Embora essa característica também exista no primeiro longa, é aqui em Ted 2 que ela revela seu auge. Esse recém-surgido cinema de Seth MacFarlane leva consigo uma peculiaridade que arrancou elogios de muita gente, mas me deixou baita irritado. Difícil de descrevê-la, apenas digo que faz com que seus filmes fiquem semelhantes demais aos episódios de Uma Família da Pesada (trabalho pelo qual ele é conhecido) e outros desenhos adultos dele, cuja narrativa é sequenciada de uma forma bem inusual, como se fossem esquetes dentro da própria história. Lá na TV isso até funciona como marca da produção dele, mas no cinema fica estranho, por que misturado à repetição e à falta de síntese da criação vira uma bagunça incompreensível.
Achei que riria mais com este Ted 2, que é fraco e não acompanha o mesmo clima do primeiro, original e divertidíssimo. E este, no fundo, é divertido, só que não tanto quanto Ted. Não falta criatividade, mas o problema é que Ted 2 só é mais uma versão de Ted, com algumas mudanças, mas com a mesma dose do humor politicamente incorreto e das piadas insanas - o que traz certa comédia, mas não ameniza o amargo gosto do fracasso, infelizmente. Seja intencional ou não da parte de Seth ter incluído essa característica, pra mim ela não reproduz a menor graça, no cinema.
Em Ted 2, o ursinho de pelúcia se casa com a namorada, Tami-Lynn, enquanto John está divorciado de Lori. Após um ano de casamento, Ted vê que nada está dando certo até que é aconselhado por uma caixa para ter um bebê com Tami-Lynn no fim deles dois se reconciliarem. A ideia até ajuda na relação, mas vai por água abaixo quando o governo fica à par da situação e acaba não só ilegalizando o casamento do ursinho com a ex-prostituta como também impede que eles adotem um filho (Tami-Lynn é infértil - seu útero, por conta da antiga atividade que exercia, perdeu a capacidade de reproduzir impedindo a inseminação artificial). Ted, a esposa e John vão à justiça para lutar contra essa ação, e acabam encontrando muita confusão. Ora cômico, ora embaçado, esse humor que impera em Ted 2 inicialmente disfarça bem a falta de imaginação, mas a ficha cai com a sucessão dos eventos.
Se Ted debatia sobre a falta de maturidade, o segundo fala principalmente sobre o sistema americano de justiça, muito controverso e questionado nos dias de hoje. A questão do casamento da Tami-Lynn e do Ted lembra muito o recente episódio que legalizou a união matrimonial nos Estados Unidos, ainda mais quando lá no início, na festa do casamento, tal capítulo pode ser visivelmente influência acidental de uma fala, na qual Ted fala com um amigo homossexual do John e pergunta sobre um possível casamento com o novo namorado dele. Mais pra frente Ted, durante o julgamento, faz um discurso sobre a injustiça nos E.U.A., e como ele faz parte do grupo que incluí gays que são reprimidos pelas leis deles.
Se no fundo não é nem um pouquinho convincente e reproduz clichês descarados do primeiro, Ted 2 é engraçado em partes, e nisso pode satisfazer o público. E se você tem queda por piadas infladas sobre cultura pop, Ted 2 tanto quanto o primeiro é o lugar certo. Muita gente riu. Eu ri, em determinados momentos. Como eu disse, não esperava que fosse melhor que o primeiro, mas talvez mais engraçado, e me decepcionei nisso. Amanda Seyfried, depois da parceria esquecível com Seth em Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola, retorna ainda rarefeita, fracassada. E nunca fui com a cara dela mesmo, então aceitá-la ainda mais aqui fica bem difícil. Vá lá: entre Amanda e Kristen Stewart, até com todo o seu melancólico ar adolescente inconfundível e quase irreparável, fico com a segunda. A pop teen de Mamma Mia! quer ser alguém, mas a aparência de patricinha e inquebrável destrói toda a sua chance de ser importante, na minha mais completa opinião. Então, se você quer rir, Ted 2 pode ser fantástico. Mas se você quer ver algo realmente bom, Ted 2 não causará muita surpresa.
Ted 2
dir. Seth MacFarlane - ★★
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