segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Crítica: "A HORA DO PESADELO" (1984) - ★★★★★


Nos deixou ontem aquele que é o definitivo mestre do terror moderno, Wes Craven. Em homenagem à ele e em recordação de seu extenso legado, vejo A Hora do Pesadelo, considerado por muitos seu melhor filme e um clássico do gênero que tanto o diretor trabalhou e revolucionou. Não tendo visto a completa filmografia do diretor, não posso discordar de nada em que A Hora do Pesadelo é um de seus melhores filmes. Tenho uma colega que idolatra muito esse filme e na escola fez um trabalho sobre ele. Na época que ela o fez, não tinha visto o filme. Fui ver pela primeira vez na TV, há uns dois anos atrás, e se eu não me engano passou no Corujão, na alta madrugada. Cagar nas calças é pouco.

A Hora do Pesadelo começa como quem não quer nada, bem manso. A primeira cena mesmo não chega a ser tão terror. O pior (melhor) segue ela. Mesmo com o notável baixo orçamento, o terror não morre. E isso é o que vale em A Hora do Pesadelo. Afinal, essa é a proposta de Wes. Caso contrário, provavelmente não funcionaria. Mas o que importa é que funciona. A pseudo-fábula de Wes que ganha um final controverso mas auto-explicativo ao mesmo tempo só tem a ganhar. Seu irrealismo faz uma perfeita conexão com a chamada “ciência dos sonhos” abordada num dos diálogos de Nancy com o namorado, feito pelo iniciante Johnny Depp, ainda adolescente. A narrativa é eficiente, e mesmo que não faça sentido para alguns é inegavelmente horripilante.

Não é só o Johnny, mas A Hora do Pesadelo, bem no fundo, me lembra Edward Mãos-de-Tesoura, que eu particularmente gosto bastante. A popularidade de ambos os filmes assim como também são de uma ótima qualidade levam à tal comparação. Embora não possuam o mesmo gênero, se passam no mesmo espaço, o subúrbio. Tem o Depp. Enfim, não pude deixar de lembrar por algum motivo. Caso comparado com o mágico Edward, A Hora do Pesadelo nesse quesito sai perdendo. A magia confortante e quase lúdica da grande obra de Tim Burton é incomparável ao eletrizante terror que reina nesta outra grande obra, desta vez do finado Wes Craven.

Poucos filmes que eu vi, creio eu, foram capazes de produzir e visar o mesmo impacto de A Hora do Pesadelo. Pode parecer exagero, mas o clima desconcertante do filme é de uma profundeza tão absoluta, mesmo que às vezes soe demais superestimada, que somos meio que obrigados a acompanhar a frenesi que o dirige em sintonia com seu explícito horror até os momentos finais. Em todo caso, é uma obra genial. Vale lembrar que esse clima vem acompanhado da maravilhosa e tenebrosa trilha sonora de Charles Bernstein.

Chega a um momento em que um simples estalar que não está nem mesmo conectado ao clima fornecido pelo movimento da trama já faz você vibrar. E é desse tipo de filme que eu gosto. (alerta de spoiler) O final de A Hora do Pesadelo serviu de influência ao final de outros filmes. Em Arraste-me para o Inferno, o final foi adaptado, mas a clareza dos elementos não deixou dúvidas.  Há outros mais filmes que seguem a mesma técnica de A Hora do Pesadelo, e quando um filme ganha tanto reconhecimento e crédito por sua qualidade vale sim chamá-lo de clássico. Há filmes que não passam de dez anos e já são considerados por muitos os melhores já feitos (me inclua nessa lista de “muitos”). Filme não tem idade, e enquanto não deixarem de criar falsos estereótipos sobre clássicos essa verdade ficará restrita. Há clássicos atuais e clássicos antigos e ponto final.

O espírito trash de A Hora do Pesadelo vira um charme adicional e me deixou bastante comovido. É um filme sem dúvida alguma excelente, um dos melhores terrores já feitos. Vale ser visto e revisto. Foi muito popular no mundo inteiro em sua estreia, e as gerações dos anos 80-90, que acompanharam a franquia, mas nos últimos tempos veio perdendo a força. Dessa forma, a nova geração que chega desconhece a existência do Freddie Krueger, e com certeza perde uma das experiências mais assustadoras de suas vidas. Uma lástima. E a invejável genialidade de Wes Craven. Sentiremos saudades deste que é um autêntico mestre e merece dignamente tal posição. Obrigado Wes por ter originado e então nos dado este que é um verdadeiro exemplo de como se faz um bom e apavorante filme de terror. 

A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street)
dir. Wes Craven - 

Adeus, WES CRAVEN (1939 - 2015)


Faleceu ontem, em Los Angeles, aos 76 anos, aquele que certamente é um dos mestres mais influentes do gênero terror, de todos os tempos: Wes Craven. Vítima de um tumor no cérebro, Wes deixa uma filmografia espetacular, com filmes que conquistaram e atravessaram gerações e até hoje são marca registrada de seu talento. Como nenhum outro diretor, Wes tinha o domínio do gênero e praticamente, ao surgir na área, remontou completamente a visão que se tinha adentro aqueles filmes.

Quem nunca se pegou paralisado vendo um filme de Wes Craven? Quem não conhece o clássico A Hora do Pesadelo, que marcou a vida de muita gente e até hoje é reconhecido como um dos maiores filmes de terror de todos os tempos? Ou então maior ainda é a fama do nem-tão-antigo-assim Pânico, cuja franquia estendeu-se até o quarto, e provavelmente último, filme, e todos os anteriores dirigidos fielmente por ele. Talvez os sucessores não tenham feito o estrondoso sucesso do clássico primeiro, mas não deixaram de ser em nenhum momento pra lá de tenebrosos.

O que mais dizer deste homem, que em simples palavras já pode ser suficientemente descrito. Disse eu que ele é um inteiro gênio em absolutamente tudo o que faz dentro do cinema, e que raramente é possível encontrar defeitos na carreira sem precendentes dele? Foi bom enquanto durou. Agora, que o eterno pai do Freddie Kruger descanse em paz, pois o lendário ícone que se tornou enquanto vivo e a assombração de seus filmes demorará muito (e talvez nem mesmo acabará) até deixar uma pessoa absolutamente indiferente caso exposta à experiência de ver um terror seu. Mais do que uma exceção, Wes Craven foi e continuará sendo um mestre insubstituível. Enquanto ainda existir Aniversário Macabro, A Maldição dos Mortos-Vivos, A Hora do Pesadelo e seus sucessores, Pânico e seus sucessores, Shocker, Voo Noturno e outras pérolas do tipo, Wes continuará vivendo, isso sem falar em Música do Coração, inspirado drama do diretor que não é terror, mas mostra que além desse gênero ele também tinha controle em outras áreas.

"O primeiro monstro que você deverá utilizar para estremecer o seu público é você mesmo”


- Wes Craven

domingo, 30 de agosto de 2015

Crítica: "MUNIQUE" (2005) - ★★★★


Ficar dois dias sem a internet pode ser desgastante e muito angustiante. Minha experiência, cuja já tive várias outras vezes, realmente me fez ver o quão o mundo está dependente dessa conexão. Chega a ser desesperador. O século 21 é desesperador. Enfim, só em apenas dois dias perdi muita coisa. E fiquei atrasado. Nesse intervalo de dois dias vi Munique, do Steven Spielberg, um de seus trabalhos mais ambiciosos, arrasadores e belos. Munique, muito elogiado, tem motivo de sobra para ser considerado um dos filmes mais maturos feitos por ele. O diretor de clássicos como E.T. – O Extraterrestre, A Lista de Schindler e O Resgate do Soldado Ryan até pode ter conseguido certo reconhecimento com obras intensas, de cunho dramático profundo (também citando A Cor Púrpura), mas nenhum desses filmes tão pesados como Munique, onde o diretor revela que também é mestre dessa exploração violenta do mundo criminal e que consegue lidar com as façanhas do estilo da produção com glória e talento, com a garantida prova da competência de seu cinema. Munique é uma obra maior de Spielberg. Não a maior, mas com certeza ingressa na lista. O melhor do cineasta está presente aqui. Esqueça as produções mais “livres” que ele fez. Nem mesmo parece que Munique é um filme dele, e o mérito instala-se justamente aí. Pra mim o diretor que consegue dominar esse propósito, uma forma de afastar-se da sua comum zona de conforto, já é considerado um gênio. Sorte a nossa ter Spielberg, esse gênio cujos filmes tardam, mas não falham. Um bom exemplo é Munique.

Depois do fatídico atentado em Munique, nas Olimpíadas, o governo israelense decide selecionar um grupo de cinco homens para exterminar outro grupo de onze, responsáveis pela morte dos atletas israelenses no atentado. A trama centra-se no líder desse grupo, que tem uma mulher grávida e ainda aprende sobre os essenciais valores da família e como esse ensinamento deve guiar a sua missão. Mas, afinal, o que Munique fala sobre? Inegavelmente, há uma clara conexão (lá vem spoiler) desse evento com o 11 de setembro. Quem percebeu no final, com o plano de fundo das torres gêmeas em Nova York, os créditos iniciam com uma frase que diz “dos onze culpados, apenas nove foram mortos”. Talvez essa que seja a ligação mais clara do filme (11 de setembro, setembro é mês 9) seja de perto a menos imperceptível das outras mais que surgem no decorrer da narrativa e nos levam a testemunhar a série de conflitos que se interligam e ganham um sentido. Essa conexão não é certamente o objetivo principal de Munique, mas a teoria de que esse mundo escondido, deixado para trás, abandonado em sofrimento e desolação, um lar completamente desalmado, que é o Oriente Médio buscou com esses eventos a nossa possível atenção é devastador. Não é apenas sobre injustiça, mas como tudo se trata da nossa própria ignorância. Somos todos culpados pelo caos. O maior e o menor. Um na luta pelos mesmos direitos do outro. O mundo é e certamente sempre será desse jeito. E quanto mais não aceitarmos isso, mais haverá caos. E daí começa tudo de novo.

Um elenco surpreendente. Da lista, só mesmo conhecia dois ou três, entre eles o Daniel Craig, Geoffrey Rush e Mathieu Amalric (isso se não são os únicos que eu conheço). Eric Bana, Mathieu Kassovitz, Hanns Zischler, atores simplesmente extraordinários. Bom ver que essa lista não conta com Hanks ou nenhum dos outros colaboradores de Spielberg (o que pode ser visto muito bem como parte dessa “evolução”). Se bem que em A Lista de Schindler ele tinha apostado alto no elenco internacional também. Mas John Williams e Janusz Kaminski continuam presentes. A eterna parceria, e que tem funcionado pra caramba, de Steven com esses dois outros grandes gênios é inquebrável mesmo numa brusca e singular transformação dessas. Outra prova de que a trilha e a fotografia dos filmes de Steven não seriam as mesmas sem esses dois.

A ação em Munique é eletrizante. A cena da explosão no hotel é de deixar qualquer um com o coração saindo pela boca, como foi no meu caso, e que também é a cena da qual eu acredito que é a mais pulsante do longa inteirinho. Não estranharei alguém ter um ataque cardíaco durante a sessão de Munique. Cardíacos, recomendo que vocês não vejam Munique. É isso aí. Eu gostei de Munique. Não só possui uma trama forte e consequentemente reflexiva como também é de um caráter único, razões pelas quais já expliquei e estão diretamente relacionadas ao fato deste filme ser uma peça rara da carreira de Steven Spielberg, com certeza uma lenda viva e um dos maiores realizadores cinematográficos que já viveram. E ele é quem sai ganhando em Munique, pois o filme automaticamente se transforma numa prova dessa sua autoridade imbatível.

Munique (Munich)
dir. Steven Spielberg - ★★★★

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Crítica: "TED 2" (2015) - ★★


Embora essa característica também exista no primeiro longa, é aqui em Ted 2 que ela revela seu auge. Esse recém-surgido cinema de Seth MacFarlane leva consigo uma peculiaridade que arrancou elogios de muita gente, mas me deixou baita irritado. Difícil de descrevê-la, apenas digo que faz com que seus filmes fiquem semelhantes demais aos episódios de Uma Família da Pesada (trabalho pelo qual ele é conhecido) e outros desenhos adultos dele, cuja narrativa é sequenciada de uma forma bem inusual, como se fossem esquetes dentro da própria história. Lá na TV isso até funciona como marca da produção dele, mas no cinema fica estranho, por que misturado à repetição e à falta de síntese da criação vira uma bagunça incompreensível. 

Achei que riria mais com este Ted 2, que é fraco e não acompanha o mesmo clima do primeiro, original e divertidíssimo. E este, no fundo, é divertido, só que não tanto quanto Ted. Não falta criatividade, mas o problema é que Ted 2 só é mais uma versão de Ted, com algumas mudanças, mas com a mesma dose do humor politicamente incorreto e das piadas insanas - o que traz certa comédia, mas não ameniza o amargo gosto do fracasso, infelizmente. Seja intencional ou não da parte de Seth ter incluído essa característica, pra mim ela não reproduz a menor graça, no cinema. 

Em Ted 2, o ursinho de pelúcia se casa com a namorada, Tami-Lynn, enquanto John está divorciado de Lori. Após um ano de casamento, Ted vê que nada está dando certo até que é aconselhado por uma caixa para ter um bebê com Tami-Lynn no fim deles dois se reconciliarem. A ideia até ajuda na relação, mas vai por água abaixo quando o governo fica à par da situação e acaba não só ilegalizando o casamento do ursinho com a ex-prostituta como também impede que eles adotem um filho (Tami-Lynn é infértil - seu útero, por conta da antiga atividade que exercia, perdeu a capacidade de reproduzir impedindo a inseminação artificial). Ted, a esposa e John vão à justiça para lutar contra essa ação, e acabam encontrando muita confusão. Ora cômico, ora embaçado, esse humor que impera em Ted 2 inicialmente disfarça bem a falta de imaginação, mas a ficha cai com a sucessão dos eventos. 

Se Ted debatia sobre a falta de maturidade, o segundo fala principalmente sobre o sistema americano de justiça, muito controverso e questionado nos dias de hoje. A questão do casamento da Tami-Lynn e do Ted lembra muito o recente episódio que legalizou a união matrimonial nos Estados Unidos, ainda mais quando lá no início, na festa do casamento, tal capítulo pode ser visivelmente influência acidental de uma fala, na qual Ted fala com um amigo homossexual do John e pergunta sobre um possível casamento com o novo namorado dele. Mais pra frente Ted, durante o julgamento, faz um discurso sobre a injustiça nos E.U.A., e como ele faz parte do grupo que incluí gays que são reprimidos pelas leis deles. 

Se no fundo não é nem um pouquinho convincente e reproduz clichês descarados do primeiro, Ted 2 é engraçado em partes, e nisso pode satisfazer o público. E se você tem queda por piadas infladas sobre cultura pop, Ted 2 tanto quanto o primeiro é o lugar certo. Muita gente riu. Eu ri, em determinados momentos. Como eu disse, não esperava que fosse melhor que o primeiro, mas talvez mais engraçado, e me decepcionei nisso. Amanda Seyfried, depois da parceria esquecível com Seth em Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola, retorna ainda rarefeita, fracassada. E nunca fui com a cara dela mesmo, então aceitá-la ainda mais aqui fica bem difícil. Vá lá: entre Amanda e Kristen Stewart, até com todo o seu melancólico ar adolescente inconfundível e quase irreparável, fico com a segunda. A pop teen de Mamma Mia! quer ser alguém, mas a aparência de patricinha e inquebrável destrói toda a sua chance de ser importante, na minha mais completa opinião. Então, se você quer rir, Ted 2 pode ser fantástico. Mas se você quer ver algo realmente bom, Ted 2 não causará muita surpresa.

Ted 2
dir. Seth MacFarlane - 

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Crítica: "FOI APENAS UM SONHO" (2008) - ★★★★


Ah, o subúrbio americano e suas intrigantes histórias... Anos depois de Beleza Americana, Sam Mendes retorna à esse eufórico universo com novidades, repetindo o mesmo sucesso do anterior. Se bem que o foco do filme afasta-se das noções de Beleza Americana. Aqui, apesar da abordagem, o filme vai além do subúrbio, e debate questões que vão desde a liberdade até a proficiência de nossos instintos. Detalhista e simplesmente impecável, Foi Apenas um Sonho é mais uma tocante análise da vida conduzida por aquele fatídico cotidiano de sempre que vive enchendo o nosso saco, e as nossas fugas desse diário, que nem todas as vezes são concluídas ou realizadas. 

Apesar da belíssima performance aqui apresentada, Kate Winslet, que recebeu vários prêmios por essa merecedora atuação, foi brilhantemente superada por Leonardo DiCaprio, que me surpreendeu mais. Apesar de não ter recebido tanta aclamação quanto com quem contracenou, DiCaprio atua estonteantemente, tão bem quanto Kate Winslet. O elenco todo é bom. Michael Shannon, Kathy Bates e Zoe Kazan entram como pequenos destaques do filme ("roubar a cena" é a profissão deles). 

Frank e April são um casal. Tem dois filhos. Frank, apesar do trabalho, pouco se preocupa com a vida que leva, de modo a que não exija tanto dela. Por outro lado, sua esposa April é uma mulher timidamente obsessiva, que de certa forma não está nada satisfeita com a irreal vida que leva, uma vida que obrigatoriamente tem de ser perfeita - para ela -. Essa busca pela perfeição logo torna-se a grande sacada do filme. O mérito de Foi Apenas um Sonho loca-se nessa poderosa mensagem. Afinal, a vida não é perfeita. E quanto mais se luta por uma vida perfeita, mais sofrimento encontramos. Não é preciso necessariamente aceitar isso. Preocupar-se com essa questão é apenas tempo perdido. Muitas vezes, nós cometemos esse perfeccionismo. Muitas vezes. E mesmo assim nunca estamos convencidos de que algo não é possível. É como o próprio Frank Wheeler disse: "Um vazio sem esperanças". O vazio é visível, mas a esperança é mais forte, e nunca estamos dispostos a aceitar nossas falhas. Nossos fracassos - pra falar melhor. 

Por isso que Sam Mendes é um de meus cineastas atuais prediletos. Mesmo com uma curta filmografia, ele revelou que a sua maestria esconde-se por trás de elementos como esses em Foi Apenas um Sonho. Sam é um diretor inevitavelmente miraculoso e detalhista. Por que não perfeccionista? A atmosfera de seu trabalho conspira a favor disso. E um dos grandes trabalhos de Sam é esse drama fabuloso, que me deixou tão pensativo quanto aterrorizado, por que é real. Vivenciamos isso frequentemente, como eu disse, até na nossa pele. E isso não terminará tão cedo. E nós de alguma forma viveremos com isso. A visão de Sam por trás de toda essa mania é de uma excelência abismadora e espetacular. 

Sam evita aos máximos os clichês, e não é preciso esforço para notar que o diretor quis fazer algo inovador, preciso, sem muita afobação. E Foi Apenas um Sonho, nesse ponto é um filme rápido. Deixa pra trás aquelas desnecessárias especulações e é direto ao seu público. Não é exagero dizer que é uma das construções mais objetivas do cinema, pelo que eu experienciei. Preciso ainda ler o romance de Richard Yates, que também dizem ser uma pérola. 

Pelo menos estou satisfeito com a sua adaptação, Foi Apenas um Sonho, que é sem dúvida alguma um filme glorioso e desolador. Merece minha fidelidade. Em aspectos fica fácil lembrar de Estrada para Perdição também. A remontagem épica aqui é maravilhosa. A (sempre) sensível e memorável trilha sonora de Thomas Newman. A fotografia essencial e meticulosa de Roger Deakins. Sam Mendes. Essa direção de arte. Essa edição. E Kate Winslet e DiCaprio, de volta em uma parceira com certeza tão lendária e magistral como a de Titanic. Dois exemplos de atores!

Foi Apenas um Sonho (Revolutionary Road)
dir. Sam Mendes - 

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Crítica: "A VILA" (2004) - ★★★★★


Uau. Mesmo que eu idolatre freneticamente O Sexto Sentido como o melhor filme de M. Night Shyamalan, tal posto muito bem pode ser ocupado por A Vila, que me deixou bem mais surpreso e mobilizado, apesar do final surreal que o grande clássico do cineasta leva. E os motivos são muitos. A Vila não só capricha num roteiro extraordinário, que tende a ser a marca registrada dos filmes de Shyamalan, como também é um trabalho máximo da curta filmografia do diretor, que em outubro nos apresentará mais um filme, A Visita

Se no fim A Vila não é tão tenebroso ou assombroso como as expectativas já protestavam, guarda consigo uma mensagem muito profunda e bem feita. Mas visto de um ponto mais literal A Vila não foi feito para assombrar. Certo que em determinados momentos do filme dá um medo lascado, só que não é por muito tempo. É só pra dizer que teve um pouco. Como já é conhecido da parte do diretor, A Vila usufrui do inteligente twist ending, a especialidade do mestre em questão, já experimentada em O Sexto Sentido e outros. O twist ending especificamente de A Vila não só abrange um amplo significado em sua inteira composição, de uma forma distinta dos outros filmes do diretor quero dizer, como é uma espécie de evolução. A decisão do diretor diz muito pelo filme, e isso é uma das melhores coisas dele. Bem, vou parar de falar por aqui para não dar um spoiler attack

E vocês não imaginam a minha luta para achar essa cópia de A Vila... Tenho uma sorte incrível para achar filmes impossíveis de se achar. Embora seja muito fácil encontrar A Vila na internet, todos os sites em que achei o filme é dublado e sou bastante enojado com isso. Encomendei com um amigo que trabalha numa locadora para ver se ele podia achar o filme pra mim e passá-lo para um DVD virgem, isso há aproximadamente um mês (ainda estava de férias). Foi nesse sábado ele me contatou pela rede social e me disse que tinha achado a bendita cópia com outro amigo, e tinha feito outra no DVD virgem que lhe dei. A sensação de alívio e prazer que te invade nesses momentos é de uma perfeição surreal e indescritível. E não é a primeira vez não. Olha, há razão em falar que eu tenho alguns momentos de azar em minha vida, mas é raro em minha cinefilia. Se há algo faltando em minha cinefilia é azar (e que continue faltando, por favor).

O maior televisor aqui da minha casa é ainda de tubo, Philips, que fica no quarto dos meus pais. Não estou cego nem nada do tipo (a correção da minha miopia está em andamento) mas acredito que a qualidade desse televisor médio, que não é nem tão grande assim, é excepcional. O modelo é o "Power Vision Stereo", e sem dúvidas funciona perfeitamente. Enquanto isso, meu novo aparelho de DVD, que foi trocado, fica com uma qualidade horrível no televisor LCD (vai saber porque!). Certamente ver este filme no cinema resultaria numa belíssima experiência, mas não torna dispensável a sessão dele na TV tubo, que foi incrível. Nunca fui de confiar nesses padrões da TV, mas ajustei em "cinema" e a imagem ficou maravilhosa. O imbatível Roger Deakins melhor como nunca, dando-nos uma prova simples e justa de seu incalculável legado. A câmera não se movimenta muito. Baseia-se em um ou dois enquadramentos no máximo por cena, com breves exceções em outras. Alguns ângulos, a maioria deles frontais e de cenário, limitam inicialmente alguns segmentos do enquadramento perfeito, mas o final responde por esses enquadramentos de uma forma brilhante. Seria um erro catastrófico deixar de reconhecer a visionária perspectiva e direção de M. Night Shyamalan (hoje eu tô spoilerento que só!). 

O "elenco de primeiro mundo" também recebe a autoria dos méritos de A Vila: a protagonista Bryce Dallas Howard, naquela época com pouquíssimos papéis no cinema, é certamente a grande revelação de todo o filme, e sua atuação é de uma riqueza tão natural e indestrutível que emociona lembrar dela em ação. Adrien Brody, um formidável e competente coadjuvante (agora sim, spoiler) no papel mais arrasador da trama, e sem dúvida vilanesco. Joaquin Pheonix também não está de se jogar fora. William Hurt, em uma ou duas cenas, dá um show também. Certamente esperava mais da Sigourney Weaver, que aparece pouco nos tão poucos mas suficientes 100 minutos deste longa. Ah, a história? Moradores de uma vilinha isolada temem por um monstro que habita uma mística floresta, a única coisa que destrói a segurança do local. Até que dois moradores, em uma simples busca, iniciam uma jornada adentro à floresta. Simples não? Pois é. A complexa e multifacetada fábula metafórica que se esconde por trás dessa simples sinopse é delirante e surpreendente, e transforma A Vila num dos melhores filmes dos últimos tempos e um trabalho miraculosamente bonito. E, em consequência, seu criador é quem recebe todo o crédito por seu esmerado e genial talento. 

A Vila (The Village)
dir. M. Night Shyamalan - 

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Crítica: "DESCONSTRUINDO HARRY" (1997) - ★★★★★


Além de ser um dos filmes mais geniais e engraçados de Woody Allen, Desconstruindo Harry é uma obra maior do cineasta, um trabalho preciosíssimo e valioso. Seguindo à reta do personagem neurótico de sempre que vive numa cômica e profunda onda de azar e insatisfação, Woody monta uma fabulosa história que auto-imortaliza como uma das mais bem feitas dele. Não à toa é fácil rir em certos momentos do filme. Notavelmente Desconstruindo Harry provém do clássico humor Alleiano, mas a perspectiva do humor negro que é reinventada por Woody aqui além das proporções divertidíssimas que a louca jornada de Harry ganha rendem ao público um bom momento enfeitado por risadas. Um monumento cômico como nenhum outro jamais feito por esse invencível gênio, Desconstruindo Harry merece ser visto, com toda a certeza.

Muita gente acusa descaradamente o trabalho de Woody como autobiográfico, que se utiliza da metalinguagem. Bem, levando em conta que o diretor é um profano admirador da obra de Fellini que baseou-se na metalinguagem para a elaboração de alguns filmes, como o enigmático e admiravelmente belo Oito e Meio, quem sabe tal inspiração do italiano tenha produzido efeito em Allen e feito com que a sua filmografia fosse preenchida por grandes filmes com uma aparência tão realista? Ou será que Woody é mesmo tão talentoso e mágico a ponto de fazer o espectador imaginar que o personagem interpretado por ele realmente é a sua pessoa traduzida para o filme, ou então a grande maioria de seus personagens? Neste quesito, o longa pode despertar algumas dúvidas. E nos faz repensá-las. Harry Block é um escritor que se baseia em episódios de sua própria vida para montar seus livros, e isso causa a maior frustração nas pessoas que convivem com ele, ameaçadas pelos detalhes extremamente autobiográficos de seus livros. 

Não minto: há determinados filmes de Woody que carregam consigo material metalinguístico. Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, Memórias (inspirado no já citado Oito e Meio de Fellini), A Era do Rádio, Maridos e Esposas e outros que possuem dados autobiográficos escondidos. Talvez a proposta de Woody seja deixar tais elementos à mercê para a decisão do público. Pode parecer esquisito, mas somos nós quem fazemos o filme. Se há identificação, o filme funciona como um espelho. Se há surpresa, é algo nunca visto para nós, e em ambos os casos há a aprovação. Se ficamos surpresos, identificados, assustados, mesmerizados, indiferentes ou confusos depois de uma sessão do Woody, é o que o filme nos passou. 

A filmografia de Woody é muito livre, e isso a torna efetivamente móvel, e isso é um dos principais ingredientes para o estrondoso sucesso dele: por mais que pareça, seus roteiros não ficam presos à uma única tese. A cada filme, ele vai renovando a sua visão em busca de mais resoluções para a sua dúvida existencialista, que mais parece uma indecifrável incógnita. A missão de seus filmes é descobrir o x. Seus filmes são como problemas matemáticos: de longa, parecem a mesma coisa, nada de novo e tal, sempre com a mesma aparência, mas vistos mais de perto, interpretados, ganham um novo sentido. E esse é Woody. Nenhum filme é igual ao outro. Parece, mas no fim não é. Sejam esses filmes do mesmo gênero, ou de histórias semelhantes. Se seus trabalhos soam demais influentes da mesmice, é o resultado da nossa visão diante deles. A mobilidade filmográfica de Woody ora funciona para alguns e ora não funciona para outros.

Desconstruindo Harry, por abordar mais pronta e diretamente, pode meio que intimidar o espectador. É um filme inusual de Woody. Afinal, não é todo dia que uma avalanche de palavrões e sexo invade a tela de um filme do cineasta (é um dos únicos filmes do Woody a ter cena de nudez). Isso aqui não significa necessariamente evolução/maturidade. Creio que é mais uma transição. Mais aí é que está a dúvida: será que este filme é autobiográfico, e que todos os filmes anteriores de Woody praticamente são revelações da sua vida? É meio irônico, mas faz sentido. Ou será que esse filme é apenas uma metáfora precedente dos filmes anteriores de Woody, como se Harry fosse um personagem à parte dono de todas as aventuras criadas por Woody. Ou será que Block simboliza a imaginação do diretor? 

Em meio à tantas dúvidas, o filme ganha crédito. Afinal, é para isso que a arte é feita: para causar indagações, novos conhecimentos e distintas abordagens. Numa versão mais literal do prazo, Desconstruindo Harry pode sim ser visto como um novo passo da filmografia de Woody Allen. Um passo mais firme, embora renovadamente cômico e abusador da ironia. Seja em qualquer hipótese, apenas digo que é uma obra simplesmente brilhante. Eu digo: bravo! O elenco, que inclui o próprio Woody numa das últimas e melhores performances cinematográficas dele, conta com o auxílio de um pessoal de valor: Richard Benjamin, Billy Crystal, Paul Giamatti, Stanley Tucci, Judy Davis, Kirstie Alley, Demi Moore, Elizabeth Shue, Robin Williams (especial destaque às grandiosíssimas Judy Davis e Kirstie Alley, donas das melhores interpretações femininas do filme). A fotografia excelente de Carlo Di Palma brilha em cenas mais intensas, de um elevado cunho dramático e até em algumas mais descontraídas, como aquela lá da qual Harry visita o inferno (talvez a cena mais cômica do filme). Palmas à Woody. Palmas à todo esse louco mundo de Harry. Palmas à, enfim, Desconstruindo Harry!

Desconstruindo Harry (Deconstructing Harry)
dir. Woody Allen - 

domingo, 23 de agosto de 2015

Crítica: "OS INFILTRADOS" (2006) - ★★★★


É um ótimo filme mas não o melhor trabalho do Martin. O fato do filme ter conquistado a estatueta de Melhor Filme no Oscar 2007 não faz dele nem um pouco o maior feito de Scorsese (onde já se viu?). Há quem diga que os prêmios dados a Os Infiltrados serviram mais de consolo ao lendário diretor, que até aquele momento nunca havia conquistado um Oscar, e eu muito acredito nessa teoria. Isso sem querer dizer que Os Infiltrados não mereceu o Oscar que lhe foi entregue. É uma grande obra. E tem sorte de ter dado a Martin Scorsese seu primeiro e atualmente único Oscar de Melhor Diretor. Mais uma perfeita análise das consequências da ganância, da auto-destruição do sonho americano e das alegorias do submundo criminoso, Os Infiltrados é mais um excepcional marco da filmografia deste que é um dos maiores cineastas da história e uma lenda viva. No início, o espectador até pode desconfiar da ausência de sangue e violência extravasada, mas com o decorrer da trama a matança descontrolada e quase sobrenatural apagará as dúvidas e encantará demais o público. O remake do filme chinês Infernal Affairs (que mais tarde irei procurar) é de tirar o fôlego. Não vi o original por isso não posso contestar ou apoiar a adaptação de William Monahan, mas com certeza o roteiro dele possui pontos triunfais e sacadas extraordinárias.

Segundo Scorsese, "Os Infiltrados é o primeiro filme de sua carreira a ter uma sinopse". Talvez tal afirmação tenha mesmo um certo cabimento, até por que sendo a primeira sua sinopse é bem descomplicada e simples: o protegido de um acirrado gângster infiltra-se na polícia e torna-se um bem-sucedido detetive criminal enquanto um outro policial com um passado duplo é selecionado pelo departamento de infiltração para investigar esse gângster de perto, como seu melhor homem. A arrebatadora performance de Leonardo DiCaprio neste último personagem citado é muito semelhante ao personagem dele em Gangues de Nova York, uma vez que lá ele fazia uma espécie de infiltrado na trupe do Bill, enquanto tentava ganhar a confiança dele. Se lá a coisa já era bem perigosa e corriqueira aqui, com essa dose violenta de complexidade e ação as coisas se agravam (num bom sentido). 

Mas Os Infiltrados, mesmo que seja um pouco complexo acima do normal para o ritmo de Martin Scorsese não deixa de ser interessantíssimo. Tal complexidade possa agitar e nos fazer estranhar o estilo do cineasta, que geralmente vem acompanhado mesmo de uma certa complexidade - neutra, sem muitos rushs como os vistos aqui -. Se bem que o roteiro do Monahan é um dos melhores da carreira de Martin, e o Oscar (que pra mim teria ido para Notas sobre um Escândalo ou Borat se não fosse ele) de Roteiro Adaptado foi mais que merecido. O esquema dos telefones celulares pode deixar um clima de confusão no ar, mas esse moderno pique que vira marca registrada desse roteiro brilhante até que faria falta. E esse clima acelerado que alguns elementos transportam para a trama vira uma excelente característica do filme. O importante é que funciona.

E um dos grandes elencos, também (se bem que falando de Scorsese elenco não é nenhum problema). Jack Nicholson não se livra do seu comum astral relaxado e doidão em nenhum momento do filme, mas sua atuação como o inescrupuloso Frank Costello é de matar, e acaba ficando marcada como uma das melhores do querido Jack, e das mais intensas também. Leonardo DiCaprio brilha sem parar na segunda das atuais quatro parcerias com Martin Scorsese. Ainda que a melhor performance do bom DiCaprio esteja lá em O Lobo de Wall Street, essa performance dele é extremamente memorável. Nunca fui de simpatizar com Matt Damon, mas há exceções na filmografia recheada de obras do ator. E uma dessas exceções. Uma das melhores delas, pelo menos, é Os Infiltrados. Agora vem me dizer que Mark Wahlberg é o cara mais destacado desse elenco? Por favor, né? No máximo ele roubou a cena, impecavelmente.

Depois de visto esse filme, só tenho a agradecer. Tudo à Martin Scorsese, esse gênio cujos presentes cinematográficos são de um inestimável valor pra mim. Repito: Os Infiltrados não é o melhor, e não é tudo aquilo que se pode esperar de Scorsese, mas dá pra saciar a sede, e é uma fonte preciosa de entretenimento e deleite. Afinal, não é o cinema feito para isso? Os Infiltrados, em sua avalanche de complexidade seguindo os passos de um elenco talentoso e extremamente ágil, é uma realização fenomenal e sem sombra de dúvida ilustre. O que mais seria? É do Scorsese, minha gente. 

Os Infiltrados (The Departed)
dir. Martin Scorsese - 

sábado, 22 de agosto de 2015

Crítica: "O CASAMENTO DE RACHEL" (2008) - ★★★★


Eu gostava bastante da Anne Hathaway. Melhor: eu gosto. Mas, em uma certa época da minha cinefilia, faz uns três anos, eu era um grande fã dela. Seus atraentes carisma e talento me encantaram tanto àquela altura que por um curto tempo ela tornou-se minha atriz predileta. De longe, o empenho dela é perceptível, e esse talento dela é muito bem explorado em filmes como Os Miseráveis, Amor e Outras Drogas, O Segredo de Brokeback Mountain e neste O Casamento de Rachel, que há tempos queria ver. Talvez não seja o melhor filme da atriz, apenas superado por Os Miseráveis, mas fica em segundo lugar com todo o prestígio e crédito. Desfigurada, perdida, sem rumo e terrivelmente desequilibrada, a personagem de Anne tenta pedir o perdão da família por um fatídico erro do passado, mas as coisas, com a sua chegada, só ficam mais turbulentas ainda mais quando os preparativos para o casamento de sua irmã Rachel vão se intensificando. 

Estrondosa é pouco para qualificar o gigantesco valor da atuação de Anne Hathaway. Maravilhosa, estupenda, memorável, absurdamente emocionante e eletrizante. A Kym de Anne vem para cima do público como uma onda imbatível desvencilhando-se de um mar pouco agitado. A sensação de tensão não demora para preencher a tela e desnortear o público. O casamento da irmã é só um disfarce. Por trás dessa especial data segredos de família gritam no escuro pela salvação, pela libertação. Não demora nada para que Kym comece a desapontar a todos e manchar sua própria imagem. Na verdade, é Kym que ainda não percebeu que deve mudar de posição, assumir novos ideais para sim chegar ao seu objetivo. Kym ainda está presa no passado. Ainda é uma adolescente reprimida transbordando de culpa, fúria e um implacável medo. E o pior é que a coitada está sozinha nessa missão. A família pode estar presente, mas todos parecem demais ocupados para cuidar dela. Kym terá de reencontrar seus próprios valores sozinhas.

Afinal, todos cometemos erros. E não estou falando que eles necessariamente precisam ser perdoados. Erros não são erros sem circunstâncias. Os atos de Kym podem ter transformado a sua vida num inferno para sempre, mas este caminho foi costurado por outros episódios piores que antecederam o seu auge. Nada é ao acaso. E não adianta nada culpar depois do acontecido. Já era. Até os acidentes possuem motivos, lá no fundo. Afinal, quem é que pode julgar o outro neste mundo? Não podemos limitar a nossa atitude diante de uma certa situação por coisas menos evidentes. Ser racional pode tanto ajudar quanto prejudicar. É mais fácil enfrentar: não tem mais volta. Muita gente acha que sofrendo encontrará o caminho para a redenção. Muitas outras acham que sofrer só trará mais angústia. Qual dos rumos devo eu seguir? Afinal, quem sou eu para aconselhar? Não posso e ninguém pode me julgar. Acabou. Erro é erro. Não dá pra refazer, alterar. Pronto. 

Acho que a sessão veio a calhar no momento, uma vez que Ricki and the Flash acabou de estrear nos E.U.A., e eu tenho criado muitas positivas expectativas sobre o novo longa de Demme estrelado por Meryl Streep. Será tão bom quanto esse O Casamento de Rachel? Posso apenas dizer que dirigindo este drama familiar acentuado, esse longa aí com a Meryl roqueira ou o delirante suspense O Silêncio dos Inocentes, Jonathan é excelente. E, de sua extensa filmografia, O Casamento de Rachel é um destaque sem antecedentes. O roteiro da novata, dotada de uma sensibilidade nata e uma inteligência elogiável, Jenny Lumet (a dotadíssima filha de Sidney Lumet) é ótimo. O final altera completamente as regras do jogo sem deixar nenhum rastro defeituoso, o que é uma baita sacada de mestre. A fotografia de Declan Quinn (um provável especialista em filmes de casamento, uma vez que foi diretor de fotografia de Um Casamento à Indiana) é muito bem executada, com cortes bem estabilizados (a boa parte das cenas realizadas com filmadoras amadoras, o que oferece à imagem uma aparência mais realista - a aparência de sempre das filmagens tremidas -). À parte da Anne, um elenco sensacional (destaco as performances de Rosemarie DeWitt e Debra Winger). O Casamento de Rachel é um drama vitoriosamente magnífico com notáveis ganhos, um deles sendo Anne (indicada ao Oscar por seu papel), talvez uma das atuações mais sombrias dos últimos tempos e também dedicada. Entre altos e baixos, a vida dança conforma muitas músicas. Lidar com as falhas é apenas um começo. Compreender as evidências muitas vezes é mais fácil do que se imagina.

O Casamento de Rachel (Rachel Getting Married)
dir. Jonathan Demme - ★★★★

Crítica: "A ESCOLHA DE SOFIA" (1982) - ★★★★★


Duvido muito que existirá na história alguém tão imbatível, talentosa, indubitavelmente poderosa e reconhecida como a figura de Meryl Streep. Digo, alguém tão único da maneira que ela é. Provavelmente há muita gente que pode e merece ser comparada à ela (ou ela merece ser comparada à eles) no quesito talento e poderio, só que nunca haverá outra Meryl. Ela é uma atriz simplesmente insubstituível em todos os prováveis ângulos. E que tremenda experiência foi essa de ver A Escolha de Sofia. Não é de se estranhar que a performance dela como a Sofia é a melhor de toda a sua carreira. É uma performance e tanto. Em um filme e tanto, também. A Escolha de Sofia tem uma sorte inabalável de ter a melhor atuação da Meryl e ainda sim de apresentar uma tocante e chocante história, onde os usuais limites dramáticos são quebrados e o espectador presencia a montagem de um dos mais tristes e deploráveis filmes já feitos. 

Em uma aula de inglês, tive a chance de ler um diálogo que falava sobre A Escolha de Sofia. Na verdade, era um diálogo entre dois homens sobre cinema, e um deles citou este como seu predileto, e começou a falar da história, do elenco, dos personagens. Anteriormente à esse diálogo, já tinha algum interesse em ver A Escolha de Sofia. Mas naquele ponto vi que necessitava ver a tão comentada e aplaudida atuação de Meryl Streep num personagem abalado por um obscuro passado na guerra, patrocinado por um culposo destino. No fim das contas, A Escolha de Sofia meramente fala sobre a vida. Alguns tem sorte, e outros tem azar. Nossa protagonista, Sofia, teve o azar de presenciar uma guerra horrorosa e ainda sim experimentado o mais agoniante sofrimento de todos, cujo efeito não passara mesmo depois que o episódio se dissolvera. Após ter imigrado para os Estados Unidos, a polaca Sofia, em péssimo estado de saúde, tem a (inicial) sorte de topar com Nathan Landau, que afirma ser biólogo e a ajuda depois que ela desmaia dentro de uma biblioteca, anêmica. No entanto, a sorte que Sofia acreditara ter presenciado rapidamente se transforma em azar, uma vez que aquele gentil Nathan que a ajudara com o passar do tempo torna-se um rude e impetuoso amante, temperamental e doente. No caminho desses dois, um jovem escritor sulista, Stingo, observa de perto o cruel e extravasado relacionamento deles, assim como presta atenção aos míseros detalhes da vida de Sofia, que vira sua amiga.

E é nesse momento que a gente se pega pensando nos horrores que muita gente testemunhou e viveu na guerra. Mais do que um filme sobre caminhos da vida, destino e experiências desgastantes, A Escolha de Sofia fortemente aborda a guerra e seus males irreversíveis. Que coisa louca e terrível foi a Segunda Guerra Mundial... Muito triste ver esse longa e ter que enfrentar a realidade de que foi um episódio demoníaco da nossa história. Tudo traduzido muito claramente na dor e no pânico de Sofia, a sofrida protagonista que não tem paz, atormentada inquietamente pela culpa e pela aflição. Enfim, vou parar de comentar sobre a triste Sofia, tudo só me deixa mais depressivo ainda. O impacto deste filme é intensamente indescritível. Acredito que tardará até que eu volte a vê-lo novamente. Só da duração dos efeitos dessa sessão desconheço absolutamente. Inegável obra-prima, A Escolha de Sofia é um brilhante e profundo longa, um drama bem-feito comandado por um elenco de primeira e uma equipe dedicadíssima. 

E Meryl... Que atriz! Que dedicação! O que, afinal, torna essa atuação uma das maiores e mais importantes já feitas? Devo citar que as falas em inglês de seu personagem tiveram que ser encarnadas diante de um sotaque polonês forte e turbulento, e que uma parte dos diálogos da Sofia são em alemão e polonês, especialmente os flashbacks, que duram umas meia hora de filme, além da expressão quase excessiva de cansaço e sofrimento portadas na cara dela para superficialmente identificar o sucesso e a qualidade de tal atuação. Isso bem superficialmente, sem aprofundar os esforços necessários que a personagem usufruiu da atriz. Kevin Kline também é um ótimo destaque, em uma de suas primeiras produções cinematográficas. Seu assustador papel estremece e abala, isso pra não comentar o já natural quê de Kline para a vilania.

A direção e roteiro inestimáveis de Alan J. Pakula (o mesmo de Klute - O Passado Condena, que deu a Jane Fonda seu primeiro Oscar, e Todos os Homens do Presidente) são contribuições extraordinárias para A Escolha de Sofia. O roteiro preenchido com uma monstra sensibilidade apenas reforça a imagem do romance homônimo de William Styron. A genial fotografia (como sempre...) do mestre Néstor Almendros só mais faz de A Escolha de Sofia uma película totalmente inesquecível (o extremo cuidado de Néstor com as imagens e os planos é invejavelmente plausível tanto quanto foi em Cinzas no Paraíso e O Garoto Selvagem). A trilha sonora de Marvin Hamlisch é incansavelmente adorável e melancólica. Além destes citados, A Escolha de Sofia possui mil e um motivos para ser dono do meu favoritismo e tornar-se um dos longas mais sofridos e autenticamente dramáticos que eu já vi em minha vida. Um ótimo exemplo de como se faz um drama de verdade, A Escolha de Sofia ganhou um lugar em meu coração, não só o filme como também a Meryl, a excelente Meryl, em seu melhor aqui. Como não amar?

A Escolha de Sofia (Sophie's Choice)
dir. Alan J. Pakula - 

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Crítica: "VOCÊ VAI CONHECER O HOMEM DOS SEUS SONHOS" (2010) - ★★★


Uma semana. Só mais uma semana. Pode soar bem exagerado (e é) mas em ocasião da data decidi ver esta divertida comédia romântica Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, um dos últimos trabalhos do mestre Woody. Se não é o melhor e nem chamou tanto a atenção no seu lançamento, e pode sim ser considerado um trabalho menor do diretor mas nunca ruim, Você Vai Conhecer é um filme bem relaxado dele, muito distante da desgovernada frenesi das películas anteriores. Talvez o roteiro não seja tudo aquilo que se poderia esperar de um filme do Woody, porém não podemos negar que o romance não se perde, e isso é o que vale. Falando de amor, ele não erra. Tarda, mas não falha. E melhor ainda é ele falando da ilusão, recorrente tema de sua filmografia (e o tema de meu filme predileto dirigido por ele, A Rosa Púrpura do Cairo), aqui abordado de uma forma bem retraída, porém bonita.

E quando um filme dele não é lá tudo isso, pelo menos um bom e grande elenco vem seguindo e aqui não foi nem um pouco diferente. Naomi Watts, Antonio Banderas, Anthony Hopkins, Gemma Jones (a melhor, na atuação mais bem feita daqui), Freida Pinto, Josh Brolin... É um baita elenco. Talvez Jones e Brolin são os melhorzinhos da turma. Esperava mais de Naomi, que aqui é quase uma protagonista. Gostei também do Anthony. Creio que este bom longa de Woody fracassou por conta de seu orçamento, que é baixo. Se bem que as produções de Woody são pequenas, mas há uma peculiarmente nítida impressão de que este filme teve um baixo orçamento. E, devido à esse baixo orçamento - talvez - muitos cenários se repetem, há pouca movimentação, a exploração da narrativa naturalmente é reduzida, mas nada tão grave. Essa impressão ora me causou um leve desconforto ora deu ao filme um charme bem sofisticado.

De volta à Londres, desta vez não em um suspense mas sim em uma antologia romântica, depois do rápido retorno a Nova York (Tudo Pode Dar Certo), Woody monta distintas e interligadas histórias de amor que encaram o surgimento de novas paixões ao longo de caminhos já trilhados, e não muito raramente já são perceptíveis os traços autobiográficos, símbolos deixados acidentalmente (ou não) pelo cineasta na formulação da trama. Traços que talvez acrescentem um gosto mais Woody Allen ao roteiro, isso sem mencionar a trilha sonora enfeitada de jazz que brilha durante a sessão. Particularmente o caso de Alfie com a jovem prostituta Charmaine, relação não muito desconhecida de outros filmes do diretor, isso mencionando o próprio anterior Tudo Pode Dar Certo, é novamente fundo autobiográfico.

Acho que este é um dos filmes menos neuróticos já dirigidos por Allen (cá entre nós o cara mais neurótico do cinema), que é uma marca encravada da filmografia dele. Acredito que os personagens da Gemma (Helena), Naomi (Sally) e Josh (Roy) até possuem certa aptidão neurótica, mas não é algo que se diga: "Esse é um personagem do Woody!". Sinto de que alguma forma o clássico neurotismo foi excessivamente reduzido aqui. O neurotismo presente é bem suave, quase invisível. E não estou dizendo que a ausência de neurotismo tenha danificado o estilo de Woody neste filme. De forma alguma. Apenas faço uma simples observação. É mais com estranheza que recebo essa falta, e não como fracasso.

Mas o que mais impacta é o visual sempre deslumbrante dos filmes dele, locados arrebatadoramente em Londres. Sejam bons, ruins ou medianos, os filmes de Woody passados nessa cidade exalam um ar tão original e excepcional quanto o visual de seus filmes passados em Nova York. Já faz cinco anos do lançamento de Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, e eu realmente espero que Woody já esteja pensando em voltar lá o mais rápido possível. O clima londrino combinado ao propagante estilo romântico de Woody resulta em algo mais que perfeito. Seja em intensas filmagens como os suspenses O Sonho de Cassandra e Match Point - Ponto Final, que de certo modo anseiam por um tratamento mais delicado, ou neste triunfal romance existencial. Seja por Remi Adefarasin ou por Vilmos Zsgimond.

O interessante dessa nova fase do Woody é que ele vem tratando o espiritualismo, tema até então - praticamente - restrito à filmografia dele, de uma forma nunca vista. Talvez seja por causa da aproximação da tão temida morte que Woody esteja tão fortemente encarando esses pontos com uma habilidade tão brilhante. Assim foi em Magia ao Luar, ótimo longa que visava questões espíritas, a ilusão e também a vidência. Tomara que esse ano com Homem Irracional Woody nos traga um conteúdo tão bom quanto todos esses filmes seus citados, dotados de uma exímia qualidade.

Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos (You Will Meet a Tall Dark Stranger)
dir. Woody Allen - 

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Crítica: "O JULGAMENTO DE VIVIANE AMSALEM" (2014) - ★★★★


Muitos andaram dizendo por aí que O Julgamento de Viviane Amsalem é a perfeita cópia de A Separação. Discordo muito disso. Não que ambos esses filmes, que lidam com o divórcio estritamente ligado à questões religiosas, não sejam semelhantes mas acredito que não são idênticos como muita gente tem protestado, até porque a abordagem e a linguagem utilizadas nesses dois filmes são totalmente distintas. Ótimas e distintas. Filmes que falam sobre casos judiciais intermináveis e complicados, por exemplo o divórcio, tendem a dar nó na minha cabeça, pois é algo tão difícil, tão incompreensivelmente delicado e labiríntico que chega a dar dó de ver a condição dos envolvidos em meio a tanta turbulência. Agora, imagine um caso desses em locais cuja política é mil vezes mais complexa por envolver religião, por exemplo o Israel e arredores do Oriente Médio? Lá em A Separação, na cena inicial, o juiz não tinha concedido o divórcio justamente por que a razão protestada pelo casal não era justificável. Aqui, a mulher luta desesperadamente pelo divórcio há anos mas o marido se nega a concedê-lo (em Israel, o divórcio só pode ser consumado com a permissão do homem). 

A criativa proposta do longa só nos permite ver a situação do casal no interior do tribunal. O público não sabe de nada que acontece lá fora senão pelos depoimentos de testemunhas e tal. Uma proposta que funcionou, principalmente por ter dado flexibilidade à trama dando fim às possíveis repetições que poderiam seguir caso a narrativa fosse mais aberta. A qualidade dramática é indubitável, ainda mais com um elenco desses. Desespero, angústia e insatisfação margeiam a história de Viviane e sua persistente luta pela separação, que dura um tempão. Em nenhum momento desanimei. Foi interessante, pois o filme realmente me prendeu. Quando fui tirar os olhos da tela já era o fim. Devido à tentadora proposta, alguns podem levar tal acontecimento como um mero milagre. Mas eu sou desse jeito mesmo. Alguns dirão que é parado, mas é em sua monotonia que se concentra o mais ofuscante deleite. É preciso crer no filme, deixar ele naturalmente te conduzir sem medo. 

Merecidamente indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro neste ano, e curiosamente negado no Oscar, O Julgamento de Viviane Amsalem é uma reflexão pesada e desnorteante sobre o trivialismo da justiça em um território já cambaleante guiado pela moralidade religiosa. Lugar onde a justiça só tem ouvidos para o que faz sentido, o que é certo diante das leis religiosas. Talvez não exista certamente um filme semelhante à este aqui, justo por essa questão. O Julgamento de Viviane Amsalem é um longa muito original, único, para ser comparado. Sim, comparações a A Separação de Asghar Fahradi até que possuem certo nexo, mas neste nexo possui controvérsias, já que ambos os filmes falando da separação podem ser bem próximos mas (como eu mesmo disse) são diferentes na montagem.

Tem certo momento que cansa ver toda aquela injustiça, sua duração e enorme complicação que degenera em consequências abaladoras. Mas é preciso pensar que aquela é uma observação de como reinam os princípios num espaço que ainda está atrasado. Em tempos onde a liberdade de expressão é fortemente debatida, ver O Julgamento de Viviane Amsalem rende uma excelente experiência ainda mais quando o filme aborda principalmente questões conectadas à esse tema. É claro, todos nós ficamos irritadíssimos e chocados com esse caso mas é necessário compreender a geografia e história que abrigam Israel e toda aquela região ali do Oriente Médio. Compreender no sentido de poder ter uma clara visão de toda a (inicialmente) indecifrável barbaridade. Um elenco simplesmente estupendo. As performances fascinantes de Ronit Elkabetz (Viviane Amsalem), Menashe Noy (Carmel Ben-Tovim, o advogado), Sasson Gabai (esplêndido ator, na atuação mais intensa presente - Shimon Amsalem, cunhado de Viviane e advogado de Elisha, o marido dela) e Simon Abkarian dão consistência e rigidez à perspectiva dramática da película. Vejam. Um elenco precioso, uma proposta avassaladora e uma narrativa bem-feita e esplêndida. Inegavelmente um filme pra lá de bom.

O Julgamento de Viviane Amsalem (Gett / Gett: Le Procès de Viviane Amsalem)
dir. Ronit Elkabetz, Shlomi Elkabetz - 

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Crítica: "SOBRENATURAL: A ORIGEM" (2015) - ★★


Comparado ao sucesso Sobrenatural, de James Wan (diretor de Jogos Mortais Invocação do Mal, todos os três filmes notáveis exemplos da qualidade do terror contemporâneo), Sobrenatural: A Origem trata-se de um filme bem menor. Sucedendo Sobrenatural: Capítulo 2, este A Origem, se em algumas - poucas - partes até consegue assustar, pelo outro lado é um fraco segmento sem graça, muito patético e confuso. Sem o controle de Wan, A Origem cria todo um suspense pra nada, e ainda faz o público acreditar naquele suspense até o final, que termina bem irresolvido. E esse não é o maior problema. O fracasso desse filme centra-se no inexperiente diretor Leigh Whannell (em sua terrível estreia cinematográfica) que já tinha atuado nos dois longas anteriores de Sobrenatural. Com certeza colocá-lo para dirigir esse importante capítulo da atual trilogia foi uma escolha erradíssima. 

Neste filme, Quinn Brenner, uma adolescente, vai até a casa de Elise para consultar-se com ela no fim de conseguir notícias da falecida mãe. Tal consulta é o ponto de início de uma série de desventuras e assombrações que passam a perturbar a jovem Quinn, enlouquecida com um bizarro espírito que assombra seu quarto. E o que inicialmente começa como uma transbordante proposta termina bem meia-boca e fútil. Clichês estragam todo o clima logo nos momentos mais arriscados da trama, lá para a meia hora, quarenta minutos. Esse Whannell não ajuda em nada, com uma escalação de atores bem pobres (que diabos de atriz é essa Stefanie Scott, que não sabe atuar em porra nenhuma? - perdoem a minha expressão -), se bem que a Lin Shaye não está nada mal, de novo, no papel da vidente Elise.

Nos transes da vidente, o que mais agrada aos olhos é a fotografia, sem dúvida estonteante, de Brian Pearson. Se bem que eu acho que ela poderia ser mais caprichada. À exceção das cenas onde Elise se comunica com os espíritos, a fotografia é bem monótona e repete demais fórmulas inevitavelmente entendiando o espectador. A Origem abusa de truques já conhecidos ao espectador, e o erro não está apenas nessa sentença. O grande problema é que A Origem passa a reutilizar os truques anteriormente usados, o que faz com que o filme transpareça demais maçante e perca o gosto. A Origem erra por bobagem. 

Afinal, que é esse Whannell também, hein? Que raios ele foi fazer na droga da direção desse filme? Certo que ele já trabalhou com Wan em outros filmes além deste, e pode ser bem possível Wan ter deixado a direção deste longa em suas mãos depois que foi selecionado para dirigir Velozes e Furiosos 7 neste ano. Mas que diretor ruim esse! Colocasse até a Shaye pra dirigir, mas esse? Puxa, foi um tremendo erro. E não bastava colocar esse demente para dirigir o filme. Ainda tinha que deixar a droga do roteiro nas mãos dele! Bem, o resultado é evidente: uma trama descomprometida, sem freio, à beça depreciativa e chatíssima. Apenas peço para nunca mais ter que topar com um filme dirigido por esse Leigh aí. Se bem que a surpresa é o fracasso do roteiro, por que ele tem bons títulos como roteirista, que incluem os dois primeiros filmes de Sobrenatural e Jogos Mortais. Será que a inexperiência na direção foi a chave do total desnorteamento da direção e roteiro? 

Até agora estou um pouco tonto. Será que só eu que não achei um pingo de graça em A Origem? Até o meio do filme, tudo legal no quesito terror, mas a repetição dos truques enjoa. Para o pequeno público que estava sentado à minha frente não parecia não. Dava pra ouvir os sussurros: "Socorro!", "Ai meu Deus!" e tal. Tinha um homem lá na frente (não sei como ele ouvia) que deu um "shiu!" e todo mundo parou. Mas achei estranho essa animação daquele grupinho. Enfim, só sei que nos momentos finais deu uma tremenda vontade de urinar e eu só faltava sair da sala, mas como eu sou muito neurótico com essa coisa de perder cenas e falas e faltava menos de dez minutos para o fim do troço, fiquei. Esperava mais, pelo menos, do final. Não sei por que lembrei de Arraste-me para o Inferno, outro grande terror atual. Enfim, lembrei e criei expectativa (o motivo igualmente desconheço) de ver um final parecido com o final lá do filme do Raimi. E me decepcionei pra caramba. Enfim, não gostei não. Poderia ser bem melhor do que foi. Elenco shit, direção e roteiro pouco valorizados, uma fotografia mediana - salva pelas cenas das paranoias de Elise - e uma protagonista tão ruim que dói. 

Sobrenatural: A Origem (Insidious: Chapter 3)
dir. Leigh Whannell - 

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Crítica: "O EXTERMINADOR DO FUTURO: GÊNESIS" (2015) - ★


2015 trouxe consigo muitas sequências. Mad Max - Estrada da Fúria, Jurassic World - O Mundo dos DinossaurosMissão: Impossível - Nação SecretaVingadores: A Era de Ultron, Velozes e Furiosos 7 isso sem falar nos que ainda virão, 007 Contra Spectre, Star Wars: Episódio VII - O Despertar da Força. Hoje eu vi O Exterminador do Futuro: Gênesis, que chegou aos cinemas nacionais no mês passado e cujo creio que é a maior decepção deste ano essencialmente no que diz respeito à segmentos (se bem que o ano nem acabou, então essa afirmação não pode ter 100% de cabimento, mas tenho certeza de que não estou errado). O quinto filme da franquia que levou Arnold Schwarzenegger ao sucesso em 1984 com o longa O Exterminador do Futuro, considerado por muitos um clássico, é um fracasso assustador. Por que não? Vi tanta gente elogiando o filme, mas não consegui segurar o ódio enquanto via. Respeito quem gostou, mas sofri demais assistindo. Sono é pouco. No fim da sessão, as dores nas costas e na região do pescoço só conseguiam dirigir meus pensamentos a uma frase: "Deveria ter trago uma almofada".

"Velho, mas não obsoleto". O bordão de Arnold no filme talvez seja uma clara indireta à carreira do ator e à chegada da velhice para ele. Recriaram seu personagem mais jovem por animação, algo que muito bem, talvez, se encaixe ao respectivo bordão e que ficou bem estranho. O mais chato de Gênesis é que preza pelo bom senso de humanidade e sensibilidade do espectador de uma maneira totalmente não-convincente e perpetual, tortuosa. Um truque para chamar a atenção, que põe tudo a perder e logo nos momentos iniciais promove o cansaço. Se bem que eu nunca fui muito atraído por essa franquia. Sequer gostei muito de O Exterminador do Futuro, então essa minha implicação com o filme pode estar relacionada à minha falta de apreciação. Mas a verdade é que eu não gostei mesmo deste aqui. Tudo soa como uma propaganda moral sobre o apocalipse e as consequências da revolta, e por aí começa o enjoo.

Outro erro de Gênesis é seu complicado roteiro, que exagera interminavelmente na conduta e nas minúcias, resumindo: bagunçado. Da autoria de Laeta Kalogridis (que fez Ilha do Medo) e um completo desconhecido, Patrick Lussier, esse roteiro me causou muita dor de cabeça. Repetições só dão nós, complicam o entendimento e logo transformam uma história capaz em conteúdo meramente inútil. Apesar do bom humor, o elenco também mostra-se demais fraco. Em determinadas partes, nem Arnold cativa mais. Performances vazias, também inúteis. Triste ver essa situação. Na verdade eu não conhecia metade do elenco aqui presente. Emilia Clarke só mesmo lá no Game of Thrones. Arnold, J.K. Simmons, Jason Clarke, Jai Courtney (só conheci por que fez Divergente Invencível) e o resto é tudo indigente pra mim. Elenco bem fraco, muito fraco para o que eu esperava.

Nas mãos de Alan Taylor, diretor de televisão inexperiente com o cinema, a incompetência reina em Gênesis. O fracasso de Taylor é tentadoramente inegável. Mesmo que tenha dirigido boas séries, como The Sopranos e Mad Men, no cinema Alan mostra que seu lugar é lá mesmo, e que não devia ter saído dos estúdios da HBO. Imaturidade, no entanto, não é a palavra certa para descrever essa falha cometida por Alan. Fracasso talvez seja a descrição mais adequada mesmo. Um pedante fracasso.

Que fique bem claro: odeio filmes que tendem a soar demais artificiais. E Gênesis é o mais completo exemplo da minha fúria relacionada à eles. Nunca fui muito familiarizado com efeitos visuais. Mas Gênesis possui naturalmente uma aparência tão artificial que chega a dar pânico. Nem comentarei os clichês (até por que num filme-bomba como esse não poderia faltar clichê, e não faltou). Gênesis, como eu mesmo já disse pode ser um filme até engraçado, mas no fim vira nada. Você começa e termina o filme indiferente. E a duração de duas horas não ajuda em nada. Reforça meu tédio e desgosto.

O Exterminador do Futuro: Gênesis (Terminator Genisys)
dir. Alan Taylor - 

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Crítica: "ELA" (2013) - ★★★★★


Belamente romântico e inesquecível, Ela me chamou ontem para uma revisão mais que obrigatória e eu tive que aceitar muito logicamente. Tal revisão rendeu mais do que eu imaginava, já que fazia quase um ano que eu tinha visto Ela, e ficado profundamente apaixonado pela obra de Spike Jonze. Um light futurista ainda que impactante e muito intenso, Ela narra a vida de um escritor de cartas chamado Theodore, que se apaixona e cria uma relação excessivamente afetiva com um sistema operacional de inteligência artificial que é capaz de sentir e conversar com o dono, além de realizar várias tarefas computacionais. Inicialmente sem acreditar, Theodore, à medida em que a sua existência passa a depender da existência de Samantha, vê que é impossível deixá-la de lado. 

O romance de Theodore e Samantha também muito nos faz questionar. Angustiado e reprimido pela falha de relacionamentos anteriores, Theodore é um cara sozinho, de poucos amigos, que encontra na tecnologia um refúgio irreparável. A chegada de Samantha faz com que a sua visão do mundo se renove, e ele passa a se adaptar das condições do sistema operacional como humanas. A fantástica realidade de Samantha inspira e agrada o melancólico Theodore. Ao mesmo tempo em que você consiga muitas das vezes se relacionar com a relação deles, é triste ver a solidão que acomete Theodore, e a falta de rumo que o mundo futurista abriga. Sem a tecnologia, diante daquele final inegavelmente chorável, o mundo mergulha num estado bem "pra baixo". Afinal, seremos daqui a alguns anos desse jeito? Tão solitários a ponto de precisarmos de um computador para satisfazer as nossas energias amorosas? Eu gostaria, na verdade, de ter uma experiência do estilo. Theodore e Samantha parecem como um casal qualquer. E seriam se o fato dela ser um computador fosse revertido. É apenas isso. Como ela mesmo protesta pelo filme todo, só lhe faltava um corpo.

Será o fim do relacionamento entre humanos? A perfeição da tecnologia superará algum dia a força da paixão? Impossível isso em nenhum ponto é. Vale esperar. Ver Ela é o mais próximo possível da observação de um relacionamento amoroso entre robô e homem. Spike Jonze grita incansavelmente: "Chega dessas ficções-científicas que apenas procuram explorar um mundo em evolução dentro de um inesperado conflito com a extrapolação de um determinado sistema. Aqui vos trago nutrida de um novo ideal, uma comédia romântica com perspectivas voltadas para o amor no futuro. Mais especificamente, o amor entre máquinas e homens no futuro". Parece que é assim. E o melhor: é assim. 

Depois de filmes como Quero Ser John Malkovich, Adaptação e Onde Vivem os Monstros, Spike nos apresenta, sem nenhum Charlie Kaufman para botar defeito qualidade, sua visão: simples assim. E o que é melhor do que uma visão sobre um romance de origens mais complexas e menos remotas? E além disso ele mostra que sem a ajuda desconcertantemente benéfica de Kaufman consegue se virar, à seu jeito. Se com Kaufman seus poucos filmes já eram maravilhas divinas, Ela, que segue Onde Vivem os Monstros (também sem Kaufman), são dotados dessa maravilha divina com algo a mais. Algo mais Jonze excedido da genial loucura de Charlie. 

Ver o cara mais difícil ora bizarro de Hollywood encarnando um personagem tão delicado - talvez o mais delicado de sua carreira - pode render aplausos intermináveis se considerado que além dessa personagem a performance por trás dela é ainda triunfal e talentosa. Joaquin Phoenix (sempre erro o sobrenome, mas acho que agora tá certo), aquele lá da entrevista do David Letterman, apresenta um lado bem romântico de sua persona relaxadona, algo que fora muito bem explorado em filmes como Johnny & June, AmantesO Mestre e o recente Vício Inerente, mas não da forma que aqui é exibida. A mais doce, (mais ou menos) pura e bonita forma. Phoenix é mesmo um ator encantador. Difícil, mas extremamente encantador. 

E Scarlett. Ninguém verá a sua imagem nua como foi pela primeira vez visto lá em Sob a Pele, muito menos a transformação científica-sobrenatural da Lucy, nem as belas sedutoras criadas por Woody Allen feitas pela mulher do século em Vicky Cristina Barcelona Scoop - O Grande Furo. Mas, se nem o rosto dela aqui vemos, somos fragilmente sensibilizados e hipnotizados por sua memorável e aquecedora voz. Nada mais romântico, não? A voz de Scarlett e só apenas é suficiente para levar o espectador ao mais profundo estado de comoção apenas nos primeiros segundos. É demais para o coração. E esse personagem, a Samantha, torna-se um dos melhores da bela Johansson, mesmo na ausência de um rosto ou belas curvas para logo eletrizarem o espectador na primeira vista. 

Amy Adams também é ótima. Rooney Mara, Olivia Wilde... Tanta mulher bonita reunida num só lugar. Coube à Jonze dar o papel de Samantha para Scarlett. Se funcionou? Bota funcionou nisso. A fotografia de Hoyte van Hoytema, em cores leves, traça o futurismo da história e do romance de maneira avassaladora. O roteiro e a direção de Spike Jonze revelam o melhor e maior dele, em seu brilhante momento de liberdade afastado da enlouquecedora frenesi Kaufmaniana. Se ao lado do "Woody Allen 2" ele já era sensacional, imagine agora sem ele. Se havia medo, a surpresa logo o minimiza. Esse aprendiz de Kaufman ainda nos comoverá mais. Depois de Ela, fica a prova. 

Ela (Her)
dir. Spike Jonze - 

domingo, 16 de agosto de 2015

Crítica: "MISSÃO: IMPOSSÍVEL - NAÇÃO SECRETA" (2015) - ★★★


O melhor filme da franquia praticamente desde o primeiro, se há uma missão impossível relacionada à Nação Secreta é não gostar dele. Tom Cruise num retorno absolutamente impecável, o qual nos devia faz muito tempo. Direção e roteiro invencíveis de Christopher McQuarrie, aquele lá que escreveu Os Suspeitos em 95. A fotografia de tirar o fôlego de Robert Elswit, aquele lá que fez Sangue Negro e o filme anterior à esse da franquia, Missão: Impossível - Protocolo Fantasma. A trilha sonora sempre marcante de Joe Kraemer, que segue a reta do velho tema de Missão: Impossível, inconfundível. Embarcando em mais uma perigosa e impossível missão, Ethan Hunt num sense aventureiro que a cada filme da franquia nos faz perder o chão, é motivo de adoração. Ainda que eu prefira 007 e enquanto o próximo filme de meu agente predileto não chega, esse novo Nação Secreta é motivo de comemoração, e logo chega saciando minha sede por Bond.

Talvez um dos mais bem-filmados filmes de ação dos últimos tempos, embora tal posição evidentemente seja liderada por títulos mais fortes como Mad Max: Estrada da Fúria Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros cujos respectivos efeitos só de falar já causam tremores, Nação Secreta não se distancia muito deles não. É competente, cumpre o que promete, faz a sala do cinema pegar fogo durante os segmentos mais intensos e injeta com força adrenalina no espectador, que não fica em paz por um único momento durante a projeção. Nação Secreta, mais do que um bom filme é um ótimo exemplo de como se faz ação de verdade. E que venham mais filmes como esse. Acho que posso estar errado dizendo que existirá alguém de seu porte mas, que venham novos atores com performances igualáveis à de Tom Cruise, e acompanhado deste ator um elenco tão espetacular como esse. A experiência de ver Nação Secreta é assustadoramente preciosa e sensacional. É bom criar essa esperança favorecendo um novo filme não da franquia, mas que seja parecido em certos aspectos com esse. Na hora certa, quando esse filme chega, a sensação de satisfação chega a ser mais agradável do que a própria realização.

Na primeira cena a poltrona já começa a vibrar. Ethan pula na asa de um avião enquanto um agente tenta abrir a porta para ele entrar. Durante a decolagem, Ethan, agarrando uma pequena passagem no avião, entra de uma forma bem tresloucada no interior. A sequência apenas vem para (alertar e) preparar, por que o que vem à frente ao lado dessa "pequena" sequência de abertura não é nada. Outra sequência de matar é a da ópera, em Viena, onde Hunt inicia uma luta com um homem logo acima do palco onde a ópera é realizada e nesse mesmo período dois atiradores preparam-se para atirar no chanceler da Áustria, que está presente na apresentação, e o ajudante de Hunt começa a ter alguns probleminhas. Tensão, pânico e adrenalina são apertados com força nessa cena em especial, que a minha favorita de todo o filme e onde a fotografia de Robert Elswit é colocada à prova e o resultado, avassalador.

E olha que eu nunca fui e muito provavelmente não serei um propriamente dito fã da franquia Missão: Impossível. Vi o primeiro só por costume, e os outros seguintes também (e esse, né?). Mas não nego que gosto da franquia. Há alguns deslizes (Missão Impossível III) mas em geral trata-se de uma ótima franquia, com filmaços de qualidade como este aqui. Não faz o meu tipo, mas me agrada. Os segmentos de ação me eletrizam e impactam demais. Está longe de fazer o meu tipo. Sou mais para 007, entende? Missão: Impossível muito embora não possua o charme da grande franquia do Bond, que eu já citei neste post antes (minha teoria é a ansiedade para vê-lo em novembro), mas o quê espionagem de Hunt lembra 007 e toda a sua franquia embora não seja exatamente igual ou que exerça o mesmo estilo. Hunt e Bond são personagens distintos, mas que remetem um ao outro caso vistos. Também nunca gostei muito de Tom Cruise. Seu jeito "cafajeste" e galã pouco me chamavam a atenção, e sempre tive um certo desgosto por ele. E talvez esse seja o motivo pelo qual tanto não consigo me sentir confortável, de uma maneira, o vendo fazer Hunt, embora sua performance seja inegavelmente plausível.

Muita gente vive dizendo que o melhor filme desta franquia é Protocolo Fantasma. Respeito essa posição diante do longa que mais arrecadou dinheiro da franquia, e que também não é tão ruim, mas ao lado de Nação Secreta, Protocolo Fantasma não é nada. O roteiro deste aqui, bem mais elaborado e inteligente, ultrapassa a qualidade do outro, sem querer difamá-lo ou tão (se é essa a impressão que vos passo falando tais coisas). Afinal, temos no roteiro, e na direção, McQuarrie, que já foi um bombadíssimo roteirista e pode muito bem retomar essa posição caso continue fazendo mais filmes como esse aqui, que sem dúvida é o seu melhor trabalho em anos, desde o já mencionado Os Suspeitos.

Missão: Impossível - Nação Secreta (Mission: Impossible - Rogue Nation)
dir. Christopher McQuarrie -