terça-feira, 28 de abril de 2015

Adeus, ANTÔNIO ABUJAMRA (1932 - 2015)


Morre, nesta terça-feira (28), em São Paulo, o ator e diretor de teatro Antônio Abujamra. Segundo informações, a morte do querido Antônio - ícone da dramaturgia nacional - teve como causa um infarto do miocárdio. Segundo a própria família, Abujamra não fazia nenhum tratamento especial, e que a morte "chegou subitamente". O diretor foi encontrado morto em sua casa, no bairro Higienópolis, pela cuidadora. O grande artista deixa dois filhos e dois netos.

Tio das atrizes Clarisse Abujamra e Iara Jamra, do cineasta Samir Abujamra e pai do músico e ator André Abujamra, Antônio - famoso por suas diversas e inúmeras contribuições ao teatro brasileiro, também tendo atuado nas áreas cinematográficas e televisivas com menor destaque - deixará saudades. Abujamra trouxe ao Brasil os engenhosos métodos dramatúrgicos de Bertrolt Brecht e Roger Planchon, sendo seu percursor mais notável. Formado em filosofia e jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, além de ator e diretor de teatro, Abujamra também atuou como crítico teatral, mais especificamente antes de ter iniciado-se como ator e diretor, libretista e produtor. Nos primeiros anos, atua em produções de autoria de vários escritores, tais como Fernando Pessoa, Tennessee Wiliams, Eugène Ionesco, Georg Büchner, Arnold Wesker, Augusto Boal, Carlos Henrique Escobar e Lope Vega. Em 1965, dirigiu uma das melhores e mais influentes peças da dramaturgia, da autoria de Dias Gomes, a primeira montagem de O Berço do Herói, mais tarde adaptada para a teledramaturgia. Abujamra dirigiu, em palco, vários atores, entre eles Antônio Fagundes, Nicette Bruno, Paulo Goulart entre outros.

"Eu tive mais de cem fracassos e pra mim não tem a mínima importância. Para um artista, o fracasso e o sucesso são iguais. Os dois são impostores"


- Antônio Abujamra

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Adeus, RICHARD CORLISS (1944 - 2015)


Falece, em Nova York, nesta quinta-feira (23) o crítico de cinema da revista americana TIME Magazine Richard Corliss, aos 71 anos. O crítico, que trabalhou por mais de trinta e cinco anos na redação da revista, e que também já foi o editor-chefe da Film Comment, morreu à noite por complicações no decorrer de um infarto. Deixando um legado de importância para a crítica, Corliss consagrou-se como um dos mais ativos críticos da história, tendo feito por diversos anos resenhas de vários filmes. Corliss, além de crítico, também foi autor de alguns livros especializados sobre o universo cinematográficos, entre eles o best-seller "Talking Pictures", publicado em 1974. Abaixo, a revista TIME Magazine, numa homenagem a um de seus melhores membros publicada nessa sexta, disponibilizou alguns reviews do crítico, entre eles o de E.T. - O Extraterrestre e Poltergeist, filme s considerados por Corliss como alguns dos melhores já feitos.

"Era uma vez, havia um pequeno menino chamado Steven, que morava num mítico lugar chamado subúrbio. Sua casa era como a casa de todos nós; o carro da sua família, seu cachorro e sua piscina também. Mas os sonhos do pequeno Steven eram diferentes. Ele sonhava em contar histórias de sua estranha terra - maravilhosos contos sobre seu lar e sua escola, seus pais e especialmente seus amigos - e fazê-los brilhar como novos. Então toda noite ele deveria, na ponta dos pés, sair de sua casa estilo-fazenda e fazer um pedido à estrela que mais brilhava no céu suburbano. Mais e mais ele sussurrava: 'Me ajude a contar uma história.'"


- Trecho da crítica de Richard Corliss ao filme dirigido por Steven Spielberg E.T. - O Extra-Terrestre

domingo, 19 de abril de 2015

Crítica: "A INVENÇÃO DE HUGO CABRET" (2011) - ★★★★★


Eu profundamente gostaria de expressar aqui a importância de A Invenção de Hugo Cabret, assistido por mim pela não-sei-lá-mais-qual vez. Este é necessariamente um dos filmes mais belos e particularmente doces, gostosos, primorosos, feitos ultimamente no circuito cinematográfico. E digo isto por que é apenas a não-sei-lá-mais-qual vez que o assisto. Diante de tal tesouro, às vezes nem é preciso dizer muito. Mas eu preciso, no entanto, expressar nestas palavras o quanto eu gostei de Hugo, mesmo o longa tendo apresentado abusos e excessos. Primeiramente, é preciso lembrar que filmes deste gênero na carreira do cineasta Martin Scorsese - mestre da violência, do sangue e da verborragia - aparecem, de fato, uma única vez. Vale igualmente lembrar que, tratando do filme como "deste gênero", especifico: destinado ao público infantil, por mais que meramente remeta ao público adulto em algumas partes. 

Filmes assim fascinam. Eles possuem algo que transmite felicidade e compaixão ao mesmo tempo, sem deixar de ser minimamente interessante e valioso, sem exagerar ou ser petulante, como muitos, do seu tipo, costumam ser. Aqui, há a essência e o prazer. Eu não sei qual instrumento elementário teve maior influência nessa valorização. Fico em dúvida entre a visão de Scorsese, a história de Selznick e a mágica lendária de Méliès, apesar de ter forte certeza que a mistura de todos é o resultado desse instrumento elementário tão difícil de se descrever. A questão é que: A Invenção de Hugo Cabret, tanto o filme quanto o livro - lido anteriormente - possuem tão gratificante domínio e percepção sobre a arte de George Méliès, pai e promissor inventor da arte de fazer filmes. Acredito que, além de tudo, é isso o que mais satisfaz em ver esse conteúdo de primeira.

Aqui comento o filme, nem tão diferente do livro, que segue na reta uma trajetória incomum e verdadeiramente encantadora narrando as aventuras e peripécias de um garoto chamado Hugo Cabret, que vive na Paris da década de 20 cuidando sozinho dos relógios da grande estação. Hugo estabelece, à sua maneira, uma relação delicada e altruísta com um - pela primeira vista - antipático e rabugento dono de uma loja de brinquedos da estação (George Méliès, interpretado inesquecivelmente por Ben Kingsley), de quem vive roubando pequenos acessórios mecânicos a fim do conserto de um robô autônimo - criação não-finalizada de George, resgatada de um museu por sei pai, morto no incêndio do estabelecimento supracitado. Desse ponto inicia-se uma inteligente, saudável e curiosa trama que prende e emociona seu espectador até o final.

É claro, sem citar que toda a equipe técnica também teve uma enorme, significativa participação neste feito. Destaco, de todas as mais, três. A fotografia extraordinária de Robert Richardson (trabalhou anteriormente com Scorsese em O Aviador e Ilha do Medo, tendo mantido colaborações com Tarantino em Kill Bill, Bastardos Inglórios e Django Livre); a imobilizante trilha sonora de Howard Shore (talentoso compositor de outros grandes filmes como A Mosca, Ed Wood, Filadélfia, Dúvida, além de frequentes outras mais colaborações com Martin em Gangues de Nova York, O Aviador, Os Infiltrados e também com David Cronenberg em Uma História de Violência, Um Método Perigoso e Mapas para as Estrelas); e a tocante direção de arte, autoria maravilhosa dos mestres imortais Dante Ferretti e Franchesca LoSchiavo. Além mesmo da edição, dos figurinos de Sandy Powell, é importante destacar estes três pontos. Destaco também o formidável elenco, formado por Ben Kingsley, Sacha Baron Cohen, Jude Law, Emily Mortimer e, as crianças, Asa Butterfield e Chloë Grace Moretz, enfatizando um pouco mais a atuação de Moretz, já que Butterfield, demasiadamente precoce e inexperiente ator mirim à altura de interpretar um protagonista de Scorsese, saiu-se muito nervoso e seriamente comportado em seu papel, que não necessitava tanto dessas duas características, apesar de eu mesmo ter gostado da aparição do garoto. 

John Logan, roteirista de O Aviador, obra original de Scorsese, adapta aqui o livro de Brian Selznick A Invenção de Hugo Cabret, publicado em 2008 nos Estados Unidos e vindo ao Brasil apenas em 2012, um ano após o lançamento do filme (acaso?). Tive a oportunidade de ler o livro, bem antes de assistir pela primeira vez o filme e confesso que apesar de diferenças, senti-me confortável em relação à essa questão de fidelidade e tudo mas, afinal, o material de A Invenção de Hugo Cabret não é tão sério assim. Scorsese tem e deve brincar sim com a adaptação. Foram pouquíssimas diferenças, para ser mais exato em apenas duas cenas - e não altera nada se relacionado à interpretação. O que vale mesmo é assistir o filme despreocupado, com a cabeça livre, sem exigir muito e nem levar tudo à constantemente a sério. Luxo, beleza, pompa, esplendor e magia não faltam em A Invenção de Hugo Cabret. Obviamente, a película é uma homenagem - fantástica - ao brilhante George Méliès, um dos pais do cinema, aquele que trouxe à imagem a fantasia e a cor, a luz e a majestosidade, produtos hoje em dia tão apreciados e valorizados em nossa variada produção. E além de tudo o mais, deixe-se levar pela inspiração infantil que a jornada traz. A Invenção de Hugo Cabret, inteiramente em si e mais basicamente incorporando, é uma fábula, para crianças, para adultos, para velhos, para qualquer público que dispor-se a ver. 

A Invenção de Hugo Cabret (Hugo)
dir. Martin Scorsese - 

sábado, 18 de abril de 2015

Crítica: "MORTDECAI: A ARTE DA TRAPAÇA" (2015) - ★★


Mortdecai: A Arte da Trapaça traz de volta Johnny Depp depois dos fiascos que foram os filmes O Cavaleiro Solitário e Transcendence, agora em um plano bem mais fantasioso e cômico se comparado aos outros filmes citados. O único problema é: Mortdecai também é um fiasco. Um fiasco imperdoável. Mortdecai é tortuosamente cheio de falhas e clichês idiotas e bobos que não conseguem arrancar nada do público a não ser cansaço e desapontamento.

O filme já começa mal quando começa a misturar espionagem e comédia de uma forma tosca e improvável. Piora quando inventa artifícios metódicos para fazer com que seu protagonista escape de suas emboscadas quase ileso. E assusta quando coloca seu elenco à prova, da maneira mais grotesca imaginável. Assim é Mortdecai: um filme detestável. Uma pena para o diretor David Koepp, de quem vi a grande comédia romântica Ghost Town com Ricky Gervais e Téa Leoni. 

Mortdecai pode divertir e até muito bem garantir uma porção de gargalhadas, mas ainda sim não é convincente. Falta dramatização em sua encenação. Falta conflito. A ausência destes elementos essenciais é o que o faz chato e ridiculamente tedioso. Mas a história é exclusivamente boa. Temos aqui Johnny encarnando Charles Mortdecai, um mestre do plágio e falsificador atenuante, caloteiro de mão cheia que vive se metendo em empreitadas sem saída no mundo da trapaça. Recebe a calorosa missão de descobrir onde esconde-se um quadro valioso de Goya vindo a Londres para um pequeno reparo, e roubado por um gigantesco incidente que deu vista a outros mais. Mortdecai, acompanhado do fiel escudeiro Jock e parcialmente da bela esposa Johanna, parte em sua jornada instigante ao encontro da obra.

Aqui no elenco destaca-se a participação de Paul Bettany, na única atuação que realmente parece dar trunfo ao filme, ainda que seja ela vista em pouquíssimos segmentos, a maioria deles de ação. Bettany, que já esteve ao lado de Depp em O Turista, faz aqui Jock Strapp, acompanhante e criado-quase-mudo (nas palavras do próprio Mortdecai) do mestre que quase sempre é responsável por salvar seu patrão e ir à luta por ele, enfrentando seu público criminoso. A trilha sonora também não é tão ruim. 

Mortdecai é um filme de truques. Ora comédia, ora drama, ora romance, ora aventura, ora caos. Mortdecai é demais compulsivo por truques e de menos dedicado ao conflito, o que acentua e traça o caminho do original Mortdecai na série de quadrinhos homônima, autoria do inglês Kyril Bonfiglioli, reproduzidos no final do meio ao final da década de 70. Em Mortdecai, a emoção e o emotivo não ganham desenvolvimento. Parece que todos só querem chegar ao final e encerrar a trama, o que é terrivelmente errôneo, e acaba destruindo todo o clima da história. Depp nova e infelizmente não sai ileso da produção, tendo seu personagem terminado num total fiasco. Tenhamos esperança para que o ator volte, brevemente, em algo melhor, quando só mesmo parece que o velho e bom Burton o salvará da perdição. 

Mortdecai: A Arte da Trapaça (Mortdecai)
dir. David Koepp - 

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Crítica: "PIAF - UM HINO AO AMOR" (2007) - ★★★★


Do tresloucado submundo parisiense aos luxuosos palcos do Carnegie Hall, Edith Piaf - cujo centenário celebra-se em dezembro deste ano -, uma das maiores lendas de todos os tempos da música, e a maior representante feminina do music hall francês, possuiu uma história de cunho tão comovente e forte que por si só já é bastante fantástico ver um filme onde ela é encenada. E lindamente aqui, sua história entona-se perfeitamente na melancolia e no talento de Marion Cottilard ao encarná-la.

Piaf - Um Hino ao Amor pode parecer à primeira vista um filme exageradamente belo, colorido, vivo, passional e doce... Na realidade, não é totalmente assim. O filme parcialmente é triste, cinza, dramático, monótono, rigidamente doloroso e depressivo. Ele analisa categoricamente a tortura que a vida de Piaf foi, tal como também aprofunda o calor de sua pessoa diante das diversas situações. Desde a pobre e suja infância até a agoniada e solitária morte. No entanto, ainda sim não deixa de ser um filme belo, para se dizer a verdade. A beleza encontra-se na caracterização, que por sinal, é excelente. Só que devo, primeiramente dizer que o filme sobressaí-se mais por conta da querida Cottilard, vencedora e indicada a inúmeros prêmios, incluindo o Oscar e o Globo de Ouro, dos quais venceu, pela sua fabulosa atuação, até agora a melhor de toda a sua curta carreira.

Na dor, no sofrimento, no pânico, na doença, no desespero, na ingratidão, na infelicidade... Piaf cantou. Cantou com o coração, a cada vez como se nunca mais iria fazê-lo. Cantou a paz, a paixão, a ilusão, uma vida melhor, enfim... Admiro muito essa dama, e principalmente guardo um fascínio incandescente por sua jornada nada fácil de vida. Aprecio o modo de como ela lhe deu àqueles à sua volta que a desprezaram e não acreditavam que ela então um dia alcançaria o sucesso, e até mesmo o estrelato. Non, je non regrette rien, dizia a cantora, corretíssima na afirmação que diz "não volto atrás". Até hoje, me inspiro nas canções interpretadas pela voz da lendária Edith, de personalidade firme e consciente, fraca por miséria e confusa por erros acometidos por todo um caminho. E mesmo carregando consigo o deplorável passado que tanto a sufocou, não perdeu a graça, o estilo e a alegria de viver, celebrando cada minuto, como se fosse o último. 

E minha admiração pela cantora só mesmo ajudou na boa recepção desta película, ainda quando em equipe temos Piaf sendo interpretada por outra grandiosa artista, Marion Cottilard, de quem sou fã. Piaf - Um Hino ao Amor é uma obra que impossivelmente ou raramente deixará seu público insatisfeito, afinal, não vejo o por que. A película nos envolve tão singularmente na história que a emoção acaba por tomar conta de nós mesmos. Há cenas aqui que, tanto nos fazem refletir quanto nos deixam esmagados de tristeza, como o segmento onde Piaf descobre a morte do prezado amante, ou então uma das últimas - me emociono só de lembrar - que reporta a última noite de Edith. Cada cena perfeitamente filmada; cada take cheio de trunfo. 

E olha que, garanto, não precisa ser um tal lá mestre da área musical ou coisa do tipo para conseguir fisgar do filme o mais assombroso e elegante impacto. Compreendo aqueles que consideram a biografia chata, cansativa e parada, mas não há como não assumir que talvez tenha alguns momentos que conseguem falar mais alto e quebrar então esse preconceito do espectador em acompanhar filmes mais complexos do que o normal, talvez mais intelectuais ou impopulares. E olha que sendo sincero, Piaf é um filme bem pra lá de universal. A dor é universal. O amor é universal. A esperança é universal. A musica - por favor! - é universal. Se seu medo é esse, perca-o, por que esse filme é uma boa oportunidade de adquirir conhecimento sobre a cantora, além de também fornecer um ótimo contento cinematográfico. 

Piaf - Um Hino ao Amor (La Môme / La Vie en Rose)
dir. Oliver Dahan - 

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Crítica: "CIDADÃOQUATRO" (2014) - ★★★


Documentários como Cidadãoquatro realmente merecem um destaque maior no meio cinematográfico documentário, digo, na atualidade. Retratos tão bem feitos do mundo moderno em conflito devem ter essa notoriedade. Filmes como Uma Verdade InconvenienteO Ato de Matar, Dirty Wars, The Square, Trabalho Interno, as grandes obras de Michael Moore (exigindo, por favor, Tiros em Columbine), são aqueles que precisam ser disponibilizados ao público básico. Documentários com maior utilidade, força, (de certa forma) impacto são aqueles que cada vez mais ganham espaço no meio hoje em dia. Documentários mais culturais, universalizados, especiais resumindo, como o último que assisti Life Itself e o que ainda planejo ver O Sal da Terra, são aqueles que são e devem ser mais reservados àqueles com visão mais amplificada sobre os assuntos.

Cidadãoquatro, último vencedor do Oscar de Melhor Documentário, é inegavelmente um documentário excelente, excitante e vibrante. Uma obra do gênero que basicamente é essencial para o entendimento de todo um caso que agitou o mundo nos últimos tempos, de tão solene estrondo quanto o 11 de setembro. Retratos assim são raros, minha gente. Os documentários são a evolução da indústria cinematográfica, e, quando já é raro ver um filme de qualidade tratando de assuntos sérios e recentes, ainda é bem mais difícil fazê-lo. A tarefa de Poitras, ao dirigir, co-estrelar e montar a película, é sim transportar seu público ao universo que sedia as intrigas e os segredos por trás do caso de espionagem do ex-membro da CIA, Edward Snowden, refugiado em autoridades exteriores por via de seus crimes. Acredito que, se lançado lá em 2013, quando o caso estava bem em alta, o filme seria bem mais "polêmico" e requerido. Cidadãoquatro narra a jornada de Laura Poitras, documentarista americana, ao conhecer Snowden, e assim iniciar a filmar seu diário escondido e os efeitos de suas ações no mundo inteiro. É, praticamente, um documento de importância Cidadãoquatro. Um documento que requer atenção e exigiu prática em seu conceito estrutural. Não falo dos episódios em Hong Kong ou dos eventos aqui no Brasil. Eu falo da concepção, e não da montagem - desta vez, faço uma exceção. 

É disso que eu estava falando! Um documentário que, novamente, pudesse exibir ao seu espectador toda a força da imagem e do registro sobre a história e o tempo. Algo concreto, eficaz, memorável e rico em informação. Algo que, tratando-se do gênero, não via desde Trabalho Interno, ou, há quem diga, Fahrenheit 9/11. Cidadãoquatro, a cada sequência, deixa uma marca de sua personalidade consistente e processiva. Imagino o quão difícil foi para a diretora do filme, a talentosíssima Poitras, que anteriormente à este trabalho, já havia sido indicada ao prêmio Oscar por um outro trabalho de cunho político: My Country, My Country. Imagino sobrenaturalmente como existiu a possibilidade na coragem de esconder toda a filmagem e tudo o que se passava por adentro aos acontecimentos que entonaram o caso, e os diversos riscos submetidos, não só à ela, mas também à equipe. Um documentário revelador e inusual, vezes pacato, vezes suspensivo, sempre admirável. Merecido Oscar, mesmo sem Life Itself

Cidadãoquatro (Citizenfour)
dir. Laura Poitras - 

quarta-feira, 15 de abril de 2015

ORANGE IS THE NEW BLACK / 2ª Temporada



(quantidade feroz de spoilers)

Impossível acreditar na minha bobeira. Cliente do Netflix há tanto tempo, só agora venho a conhecer Orange is the New Black, série original do canal que até este mesmo mês sequer tive coragem de dar uma olhadinha. Vou aprender a ignorar de vez em quando minhas expectativas com relações a estes trabalhos e checar de vez sem medo. E, depois de ter visto e revisto a primeira fantástica temporada do seriado, e agora terminando a segundo, não possuo dúvidas do quão enorme e bom é esse conteúdo. Semana passada, não demorei a achar a autobiografia de Piper Kerman, Orange is the New Black: My Year in a Women Prision aqui em São Paulo (e olha que eu não achava que ia ser tão fácil). Ainda não li o livro (comprado junto a Para Sempre Alice, de Lisa Genova, a versão integral de Crime e Castigo e a série de peças Adultérios, de - adivinhem quem! - Woody Allen), mas pelo que vejo é uma produção tão ótima quanto sua adaptação televisiva, que tanto me surpreendeu de um tempinho pra cá.

Comento aqui, desta vez episódio por episódio, toda a segunda temporada da série, temporada que irá concorrer ao Emmy este ano. Concluo, antes do review já supracitado de cada ep., que a segunda temporada não se distancia tanto da primeira, apesar de não ser melhor. Na segunda temporada, novos personagens são introduzidos ao público (Soso, Vee...), novas situações (a saída tempestuosa de Mendez e a igual despedida de Alex), novos emblemas (rigidez dos carcerários e a relação de Piper e Larry), algo que pode deixar o espectador bem satisfeito pela presença extrapolada de informação e ao mesmo tempo confuso pelo numeroso trânsito de tramas presentes neste capítulo da história. Temporada que não deixa de ser interessante e valiosa, necessária e plausível.

S2E1 - "Thirsty Bird" - 

Bom episódio. Dirigido pela Jodie Foster, que anteriormente já havia dirigido o episódio Lesbian Request Denied, neste episódio que sucede o decisivo fim da primeira temporada Piper viaja para Chicago para o julgamento do chefe de Alex Vause. Intrigas vão, intrigas vem, basicamente Vause entrega a namorada ao confessar o crime.

S2E2 - "Looks Blue, Tastes Red" - 

Voltando a Litchfield, este episódio enigmático conta a trajetória de Taystee (Tasha), tal como sua prisão e sua vida ao lado de Vee, a poderosa ex-chefona da prisão que retorna à ela. Taystee demonstra habilidades durante uma entrevista de emprego. Episódio cômico com uma cara bem rígida de drama. Não deixa de ser um episódio importante, tão necessário a compreender os episódios que se sucedem. Piper, pela primeira vez, ausenta-se no episódio.

S2E3 - "Hugs Can Be Deceiving" - 

Piper retorna a Litchfield, e traz consigo a mágoa e a desilusão das situações que anteriormente presenciou. Desolada, a pobre coitada Chapman nem desconfia o que lhe está à frente. Boas performances de Yael Stone, até então recorrente na série, Kate Mulgrew e novamente Danielle Brooks, destaque do episódio anterior.

S2E4 - "A Whole Other Hole" - 

Interessante passagem, e bastante cômica. Enquanto Sophia dá aulas para as detentas a partir da anatomia feminina, Lorna é o foco. Durante a sessão de quimioterapia de uma detenta, Morello foge na van carcerária e visita a casa do ex-namorado - a qual ela ainda acredita ser seu amor verdadeiro - e alguns detalhes da vida da detenta são revelados, mostrando a real face dela (melhor parar por aqui... spoilers, não?)

S2E5 - "Low Self Esteem City" - 

Vee mostra que está de volta e é a dona do pedaço, mas Glória não quer aceitar seu retorno e inicia uma conflituosa guerra fria com a detenta. Nessa mesma faixa, Piper recebe tristes notícias (é só o começo). Episódio, mais uma vez, com um tom dramático acima do normal, quase que ultrapassado para o espírito da série. Não deixa de ser bom, mas pode ser cansativo.

S2E6 - "You Also Have a Pizza" - 

Episódio mediano, apesar de curioso e cômico. O passado de Vee e de Red é recontado (com direito a boas atuações tanto de um lado quanto do outro) em flashbacks pesados que arrancam lágrimas. Bennett não quer que Mendez, afastado, se aproxime à distância de seu amor, Daya, à beira de uma crise de nervos com a gravidez. As detentas, nesse episódio que leva como tema o Dia dos Namorados, fazem depoimentos quando questionadas sobre "o que é amor". Belo episódio.

S2E7 - "Comic Sans" - 

Episódio que confessa a ausência de idéias da série, ainda que criativa ausência de ideias. Piper reúne algumas detentas e planeja iniciar a redigir um jornal. Vee expande seu negócio ilegal entre as prisioneiras e ganha mais espaço e autoridade. Healy, inconformado com sua relação amorosa com a esposa, já analisada no episódio anterior do dia dos namorados, inicia a consultar uma terapeuta, e utiliza os métodos da doutora para com as detentas. Episódio regularzinho, como dito, sem muitas ideias.

S2E8 - "Appropriately Sized Pots" - 

Episódio forte. Algumas detentas revoltam-se contra Piper por ter conseguido licença para visitar a avó doente, à beira da morte. Caputo, pressionado pela falta de segurança e o constante pânico no ambiente, demite sua paixão secreta, Fischer e inicia mudanças, forçando a equipe carcerária a ser mais firme quanto em relação ás buscas e à administração do sistema. Episódio que pode ser forte, mas ainda sim não enche a barriga do público, mesmo que bom.

S2E9 - "40 OZ of Furlough"

Mendez volta ao trabalho mais enrijecido do que nunca. A tensão aumenta quando a equipe carcerária se dá conta de que não consegue cuidar de tudo o que acontece à sua volta ao mesmo tempo, gerando duras consequências. Piper sai da prisão com a licença e, confusa, decide esclarecer as coisas com Larry durante o velório da avó de uma maneira nem tão formal assim. Larry faz revelações severas a Piper considerando sua traição, o que a deixa um pouco deprimida. Red volta à ativa e decide encarar os fatos e estreitar sua relação com Vee, que cada vez mais mostra-se independente e austera em sua missão. Episódio decisivo e conflituoso, cheio de reviravoltas.

S2E10 - "Little Mustachioed Shit" - 

Um dos episódios mais engraçados dessa angustiada temporada. Piper finalmente descobre por si mesma que Larry a traiu com sua melhor amiga, algo que gera nela repulsão e ao mesmo tempo raiva. Poussey desiste de tolerar as exibições de Vee e a ataca, sendo violentamente agredida pela fiel súdita da chefa, Suzanne.  Mendez é demitido em meio a acusações de assédio, resultando em sua saída (até agora) total da prisão. Flashbacks encenam quente relação de Alex e Piper durante um momento delicado do namoro. Episódio bom, boas performances e bom roteiro. Direção marcante de Andrew McCarthy. Boa interpretação de Yael Stone.

S2E11 - "Take a Break From Your Values" - 

Performance maravilhosa de Taylor, já vista nos episódios Little Mustachioed Shit e o piloto Thirsty Bird. Outro episódio que divide-se entre o drama e a comédia, gerando uma deliciosa tragicomédia. Greve vai, greve vem, Soso ganha apoio moral e religioso de detentas, que começam a aprovar sua greve de fome e protestar seus direitos na prisão. As coisas esquentam proximamente ao fim da temporada.

S2E12 - "It Was the Change" - 

Vee e Red retornam a se confrontar, dessa vez mais decididas do que nunca. A tensão pré-final de temporada aumenta quando o público enfrenta sérias expectativas criadas pelas tramas cruzadas deste antepenúltimo episódio. Destaque teatral para, desta vez, Mulgrew e Toussaint, protagonistas do conflito que instala-se na história.

S2E13 - "We Have Manners. We're Polite" - 

Episódio final. Muito bom. Um pouco melhor do que o último episódio da 1ª temporada. As detentas, em geral, veem-se num beco sem saída quando são obrigadas a enfrentar o futuro de suas vidas na prisão e a influência do presente e do passado nesse futuro. Episódio dramático, equilibradamente cômico e inusual. Vee enfrenta a separação de sua família na prisão e entra em choque. O suspense não poderia ser maior e melhor em outro episódio. A vida em Litchfield mostra-se à parte de previsões.

2ª TEMPORADA: 
MELHOR EPISÓDIO: "Little Mustachioed Shit" (E10) - 
MENÇÃO HONROSA: "Thirsty Bird" (E1) - 

terça-feira, 14 de abril de 2015

Crítica: "OS BONS COMPANHEIROS" (1990) - ★★★★★


Há filmes que são influenciados. Outros influenciam. Os Bons Companheiros, neste caso, fica com o segundo gênero. Vira e mexe ando vendo alguns filmes semelhantes a este ou do tema abordado; enfatizo e lembro que poucos conseguem êxito na "cópia". Clássico imortal da década de 90, a obra Os Bons Companheiros não tem idade. Em setembro deste ano, o longa completará vinte e cinco anos, e mesmo após o longo tempo de sua estreia, o público consegue se adaptar facilmente ao estilo e a trama que o filme desenvolve. Algo que fascina e comove, quando trata-se de um clássico tão memorável, comemorado por muitos o melhor filme de sua geração.

Bom mesmo foi ver este clássico numa cópia remasterizada em DVD, oportunidade única e confesso sensacional, já que em algumas cenas, deu para utilizar lentidão, foco e tudo mais para observar bem cuidadosamente os detalhes das técnicas de Scorsese, o que, garanto, é fantástico, inacreditável, indescritível. Bem, não quero dizer que ver Os Bons Companheiros na grande telona também não seria uma grande oportunidade (ô, seria uma baita oportunidade!), apenas digo que nem sempre fico acomodado vendo clássicos em DVD, só isso (apesar da maioria deles estarem disponíveis apenas por este caminho ou pelo Blu-Ray - ótimo, mas não tanto). 

No cinema, é lógico, seria bem mais impactante e emocionante, mas menos técnico. Pelo DVD, você ganha bem mais informação e diversidade da obra, nos termos técnicos, do que numa sessão de cinema. Ainda sonho em encontrar mais uma sessão especial de Scorsese (nas últimas realizadas aqui em São Paulo não tive tempo), perdidas pela ocorrência do acaso. 

Os Bons Companheiros, a trilogia O Poderoso Chefão e Os Intocáveis talvez sejam os maiores retratos cinematográficos da máfia de todos os tempos. Digo isso por que impressivamente todas essas grandes películas possuem algo de tão forte e singular em comum: a instigante violência épica. É algo que não deve ser excedido num filme do assunto. Quero dizer de sangue. Estes são (não totalmente) alguns dos filmes mais sangrentos, e igualmente perceptivos já feitos. E Scorsese faz tão bem deste gênero uma original obra-prima, que é impossível não reconhecer a importância de Os Bons Companheiros para o cinema em si. 

A direção é maximamente, interpreto desta forma, maravilhosa. Não acredito que se esta história caísse nas mãos de outro diretor além de Scorsese não sairia a mesma coisa não. Martin tem um jeito extremamente particular de filmar as sequências, algo que lhe serve de característica, e mesmo que lá as tão excelentes técnicas não sejam as melhores, elas agradam o espectador. Seriamente, tenho um enorme respeito e gratidão por Martin. Não sei do que seriam a metade se seus filmes, a grande parte deles adaptações de narrações imensamente valiosas e de caráter crucial cinematográfico inestimável, sem a sua marcante direção. 

O elenco também é inquestionável. Cada performance é de total desolação e consequente consagração, dando ênfase ao trio principal que compõe Os Bons Companheiros: Liotta, De Niro e Pesci. O roteiro, escrito pelo dono da adaptação Nicholas Pileggi (o livro trata-se de uma composição baseada em fatos) com a parceira de Martin, raramente visto como autor do roteiro de seus filmes, é divina. A edição da velha Thelma, a fotografia de Michael Ballhaus (que não é por uma simples coincidência, é o primeiro nome que surge nos créditos), tudo é tão bem feito. Totalmente compreensível Os Bons Companheiros ter uma multidão de admiradores e seguidores que tão incessantemente batizam-o com os mais sinceros adjetivos, todos eles à sua medida, consideráveis reconhecimentos que elegem ao filme um título ostentado de masterpiece.

Os Bons Companheiros (Goodfellas)
dir. Martin Scorsese - 

domingo, 12 de abril de 2015

Crítica: "GRACE DE MÔNACO" (2014) - ★★★


And the Oscar is not going to... Nicole Kidman! Nicole tentou dar uma de Cottilard aqui, embarcando na onda do diretor francês Oliver Dahan, algo que infelizmente não funcionou, já que eu achava que essa seria a grande volta da australiana. O Oscar certamente não irá para ela, apesar do filme Grace de Mônaco ser regularzinho, dentre os exageros e mimos do retrato de Grace feito aqui por Oliver, diretor plausível de Piaf - Um Hino ao Amor, aqui desapontando o espectador numa nada contundente direção cheia de falhas.
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Pode ser cansativo assistir a Grace de Mônaco, ainda mais quando o filme foca-se num assunto mais sério e complexo: a vida política de Grace durante seu reinado em Mônaco e também pretende narrar planos fictícios na história, o que pode ter resultados bons ou maus (geralmente, o último caso é o mais recorrente). Para aqueles que imaginam que encontraram em Grace de Mônaco algo mais exclamativo, emocional ou popular se enganam. Grace de Mônaco inteiramente fala sobre política, o que pode ser chato, apesar de extremamente interessante. No início, há no entanto uma pequena passagem que relata a carreira cinematográfica, mas é bem rápido, quando Kelly, questionada sobre sua participação num suposto longa de Alfred Hitchock, nega e gera um conflito em Mônaco e Hollywood.

Acredito que Grace de Mônaco é um tanto clichê, ausente de espírito, e repleto de repetições. Kidman, a quem não vejo uma grande performance desde a época de As Horas e Moulin Rouge!, no início da década de 2000, aqui decepciona demais numa atuação sem sal e difícil de engolir.

Contudo, dentre tantos problemas, Grace de Mônaco não deixa de ser um banquete visual estupendo! Digo, a fotografia, a direção de arte, os figurinos, a maquiagem... Tudo em Grace de Mônaco é tão bem feito em questões técnicas. Nesse quesito, é impossível não reconhecer sua importância. Começo pela fotografia equilibrada e artística de Eric Gautier, o mesmo de Um Conto de Natal, que aqui realiza um maravilhoso trabalho. A trilha sonora também não é de se jogar fora. Christopher Gunning, o mesmo de Piaf - Um Hino ao Amor, consegue encantar o sentido auditivo na composição deste filme. Os figurinos de Lepage são supremos, cada um reconstruindo toda a moda dos anos 50-60 de uma forma simplesmente adorável, com cores e tudo o mais possível: uma obra de arte. A direção de arte igualmente é espetacular. E olha... Se não fosse por estes elementos de perfeição técnica, creio que Grace de Mônaco estaria com duas ou até mesmo uma estrela. O elenco, confesso, é bom, só que faltou emoção, como dito. Kidman atua com beleza e regozijo, mas ainda sim falta alguma coisa a complementar o seu papel. Roth é muito atemporal e Langella é praticamente invisível. Um bom elenco, mas fraco neste filme. Só se salva por ser um espetáculo visual deslumbrante e um retrato medianamente bem concluído, embora clicherizado.

Grace de Mônaco (Grace of Monaco)
dir. Oliver Dahan - 

sábado, 11 de abril de 2015

Crítica: "LIVE AT THE BEACON THEATER" (2011) - ★★★★


Dono de uma personalidade única e inteligente, cômica e absurda, Louis C.K., humorista talentoso, é famoso pelo seu trabalho no seriado Louie, no entanto pouco reconhecido por sua carreira nos palcos, escancarada nesta comédia stand-up sensacional, que tanto explora o cotidiano, os desejos, os medos e os casos do comediante, tanto nas visões pessoais quanto nas visões gerais, ambas - pelo que parece - glorificadas pelo público.

Live at the Beacon Theater, gravado em 2011 durante a apresentação humorística de Louis no local do título, trata-se de um filme-teatro excelente e tão quanto engraçado. Não é tão comum ver filmes que levam como proposta exibir completamente uma apresentação stand-up. De fato, a história amplamente é reservada a então mostrar, tal como o seriado, a vida e as peculiaridades de um homem dedicado à comédia, que vive do stand-up, das risadas e dos aplausos. 

O show de Louis C.K. parece ser bem dividido e ambíguo, por sinal. Enquanto ao mesmo tempo C.K. persiste em recriar todo um universo pastelão utilizado piadas sobre órgãos genitais, ânus, e etc... Mas de uma forma genialmente inovativa. Essa é a característica particularmente excelente do talento teatral de Louis: sua originalidade ao reutilizar recursos humorísticos sob novos padrões. Ainda que presente, Louis tenta fugir das velhas piadas sobre o mundo comum, criando sob seu método situações de cunho desfuncional, a maioria das vezes erótico e irreal.

Assistindo ao filme, recordei que fazia um bom longo tempo que não dava uma checada no Comedy Central, canal que tão frequentemente visitava e então apreciava, por até alguns programas específicos como o Stand-Up Comedy, tanto a versão americana quanto a versão brasileira, ambas extremamente engraçadas. No entanto, inversamente como eu pensava, o filme não foi produzido pelo Comedy Central, canal onde Louis já trabalhou anteriormente, mas sim pela HBO - o que não é de se estranhar, já que realmente o canal só pegou conteúdo cinematográfico bom nos últimos tempos.

Faço uma breve confissão aqui: eu gostaria de levar uma vida de comediante, ser aquele cômico de gênio detalhista e versátil, tal como o gênio de Louis. Gostei bastante de Live at the Beacon Theatre, de piadas ótimas, conteúdo de primeira que merece ser reconhecido. 

Live at the Beacon Theater
dir. Louis C.K. - 

sexta-feira, 10 de abril de 2015

OLIVE KITTERIDGE / A Minissérie Completa


O melhor discurso do SAG deste ano foi o de Frances McDormand. Mesmo tendo assistido a premiação buscando os resultados cinematográficos, foi inevitável ver o discurso da grande dama, que, assim ao receber o prêmio, começou a promover a venda dos DVDs da minissérie (um dos momentos mais hilários da tão jovem premiação). Mesmo à parte das informações e tudo o mais sobre a agraciação televisiva do prêmio, não duvidei de McDormand, mesmo a atriz sendo tão inusualmente vista em produções da telinha.

Oliver Kitteridge de fato é um trabalho bem feito, sem nenhuma restrição, bem escrito, bem dirigido, bem atuado, bem tudo. A minissérie narra a história da personagem-título por um longo período de vinte e cinco anos: uma professora de matemática impaciente e bocuda casada com o pacato e otimista Henry. A narrativa fala de casamentos, suicídios, depressão, situações cômicas e confusões que dominam a vida dos moradores de Crosby, além de mostrar os personagens que entram e saem da vida de Olive, que por vezes ocupa um papel de coadjuvante na história..Tentei não dar uma de maluco e assistir aos quatro episódios da minissérie de uma única vez - mas foi inevitável, como previsível. Sem nada para fazer, quieto em meu canto, decidi então ver Oliver Kitteridge, e o tempo até que rendeu. São três horas e vinte e oito minutos, se a minissérie for assistida de uma única vez. Como eu perdi a première da série no canal HBO, a chance ficou para agora, vendo pela internet (link abaixo). 

Mas sobretudo, o que eu mais gostei aqui foi a caracterização. Dificilmente produções televisivas (à exceção de algumas, como Dowtown Abbey, é claro, e Boardwalk Empire, e por aí segue), confesso, conseguem amplificar em mim essa noção da caracterização (direção de arte, figurino, maquiagem), e olha que se eu paro para analisar isso acabo me deparando com essa triste realidade, da qual hoje em dia o universo cinematográfico está descartando produções épicas maravilhosas que poderiam render um bom lucro. 

Tome um café. Esteja livre (tempo). Esteja pronto. Frances McDormand é outra que também rende aqui na minissérie. Deliciosamente cômica e excentricamente antipática, McDormand conclui mais uma vez uma belíssima e atemporal performance. Gente, é preciso aprender que não há como duvidar dela sob nenhuma razão. A mulher é absolutamente indestrutível, seja lá nas parcerias com os irmãos Coen quanto na minissérie dirigida lendariamente por Lisa Cholondenko (de Minhas Mães e Meu Pai). Também não há como não reconhecer a importância das atuações aclamadas de Bill Murray e Richard Jenkins, ambas essenciais. 

A minissérie é muito boa. Recomendável. É tão curioso, plausível, até charmoso ver o diário e as confusões do mundo ao redor de Olive e sua família. É, por vezes dramático e outras engraçado, sarcástico, humor negro puro, realmente parece que Frances está sendo dirigida pelo marido e pelo cunhado na minissérie. Deliciosa obra: "Não há nada como a simples vida".

Toca dos Cinéfilos (http://tocadoscinefilos.net.br/olive-kitteridge-2014/)

A Minissérie Completa: 

Primeira Parte: Pharmacy
Segunda Parte: Incoming Tide
Terceira Parte: A Different Road
Quarta Parte: Security

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Crítica: "A 100 PASSOS DE UM SONHO" (2014) - ★★★


Até que o filme patrocinado pela Oprah e pelo Spielberg é legalzinho, vai. Não é surpresa ver em A 100 Passos de um Sonho a magia desoladora e beleza singular presentes em outras obras do grande cineasta sueco Lasse Hallstrom, citando primeiramente Chocolate, só para começar. Quem já conhece a filmografia de Hallstrom, nem que seja por um único filme visto, não se surpreenderá facilmente nesta charmosa e bonita comédia.

A 100 Passos de um Sonho, no entanto, pode acabar se destacando dentre os demais filmes do sueco pela performance excepcional de Helen Mirren no papel de Madame Mallory, que há muito tempo revelo, sinceramente desde a incrível atuação de Binoche no clássico anteriormente mencionado, não via; E olha que ultimamente, Hallstrom não anda muito bem não para quem dirigiu grandes películas no passado tais como Regras da Vida e Vida de Cachorro. É claro, o cineasta apelou até para um drama bem choroso protagonizado por Gere, Sempre ao seu Lado, que definitivamente não consegui engolir, e até mesmo para uma comédia-dramática inventiva mas pouco funcional, Amor Impossível (ainda que tenha contado com a participação da ascendente Emily Blunt).

O filme narra a história de uma família indiana, que após a morte da matriarca, se muda para a França, com o patriarca inicialmente criando planos para abrir um restaurante temático indiano em um pequeno vilarejo no sul da França, ideia que parece não agradar a dona de um conceituado restaurante chamado "Le Saule Pleureur", que fica extremamente próximo do recém-criado restaurante da família. 

O que, talvez, possa ter me decepcionado um pouco foi o final do filme. Sem ter correspondido às minhas expectativas, faltou sal na grande despedida desta colorida e inusual história, sem dúvida maravilhosa. Achei que veria novamente aqui um Chocolate, um filme que dá água na boca, um filme-banquete, como costumo dizer, aqueles filmes que costumam dar fome, o que na realidade é, só que um pouquinho menos adoçado, menos fermentado, algo do tipo, enfim. O roteiro é espetacular, da autoria de Steven Knight (do ótimo Coisas Belas e Sujas, que venho procurando há um bom tempo - aliás, qualquer coisa quem tiver a oportunidade de me indicar algum lugar em que possa achá-lo, seja na internet ou em vídeo, por favor, é só avisar). Não vou reclamar do elenco, que também é brilhantemente esforçado e consagrado (ênfase para Mirren, Puri, Dayal e Le Bon). A parte técnica é formidável, nada a dizer contra. A trilha sonora de A.R. Rahman (o mesmo de Quem Quer Ser um Milionário?): lindíssima, um dos tesouros do filme. A fotografia de Sandgreen, igualmente preciosa. A edição, caprichada mas entendiante, nos primeiros momentos.

Então, é isso aí: eu gostei de A 100 Passos de um Sonho. Uma excelente tragicomédia de pontos altos e baixos, sem exceder luxo e beleza (é um filme de Hallstrom, oras bolas!), por demasiado infantil que seja, mas não seja chato se comparado aos últimos trabalhos de Lasse, como já foi analisado. É um espetacular feel-good, concluindo.

P.S. Tratando de culinária, A 100 Passos de um Sonho é mil vezes melhor que Julia & Julie, mas não tão extraordinário quanto Ratatouille, por exemplo (o filme fica no meio-termo).

A 100 Passos de um Sonho (The Hundred-Foot Journey)
dir. Lasse Hallstrom - 

terça-feira, 7 de abril de 2015

ORANGE IS THE NEW BLACK / 1ª Temporada


Orange is the New Black (Laranja é o Novo Preto), um dos mais excelentes trabalhos da Netflix, é uma das atuais séries mais divertidas, engraçadas e inteligentes. O seriado retrata a vida e o diário de uma jovem novaiorquina, Piper Chapman, após ser presa por envolver-se, há muito tempo, com o tráfico de drogas, através de sua ex-namorada Alex Vause. 

Até que, confesso, gostei da série. Tem um senso de humor extraordinário, um roteiro exímio (a maioria dos episódios desta temporada levam a autoria de um grupo maravilhoso de roteiristas, incluindo Marco Ramirez, a criadora Jenji Kohan e Sara Hess), e um elenco ainda mais plausível vencedor do SAG Award este ano, a maioria feminina, com destaque para nossa grande protagonista Taylor Schilling, Laura Prepon, Kate Mulgrew, Michelle Hurst (apenas na 1ª), Laverne Cox e, é lógico, a cômica Uzo Aduba, atriz pouco conhecida, mas excepcionalmente talentosa no papel de Suzanne "Olhos Loucos" Warren; Esse pessoal realmente é talentoso, a maioria desconhecida, como dito, mas de um grande talento. Apreciei muito isso, particularmente, da série, de um conteúdo que já tende a exigir mais das atuações. 

A primeira temporada é um pouquinho mais "confortável", ainda que pesada. Somos introduzidos às histórias das prisioneiras com quem Piper cria laços afetivos em sua estadia na prisão. Gostaria de dar destaque à dois episódios (um deles o meu favorito desta temporada) que tão amplamente reservam um espaço a narrar a história dessas prisioneiras (uma porção de flashbacks por episódio, começando pela própria Piper no piloto): Lesbian Request Denied (a jornada criminosa de Sophia, e por vez, meu episódio predileto) e Imaginary Enemies (a jornada de Claudette). 

Há, é claro, outros mais episódios especiais que a série exibe, como o contundente episódio final Can't Fix Crazy e o ilustre Fucksgiving). A série, em sua terceira temporada (da qual ansiosamente espero) ainda que tenha alguns errinhos de gravação e tal mais, digamos necessários à ela, Orange is the New Black não foge do primor narrativo que tanto a livrou de um fatal clichê, que poderia totalmente destruir a ambiciosidade e a composição da história.


Têm alguns episódios que exemplificam muito bem essa ausência tão sublime e notória de clichê. O episódio, já citado por acaso, Imaginary Enemies teoriza a trama muito bem e consegue ir bem além das expectativas criadas pelo espectador. É uma espécie rara de falsos cognatos no roteiro televisivo, e é por isso que acredito que a série é tão digna de agraciamento, poder.

Orange is the New Black, contudo uma comédia atrativa e moderna, não deixa de - em algumas vezes - ser bem dramática. Assim como há episódios que nos fazem chorar de rir, há alguns outros que nos fazem chorar de chorar mesmo. É inegável dizer que Orange is the New Black não daria um bom longa-metragem, tão bom quanto a sua série, uma incrível adaptação do livro de memórias de Piper Kerman, publicado em 2010 e já disponível no Brasil. Muito bom livro, muito boa série. Perfeição humorística é algo inestimavelmente presente e glorioso em OITNB.


Elenco da série recebendo o SAG em janeiro

1ª TEMPORADA: 
MELHOR EPISÓDIO: Lesbian Request Denied (E3) - ★ 
MENÇÃO HONROSA: Imaginary Enemies (E4) -  / Fucksgiving (E9) -  

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Crítica: "SINÉDOQUE, NOVA YORK" (2008) - ★★★★


Fabulosa obra de arte, Sinédoque, Nova York é uma colossal e furiosa crítica à sociedade e uma revisão existencialista sobre a vida de uma forma jamais vista. Em sua estreia na direção, Kaufman, anteriormente aclamado por trabalhos como Quero Ser John Malkovich e Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, destaca-se triunfantemente tanto na direção quanto no exímio roteiro da película.

Às vezes, um filme é de um luxo tão grande que ele mesmo exige um certo tempo para ver-se. Por isso, se você procura algo fácil, compreensível, coisas do termo digerível, não assista a Sinédoque, Nova York, pois o filme é um conteúdo bem complicado. Complicado no sentido de necessário, virtuoso. Não é um filme qualquer. Ele requer um senso apurado tanto de humor quanto de drama; Num estilo bem tragicomédia e ao mesmo tempo irreal, Sinédoque, Nova York conta a história de um diretor teatral que após ser abandonado pela esposa e pela filha, decide dirigir uma peça autobiográfica, que demora uma eternidade para então, digamos, ser "finalizada".

A ideia, como visto, é muito boa. Propõe uma série de segmentos tresloucados, surrealistas e complexos, ou seja, tudo bem à Kaufman. Eu diria, no entanto, que Sinédoque, Nova York é um trabalho mais charmoso, concentrado, digamos então, do roteirista/diretor. O pós-moderno drama que a intensa trama oferece pode servir de caminho tanto para uma excelente narração futurista, tanto quanto uma excelente jornada de vida. Sem errar o feitiço, Kaufman consegue dispôr-se de todos os elementos à sua volta, incluindo uma maravilhosa direção de arte e um maravilhoso elenco, para então criar o universo de Sinédoque, Nova York, um universo pós-moderno, revolucionário e peculiar.

Destaque para a plausível performance de Philip Seymour Hoffman, que mais deveria ter sido indicado por esta atuação do que pela que o indicou a Melhor Ator Coadjuvante no Oscar 2009, por Dúvida (bom filme, mas que não amplifica o talento de Hoffman tão quanto este filme conseguiu). Afinal, de se estranhar que Sinédoque, Nova York, tão inteligente, sofisticada e oscarizável aclamada obra, tenha sido esquecida na premiação, logo quando Charlie Kaufman é uma pessoa tão amada pela A.M.P.A.S. Morton, outra que deu uma de coadjuvante e até se saiu bem, foi outra esnobada cuja performance é tão igualável quanto as cinco indicadas ao prêmio aquele ano.

Enfim, sendo ou não indicado ao Oscar, Sinédoque, Nova York não deixa de ser imperdível. Direção brilhante, roteiro brilhante, atuação de Hoffman brilhante... É tudo seletivamente brilhante nesta obra, que acaba sendo confuso retratá-la em texto. Só posso então dizer que esse fabuloso conto é um lindíssimo resultado da maestria de Kaufman. Muito bom!

Sinédoque, Nova York (Synecdoche, New York)
dir. Charlie Kaufman - 

domingo, 5 de abril de 2015

Crítica: "O GRANDE DITADOR" (1940) - ★★★★★


"Lutemos por um novo mundo! Um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice... Lutemos por um mundo de razão, em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados! Em nome da democracia, unamo-nos... Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz. Vamos entrando num mundo novo, um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade... Ergue os olhos, Hannah!" - O Barbeiro (Chaplin).

É neste emocionante discurso de O Grande Ditador onde encontra-se minha paixão e minha gratidão pelo enorme trabalho de Charles Chaplin, cidadão do mundo, irmão da humanidade, solidário e gentil homem que tanto nos fez rir e chorar, não só neste filme, mas em outras obras suas que exploram a humanidade e a bondade. Essencialmente nesse filme, um dos mais eternos deste gênio cinematográfico. 

Risos e lágrimas são produtos de O Grande Ditador, clássico da década de quarenta dirigido, atuado e escrito pelo indubitável Chaplin, autor de maravilhosas películas cujo principal objetivo é criticar o mundo atual (quer dizer, o mundo da década 20-50, mas que não diferencia-se tanto da atualidade). Mas o que há de tão especial em O Grande Ditador para que se torne um figurável destaque dentre todos os outros? O que há, afinal, de tão exclusivo? A resposta é o filme. Não sei dizer se é o charme, a inteligência, o poder, a comicidade, a sátira... São tantos os motivos que a resposta mesmo é o filme. 

E que admirável destaque é O Grande Ditador... Memorável destaque, que tanto nos faz refletir sobre os paradigmas e as fronteiras das guerras, não só as antigas primeira e segunda guerras mundiais, mas a Guerra Fria, a Guerra ao Terror, a Guerra Civil Americana, então: as guerras! O Grande Ditador leva o expectador a experienciar com seu afeto e seu espírito as cenas e as consequências de uma das mais brutais guerras: a Segunda Guerra Mundial. Só que, em vez de fazer um retrato original desta guerra, o genial Chaplin a traduz para seu gênero, transformando o sangrento capítulo em um episódio utópico protagonizado por Adenoyd Hynkel (Adolf Hitler), o sádico e hilário ditador da Tomânia (Alemanha), a mais poderosa potência de guerra européia, que briga pela ocupação da pequena e livre república Osterlich (França) com a igualmente grande potência de Bactéria (Itália), liderada por Benzino Napaloni (Mussolini). Só que neste contexto fictício-histórico, entra a estrelar um barbeiro judeu amnésico, ex-combatente da primeira guerra, vivendo no gueto ao lado de Hannah, seu par. 

É tudo tão simpático e ao mesmo tempo triste e melancólico; Não deixa de ser, entretanto, O Grande Ditador uma visionária observação da vida que uma guerra oferece, e dos extremos impactos que causa. Resumindo: mais uma revolucionária obra de arte do grande pai do cinema. Mesmo após tantos anos desde seu lançamento, O Grande Ditador não é clichê, e até sim bastante original, complexo, divertido e autêntico (tudo bem Chaplin), com direito a grandes performances do próprio Chaplin (em uma das maiores de sua carreira), Paulette Godard e o excelente Jack Oakie.

O Grande Ditador (The Great Dictador)
dir. Charles Chaplin - 

sábado, 4 de abril de 2015

SHERLOCK / "His Last Vow"


Livremente inspirado nos contos de Conan Doyle "Sua Última Promessa" e "Charles Augustus Milverton", o último episódio-em-forma-de-longa-metragem da terceira temporada da aclamada série britânica Sherlock aborda a vida e o diário do lendário personagem Sherlock Holmes se vivesse na atualidade. 

Primeiramente fiquei atraído por His Last Vow por conta de Benedict Cumberbatch, famoso ator britânico que recentemente mostrou-se impecável no filme O Jogo da Imitação, pelo qual recebeu uma glamourosa, no entanto merecida, indicação ao Oscar de Melhor Ator Principal na última edição por interpretar o matemático e criptoanalista inglês Alan Turing. Anteriormente ao lançamento da película, já havia ouvido falar do tal Cumberbatch, não só pelo seriado Sherlock, mas por trabalhos cinematográficos anteriores ao que o aclamou, tais como 12 Anos de Escravidão, Desejo e Reparação e O Espião que Sabia Demais, além do ator também ter sido creditado em grandes produções do teatro londrino. Não me estranha que Benedict tenha sido tão glorificado por seu talento, que na verdade, é bem excêntrico e raro.

Até hoje, não tinha assistido à série Sherlock, e por isso, sinto-me terrivelmente arrependido. Por conta da agenda, infelizmente não poderei assistir aos outros três episódios desta temporada nem à das outras duas. Futuramente, ainda planejo dar uma olhadinha nos outros episódios. Enquanto isso, comento aqui "His Last Vow", episódio da 3ª temporada em formato de longa-metragem, indicado e vencedor do Emmy ano passado.

Este episódio demorou um pouqinho a chegar nas emissoras de transmissão a cabo do Brasil, tendo sido exibido no canal brasileiro da BBC ano passado numa única sessão, que infelizmente perdi. Mas acredito que minha opinião não teria mudado. Gostei dessa versão mais modernizada de Sherlock e sua turma, e muito mais adorei a adaptação dos contos clássicos de Conan Doyle nos longos episódios do show. Ainda que parado e por vezes excessivo, não deixa de ser excitante e ricamente divertido observar a eloquente trama que instala-se por meio desta curiosa teia de intrigas e reviravoltas. 

Satisfaz ver o empenho do elenco e a tradicionalidade fiel da direção de Nick Hurran. Nem tão diferente transpareceu a caracterização de Holmes, tanto como o velho detetive da Era Vitoriana de hábitos sujos e selvagens, quão primitivos e curiosos quanto neste atroz e informado agente da Londres high-tech do século 21 drogado e criminoso. 

Ainda que apenas tenha visto um único episódio da série, garanto que rende gastar quatro horas e vinte e oito minutos numa maratona dos quatro episódios da temporada reunidos juntos (o que pretendo fazer); His Last Vow ainda sim consegue ser uma memorável aventura, em especial nos aspectos da transformação, o que acredito que é o mais incrível de tudo aqui.

His Last Vow (S1E4) -