Uma revisão foi muito bem-vinda a Drive. Não me lembrava como ele conseguia equilibrar tão bem sensibilidade e adrenalina, destacando o tratamento ímpar que o romance entre os personagens do Ryan e da Carey ganha, com sentimento e honestidade. O resultado é belo. A ação funciona e se apresenta em diversas camadas, não atrapalhando as escolhas que o filme toma para contar tanto a história daquele amor, como de toda a violência ao redor dele, e o emblema que divide o protagonista, as pessoas que ele ama, as pessoas que cruzam seu caminho. Drive tem euforia, mostra que é possível fazer tanto ação quanto um filme mais particular sem chegar aos limites para impressionar. O que move o filme, entretanto, é a delicadeza com a qual ele mostra aquele motorista fechado e solitário se abrindo, abrandando a dureza que usa de figurino, ao entrar em contato com o amor. E como aqueles universos se misturam.
Mesmo sendo tão enfático nas consequências desse amor, resta ainda algo de contido, como se fosse um segredo. E acho que o filme vai tentando, em sua extensão, desvendar isso, do seu jeito. Com agressividade, amorosidade, tensão, torpor. E com muita delicadeza, parte dessa delicadeza escondida, velada, nunca exposta por completo. Talvez isso explique sua beleza, de nos instigar a ir atrás do que se esconde por trás desses personagens - e mais especificamente do motorista. Conto da solidão desse homem, e ao mesmo tempo do seu abrir pro mundo, da descoberta do seu herói interior.
Nicolas Winding Refn
EUA, 2011