Nos deixou ontem aquele que é o
definitivo mestre do terror moderno, Wes Craven. Em homenagem à ele e em
recordação de seu extenso legado, vejo A
Hora do Pesadelo, considerado por muitos seu melhor filme e um clássico do
gênero que tanto o diretor trabalhou e revolucionou. Não tendo visto a completa
filmografia do diretor, não posso discordar de nada em que A Hora do Pesadelo é um de seus melhores filmes. Tenho uma colega
que idolatra muito esse filme e na escola fez um trabalho sobre ele. Na época
que ela o fez, não tinha visto o filme. Fui ver pela primeira vez na TV, há uns
dois anos atrás, e se eu não me engano passou no Corujão, na alta madrugada.
Cagar nas calças é pouco.
A
Hora do Pesadelo
começa como quem não quer nada, bem manso. A primeira cena mesmo não chega a
ser tão terror. O pior (melhor) segue ela. Mesmo com o notável baixo orçamento,
o terror não morre. E isso é o que vale em A
Hora do Pesadelo. Afinal, essa é a proposta de Wes. Caso contrário,
provavelmente não funcionaria. Mas o que importa é que funciona. A
pseudo-fábula de Wes que ganha um final controverso mas auto-explicativo ao
mesmo tempo só tem a ganhar. Seu irrealismo faz uma perfeita conexão com a
chamada “ciência dos sonhos” abordada num dos diálogos de Nancy com o namorado,
feito pelo iniciante Johnny Depp, ainda adolescente. A narrativa é eficiente, e
mesmo que não faça sentido para alguns é inegavelmente horripilante.
Não é só o Johnny, mas A Hora do Pesadelo, bem no fundo, me
lembra Edward Mãos-de-Tesoura, que eu
particularmente gosto bastante. A popularidade de ambos os filmes assim como
também são de uma ótima qualidade levam à tal comparação. Embora não possuam o
mesmo gênero, se passam no mesmo espaço, o subúrbio. Tem o Depp. Enfim, não
pude deixar de lembrar por algum motivo. Caso comparado com o mágico Edward, A Hora do Pesadelo nesse quesito sai perdendo. A magia confortante
e quase lúdica da grande obra de Tim Burton é incomparável ao eletrizante
terror que reina nesta outra grande obra, desta vez do finado Wes Craven.
Poucos filmes que eu vi, creio eu, foram
capazes de produzir e visar o mesmo impacto de A Hora do Pesadelo. Pode parecer exagero, mas o clima
desconcertante do filme é de uma profundeza tão absoluta, mesmo que às vezes
soe demais superestimada, que somos meio que obrigados a acompanhar a frenesi
que o dirige em sintonia com seu explícito horror até os momentos finais. Em
todo caso, é uma obra genial. Vale lembrar que esse clima vem acompanhado da
maravilhosa e tenebrosa trilha sonora de Charles Bernstein.
Chega a um momento em que um simples
estalar que não está nem mesmo conectado ao clima fornecido pelo movimento da
trama já faz você vibrar. E é desse tipo de filme que eu gosto. (alerta de spoiler) O final de A Hora do Pesadelo serviu de influência ao final de outros filmes.
Em Arraste-me para o Inferno, o final
foi adaptado, mas a clareza dos elementos não deixou dúvidas. Há outros mais filmes que seguem a mesma
técnica de A Hora do Pesadelo, e
quando um filme ganha tanto reconhecimento e crédito por sua qualidade vale sim
chamá-lo de clássico. Há filmes que não passam de dez anos e já são
considerados por muitos os melhores já feitos (me inclua nessa lista de “muitos”).
Filme não tem idade, e enquanto não deixarem de criar falsos estereótipos sobre
clássicos essa verdade ficará restrita. Há clássicos atuais e clássicos antigos
e ponto final.
O espírito trash de A Hora do Pesadelo vira
um charme adicional e me deixou bastante comovido. É um filme sem dúvida alguma
excelente, um dos melhores terrores já feitos. Vale ser visto e revisto. Foi
muito popular no mundo inteiro em sua estreia, e as gerações dos anos 80-90,
que acompanharam a franquia, mas nos últimos tempos veio perdendo a força.
Dessa forma, a nova geração que chega desconhece a existência do Freddie Krueger, e com certeza perde uma das experiências mais assustadoras de
suas vidas. Uma lástima. E a invejável genialidade de Wes Craven. Sentiremos
saudades deste que é um autêntico mestre e merece dignamente tal posição. Obrigado
Wes por ter originado e então nos dado este que é um verdadeiro exemplo de como
se faz um bom e apavorante filme de terror.
A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street)
dir. Wes Craven - ★★★★★