Livre é um filme que perturba, não só por sua forte história, mas também por aspectos um tanto melancólicos que acompanham a triste jornada de Cheryl Strayed, uma mulher comum, mas cuja vida não lhe deu descanso por um longo tempo. Livre me lembra bem sorrateiramente filmes como Preciosa e Tudo Sobre Minha Mãe, de protagonistas femininas dramáticas exímias. Não comparo, no entanto, Livre às duas obras-primas citadas acima. Concordo que Livre me fez refletir bastante sobre essa questão existencialista e sentimental que tanto afoga minha imagem cordial do agradável. Livre, intencionalmente, não é agradável. Eu pelo menos, achei Livre um dramalhão. É angustiante ver o que acontece diante de você, sabendo que aquela mesma história é real, aconteceu drasticamente com uma pessoa. Diante do meu ponto de vista, Livre deixou a desejar por alguns motivos, a maioria deles não-relacionados ao meu desconforto em vê-lo, se alguns enxergaram deste modo.
Cheryl é uma mulher que sofreu muito por todo o seu curto período de vida. Atravessou situações horrorosas: presenciou a degradação humana, viveu-a, conviveu em circunstâncias indescritíveis durante uma fase de luto, divórcio, e ainda teve a coragem de aventurar-se numa trilha pela costa do Oceano Pacífico como forma de afastar a mente da triste verdade. Pensar que essa alguém com toda essa ficha existe é muito estranho.
Livre me deixou com dúvidas. Reese Whiterspoon pode animar em algumas cenas, e na realidade, tem uma performance pra lá de boa, só que o roteiro não libera a consistência necessária que seu personagem exige. Toda aquela bagunça de flashback pode confundir a cabeça dos menos atenciosos. Livre deveria tratar unicamente dessa trilha feita por Cheryl, o que com certeza poderia ter dado um filmaço. Essas questões dos problemas pessoais com a família, traição e tudo o mais poderiam ter sido deixadas num segundo plano, algo bem menos expressivo do que é mostrado aqui. Afinal, Livre não tem um objetivo ao certo, se formos analisar pelo fundo. Uma hora, é a trilha. A outra, seu casamento. Depois vem a mãe doente... Livre não é um filme do estilo complexidade. É mais um documentário (essa ideia me deixou fascinado, por sinal). Poxa... eu não poderia dizer que assistir foi decepcionante, por que até gostei da Reese e da direção do Jean-Marc, que deu o Oscar aos protagonistas de Clube de Compras Dallas ano passado, é mais um tipo de desapontamento com o conteúdo. Principalmente Laura Dern, quase sem diálogo e que sequer atua numa cena inteira e ainda recebe a indicação ao Oscar. Vai entender... Entendam, "dramalhão" não é drama ruim, é apenas um filme que por consequência de alguns erros deixou de ser tocante, numa história que até então tinha tudo para arrancar baldes de lágrimas do espectador, o que aqui, não acontece. E olha eu, esperando por 127 Horas ou Na Natureza Selvagem de Livre... Uma intensa pena.
Livre (Wild)
dir. Jean-Marc Vallée - ★★★
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