quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Crítica: "CAPITÃO PHILLIPS" (2013) - ★★★★


Muito embora possua imperfeições, Capitão Phillips não deixa de ser um grande e belo filmaço. Claramente, é difícil não apreciar algo tão bom como esse filme aqui, com um elenco tão ótimo, um diretor competente e uma história (real) pra lá de interessante. Lembrei muito, vendo Capitão Phillips, de Voo United 93, a grande obra de Paul Greengrass, sobre o 11 de setembro, e que fazia uma completa análise e a preparação dos terroristas para com o sequestro do voo. Aqui, logo nas cenas iniciais, onde Rich Phillips desembarca no Omã, com destino à Somália, no mesmo plano entra em ação o cenário de uma aldeia africana, locada na Somália, onde Muse, o líder pirata, é acordado por um garoto. 

Capitão Phillips, enquanto trata-se de uma jornada de sobrevivência incrível e espetacular, com momentos de tirar o fôlego, também me deixou muito irado e decepcionado, não por conta dele próprio, mas por conta do mundo. Há uma certa frase dita por Muse pouco tempo depois da invasão ao barco, cuja não me recordo ao todo, onde ele diz que, se eu não me engano, "na América tudo é possível", e logo adiante ele também fez um pensamento sobre a grande "terra dos sonhos", ele mesmo falando que tinha um grande interesse em visitá-la, um dia. Mas, gente, o que mais há de sentir desses piratas africanos senão pena, de suas vidas e de seus horríveis trabalhos. Ah, lembrei. Muse fala, depois de sequestrar o capitão Phillips, que é pescador, e fica indignado por que os americanos vivem se alimentando e usufruindo de seus peixes. África, terra sofrida. O que mais dói não é ver o sofrimento de Phillips durante o sequestro, embora tal parte seja de uma agonia bem incômoda, mas, a certo modo, o tratamento com o qual o povo africano é recebido. Se lá em Voo United 93 a América tinha perdido para os terroristas, neste Capitão Phillips ela ganha, derrotando os piratas da Somália, recebendo seu final "feliz". 

Extraordinariamente bem-feito, desgrudar os olhos da tela enquanto se vê Capitão Phillips é uma tarefa meramente impossível. A delicadeza e a inspeção minuciosa dos detalhes é o que mais agrada em Capitão Phillips. Sua invejável excelência técnica é de uma bravura sensacional. Bem, mas nem tudo é felicidade e elogios. Capitão Phillips embora se esforce, não escapa do clichê e das repetições infladas, que bem podem irritar em certos aspectos. E o pior é que esses clichês são prolongados, e se repetem pelo filme várias vezes. A maioria desses clichês estão prioritariamente instalados no roteiro, que em momentos é um grande acerto, de Billy Ray. E é justamente o que mais desagrada. Dentre os pouquíssimos erros daqui, é o frequente clichê, que eu apelidei de "tempo final", que, para o meu desgosto, torna-se uma rústica fraqueza do longa. Até vale comparar esses clichês àqueles programas de TV que, na hora do grande furo, ou da grande apresentação, entra no intervalo para segurar audiência. É quase a mesma coisa aqui. (clichê à vista) Próximo do fim, um dos piratas, que está no bote com o capitão Phillips, fica todo enraivecido, e saca a arma ao ver o capitão escrevendo uma carta de despedida para a família. Em justo o momento que o cara ia atirar em Richard, ele e os outros dois piratas a bordo são baleados pela marinha. Mas, enfim, é muito compreensível. Tal clichê, por muitas vezes, nem é tão irritadiço ou problemático, uma vez que até oferece certo sentido à situação, e desarma aquela provável bagunça que seria. É cinema, minha gente. 

O grande destaque de Capitão Phillips é, sem sombra de dúvidas, o ator somaliano Barkhad Abdi, cujo papel (Abduwali Muse) recebeu uma gigante aclamação, aplausos, um BAFTA e uma indicação ao Oscar. Mas quem também deu um show aqui foi Tom Hanks, de quem eu não via uma performance estrondosa há muito tempo. Esnobado no Oscar, Hanks, encarnando Phillips, enche-se de uma coragem proeminente e emociona demais. Paul Greengrass, e seu estilo bem documental, câmera tremida, de fazer filmes, só tende a impulsionar e intensificar a tensão que perdura dos primórdios do filme até seu fim abalador. Se o Oscar ano passado não tivesse as indicações de Alfonso Cuarón e Steve McQueen, provavelmente quem figuraria e venceria o prêmio seria Paul. Ainda não chegou a hora dele, mas, quem sabe? Que ele nos pode mostrar algo bem maior do que Capitão Phillips, que já é um filme maior, não há preocupação alguma.

Capitão Phillips (Captain Phillips)
dir. Paul Greengrass - 

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