Dono de um humor ácido, inquieto,
negativo, até por vezes receptivo, afável e simbolicamente lúdico, Louis C.K. -
não faz tanto tempo assim - conseguiu ganhar meu reconhecimento através de um
trabalho que o consagrou no seu meio funcional (TV) há mais ou dois anos atrás:
o seriado Louie,
unicamente disponível em cópias legendadas pela internet, que
apesar do grande esforço pelo impiedoso download dos episódios, rendem
algo de valor ímpar. Afinal, Louie é uma obra facílima de
compreender-se. Minha simples teoria para esse fato é a qual a cada episódio,
cada situação abordada e encarnada pelo nosso protagonista, tornam-as mais
similares à realidade de pessoas comuns.
Louie é um comediante divorciado,
mal-humorado, enrijecido, fracassado, pouco popular, e vulgarmente dizendo,
azarão, que a cada oportunidade que à porta lhe bate, o mesmo a rejeita
infielmente, quase invisivelmente, sem mesmo perceber o que aquilo lhe poderia
proporcionar. Louie, de
fato, é uma comédia (de um humor equilibradamente genial, por sinal), mas ainda
se destaca ao meu ver por leves tons dramáticos, consequentes ao personagem em
questão: um homem comum sem muitas pretensões apenas tentando levar a vida como
qualquer um. Mas a vida, com este homem, não tende a ser nem um pouco fácil. É
claro, isso também deve-se ao excelente talento de Louis C.K., criador, ator,
escritor e editor da série, em encobrir misticamente o drama vivido por esta
figura, impondo-lhe alguns dos mais medíocres, cômicos e singulares
momentos.
Quando soube da existência desta série,
nada então sabia. Não conhecia, até o momento em que este trabalho foi-me
citado, o comediante americano Louis C.K., tendo até então trabalhado no cinema
em pequenas produções como roteirista, chegando num certo momento a colaborar com
Chris Rock, um velho colega do stand-up, tanto na TV quanto nas telonas. Antes
mesmo de procurar a série, tentei saber e aprofundar meus inexistentes
conhecimentos sobre essa personalidade. No final do ano retrasado, achei no
Netflix um episódio de stand-up excentricamente engraçado de cinquenta minutos
gravado em 2012 ao vivo estrelado por Louis, e a partir dali, tive uma breve,
mas não completa, noção da capacidade daquele cara. Só por introduzir-me a um
pequeno conteúdo de sua vasta carreira, pude notar a presença de algo bem mais
além do que minhas expectativas desenharam. Inacreditavelmente iniciei em um
dia e terminei no outro a terceira temporada de Louie, sua magnum opus. Fiquei estonteado com a preciosidade
daquele material pelos já amplificados treze episódios ali presentes.
Basicamente, dedico minha empolgação ao competente elenco, incluindo, como já mencionei, Louis C.K., Melissa Leo (numa
participação surpresa, avassaladora e bem inusual no episódio Telling Jokes/Set Up da 3ª temporada), Susan
Kelechi Watson, Edward Gelbinovich, Sarah Silverman e Nick DiPaolo. No entanto,
também merecem aparecer aqui por suas curtas performances: David Lynch, F. Murray
Abraham, Amy Poehler, Chris Rock, Robin Williams (para evitar spoiler, há um diálogo
realmente impressionante e irônico entre Robin e Louie que me emocionou
bastante), Jay Leno e Jerry Seinfeld.
A quarta temporada requer mais ênfase
devido a um capítulo (o mais longo) dividido em seis episódios, que garantem
boas risadas igualmente, apesar de boa parte de seu tempo ter me deixado bem
vulnerável ao sentimentalismo. Se assistidos sem pausa, dão uma sensação
extraordinária de longa-metragem (agradecimentos à direção e ao roteiro de C.K.
nesses seis episódios e à edição conduzida pelo mesmo). Nesta quarta temporada,
a série parece bem mais fora do controle daquilo que a série já
identificava-se: um sentido irreal guiado pelo humor negro. Menção honrosa aos
episódios: "Model", "So Did the Fat Lady" e
"Back", à parte do já comentado longo segmento "Elevator".
Enfim, aqui encerro essa resenha a partir
do seriado Louie: digno de
aplausos por ser uma comédia de tal modo singular esplêndida, coisa rara hoje
em dia a se ver logo na televisão. Enquanto isso, aguardo a chegada da tão
esperada (e demorada) quinta temporada, re-assistindo as poucas e boas que esse
incomparável "herói" passa por.
3ª TEMPORADA - ★★★★★
4ª TEMPORADA - ★★★★
MELHOR EPISÓDIO (4ª Temporada): Elevator (todas as partes) - ★★★★
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