Algo me despertou uma estranha e ao mesmo tempo saciável sensação em Mapas para as Estrelas. Não sei por que, mesmo o filme sendo demasiadamente pretensioso, seu conteúdo transpareceu fielmente cordial à história. Desde Cannes ano passado, Mapas para as Estrelas já tinha chamado a minha atenção, principalmente por Moore, vencedora do prêmio de Melhor Atriz no festival e mais tarde indicada ao Globo de Ouro por este papel em comédia, e ainda sim uma possível concorrente ao Oscar 2016 se o longa de Cronenberg for selecionado (a estreia mundial de Mapas para as Estrelas ocorreu este ano) para competir, o que eu acho que será tremendamente ótimo; e por outro lado, ver que além dela, outras estrelas também faziam parte do conjunto do elenco, entre eles Robert Pattinson (novo favorito de David, desde Cosmopolis) e Mia Wasikowska, talentosa estrela de Alice no País das Maravilhas.
Até que Mapas para as Estrelas não é tão decepcionante assim. Certo que trama não é o forte do filme, mas até que eu gostei de todo o paradoxo familiar e os conflitos internos das celebridades, o que de fato, é extremamente cômico, o que contrariou minha pré-visão dramática e sensacionalista da película. Há segmentos eletrizantes, a maioria protagonizados por Moore, sinceramente fabulosos. No entanto, há uma percepção errônea a partir de sua atuação. Pelo contrário, Moore é uma coadjuvante, e não principal. Protagonista mesmo é a Mia. Se não fosse pelo (imbatível) final cheio de reviravoltas quentes e até um pouco satíricas, até perdoaria o título de "protagonista" oferecido à ela. Aqui, pra mim, ela é uma coadjuvante.
O bom de Mapas para as Estrelas é que ele é um filme propositalmente confuso. Ou seja, ele não precisa de nenhum pingo de sentido para fazer sentido. Como Hollywood é um mundo totalmente sem sentido, faz sentido presentear este sujo e infeliz universo com uma obra rica em incoerência. Chega a ser deprimente ver uma Julianne Moore de cinquenta anos encarnando uma atriz mimada e petulante aspirante à adolescente emburrada por ter perdido o papel numa biografia da própria mãe. É engraçado, ou então constrangedor, a ser mais específico. Também tem um garoto de treze anos com problemas psicológicos estrela de uma sucessiva franquia. Nada tão desconhecido assim do público mais amplificado. Leva apenas uma dose a mais de "escândalo". David, de fato, sempre foi uma pessoa escandalosa, estranha. Não seria neste filme que ele perderia a oportunidade de botar a boca no trombone para logo mesmo assumir sua tão imperialista opinião sobre a depreciativa sociedade hollywoodiana. Mesmo tratando-se de algo bem familiar, Mapas para as Estrelas não deixa de ser uma visão original e interessantemente perturbadora sobre o demoníaco e psicótico submundo da fama.
Afinal, essa é a grande sacada do novo filme de David Cronenberg. Um astuto e inversivo chamado ao terror através de toda uma população de celebridades enfadonhas e medíocres, fanáticas e obsessivas, destruídas e peculiares em seus lares decorados com a fúria e o pânico, o sangue e a luz, e a atrocidade e o desumano, na terra onde a inquieta bizarrice povoa. De fato, Hollywood is burning!
Afinal, essa é a grande sacada do novo filme de David Cronenberg. Um astuto e inversivo chamado ao terror através de toda uma população de celebridades enfadonhas e medíocres, fanáticas e obsessivas, destruídas e peculiares em seus lares decorados com a fúria e o pânico, o sangue e a luz, e a atrocidade e o desumano, na terra onde a inquieta bizarrice povoa. De fato, Hollywood is burning!
Mapas para as Estrelas (Maps to the Stars)
dir. David Cronenberg - ★★★★
Nenhum comentário:
Postar um comentário