quinta-feira, 9 de abril de 2015

Crítica: "A 100 PASSOS DE UM SONHO" (2014) - ★★★


Até que o filme patrocinado pela Oprah e pelo Spielberg é legalzinho, vai. Não é surpresa ver em A 100 Passos de um Sonho a magia desoladora e beleza singular presentes em outras obras do grande cineasta sueco Lasse Hallstrom, citando primeiramente Chocolate, só para começar. Quem já conhece a filmografia de Hallstrom, nem que seja por um único filme visto, não se surpreenderá facilmente nesta charmosa e bonita comédia.

A 100 Passos de um Sonho, no entanto, pode acabar se destacando dentre os demais filmes do sueco pela performance excepcional de Helen Mirren no papel de Madame Mallory, que há muito tempo revelo, sinceramente desde a incrível atuação de Binoche no clássico anteriormente mencionado, não via; E olha que ultimamente, Hallstrom não anda muito bem não para quem dirigiu grandes películas no passado tais como Regras da Vida e Vida de Cachorro. É claro, o cineasta apelou até para um drama bem choroso protagonizado por Gere, Sempre ao seu Lado, que definitivamente não consegui engolir, e até mesmo para uma comédia-dramática inventiva mas pouco funcional, Amor Impossível (ainda que tenha contado com a participação da ascendente Emily Blunt).

O filme narra a história de uma família indiana, que após a morte da matriarca, se muda para a França, com o patriarca inicialmente criando planos para abrir um restaurante temático indiano em um pequeno vilarejo no sul da França, ideia que parece não agradar a dona de um conceituado restaurante chamado "Le Saule Pleureur", que fica extremamente próximo do recém-criado restaurante da família. 

O que, talvez, possa ter me decepcionado um pouco foi o final do filme. Sem ter correspondido às minhas expectativas, faltou sal na grande despedida desta colorida e inusual história, sem dúvida maravilhosa. Achei que veria novamente aqui um Chocolate, um filme que dá água na boca, um filme-banquete, como costumo dizer, aqueles filmes que costumam dar fome, o que na realidade é, só que um pouquinho menos adoçado, menos fermentado, algo do tipo, enfim. O roteiro é espetacular, da autoria de Steven Knight (do ótimo Coisas Belas e Sujas, que venho procurando há um bom tempo - aliás, qualquer coisa quem tiver a oportunidade de me indicar algum lugar em que possa achá-lo, seja na internet ou em vídeo, por favor, é só avisar). Não vou reclamar do elenco, que também é brilhantemente esforçado e consagrado (ênfase para Mirren, Puri, Dayal e Le Bon). A parte técnica é formidável, nada a dizer contra. A trilha sonora de A.R. Rahman (o mesmo de Quem Quer Ser um Milionário?): lindíssima, um dos tesouros do filme. A fotografia de Sandgreen, igualmente preciosa. A edição, caprichada mas entendiante, nos primeiros momentos.

Então, é isso aí: eu gostei de A 100 Passos de um Sonho. Uma excelente tragicomédia de pontos altos e baixos, sem exceder luxo e beleza (é um filme de Hallstrom, oras bolas!), por demasiado infantil que seja, mas não seja chato se comparado aos últimos trabalhos de Lasse, como já foi analisado. É um espetacular feel-good, concluindo.

P.S. Tratando de culinária, A 100 Passos de um Sonho é mil vezes melhor que Julia & Julie, mas não tão extraordinário quanto Ratatouille, por exemplo (o filme fica no meio-termo).

A 100 Passos de um Sonho (The Hundred-Foot Journey)
dir. Lasse Hallstrom - 

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