Pasolini é uma contundente e desafiadora obra baseada nos relatos a partir dos últimos momentos de vida do grande ícone do cinema italiano, o tão famoso e polêmico Pier Paolo Pasolini, equilibrando uma criativa ficção com os mais breves detalhes de seu caminho à tão misteriosa morte, sem autoria. A proposta, talvez, mais chamativa e perigosa de Pasolini é seu final, justo por conta disto. A dúvida se sobrepõe ao assassinato de Pasolini, que até os dias de hoje, permanece em branco, sem julgamento, já que basicamente o incriminado na década de 70 revelou mais tarde sua inocência diante deste incoerente crime, injusto crime. Este ano, completam-se quarenta anos que este grande ser despediu-se do público, num adeus violento e leviano, que ainda punido fora pela inconsequência e pretensiosidade de seu ato;
Assistir Pasolini sem expectativas é uma baita falta de consideração, já que apenas pelo objetivo de filmar os últimos passos dele, um turbilhão de pensamentos se vem à mente. E para mim, foi uma espécie de surpresa, confesso. Torna-se difícil, então, calcular as expectativas quando se tem Abel, Willem, uma grande história e uma pitada de ficção no meio. Mas essa surpresa puxou para um lado positivo. No final de tudo, Pasolini não é exagerado, não é amargo, não é infiel, é apenas uma reflexão; uma bela e sensata reflexão sobre a sua vida, sua carreira, sua filosofia, seu modo de pensar. Nas primeiras cenas, já é possível vê-lo em uma entrevista, questionado então sobre o estilo de sua cinematografia, e sua opinião política (imaginem o discursão!). Tocando em Dafoe, é quase um pecado não mencioná-lo ao então mencionar Pasolini. Em sua quarta colaboração com Ferrara, Willem Dafoe, com certeza, faz a sua melhor atuação (até agora, presumo) em um filme dele. E a mais concreta, digamos. Quando encarnar a personalidade controversa e complicada de Pier Paolo Pasolini já é algo tremendamente assustador, imagina-se interpretar Paolo usufruindo de longos diálogos em italiano? É muito talento mesmo, sinceramente.
Maria de Medeiros e Ninetto Davoli (velho recorrente de Pasolini, que além de interpretar, é interpretado no filme - ambas performances gloriosas) surgem na trama bravamente - de surpresa, resumindo -. O elenco, em si acredito, também merece ser reconhecido. A cena final, sendo a mais chocante de todo o filme, também é a que mais exige do espectador. Desconhecer a morte do cineasta ou conhecer o paradeiro por trás dela, ambas as situações, geram a mesma sensação diante dda deslumbrante e dramática passagem.
Entre outras: Pasolini é simplesmente fantástico. É igualmente bom como outras grandes obras de Abel, incluindo tanto o recente Bem-Vindo a Nova York quanto o clássico da década de 90 O Rei de Nova York. Notoriamente influenciado pelo cineasta, Ferrara fez um autêntico trabalho retratando o fim deste lendário diretor italiano, cuja carreira, bem mais do que seu tão complexo e comentado assassinato, merece um evidente destaque em nota à enorme e incalculável contribuição ao cinema.
Pasolini
dir. Abel Ferrara - ★★★
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