sábado, 4 de abril de 2015

Crítica: "MANHATTAN" (1979) - ★★★★★



É incrível ver como Woody Allen consegue ser uma personalidade tão única e constante ao mesmo tempo. Ainda que muitos filmes seus louvem e aplaudam a cidade de Nova York - tão idolatrada pelo diretor - não acho que existirá, ainda, algum como Manhattan, que é com certeza, a maior homenagem do cineasta já feita à grande metrópole. A mais original, formal, íntegra e bela. Um olhar apaixonante e excepcional sobre a existência e o amor.

Lento, calmo, passional e sensato. Manhattan é uma análise inteligente da vida que a cidade de Nova York oferece, ao ponto de vista mais positivo, digamos, possível a seus habitantes, àqueles que tanto imortalizam-a como um centro cultural e social cosmopolita, o que ela extraordinariamente de fato é. Woody Allen, no entanto, tenta não teorizar muito sobre a cidade de Nova York quanto a estes quesitos. Ele prefere deixar o filme falar. É bem visível na cena de introdução, onde Isaac cria confusão tentando escrever o primeiro capítulo de seu livro que exibe seu amor à cidade. 

Bem disso é o que o filme transmite ao público: a inexplicável harmonia de viver em uma gigantesca metrópole. Os segmentos de Manhattan são costumeiros, de ritmo acomunado, sem pressa, geralmente passados em bibliotecas, museus, parques, apartamentos, exposições, restaurantes, avenidas, cafés, festas. O desejo de Manhattan em nutrir o gosto de espectador por drama e situações pessoais diárias é quase absoluto. É desse desejo que nasce o tão variado mesclamento cultural e opinativo presente na vida dos novaiorquinos, marca quase oficial da película.

Há cenas tão marcantes e vivas em Manhattan que é quase impossível não afirmar que a obra trata-se de um clássico icônico. Quais filmes até então já puderam reproduzir o mesmo impacto das lindas passagens aqui presentes, tal como a famosíssima cena da ponte do Brooklyn, com Woody e Diane? Ou o memorável e instigante segmento de simbólica beleza visual do planetário? Ou então, como esquecer-se do romântico passeio de carruagem de Isaac e Tracy? Cada um desses fragmentos constituem Manhattan, dos mais diversos ângulos, porém possuídos da mesma graça.

De humor aguçado, a caracterização de Woody em Manhattan é fantástica. É uma comédia tão sofisticada, irônica e singular, por vezes até então excêntrica e deslumbrante, sempre acompanhada dos tão conhecidos aspectos do humor Alleiano: um humor versátil e romântico. Ah, o romance... O que seria de Manhattan sem o espírito romântico que nos envolve na sua trama lírica? Romance que simboliza o afeto multipolar dos cidadães da caótica capital mundial. O amor. A paz. O medo. A ausência de luz esmerada e brilhante da fotografia. A (intelectual) trilha sonora. O (intelectual) roteiro. Tudo tão conspirador a Manhattan. Tudo tão poético e perfeito. Entre risos e lágrimas, romances e memórias, aplausos e elogios, Manhattan cativa numa emergência tão genial que é bem reconhecível dizer que trata-se de uma das mais bem-feitas comédias românticas do cinema. 

Manhattan (Manhattan)
dir. Woody Allen - 

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