa sessão que apesar dos anteriores desapontamentos, foi divertida e bastante agradável.

Essa parceria com Paul faz muito bem a Joaquin Pheonix, impressionante pela segunda vez consecutiva como estrela de um filme do diretor. Diferentemente do dramático e melancólico O Mestre, Vício Inerente trata-se de uma colorida e bem montada comédia, sem exceder, lógico, algumas características particulares de P.T.A. (espírito non-sense, ação calculada e monotonia), mas que se destaca por ser uma das películas mais descontraídas dele. A mais descontraída desde, confesso, Boogie Nights Embriagado de Amor, quando Adam Sandler enfim mostrou um talento impecável na, sem dúvida, melhor interpretação de toda a sua carreira. Voltando ao assunto, Pheonix carrega consigo um ar natural de P.T.A. Um inexplicável ar de P.T.A. que nos faz tão satisfeitos à frente de uma obra estrelada por ele da autoria de Paul, neste caso, apenas a segunda das acredito mais que existiram. 

Afinal, como não gostar do filme que combina esta maravilhosa parceria, o elenco perfeito, técnicas extraordinariamente formidáveis, o estilo não-linear da história e, como citado, os memoráveis elementos utilizados pelo filme? A reprodução da década de 70 também trata-se de uma inspiradora razão para vê-lo. Policial e comédia, Vício Inerente nada mais além de uma soberba obra-prima do cinema atual. É um filme de, sem dúvida, qualidade e excelência, que brinda o público com uma maravilhosa e autêntica história de amor, crime, investigação e vida alinhada consequentemente com perfeição e glória à dedicação de sua esmerada equipe e é claro, de seu estupendo mestre, Paul Thomas Anderson, ainda sim intacto pela construção desta valiosa obra de sua querida filmografia.

Vício Inerente (Inherent Vice)
dir. Paul Thomas Anderson - ★★★★

sábado, 21 de março de 2015

Crítica: "LIFE ITSELF - A VIDA DE ROGER EBERT" (2014) - ★★★★


Em abril de 2013, lembro-me que fiquei chocado com a morte súbita de Roger Ebert, uma das lendas mais respeitáveis da crítica. Um choque que, apenas por lembrar, me causa desconcerto. Por esta razão e outras, Life Itself trata-se de um filme essencialmente nostálgico e memorável. Quão bela é a obra que retrata a jornada e filosofia de vida de um dos maiores ícones da crítica de todos os tempos? Ebert é uma personalidade única no universo cinematográfico, de carreira inspiradora para qualquer amante da sétima arte.

A sensibilidade e a genialidade deste homem transformou toda uma geração, ainda por sim, até hoje, ter influenciado toda uma legião. Admirável ícone. Pena que tenha tido um fim tão triste e injusto. O documentário pode ser demasiadamente útil àqueles que querem aprofundar os conhecimentos com relação à história de Ebert, dentro e fora do seu trabalho. Até mesmo eu, considerando-me um admirador seu, não conhecia até então alguns dos fatos sobre seu casamento e sua rivalidade com Gene Siskel, crítico de cinema com quem dividiu um programa televisivo de resenha por bem mais de dez anos. 

O seu início, seu reconhecimento, seu legado, seu estilo, sua vida pessoal, sua opinião e dentre outros capítulos que simbolicamente exibem o desconhecido a muita gente sobre ele. Depoimentos sensacionais de colegas e próximos, tais como os belíssimos comentários de sua esposa Chaz, e alguns breves discursos por Scorsese rendem, e confirmam que a glória permaneceu intacta dentre os mais "chegados", e algumas excentricidades, como seu vício alcoólico. 

Steve James é cuidadosamente excelente dirigindo o documentário, filmando passo por passo os últimos momentos de Roger Ebert, e suas funções depois de um pesado diagnóstico de câncer na coluna. É totalmente doloroso ver o pânico de Ebert em algumas cenas mais fortes. A narração perspicaz e notória dos convidados contribui bastante ao entendimento de todo o processo e a doença que acometeu Roger nestes tristes tempos finais. Vale lembrar que o crítico passou por inúmeras cirurgias e enfrentou os mais diversos cânceres até chegar ao estado do qual completamente teve que se entregar à desolação. Mas ver que ele soube enfrentar lealmente a inevitável morte sem medo, igualmente como todos fizeram ao seu redor, é totalmente reconfortante. Em sua memória, aplaudo toda sua imensa obra e inestimável paixão ao cinema que tanto tiveram impacto neste universo e tanto serviram de base e influência à sociedade crítica, que imensamente hoje o agradece pela contribuição ao mundo dos filmes.

Life Itself - A Vida de Roger Ebert (Life Itself)
dir. Steve James - ★★★★

Crítica: "MAPAS PARA AS ESTRELAS" (2014) - ★★★★


Algo me despertou uma estranha e ao mesmo tempo saciável sensação em Mapas para as Estrelas. Não sei por que, mesmo o filme sendo demasiadamente pretensioso, seu conteúdo transpareceu fielmente cordial à história. Desde Cannes ano passado, Mapas para as Estrelas já tinha chamado a minha atenção, principalmente por Moore, vencedora do prêmio de Melhor Atriz no festival e mais tarde indicada ao Globo de Ouro por este papel em comédia, e ainda sim uma possível concorrente ao Oscar 2016 se o longa de Cronenberg for selecionado (a estreia mundial de Mapas para as Estrelas ocorreu este ano) para competir, o que eu acho que será tremendamente ótimo; e por outro lado, ver que além dela, outras estrelas também faziam parte do conjunto do elenco, entre eles Robert Pattinson (novo favorito de David, desde Cosmopolis) e Mia Wasikowska, talentosa estrela de Alice no País das Maravilhas.

Até que Mapas para as Estrelas não é tão decepcionante assim. Certo que trama não é o forte do filme, mas até que eu gostei de todo o paradoxo familiar e os conflitos internos das celebridades, o que de fato, é extremamente cômico, o que contrariou minha pré-visão dramática e sensacionalista da película. Há segmentos eletrizantes, a maioria protagonizados por Moore, sinceramente fabulosos. No entanto, há uma percepção errônea a partir de sua atuação. Pelo contrário, Moore é uma coadjuvante, e não principal. Protagonista mesmo é a Mia. Se não fosse pelo (imbatível) final cheio de reviravoltas quentes e até um pouco satíricas, até perdoaria o título de "protagonista" oferecido à ela. Aqui, pra mim, ela é uma coadjuvante.

O bom de Mapas para as Estrelas é que ele é um filme propositalmente confuso. Ou seja, ele não precisa de nenhum pingo de sentido para fazer sentido. Como Hollywood é um mundo totalmente sem sentido, faz sentido presentear este sujo e infeliz universo com uma obra rica em incoerência. Chega a ser deprimente ver uma Julianne Moore de cinquenta anos encarnando uma atriz mimada e petulante aspirante à adolescente emburrada por ter perdido o papel numa biografia da própria mãe. É engraçado, ou então constrangedor, a ser mais específico. Também tem um garoto de treze anos com problemas psicológicos estrela de uma sucessiva franquia. Nada tão desconhecido assim do público mais amplificado. Leva apenas uma dose a mais de "escândalo". David, de fato, sempre foi uma pessoa escandalosa, estranha. Não seria neste filme que ele perderia a oportunidade de botar a boca no trombone para logo mesmo assumir sua tão imperialista opinião sobre a depreciativa sociedade hollywoodiana. Mesmo tratando-se de algo bem familiar, Mapas para as Estrelas não deixa de ser uma visão original e interessantemente perturbadora sobre o demoníaco e psicótico submundo da fama.

Afinal, essa é a grande sacada do novo filme de David Cronenberg. Um astuto e inversivo chamado ao terror através de toda uma população de celebridades enfadonhas e medíocres, fanáticas e obsessivas, destruídas e peculiares em seus lares decorados com a fúria e o pânico, o sangue e a luz, e a atrocidade e o desumano, na terra onde a inquieta bizarrice povoa. De fato, Hollywood is burning! 

Mapas para as Estrelas (Maps to the Stars)
dir. David Cronenberg -  

quinta-feira, 19 de março de 2015

Crítica: "MOMMY" (2014) - ★★★★


Mommy, primeiramente, fascina por trazer ao espectador um novo olhar de um tema do qual já estamos demasiadamente cheios de ver em filmes ruins ou clichês. Por que eu fiquei tão impressionado ao assistir Mommy? É um drama competente, fiel, direto, imprevisível. Encara a realidade de frente e não cria subjeções ao que não é concreto. Mommy é um filme pé no chão. Quer ter esperança num lugar onde a presença dela nunca foi suspeita de existência. Oh, Mommy. Devem existir mais filmes como este, sinceramente. Filmes que trazem brilho por histórias que em nenhum quesito desapontam. Nem mesmo na trilha sonora, que combinou perfeitamente com o desfoque dos personagens principais e suas tristes vidas. E olha que costumo ser bem rígido quanto à isso. 

Xavier Dolan brinca com a câmera em algumas cenas, o que é de notoriedade singular. O garoto (de vinte e cinco anos) tem talento para o cinema. Ainda o verei fazendo outras obras bem maiores (talvez) do que esta, por que garanto-lhes que capacidade ele tem. Dolan não tem medo de encarar a face da verdade contra a face da ilusão. Mommy marca uma nova fase na vida deste jovem cineasta. Uma fase de merecido reconhecimento. Uma fase, finalmente, matura. Dele só tinha visto Amores Imaginários, bem mais inferior à este. Afinal, já desconfiava desse fato. Quem é tão poderoso a ponto de dividir o prêmio do júri do Festival de Cannes com o lendário mestre Jean-Luc Godard? Pena que o Oscar é tão míope... 

Ida, Mommy, Leviatã, Relatos Selvagens e Dois Dias, Uma Noite, dariam uma boa disputa. Realmente. À exceção de Ida, mostrado em Berlim, os outros quatro filmes foram exibidos em Cannes, o que mostra que o festival de cinema, fora de destaque nos últimos tempos, continua na ativa produzindo e elegendo grandes obras. 

Mommy narra a conturbada jornada de Steve, um adolescente de quinze anos que sofre de graves distúrbios psicológicos, incluindo déficit de atenção, hiperatividade e transtorno compulsivo. Após passar por poucas e boas dentro de uma reabilitação, ele volta a morar com a mãe, Diane, uma mulher de bom coração e personalidade simpática, tentando fazer de tudo o melhor para re-acolher o filho, o que não é nada fácil. Mommy é um filme pesado, sim. Mommy quebra tabus. Tabus escondidos debaixo do tapete pela abusiva sociedade controladora universal. É bem triste, no fundo. Mas é o que mantém a tensão. E é a tensão que move conflitos em Mommy. Conflitos fortíssimos: pessoas problemáticas em situações problemáticas num lugar problemático governado por leis problemáticas... O mundo nunca foi normal. O filme quer assumir sua opinião de que o mundo é um lugar vazio, ruidoso, sádico e moralista, e que mesmo em um futuro (o filme, de 2014, se passa em 2015) tão próximo, ainda sim submete-se a um sistema horripilante. Tudo move-se num ciclo, que vai e vem, atravessa gerações mas pára no mesmo lugar. Nós não evoluímos. Apenas avançamos o período que supostamente serviria de base ao assunto discutido. Mommy é tudo isso. Mommy quer filmar a degradação do ser alinhado posicionalmente com a degradação do espaço. E, lógico, o que há melhor para suportar esse declínio do que um incomparável amor de mãe? Afinal, esta obra é toda delas. Mulheres dispostas a doarem suas vidas aos filhos. Mulheres que vivem caladas com o medo e o sofrimento por aquele que gerou. É um amor certamente indiscutível até aos mais meticulosos. 

Mommy é uma grande obra. Existem certamente erros de marcação e alguns outros lugares deixados em branco. Nada significante ao impacto que Mommy provoca em seu público. Um impacto (glória!) real, um impacto vivo. Quase me esqueço de aplaudir o sensacional elenco. Anne, Antoine e Suzanne... Atores talentosíssimos! 

Mommy
dir. Xavier Dolan - 

terça-feira, 17 de março de 2015

Crítica: "AS AVENTURAS DE PADDINGTON" (2014) - ★★★


Ver Nicole Kidman como vilã realmente não tem preço (engraçadíssima, especialmente na cena do táxi que ela contracenou com Matt Lucas). Ou melhor, revê-la, já que lá na década de 90, impressionou meio-mundo com Suzanne em Um Sonho sem Limites (puxa, preciso ver de novo...) e o nem-tão-velho A Bússola de Ouro, que vira e mexe é estrela das sessões noturnas de terça, sexta ou sábado no SBT. Foi uma das melhores coisas desta comédia britânica, que apesar de infantil, é prazerosa e divertida, tem um elenco excepcional e uma história deliciosa.

Paddington é um dos personagens mais famosos de todo o Reino Unido. Um ícone, possivelmente equivalente ao Zé Colmeia ou ao Mr. Bean, em quesitos culturais. Essa personalidade trata-se de uma rara espécime de urso, originário do Peru, cujos tios tornaram-se grandes amigos de um explorador inglês. Paddington tem como sonho visitar Londres: faz inúmeros treinos, aprende a língua, etc... E ao chegar no seu destino, o ursinho acaba vendo um mundo discordador de suas expectativas, o que lhe aborrece. Entretanto, ele é adotado por uma simpática e, nas palavras dele, "estranha" família após, numa noite, ser encontrado vagando pela Paddington Station, em Londres.

Olha, já faz um tempinho que não vejo um filme do estilo live-action mesclado com animação: fofo, todo amalgamado, pronto para abraçar fortemente os olhos de seu espectador, oferecendo-o uma linda oportunidade de presenciar a beleza do gênero. Mas é preciso disposição. Há todo uma combinação entre espectros na fotografia, algo particularmente fantástico, além do ritmo das cores, e tudo mais. 

Pelo contrário do que eu imaginava, a fofura e os belos traços de As Aventuras de Paddington me encantaram. O que era bobo acabou me enfeitiçando, como se em mim tivesse encarnado novamente aquele espírito de criança que facilmente se maravilha ao ver a Branca de Neve cantando gentilmente no grande clássico da Disney numa das passagens mais lindas, e que ao longo de um período, esquece o quão viva era aquela cena quando a inocência já dominava o sentimento de amor e ilusão. Puxa, é até triste pensar que os bons tempos da inicial infância foram tão rarefeitos, quase esquecíveis. É por isso que rende reconhecer de vez em quando o trabalho magnífico por trás de uma película, pelo primeiro olhar, infantil, mas que aos créditos, suprema. 

Julie Waters, Jim Broadbent, Sally Hawkins, Imelda Staunton, e todo o elenco britânico do bom e do melhor está reunido neste filme, que por si, também é bem inglês. Não é mel, é marmelada. As Aventuras de Paddington é uma animação que deve ser vista, pois o que ela tem de memorável, tem de carismática e bela. 

As Aventuras de Paddington (Paddington)
dir. Paul King -

segunda-feira, 16 de março de 2015

LOUIE / 3ª e 4ª Temporada


Dono de um humor ácido, inquieto, negativo, até por vezes receptivo, afável e simbolicamente lúdico, Louis C.K. - não faz tanto tempo assim - conseguiu ganhar meu reconhecimento através de um trabalho que o consagrou no seu meio funcional (TV) há mais ou dois anos atrás: o seriado Louie, unicamente disponível em cópias legendadas pela internet, que apesar do grande esforço pelo impiedoso download dos episódios, rendem algo de valor ímpar. Afinal, Louie é uma obra facílima de compreender-se. Minha simples teoria para esse fato é a qual a cada episódio, cada situação abordada e encarnada pelo nosso protagonista, tornam-as mais similares à realidade de pessoas comuns.

Louie é um comediante divorciado, mal-humorado, enrijecido, fracassado, pouco popular, e vulgarmente dizendo, azarão, que a cada oportunidade que à porta lhe bate, o mesmo a rejeita infielmente, quase invisivelmente, sem mesmo perceber o que aquilo lhe poderia proporcionar. Louie, de fato, é uma comédia (de um humor equilibradamente genial, por sinal), mas ainda se destaca ao meu ver por leves tons dramáticos, consequentes ao personagem em questão: um homem comum sem muitas pretensões apenas tentando levar a vida como qualquer um. Mas a vida, com este homem, não tende a ser nem um pouco fácil. É claro, isso também deve-se ao excelente talento de Louis C.K., criador, ator, escritor e editor da série, em encobrir misticamente o drama vivido por esta figura, impondo-lhe alguns dos mais medíocres, cômicos e singulares momentos. 

Quando soube da existência desta série, nada então sabia. Não conhecia, até o momento em que este trabalho foi-me citado, o comediante americano Louis C.K., tendo até então trabalhado no cinema em pequenas produções como roteirista, chegando num certo momento a colaborar com Chris Rock, um velho colega do stand-up, tanto na TV quanto nas telonas. Antes mesmo de procurar a série, tentei saber e aprofundar meus inexistentes conhecimentos sobre essa personalidade. No final do ano retrasado, achei no Netflix um episódio de stand-up excentricamente engraçado de cinquenta minutos gravado em 2012 ao vivo estrelado por Louis, e a partir dali, tive uma breve, mas não completa, noção da capacidade daquele cara. Só por introduzir-me a um pequeno conteúdo de sua vasta carreira, pude notar a presença de algo bem mais além do que minhas expectativas desenharam. Inacreditavelmente iniciei em um dia e terminei no outro a terceira temporada de Louie, sua magnum opus. Fiquei estonteado com a preciosidade daquele material pelos já amplificados treze episódios ali presentes. 

Basicamente, dedico minha empolgação ao competente elenco, incluindo, como já mencionei, Louis C.K., Melissa Leo (numa participação surpresa, avassaladora e bem inusual no episódio Telling Jokes/Set Up da 3ª temporada), Susan Kelechi Watson, Edward Gelbinovich, Sarah Silverman e Nick DiPaolo. No entanto, também merecem aparecer aqui por suas curtas performances: David Lynch, F. Murray Abraham, Amy Poehler, Chris Rock, Robin Williams (para evitar spoiler, há um diálogo realmente impressionante e irônico entre Robin e Louie que me emocionou bastante), Jay Leno e Jerry Seinfeld. 

A quarta temporada requer mais ênfase devido a um capítulo (o mais longo) dividido em seis episódios, que garantem boas risadas igualmente, apesar de boa parte de seu tempo ter me deixado bem vulnerável ao sentimentalismo. Se assistidos sem pausa, dão uma sensação extraordinária de longa-metragem (agradecimentos à direção e ao roteiro de C.K. nesses seis episódios e à edição conduzida pelo mesmo). Nesta quarta temporada, a série parece bem mais fora do controle daquilo que a série já identificava-se: um sentido irreal guiado pelo humor negro. Menção honrosa aos episódios: "Model", "So Did the Fat Lady" e "Back", à parte do já comentado longo segmento "Elevator".

Enfim, aqui encerro essa resenha a partir do seriado Louie: digno de aplausos por ser uma comédia de tal modo singular esplêndida, coisa rara hoje em dia a se ver logo na televisão. Enquanto isso, aguardo a chegada da tão esperada (e demorada) quinta temporada, re-assistindo as poucas e boas que esse incomparável "herói" passa por.

3ª TEMPORADA - 
4ª TEMPORADA - 


MELHOR EPISÓDIO (3ª Temporada): Telling Jokes/Set Up
MELHOR EPISÓDIO (4ª Temporada): Elevator (todas as partes) 

domingo, 15 de março de 2015

Crítica: "O ANO MAIS VIOLENTO" (2014) - ★★★★


J.C. Chandor quer se tornar um diretor universal. Quer ser aquele que consegue conduzir qualquer estilo de história, sob qualquer ângulo, usufruir dos mais diferentes métodos. E, posso até arriscar, se ele continuar assim, terá sucesso. Chandor, logo no primeiro longa, já tinha ganhado um enorme conceito cinematográfico, como diretor quanto roteirista, já que faturou uma merecida indicação ao Oscar na categoria de Roteiro Original por Margin Call; Neste longa, um fortíssimo drama de pontos altos, Chandor explora de maneira contundente essa memorável jornada de intrigas e desencontros, adquirindo uma vantajosa maturidade que daqui pra frente só tenderá a consagrá-lo.

O Ano Mais Violento soa familiar por lembrar em partes Margin Call, mas pode-se denotar que o ritmo da trama é super diferente do já citado filme de 2011. O novo trabalho de Chandor encarna com elegância e fragilidade um ano nem tão longe assim da atualidade: 1981, um ano extremamente conhecido por ter sido o pior de toda a história da cidade de Nova York. Assaltos, estupros, sequestros, assassinatos, tráfico de drogas, etc... 

Nesse mesmo tempo, um casal, Anna e Abel Morales, tentando crescer economicamente no ramo do petróleo, encontra-se numa situação conflituosa, quando os caminhões da empresa que transportam combustível são frequentemente roubados, o que leva a eles crer que estão sendo traídos por empresas parceiras. E a partir desses pequenos conflitos criminais e éticos, novas questões invadem o jogo e o filme começa a criar uma perversa e singular trama costurada no ritmo em que seus personagens evoluem e retrocedem nas suas planificações que regem vingança e poder. Entre outras: O Ano Mais Violento é um filme pra lá de "foda". Mesmo que seus segmentos de ação (cujos eu achei um pouco fracos) sejam bem contrários ao espirituoso clima que a trama traz, O Ano Mais Violento cria momentos que deixam o espectador arrepiado e extasiado.

O elenco, é claro, é responsável pela maioria dos elogios. Oscar Isaac atua impecável, sério, monumental, rígido e impávido, o que cada vez mais chama nossa atenção, deixando em segundo plano aquela que deveria escancarar, lógico, Jessica Chaisten, que vem me encantando desde seu lindíssimo desempenho em A Árvore da Vida. Mas, confesso, só foi mesmo depois de A Hora Mais Escura que a bela ruiva, aqui sensualmente loira, me deixou à beirinha da poltrona. De uma caracterização mais leve, suave, mas impressiva, como Anna Morales, atroz e ousada esposa de Abel, Chaisten poderia ter se destacado ainda mais, na minha opinião, para a força de seu talento. E vale lembrar que ainda não perdoei o fato dela ter sido deixada de fora da corrida do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante sendo substituída por Laura Dern em um papel bem menos retrativo do que este.

Falando em retrato, a direção de arte e o figurino são extremamente belos. Incrível também terem sido excluídos das categorias técnicas da premiação que tanto valoriza filmes ruins por suas poucas qualidades técnicas, citando o penúltimo vencedor das categorias discutidas O Grande Gatsby, logo aqui deixando de fora um filme por sua vez bom com todas e mais qualidades técnicas à altura das indicações. Enfim, desapontamentos à parte, O Ano Mais Violento tem um extremo cuidado com estes elementos técnicos, tanto que o próprio cenário bem valoriza a visão nova-iorquina do passado. Em uma cena, as torres gêmeas ainda podem ser vistas, o que achei espetacular. A edição também é de matar. Você, adorador(a) de épicos, adorador(a) de Jessica Chaisten, adorador(a) de Oscar Isaac, recomendo-vos o brilhante O Ano Mais Violento. 

O Ano Mais Violento (A Most Violent Year)
dir. J.C. Chandor - 

sábado, 14 de março de 2015

Crítica: "NO AUGE DA FAMA" (2014) - ★★★


Pra ser bem sincero, Chris Rock é um dos comediantes que eu mais admiro. Uma lenda, por se dizer. Não só ele. Louis C.K., Sarah Silverman, Tony Rock (irmão de Chris, que está no filme), Adam Sandler, Richard Pryor, Bill Cosby... Todo esse pessoal do stand-up ajudou a construir um gênero derivado do humor, à parte especificamente, cujo igualmente aprecio: a sátira. No entanto, Chris Rock, no cinema, nunca obteve tanto êxito quanto ao que produziu nos palcos. 

Mesmo que garanta boas risadas, No Auge da Fama mostra Chris Rock imitando uma espécie de Woody Allen, o que até está no nome do protagonista feito por ele: Andre Allen, só que bem menos intelectual e bem mais pop, o que detestei. O filme resume-se, basicamente em: um famoso comediante entrando em colapso com a carreira entra numa crise existencial ao se apaixonar por uma jornalista (uma mistura incoerente, de comédia romântica com humor negro). Sem falar que o filme repete todo aquele estereotipo racista, o que, pra falar a mais profunda verdade, já encheu o saco de muita gente, para quem conhece ele desde o Comedy Central. Dos traços de maior identificação até mesmo presentes em um de seus trabalhos mais reconhecidos, como o seriado Todo Mundo Odeia o Chris, aqui se encontram num clichê inviável, por exemplo, as cansáveis piadas sobre o Prince. Sim, quem for detalhista achará em uma cena. 

No Auge da Fama é puro Rock, em alguns termos: o humorista, sem ideias para uma produção mais criativa, cria uma receita persuasiva porém chata de alguns de seus elementos mais sucessivos. Realmente, ver o Chris Rock de antigamente está bem difícil. Por favor, não levem a mal. Estou criticando o filme, mas não o estilo de Chris. O cara tem talento para fazer isso: comédia. Mas, infelizmente, seu novo filme não é lá tão ótimo quanto eu esperava. Por favor, não achava assim que encontraria nesta película uma adição de Woody Allen com Spike Lee subtraindo plano principal e multiplicando por uma rentável, mas não salvadora, crítica ao padrão de vida americano atual. Faltou principalmente conflito. Algo para ferver a fria e pesarosa tensão das pobres tramas de No Auge da Fama

No Auge da Fama (Top Five)
dir. Chris Rock - 

quinta-feira, 12 de março de 2015

Crítica: "PSICOSE" (1960) - ★★★★★


Dentre os filmes essenciais da cinefilia, é impossível exceder Psicose, o filme mais conhecido do cineasta mais impactante de uma geração inteira (e um dos mais geniais, temo). Psicose, por mais dos poucos recursos que utiliza, é um filme fantástico. Uma lendária obra-prima cinematográfica, um dos nossos tesouros mais preciosos. As técnicas simplistas de Alfred Hitchcock não necessitam de explicação em um de seus filmes onde a direção é um dos elementos que mais se destaca.


Não há como duvidar, sob qualquer visão, do filme, quero dizer, das técnicas. São primitivas, é correto, mas são revolucionárias. É um dos pontos mais extraordinários de Psicose. Numa época onde filmes do gênero eram bem mais arriscados por serem polêmicos e violentos, Psicose tende a ser uma inovação lindíssima, e isso inclui a divina performance de Janet Leigh e a eletrizante trilha sonora.

O fim do espetáculo é o melhor. Inteligente, fugaz, indelicado e louco. É esse Hitchcock que eu admiro. Dono de uma filmografia ímpar, única, Alfred parece estar bem relaxado à Hollywood, um avulso universo de gêneros. Parece indiferente ao notar que é o maior representante de um gênero complexo e difícil. Homem de poucas palavras, não o culpo. Suas maravilhosas películas respondem ao título lhe dado. 

Sem efeitos visuais, sem computação, sem maquiagem, sem mixagem... Hitchcock fez nascer um cinema. Um cinema que particularmente me encanta. Neste filme, esse cinema dispensa pesados atrativos, ainda que nele tenha uma cena das mais icônicas já feitas na história, além de ser uma das mais bem fotografadas (e incluir um grito ainda mais simbólico). Cabelos molhados, papel rasgado, toalha arrancada... Psicose é tenebrosamente detalhista. Característica que exige atenção do espectador. Pra mim mesmo, clássico que é clássico só mesmo como Psicose: elementar e provocante, belo e feio ao mesmo tempo, novo e sensato, e que é claro, conte uma memorável história, para matar a fome, sabe? Nesse quesito, posso-lhes confiar: Psicose é um banquete!

Psicose (Psycho)
dir. Alfred Hitchcock - ★★

terça-feira, 10 de março de 2015

Crítica: "CAKE - UMA RAZÃO PARA VIVER" (2014) - ★★


Ver Jennifer Aniston atuando em comédias é bem usual. Pra começar dizendo a verdade, Jennifer Aniston mesmo só era boa em Friends, por que o cinema nunca foi seu forte. Cake - Uma Razão para Viver é o primeiro filme maturo de Jennifer Aniston, bem assim como sua estreia em uma personagem dramática, algo que chamou muito a atenção nos últimos tempos. Aclamada pela performance, Aniston parece bem segura de si, fora do ninho. É a primeira vez que seu talento me atrai. Um talento que, volto a repetir, só mesmo visível em Friends. Por isso, Cake - Uma Razão para Viver é uma boa chance de vê-la, pela primeira vez, competente num trabalho cinematográfico. 

Atire a primeira pedra quem não concordar: 2014 foi um bom ano para produções independentes. Mesmo assim, discordo que Cake - Uma Razão para Viver, seja uma das principais. Cake, mesmo ao contar com a grande participação de Jennifer, é decepcionante, vazio, melancólico (por falta de observação) e choroso. Muito choroso. Cake - Uma Razão para Viver deixa o público sem respostas para questões anteriormente criadas na trama, o que pra mim, foi inaceitável (e o que infelizmente ocorre por toda a película). 

Cake - Uma Razão para Viver cria um clima incessante de suspense com comédia, que não combina com a imagem dramática da jornada desesperada da problemática Claire Simmons, uma dona-de-casa derrotada com os problemas de um cauteloso passado tentando reconstruir o suicídio de uma das integrantes do grupo de apoio que participava, Nina. No meu ver, Cake - Uma Razão para Viver não soube utilizar corretamente os instrumentos ao redor. O roteiro limita detalhes a partir de alguns acontecimentos na vida da protagonista, o que já afirmei, me deixou aborrecido. Aniston trabalhou bem sua protagonista, por mais mal-escrita que ela foi, dando ênfase à culpa e ao sofrimento. É meloso, mas gostei do mesmo jeito. 

Por isso, pessoal, se há uma verdadeira razão para ver Cake - Uma Razão para Viver é Jennifer Aniston. Unicamente ela, se é que posso dizer. Tem a Adriana Barraza, que em uma cena, extravasa com tudo, o que eu particularmente adorei, brigando em espanhol com Claire. Huffman não tem destaque e H. Macy só aparece em uma cena ainda atuando num misterioso carácter sem nome. Foi um sufoco sustentar essa falta de conexão do filme. Mas Aniston e a trilha sonora salvaram o que eu chamaria de decepção. Ou um sentimento de pânico interior meramente ligado à frustração e ao indômito. Pra finalizar: você não achará nenhuma "razão para viver" em Cake, tal como o maldito título oferecido ao drama americano pelas distribuidoras brasileiras sugerem. 

Cake - Uma Razão para Viver (Cake)
dir. Daniel Barnz - 

segunda-feira, 9 de março de 2015

Crítica: "LIVRE" (2014) - ★★★


Livre é um filme que perturba, não só por sua forte história, mas também por aspectos um tanto melancólicos que acompanham a triste jornada de Cheryl Strayed, uma mulher comum, mas cuja vida não lhe deu descanso por um longo tempo. Livre me lembra bem sorrateiramente filmes como Preciosa e Tudo Sobre Minha Mãe, de protagonistas femininas dramáticas exímias. Não comparo, no entanto, Livre às duas obras-primas citadas acima. Concordo que Livre me fez refletir bastante sobre essa questão existencialista e sentimental que tanto afoga minha imagem cordial do agradável. Livre, intencionalmente, não é agradável. Eu pelo menos, achei Livre um dramalhão. É angustiante ver o que acontece diante de você, sabendo que aquela mesma história é real, aconteceu drasticamente com uma pessoa. Diante do meu ponto de vista, Livre deixou a desejar por alguns motivos, a maioria deles não-relacionados ao meu desconforto em vê-lo, se alguns enxergaram deste modo.

Cheryl é uma mulher que sofreu muito por todo o seu curto período de vida. Atravessou situações horrorosas: presenciou a degradação humana, viveu-a, conviveu em circunstâncias indescritíveis durante uma fase de luto, divórcio, e ainda teve a coragem de aventurar-se numa trilha pela costa do Oceano Pacífico como forma de afastar a mente da triste verdade. Pensar que essa alguém com toda essa ficha existe é muito estranho.

Livre  me deixou com dúvidas. Reese Whiterspoon pode animar em algumas cenas, e na realidade, tem uma performance pra lá de boa, só que o roteiro não libera a consistência necessária que seu personagem exige. Toda aquela bagunça de flashback pode confundir a cabeça dos menos atenciosos. Livre deveria tratar unicamente dessa trilha feita por Cheryl, o que com certeza poderia ter dado um filmaço. Essas questões dos problemas pessoais com a família, traição e tudo o mais poderiam ter sido deixadas num segundo plano, algo bem menos expressivo do que é mostrado aqui. Afinal, Livre não tem um objetivo ao certo, se formos analisar pelo fundo. Uma hora, é a trilha. A outra, seu casamento. Depois vem a mãe doente... Livre não é um filme do estilo complexidade. É mais um documentário (essa ideia me deixou fascinado, por sinal). Poxa... eu não poderia dizer que assistir foi decepcionante, por que até gostei da Reese e da direção do Jean-Marc, que deu o Oscar aos protagonistas de Clube de Compras Dallas ano passado, é mais um tipo de desapontamento com o conteúdo. Principalmente Laura Dern, quase sem diálogo e que sequer atua numa cena inteira e ainda recebe a indicação ao Oscar. Vai entender... Entendam, "dramalhão" não é drama ruim, é apenas um filme que por consequência de alguns erros deixou de ser tocante, numa história que até então tinha tudo para arrancar baldes de lágrimas do espectador, o que aqui, não acontece. E olha eu, esperando por 127 Horas ou Na Natureza Selvagem de Livre... Uma intensa pena.

Livre (Wild)
dir. Jean-Marc Vallée - 

domingo, 8 de março de 2015

Crítica: "NOTAS SOBRE UM ESCÂNDALO" (2006) - ★★★★



Fascinante, delicado, tocante. Uma película que não diverge do ponto principal, e mantém um suspense sufocante. Falar de Notas sobre um Escândalo basicamente é favorecer Judi Dench e Cate Blanchett, em duas performances adoráveis, quão obsessivas e furiosas. Há tempos, tinha um forte desejo em assistir Notas sobre um Escândalo, não só por noticiar a participação destes dois talentos, mas também pela direção de Richard Eyre e a tão comentada trilha sonora. 

Por um lado, Notas sobre um Escândalo é antagonicamente meticuloso. Um filme onde os protagonistas são antagonistas. Ambas, Cate e Judi, algo menos desafiador quando a história trata-se de um rico suspense, mas ainda um drama que procura vítimas. Pelo primeiro olhar, a película ainda pode transparecer melancólica de feições sutis, mas como já se é de perceber, ela engana muito. A trilha sonora ajuda um pouco, vai (Philip Glass é um grande gênio musical).


A rígida, porém solitária, Barbara Covett, dá aulas de história numa decadente escola pública em Londres. Após conhecer a nova professora de artes, Sheba Hart, sua jornada até então parada e inóspita se transforma radicalmente. As duas tornam-se ilustres amigas, mas quando Hart revela um impetuoso segredo, desafia a confiança de Covett: Sheba manteve relações com um aluno de quinze anos, Steven Connelly, por um tempo desde quando entrou na escola. Num jogo de gato e rato, Barbara e Sheba entram num embate perigoso, e ao mesmo tempo, envolvente, que acaba por terminar mal, devido às circunstâncias de um cotidiano fechado e por vezes inútil. As personagens em questão, Sheba e Barbara, são mulheres de opiniões distintas, ainda que atraídas por uma compacta amizade. Sheba é extrovertida, mãe e esposa, e mesmo que esteja feliz e satisfeita com a família e a vida que leva, sente a necessidade de algo mais. Sente que necessita ultrapassar os limites para enfrentar o vazio. Enfrentando o contrário disto, Barbara é uma mulher de poucas palavras, e extremamente sozinha, sem amigos, reservada mas imponente, que não aceita bajulações ou desrespeito. A mesma, por mais que não esteja parecendo, procura preencher esse tenebroso vazio. Esse "vazio" é o que conecta nossas duas estrelas. É justo nesse ponto onde instala-se todo o clima de suspense. Segredos, mentiras, verdades e traições. Ao toque da música, as duas veem-se sem saída, encurraladas pelo azar de estarem tão juntas num destino tão pouco simpático.

Só pela participação de Cate e Jude no filme, como eu já mesmo citei, estão maravilhosas, Notas sobre um Escândalo ganhou minha aprovação. É lógico, alguns elementos inesperados também chamaram minha atenção: a direção de Eyre, o roteiro de Marber, a trilha sonora (surreal) de Philip Glass, cujo anteriormente, já tinha dedicado lágrimas por As Horas. Concluindo: Notas sobre um Escândalo é um espetáculo. Performances consistentes e lindíssimas de duas atrizes competentes, que quase nunca, desapontam a quem prometem. Dos traços impecáveis de uma obra-prima, nasce então Notas sobre um Escândalo.

Notas sobre um Escândalo (Notes on a Scandal)
dir. Richard Eyre - ★★

Crítica: "KILL BILL - VOLUME I" (2003) - ★★★★★


É quase impossível descrever o quão gratificante é chegar ao final de um filme dirigido por Quentin Tarantino. Kill Bill é um daqueles filmes que a gente nunca esquece. Um dos filmes cult mais apreciados pelos cinéfilos contemporâneos, Kill Bill merece não só tal honra mas também reconhecimento por envolver toda uma significância nos seus padrões cinematográficos. 

As cores, as luzes, os cenários, os figurinos... Tudo conspira tão profundamente para que a película consiga fisgar do público a emoção mais extrema, mesmo nas cenas mais fracas. Esse clima inusual de calor com ação maravilha os olhos do espectador. Até o mais inexperiente na área consegue aplaudir Kill Bill pelo seu feito universalmente reconhecível. Qual é o truque de Tarantino, que a cada obra, arrecada os mais efetivos elogios? Qual é o mistério deste gênio? Seguir seus passos é de uma coragem elusiva. Só mesmo Uma Thurman, Samuel L. Jackson, John Travolta e Kurt Russell a aceitarem a difícil, mas ambiciosa chance de interpretar, ou até melhor, protagonizar, um filme deste ícone.


Kill Bill é simplesmente uma lenda. Talvez, vá bem mais além disto. Kill Bill é impressionante. Kill Bill, desde a primeira vez visto, me conduziu a um ilustre universo sangrento e feroz que até nunca conhecido. Essa unicidade reproduz a minha paixão por esta obra. Uma paixão quase a ponto de entrar na cena e contracenar com A Noiva. Foi em Kill Bill que percebi meu amor por esta dama fatal, Uma Thurman, por quem eu já tinha ficado de boca aberta em Pulp Fiction.

Importa lá toda a ficção do filme, quando este induz ao bem mais afortunado limite do gênero, quase chegando a atravessá-lo? Kill Bill é mágico, principalmente. Mágico por que encanta. Mágico por que apaixona. Mágico por que seduz. Mágico por que ilude, mas realiza. Mágico e transcendente. Mágico, transcendente e vivaz. Mágico, transcendente, vivaz e poético. Um elenco que consegue matar a fome por satisfação de quem o assiste.


Resumindo: na sexta vez que o assisto, Kill Bill não perdeu a graça. Manteve o mistério, conduziu a eletricidade e concretizou aplausos. Aplausos altos e longos, à Thurman, à Tarantino, à Richardson, à Liu, à Madsen, à Carradine, e à merecida vingança de Beatrix Kiddo.

Kill Bill - Volume I (Kill Bill - Volume I)
dir. Quentin Tarantino - ★★

sábado, 7 de março de 2015

Crítica: "GANGUES DE NOVA YORK" (2002) - ★★★★★


Puxa vida, que filme! Que direção! Que elenco! Que história! Que versatilidade notória! Gangues de Nova York é um baita espetáculo, e sem sombra de dúvidas, um dos maiores e melhores filmes dirigidos pelo mestre Scorsese. Dono de uma beleza visual incrível e uma jornada ainda mais eletrizante, Gangues de Nova York não poupa esforços para conseguir levar o público ao instinto mais instabilizante possível na poltrona do cinema. Isso por que até mesmo conduzir seu retrato é algo que necessita coragem, talento e dedicação. 

Entrou na lista dos filmes que veria de novo. Filmes que rendem seu tempo. Filmes que rendem processo. E são desses filmes que nascem os clássicos. Inevitavelmente, diria eu, Gangues de Nova York é um clássico cinematográfico, por mais contemporâneo que seja. E afinal, por que não? Há muitas produções atuais pagando esse tão querido título. Várias produções, para ser mais categórico. Gangues de Nova York não só tem a bravura de maravilhar o público como também consegue ser maximamente emocionante, cativante, purificante. Dentre a atual carreira de Scorsese, Gangues de Nova York perde apenas para Taxi Driver, Os Bons Companheiros, Touro Indomável e A Invenção de Hugo Cabret como melhor filme, respectivamente. Ou talvez, essa lista nem exista, por que como Scorsese literalmente nunca falha, essa comparação nem seja tão precisa. 

Esta película trata-se de uma das maiores aulas de história que eu já tive. Um professor que soube ensinar ao seus alunos muito bem a significância dela, por meio de um caminho bem complexo cheio de tramas e reviravoltas de um clímax absurdo. E é lógico, o conteúdo é ainda melhor. 

Estrelando o elenco de mão cheia, temos um Daniel Day-Lewis patriota e racista, opositor do governo de Abraham Lincoln e da imigração irlandesa, o que acaba resultando em uma dupla ironia, pois Day-Lewis é irlandês, e a exatamente dez anos depois do lançamento desta obra viria a interpretar Lincoln, numa das performances mais belas já vistas: uma prova do talento esmerado deste ator contundente, que não é por surpresa, também é brilhante aqui. Em sua primeira colaboração com Scorsese, DiCaprio também conseguiu atuar vivamente, o que de uma forma, resultou numa bela esnobação por todo o seu trabalho, já que o reconhecimento recaiu mais à Day-Lewis, elogiadíssimo e igualmente premiado por este filme. Cameron Diaz na sua interpretação mais matura também não é de se jogar fora. Jim Broadbent ainda dá um brilho com uma atuação instintiva, mas um pouco em off

Como já é de ver, a garantia que se tem de ver Gangues de Nova York bem mesmo é uma eufórica obra-prima do cinema, uma competente aula de história americana. Uma importante peça cinematográfica. Uma valiosa direção, um artimanhoso elenco, um genial roteiro, uma atroz trilha sonora... E outras mil e uma qualidades que até podem deixar o espectador desapontado, mas satisfeito. 

Gangues de Nova York  (Gangs of New York)
dir. Martin Scorsese - ★★

sexta-feira, 6 de março de 2015

UNBREAKABLE KIMMY SCHMIDT / 1ª Temporada


Com um elenco talentosíssimo, Unbreakable Kimmy Schmidt é mais um resultado triunfal da brilhante parceria de Tina Fey e Robert Carlock, conhecidos principalmente pelo aclamado 30 Rock.

Depois de quinze anos após raptada, privatizada e transformado-se em membra de uma seita apocalíptica, Kimmy Schmidt, junto com outras três reféns, é libertada. Porém, todo o tempo que perdeu nesse fatídico episódio constroem uma enorme influência na vida de Schmidt após sua saída, o que ocasiona a ela alguns problemas como: emprego, dinheiro, casa... 

O primeiro episódio é um dos mais estranhos, por que tudo acontece muito rápido. Mas não deixa de ser engraçado e igualmente prazeroso. Só a partir do segundo é que você começa a compreender o conceito criativo de toda a série, incluindo a sátira subversiva e o humor afiado, já presentes no trabalho anterior de Fey (e seu mais, repetindo, conhecido) 30 Rock. Desta vez, Tina não atua, o que possivelmente não funcionaria, já que quebraria aquela imagem mais séria e contundente que ela passa nos seus personagens. 

Ellie Kemper, no papel de Kimmy, é divertidíssima. Eu ainda acredito que poderia ter uma escolha melhor para o papel, no entanto, como no momento Kemper é uma das comediantes de mais sucesso e agraciação, a personagem caiu-lhe bem. Gostei da performance de Tituss Burgess, na interpretação de Titus, o companheiro de quarto de Kimmy, que confesso: me fez rir muito.

É claro, também contando com participações extras, como a de Carol Kane, já idosa, mas ainda ativa. Um roteiro estratégico e verossímil, assinado por Fey, Carlock e Burditt. Uma direção bem instintiva, cheia de pontos e conflitos altos. A série é bem incomum, de fato, mas é uma delícia. Tina Fey continua satirizando como sempre, aqui de uma maneira um pouco menos rígida e com um objetivo bem mais comercial, já que a série é transmitida pela Netflix (a NBC cancelou a exibição da série), impossibilitando àqueles que não tem acesso ao canal pago da internet de assistir, o que meio a limita de favorecer todo o sarcasmo dos diálogos e a marcação do roteiro, coisas que eu gostava bastante de 30 Rock

Comédia americana é coisa de louco mesmo. Até por que cada episódio é bem mais complexo do que o outro, afinal, as opções limitam-se. Hoje em dia há uma variedade de produções televisivas, principalmente comédias, no circuito da mídia, o que me alegra. Unbreakable Kimmy Schmidt aborda o cotidiano num humor mais fácil, suave, simbólico, mas ainda liberal, concreto e agradável. São as novas comédias. Sempre é necessário usar alguns artifícios mais carinhos e deixar aquela expressividade monumental de lado, pois nem sempre todos querem comprá-la. Mesmo não sendo daquele estilo Fey cem por cento, eu comprei Unbreakable Kimmy Schmidt. Quem admira o trabalho da comediante americana, tem uma aprovação garantida, da sua, mais uma vez, competência genial.

1ª TEMPORADA ★★
MELHOR EPISÓDIO: Kimmy Goes on a Date! - ★★★★

Crítica: "COLD MOUNTAIN" (2003) - ★★★★


Fabulosa! Uma obra digna de reconhecimento por toda a sua produção épica. Discordo, mas respeito, aqueles que acharam Cold Mountain um saco, pois sei eu que tenho um fraco por dramas históricos, cujos aprecio muito, então, aqui me expresso apenas para informar a precisão desta película no meu ponto de vista cinematográfico, espiritual e reflexivo.

Primeiro de tudo, Cold Mountain não seria algo sem a perfeita dramatização do elenco. Isto é, Jude Law, Renée Zellweger, Nicole Kidman, Natalie Portman (uma surpresa pra mim, já que não tinha a informação de que ela fazia parte do filme) e Philip Seymour Hoffman. Porém, minha atenção fixou-se mesmo em Renée Zellweger, numa performance badalada por aclamação e prêmios, todos igualmente merecidos à ela. Kidman puxou para uma coadjuvante, apesar de ter tido bons momentos na trama. Jude Law surpreendeu e maravilhou, mas deixou de preencher alguns espaços que fizeram falta. Portman belamente roubou a cena. Um dos maiores, roubos de cena. Apenas por alguns minutos, ela foi a estrela. 

Anthony Minghella analisou estonteantemente o romance de Charles Frazier, tão bem quanto O Paciente Inglês. Na verdade, seus filmes, a maioria adaptações, tem cara de romance, em tudo: o diálogo, a caracterização... É incrível. Ainda mais nesta obra, cuja vos garanto que é maravilhosa neste quesito: roteiro. A direção também pode alegrar alguns, apesar de não ser nada ao lado do que ele fez em O Paciente Inglês e em O Talentoso Sr. Ripley. Neste filme, não temos Binoche, mas, como já dito, temos Zellweger, que lá não faz tanta diferença, já que ambas são dotadíssimas de talento e uma aguçada percepção para encarnar atrizes coadjuvantes nos filmes do britânico Anthony (e faturar Óscares por elas). 

Quebrando logo a dúvida de quem ainda não assistiu ou procura assistir Cold Mountain: não é um musical. Pouquíssimas canções, ao todo quatro, são apresentadas ao longo de seus 150 minutos, o que já de início pode causar eventuais desencontros pelo espectador, afinal, Cold Mountain muito bem poderia ser um musical, mas aí, teria que ser bem mais esforçado do que é como drama. Não sei bem se funcionaria, mas não custava tentar (ou custava?). 

Milhões de vezes tentei ver Cold Mountain. Certo tempo, achei no Telecine Cult, mas não vi até o final, logo que o mesmo estava no meio. Não consegui encontrar na Netflix, e igualmente não teria paciência, apesar de ter apenas poucas dúvidas de que lá pode-se encontrar-lo. O jeito mesmo foi procurar em DVD. Procurei e achei. E depois de um longo tempo, apenas nesta tarde, minha missão de vê-lo foi cumprida. Bem, Cold Mountain pra muitos é um dramalhão "chorável" cheio de blé-blé-blé e uma história de amor frouxa e fraca. Na minha opinião, não é verdade. Até por que o filme envolve, cria, ocasiona um clima tenso de mistério e persuasão, mesmo que esteja em desfoco, ao narrar a tão impiedosa jornada romântica de Ada e Inman. Muita gente, ao seriamente desvalorizar Cold Mountain, recomendou o drama francês Amor Eterno, de Jean-Pierre Jeunet, com Audrey Tautou e Marion Cottilard, que automaticamente entrou para minha lista de pedidos. Acredito que o mesmo possa até me encantar mais do que este filme em si, pois compreendo que histórias recheadas de sentimentalismo ou com personagens fortes variam de pessoa para pessoa, no entanto, Cold Mountain foi muito lindo. Sinceramente, é lindo mesmo. Elenco, fotografia, (brilhante) trilha sonora... Tudo te cativa até o último segundo, pois é isto que nos move dentro da sala de projeção: a paixão pela história que é contada. 

Cold Mountain (Cold Mountain)
dir. Anthony Minghella - ★★