Uau. Mesmo que eu idolatre freneticamente O Sexto Sentido como o melhor filme de M. Night Shyamalan, tal posto muito bem pode ser ocupado por A Vila, que me deixou bem mais surpreso e mobilizado, apesar do final surreal que o grande clássico do cineasta leva. E os motivos são muitos. A Vila não só capricha num roteiro extraordinário, que tende a ser a marca registrada dos filmes de Shyamalan, como também é um trabalho máximo da curta filmografia do diretor, que em outubro nos apresentará mais um filme, A Visita.
Se no fim A Vila não é tão tenebroso ou assombroso como as expectativas já protestavam, guarda consigo uma mensagem muito profunda e bem feita. Mas visto de um ponto mais literal A Vila não foi feito para assombrar. Certo que em determinados momentos do filme dá um medo lascado, só que não é por muito tempo. É só pra dizer que teve um pouco. Como já é conhecido da parte do diretor, A Vila usufrui do inteligente twist ending, a especialidade do mestre em questão, já experimentada em O Sexto Sentido e outros. O twist ending especificamente de A Vila não só abrange um amplo significado em sua inteira composição, de uma forma distinta dos outros filmes do diretor quero dizer, como é uma espécie de evolução. A decisão do diretor diz muito pelo filme, e isso é uma das melhores coisas dele. Bem, vou parar de falar por aqui para não dar um spoiler attack.
E vocês não imaginam a minha luta para achar essa cópia de A Vila... Tenho uma sorte incrível para achar filmes impossíveis de se achar. Embora seja muito fácil encontrar A Vila na internet, todos os sites em que achei o filme é dublado e sou bastante enojado com isso. Encomendei com um amigo que trabalha numa locadora para ver se ele podia achar o filme pra mim e passá-lo para um DVD virgem, isso há aproximadamente um mês (ainda estava de férias). Foi nesse sábado ele me contatou pela rede social e me disse que tinha achado a bendita cópia com outro amigo, e tinha feito outra no DVD virgem que lhe dei. A sensação de alívio e prazer que te invade nesses momentos é de uma perfeição surreal e indescritível. E não é a primeira vez não. Olha, há razão em falar que eu tenho alguns momentos de azar em minha vida, mas é raro em minha cinefilia. Se há algo faltando em minha cinefilia é azar (e que continue faltando, por favor).
O maior televisor aqui da minha casa é ainda de tubo, Philips, que fica no quarto dos meus pais. Não estou cego nem nada do tipo (a correção da minha miopia está em andamento) mas acredito que a qualidade desse televisor médio, que não é nem tão grande assim, é excepcional. O modelo é o "Power Vision Stereo", e sem dúvidas funciona perfeitamente. Enquanto isso, meu novo aparelho de DVD, que foi trocado, fica com uma qualidade horrível no televisor LCD (vai saber porque!). Certamente ver este filme no cinema resultaria numa belíssima experiência, mas não torna dispensável a sessão dele na TV tubo, que foi incrível. Nunca fui de confiar nesses padrões da TV, mas ajustei em "cinema" e a imagem ficou maravilhosa. O imbatível Roger Deakins melhor como nunca, dando-nos uma prova simples e justa de seu incalculável legado. A câmera não se movimenta muito. Baseia-se em um ou dois enquadramentos no máximo por cena, com breves exceções em outras. Alguns ângulos, a maioria deles frontais e de cenário, limitam inicialmente alguns segmentos do enquadramento perfeito, mas o final responde por esses enquadramentos de uma forma brilhante. Seria um erro catastrófico deixar de reconhecer a visionária perspectiva e direção de M. Night Shyamalan (hoje eu tô spoilerento que só!).
O "elenco de primeiro mundo" também recebe a autoria dos méritos de A Vila: a protagonista Bryce Dallas Howard, naquela época com pouquíssimos papéis no cinema, é certamente a grande revelação de todo o filme, e sua atuação é de uma riqueza tão natural e indestrutível que emociona lembrar dela em ação. Adrien Brody, um formidável e competente coadjuvante (agora sim, spoiler) no papel mais arrasador da trama, e sem dúvida vilanesco. Joaquin Pheonix também não está de se jogar fora. William Hurt, em uma ou duas cenas, dá um show também. Certamente esperava mais da Sigourney Weaver, que aparece pouco nos tão poucos mas suficientes 100 minutos deste longa. Ah, a história? Moradores de uma vilinha isolada temem por um monstro que habita uma mística floresta, a única coisa que destrói a segurança do local. Até que dois moradores, em uma simples busca, iniciam uma jornada adentro à floresta. Simples não? Pois é. A complexa e multifacetada fábula metafórica que se esconde por trás dessa simples sinopse é delirante e surpreendente, e transforma A Vila num dos melhores filmes dos últimos tempos e um trabalho miraculosamente bonito. E, em consequência, seu criador é quem recebe todo o crédito por seu esmerado e genial talento.
A Vila (The Village)
dir. M. Night Shyamalan - ★★★★★
Nenhum comentário:
Postar um comentário