sábado, 22 de agosto de 2015

Crítica: "O CASAMENTO DE RACHEL" (2008) - ★★★★


Eu gostava bastante da Anne Hathaway. Melhor: eu gosto. Mas, em uma certa época da minha cinefilia, faz uns três anos, eu era um grande fã dela. Seus atraentes carisma e talento me encantaram tanto àquela altura que por um curto tempo ela tornou-se minha atriz predileta. De longe, o empenho dela é perceptível, e esse talento dela é muito bem explorado em filmes como Os Miseráveis, Amor e Outras Drogas, O Segredo de Brokeback Mountain e neste O Casamento de Rachel, que há tempos queria ver. Talvez não seja o melhor filme da atriz, apenas superado por Os Miseráveis, mas fica em segundo lugar com todo o prestígio e crédito. Desfigurada, perdida, sem rumo e terrivelmente desequilibrada, a personagem de Anne tenta pedir o perdão da família por um fatídico erro do passado, mas as coisas, com a sua chegada, só ficam mais turbulentas ainda mais quando os preparativos para o casamento de sua irmã Rachel vão se intensificando. 

Estrondosa é pouco para qualificar o gigantesco valor da atuação de Anne Hathaway. Maravilhosa, estupenda, memorável, absurdamente emocionante e eletrizante. A Kym de Anne vem para cima do público como uma onda imbatível desvencilhando-se de um mar pouco agitado. A sensação de tensão não demora para preencher a tela e desnortear o público. O casamento da irmã é só um disfarce. Por trás dessa especial data segredos de família gritam no escuro pela salvação, pela libertação. Não demora nada para que Kym comece a desapontar a todos e manchar sua própria imagem. Na verdade, é Kym que ainda não percebeu que deve mudar de posição, assumir novos ideais para sim chegar ao seu objetivo. Kym ainda está presa no passado. Ainda é uma adolescente reprimida transbordando de culpa, fúria e um implacável medo. E o pior é que a coitada está sozinha nessa missão. A família pode estar presente, mas todos parecem demais ocupados para cuidar dela. Kym terá de reencontrar seus próprios valores sozinhas.

Afinal, todos cometemos erros. E não estou falando que eles necessariamente precisam ser perdoados. Erros não são erros sem circunstâncias. Os atos de Kym podem ter transformado a sua vida num inferno para sempre, mas este caminho foi costurado por outros episódios piores que antecederam o seu auge. Nada é ao acaso. E não adianta nada culpar depois do acontecido. Já era. Até os acidentes possuem motivos, lá no fundo. Afinal, quem é que pode julgar o outro neste mundo? Não podemos limitar a nossa atitude diante de uma certa situação por coisas menos evidentes. Ser racional pode tanto ajudar quanto prejudicar. É mais fácil enfrentar: não tem mais volta. Muita gente acha que sofrendo encontrará o caminho para a redenção. Muitas outras acham que sofrer só trará mais angústia. Qual dos rumos devo eu seguir? Afinal, quem sou eu para aconselhar? Não posso e ninguém pode me julgar. Acabou. Erro é erro. Não dá pra refazer, alterar. Pronto. 

Acho que a sessão veio a calhar no momento, uma vez que Ricki and the Flash acabou de estrear nos E.U.A., e eu tenho criado muitas positivas expectativas sobre o novo longa de Demme estrelado por Meryl Streep. Será tão bom quanto esse O Casamento de Rachel? Posso apenas dizer que dirigindo este drama familiar acentuado, esse longa aí com a Meryl roqueira ou o delirante suspense O Silêncio dos Inocentes, Jonathan é excelente. E, de sua extensa filmografia, O Casamento de Rachel é um destaque sem antecedentes. O roteiro da novata, dotada de uma sensibilidade nata e uma inteligência elogiável, Jenny Lumet (a dotadíssima filha de Sidney Lumet) é ótimo. O final altera completamente as regras do jogo sem deixar nenhum rastro defeituoso, o que é uma baita sacada de mestre. A fotografia de Declan Quinn (um provável especialista em filmes de casamento, uma vez que foi diretor de fotografia de Um Casamento à Indiana) é muito bem executada, com cortes bem estabilizados (a boa parte das cenas realizadas com filmadoras amadoras, o que oferece à imagem uma aparência mais realista - a aparência de sempre das filmagens tremidas -). À parte da Anne, um elenco sensacional (destaco as performances de Rosemarie DeWitt e Debra Winger). O Casamento de Rachel é um drama vitoriosamente magnífico com notáveis ganhos, um deles sendo Anne (indicada ao Oscar por seu papel), talvez uma das atuações mais sombrias dos últimos tempos e também dedicada. Entre altos e baixos, a vida dança conforma muitas músicas. Lidar com as falhas é apenas um começo. Compreender as evidências muitas vezes é mais fácil do que se imagina.

O Casamento de Rachel (Rachel Getting Married)
dir. Jonathan Demme - ★★★★

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