Logo no início do filme, a empolgação do público quebrou o clima de intimidade da película, o que pode ter atrapalhado um pouco na minha percepção do filme, apesar de eu mesmo acreditar que não estou errado a partir de Cinquenta Tons de Cinza. Li o livro, e torno a afirmar: é bem mais interessante e completo do que o filme. A ordem dos fatos mostradas nesta película não correspondem ao romance. As cenas estão embaralhadas, o que é uma tortura pra quem teve a grandiosa oportunidade de ler a obra literária de E.L. James, e a ver destruída agora, no cinema.
Pra ser bem direto, não gostei. Inseguro, bagunçado, mal-interpretado, enfim, Cinquenta Tons de Cinza é uma bomba, pra não falar outra coisa. Acho que uma das únicas coisas que salvaram este filme foi a trilha sonora esplêndida de Danny Elfman. Por favor, não relacionem meu desgosto com o conteúdo erótico, que por sinal, também é incompleto. O livro também é bem mais sexy em alguns quesitos. O romance ainda consegue criar um mistério, visualizar mais a jornada e é bem mais divertido, e por um lado, romântico. O livro é narrado pela própria Anastasia Steele, o que o torna bem estiloso, mas o filme não faz isso. E esse elemento narrativo é essencial da história. Sem ele, não há emoção, ou até mesmo conflito. Porém, o que mais me intrigou e desapontou foi o final, que por sinal, também é diferente do original.
Por isso, leiam o livro. Aqui fica a minha mais solene dica. A diretora Sam-Taylor Johnson mostrou-se inexperiente e desfocada, o que favoreceu ainda mais o fracasso deste filme em meu conceito. Jamie e Dakota, nada plausíveis. Pelo menos, suas interpretações ambas são terrivelmente melosas. Confesso que estava animado para assistir. Como já tinha lido o livro, e passei a considerar alguns pequenos fatos, como a aprovação (com certeza forçada) da escritora E.L. James, que também lutou pelo final, aposto eu, luta que falhou, meu interesse subiu. Tudo foi em vão. Mas, fazer o quê?
Toda vez que a Dakota aparecia, lembrava da Anne Hathaway, e passei a imaginar como o filme seria se ela participasse, afinal, entre elas há uma diferença astronômica quando o assunto é talento e competência. Hathaway daria uma belíssima Anastasia. Uma lendária Anastasia. Os escolhidos deixaram a desejar. É sempre assim. Adaptações comerciais quase nunca funcionam por conta dessa desorganização na escolha da equipe, elenco e tudo mais. Atores não tem um pingo de dedicação aos personagens. Roteiristas escrevem algo qualquer, e sequer se dispõem a evitar alguns dos mais interessantes pontos da obra original, como o lábio de Anastasia e "Eu não faço amor, eu fodo com força.". Diretores fazem um bolado sem pé nem cabeça. Não vou culpar a pressão. Vou culpar a falta de interesse. Lógico, afinal, Cinquenta Tons de Cinza como filme é uma ideia pra lá de fascinante. Pena que o estúdio colocou o projeto na mão de pessoas que não tiveram, possivelmente, essa visão. Colocasse na direção, por exemplo, Sam Mendes e no roteiro a própria E.L. James, pra ver se não saía algo bem digno de aplausos, o antônimo disso aqui. Mendes está dirigindo Bond pela segunda vez, então, o perdoo. Mas, e James? A própria se ofereceu a escrever a adaptação. Totalmente incompreensível.
Enfim, é tanta decepção que mal consigo descrever o quão raivoso foi assistir Cinquenta Tons de Cinza. Elegante, estrutural, e um pouco romântico, mas ao mesmo tempo, infiel, ultrajante e passivo. Não há conflito. O filme deixa questões em branco. Anula resultados. E ainda por cima, infringe a autoridade do espectador. Como já disse, a história é boa, maravilhosa, sensata, sensual e demasiadamente excitante, só que o filme não acompanhou o ritmo da mesma. Lamentável, pra quem como eu, esperava um novo clássico do cinema erótico, como Instinto Selvagem e 9½ Semanas de Amor, desta fraca adaptação.
Cinquenta Tons de Cinza (Fifty Shades of Grey)
dir. Sam-Taylor Johnson - ★★
Nenhum comentário:
Postar um comentário