sábado, 15 de agosto de 2015

Crítica: "MIA MADRE" (2015) - ★★★★


Há aproximadamente um mês, faleceu minha avó, por quem tinha muito respeito e adoração. Parente distante, vinha me visitar muito raramente, para se dizer a verdade: de anos em anos. Sua última visita foi em 2012. Estava tudo preparado para ela voltar esse ano, mas a diabetes infelizmente não a permitiu ter a chance de ver pela última vez seus netos. Fiquei triste e abalado, pois era uma pessoa muito simples, querida por todos, e humildíssima. Recebi a notícia num domingo. No dia seguinte, tinha cinco provas para fazer. Tendo recebido a notícia às onze horas da noite, não consegui, dali em diante, dormir mais, e fiquei apreensivo (e confuso) tanto por conta de sua morte quanto por conta dos importantes testes que tinha que realizar. A mesma situação, não do mesmo jeito, é encarnada em Mia Madre, filme que fala sobre a família, a aceitação da morte e os conflitos que acometem a persona divida ao meio por dúvida, rejeição e medo.

Em Mia Madre, novo filme do diretor italiano Nanni Moretti, apresentado no Festival de Cannes deste ano, a cineasta Margherita (feita impecavelmente pela talentosa Margherita Buy) encontra-se num tortuoso dilema quando tem de enfrentar a chegada da morte de sua mãe, que está doente à beira do fim, enquanto tem alguns problemas enquanto roda seu próximo filme. Ao lado do irmão, ela tenta sobreviver à essa catástrofe de muitas formas, mas logo vê que nada é o que parece, e que tudo, em vez de melhorar, só está piorando. Entre sonhos atormentadores e atores complicados de se trabalhar, Margherita, à sua própria forma, vai percebendo que é preciso aceitar e deixar ir para ter sossego.

Nanni Moretti, autor de obras-primas sensacionais como Caro Diario, O Quarto do Filho Habemus Papam, realiza mais um trabalho difícil de se resistir, que é este drama bem carregado Mia Madre. Ainda não tendo chegado ao Brasil, o novo filme do cineasta é mesmo uma preciosidade, como eu esperava. Tudo começa com Margherita, que é uma atriz baita dedicada, cuja personagem dramática, a cineasta dividida, é tremendamente desoladora e triste. Embora o humor esteja muito presente, o que toma conta de Mia Madre é a sua forte tensão dramática, que encobre a comédia dos pequenos momentos e alarga a melancolia da trama. Mas não levem tudo "ao pé da letra": Mia Madre talvez não te fará cair aos prantos, chorar o Pacífico e tal, mas seu cunho trágico é tão imenso e profundo que é difícil sorrir em meio às piadas que invadem a tela com o clima amargo e efetivamente depressivo que frequentemente vemos.

Mesmo quando ainda se há controle, Margherita está rigidamente descontrolada, sem rumo, muito nervosa e em pânico. Há tanta desgraça em sua vida que fica muito difícil ser otimista ou ter um pouco de alegria. Dirigir um filme que não dá moleza, encarar uma separação nada amigável e ver a mãe morrer diante de um estado grave de saúde não é lá tão fácil. Dá até pra entender Margherita e seu constante baixo astral de tons cinzas e potencialmente escuros, que só tendem a perpetuar a depressão dramática de Mia Madre e consequentemente transmiti-la ao espectador. A pessoa precisa ter muito azar para passar pela mesma situação que a Margherita do filme atravessou. Chega a ser desesperador.

Se em Habemus Papam a exigência da responsabilidade e o existencialismo desequilibrado logo destruíram o candidato à Papa estavam concentrados na força do drama (e isso meio foi encobertado pela comédia da confusão que se sucedeu no Vaticano, o contrário do que acontece aqui), a situação de Mia Madre encontra-se na mesma situação de O Quarto do Filho, é claro, de maneiras totalmente distintas, uma vez que ambos os filmes lidam com a perda e as consequências da morte, embora lá em O Quarto do Filho é possível ver tais características de um jeito mais tenso, forte, do que o retratado em Mia Madre.

Mas, em geral, o filme é ótimo, excedendo apenas a pequena complicação de cognatos presente nas múltiplas interpretações oferecidas por Nanni, uma confusão ocasional. As performances de Margherita, John Turturro e Giulia Lazzarini são todas plausíveis. John, num misto de drama e comédia, comanda muito bem o núcleo da produção cinematográfica de Margherita, que vive em constante desordem. Nanni Moretti vem ocasionar a comédia, mas sua atuação anda lado a lado com o drama. Recomendo Mia Madre. É um bom filme, acentuado e equilibrado como um bom longa sob a supervisão de Nanni, genial. 

Mia Madre
dir. Nanni Moretti - 

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