domingo, 23 de agosto de 2015

Crítica: "OS INFILTRADOS" (2006) - ★★★★


É um ótimo filme mas não o melhor trabalho do Martin. O fato do filme ter conquistado a estatueta de Melhor Filme no Oscar 2007 não faz dele nem um pouco o maior feito de Scorsese (onde já se viu?). Há quem diga que os prêmios dados a Os Infiltrados serviram mais de consolo ao lendário diretor, que até aquele momento nunca havia conquistado um Oscar, e eu muito acredito nessa teoria. Isso sem querer dizer que Os Infiltrados não mereceu o Oscar que lhe foi entregue. É uma grande obra. E tem sorte de ter dado a Martin Scorsese seu primeiro e atualmente único Oscar de Melhor Diretor. Mais uma perfeita análise das consequências da ganância, da auto-destruição do sonho americano e das alegorias do submundo criminoso, Os Infiltrados é mais um excepcional marco da filmografia deste que é um dos maiores cineastas da história e uma lenda viva. No início, o espectador até pode desconfiar da ausência de sangue e violência extravasada, mas com o decorrer da trama a matança descontrolada e quase sobrenatural apagará as dúvidas e encantará demais o público. O remake do filme chinês Infernal Affairs (que mais tarde irei procurar) é de tirar o fôlego. Não vi o original por isso não posso contestar ou apoiar a adaptação de William Monahan, mas com certeza o roteiro dele possui pontos triunfais e sacadas extraordinárias.

Segundo Scorsese, "Os Infiltrados é o primeiro filme de sua carreira a ter uma sinopse". Talvez tal afirmação tenha mesmo um certo cabimento, até por que sendo a primeira sua sinopse é bem descomplicada e simples: o protegido de um acirrado gângster infiltra-se na polícia e torna-se um bem-sucedido detetive criminal enquanto um outro policial com um passado duplo é selecionado pelo departamento de infiltração para investigar esse gângster de perto, como seu melhor homem. A arrebatadora performance de Leonardo DiCaprio neste último personagem citado é muito semelhante ao personagem dele em Gangues de Nova York, uma vez que lá ele fazia uma espécie de infiltrado na trupe do Bill, enquanto tentava ganhar a confiança dele. Se lá a coisa já era bem perigosa e corriqueira aqui, com essa dose violenta de complexidade e ação as coisas se agravam (num bom sentido). 

Mas Os Infiltrados, mesmo que seja um pouco complexo acima do normal para o ritmo de Martin Scorsese não deixa de ser interessantíssimo. Tal complexidade possa agitar e nos fazer estranhar o estilo do cineasta, que geralmente vem acompanhado mesmo de uma certa complexidade - neutra, sem muitos rushs como os vistos aqui -. Se bem que o roteiro do Monahan é um dos melhores da carreira de Martin, e o Oscar (que pra mim teria ido para Notas sobre um Escândalo ou Borat se não fosse ele) de Roteiro Adaptado foi mais que merecido. O esquema dos telefones celulares pode deixar um clima de confusão no ar, mas esse moderno pique que vira marca registrada desse roteiro brilhante até que faria falta. E esse clima acelerado que alguns elementos transportam para a trama vira uma excelente característica do filme. O importante é que funciona.

E um dos grandes elencos, também (se bem que falando de Scorsese elenco não é nenhum problema). Jack Nicholson não se livra do seu comum astral relaxado e doidão em nenhum momento do filme, mas sua atuação como o inescrupuloso Frank Costello é de matar, e acaba ficando marcada como uma das melhores do querido Jack, e das mais intensas também. Leonardo DiCaprio brilha sem parar na segunda das atuais quatro parcerias com Martin Scorsese. Ainda que a melhor performance do bom DiCaprio esteja lá em O Lobo de Wall Street, essa performance dele é extremamente memorável. Nunca fui de simpatizar com Matt Damon, mas há exceções na filmografia recheada de obras do ator. E uma dessas exceções. Uma das melhores delas, pelo menos, é Os Infiltrados. Agora vem me dizer que Mark Wahlberg é o cara mais destacado desse elenco? Por favor, né? No máximo ele roubou a cena, impecavelmente.

Depois de visto esse filme, só tenho a agradecer. Tudo à Martin Scorsese, esse gênio cujos presentes cinematográficos são de um inestimável valor pra mim. Repito: Os Infiltrados não é o melhor, e não é tudo aquilo que se pode esperar de Scorsese, mas dá pra saciar a sede, e é uma fonte preciosa de entretenimento e deleite. Afinal, não é o cinema feito para isso? Os Infiltrados, em sua avalanche de complexidade seguindo os passos de um elenco talentoso e extremamente ágil, é uma realização fenomenal e sem sombra de dúvida ilustre. O que mais seria? É do Scorsese, minha gente. 

Os Infiltrados (The Departed)
dir. Martin Scorsese - 

Nenhum comentário:

Postar um comentário