sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Crítica: "JIMMY'S HALL" (2014) - ★★★


Ken Loach, diretor do ótimo Ventos da Liberdade, e de outros filmes de sucesso como À Procura de Eric e The Angels' Share, se não chega a ser melhor do que foi em Ventos da Liberdade neste Jimmy's Hall, alcança, pelo menos, uma indubitável qualidade técnica, que encanta e maravilha. A cinebiografia de Jimmy Gralton, um incansável revolucionário irlandês, dono de um salão, que gerou polêmica na época por conta de sua liberdade de expressão, e uma liderança que apoiava os menos afortunados, é um filme belo, bem-feito, e rigorosamente épico, mas que muito raramente ultrapassa essa descrição. Em certas partes, Jimmy's Hall erra feio, aborrece o espectador e perde o controle. Mas é por pouco tempo. Porém, nada, nem tais pequenos e míseros difamadores detalhes, atingem a quase-perfeição do longa.

E, muito logicamente pelo elenco sensacional, até fica difícil discordar de Jimmy's Hall, que é um filme bem interessante. Pelo que eu já tinha lido a respeito do filme, muito esperava ver um novo Ventos da Liberdade, que deu a Palma de Ouro à Ken Loach em 2006, e que também trata-se de meu filme predileto feito por ele. Infelizmente, não é tudo o que eu esperava, mas satisfaz mais por conta da sua estrondosa profundeza técnica, cuja experiência me é indescritível, e até agora me fascina. Os figurinos supremos, a direção de arte excepcional, a fotografia lindíssima... Não entendo o motivo de um filme deste porte ter sido descartado tão descaradamente, lembrando que Jimmy's Hall, à exceção de sua apresentação em Cannes ano passado, ficou bem excluído do circuito cinematográfico mundial, já que teve uma curta exibição no Reino Unido, e uma estreia às cegas nos E.U.A.

No entanto, teve a chance de chegar ao nosso circuito a tempo. E eu me sinto muito orgulho disto, apesar de tudo. Jimmy's Hall estreou ontem nos cinemas. Estava tudo planejado para ver ontem, já que eu mesmo tinha perdido a oportunidade de ver a pré-estreia antes. Só deu hoje mesmo. E foi bom demais. Jimmy's Hall possui uma história bem cativante, e produtiva, mas surpreendentemente desaponta em alguns traços, e só não é tudo aquilo por falta de mão na massa. O roteiro de Paul Laverty, frequente colaborador de Ken, possui uma estrutura bem estável, mas ainda não sobrevive aos estilhaços da bomba que encarna. Senti, por muitas vezes enquanto via Jimmy's Hall, que algo não estava batendo. O ritmo do roteiro não estava, por mais estranho que essa afirmação soe, no mesmo ritmo do filme. Houve um rompimento, um desaceleramento, e o roteiro se perde automaticamente. Esperava mais de Paul. Ele coloca coisa demais no roteiro, que é útil, mas parece que tal adição de informação só serve para preencher a falta de credibilidade existente na função de melhor adequar o conflito.

Com certeza, não é o melhor filme de Ken, mas é uma preciosidade que só. Ao voltar dos E.U.A., onde ficou por um tempão, Gralton, já reconhecido por sua fama de "sem limites", tendo ele mesmo, antes de ter ido à América, fundado o salão multi-uso (dança, artes, poesia...), que principalmente protestava a favor da liberdade em meio à uma problemática Irlanda, decide reabrir o salão, algo que inicialmente provoca a quieta ira dos religiosos e afins, e, o que inicialmente instalou-se tranquilamente, sem nenhum efeito brusco, repentinamente ganha proporções maiores quando a paróquia do pequeno vilarejo rural começa a denunciar e delatar os frequentadores do "Salão do Jimmy" nas missas locais, junto com outros locais da diocese, algo que apenas tende a espalhar a ira dos moradores e a má fama de Jimmy.

O estilo de Ken Loach, que enquadra-se apropriadamente aos padrões de um épico, é fortemente reconhecível aqui em Jimmy's Hall, e a fotografia exuberante e luxuosa de Robbie Ryan, em um complexo mix com esse estilo de Loach, só reforçaram minhas lembranças de Ventos da Liberdade, que me deixou bem mais seguro e confortável durante a sessão de Jimmy's Hall. A trilha sonora, autoria de Mike Andrews, é excelente, e os tons de um jazz bem requintado fizeram meus olhos dançarem suavemente. As performances de Barry Ward, como Jimmy, Simone Kirby, sua antiga amada, e Jim Norton, como o padre Sheridan, merecem destaque dentre as outras mais triunfais atuações deste elenco talentoso.

Jimmy's Hall
dir. Ken Loach - 

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